13.04.2013 Views

CADA CASO É UM CASO - Instituto Fazendo História

CADA CASO É UM CASO - Instituto Fazendo História

CADA CASO É UM CASO - Instituto Fazendo História

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Alguns juristas continuam considerando que os testemunhos infantis são deficientes<br />

em decorrência de sua imaturidade psicológica. Consideram, então, que<br />

a fala das crianças em contexto jurídico é insuficiente ou inadequada. As duas<br />

grandes insuficiências, associadas por eles à fala de crianças, são a sugestionabilidade<br />

e a impregnação de fantasia. Isto é, uma criança recorre frequentemente à<br />

imaginação, seja como defesa, seja para satisfação de desejos. Além da imaturidade<br />

psicológica, a imaturidade moral da criança tornaria seu testemunho deficiente.<br />

A situação é particularmente complexa no caso de testemunho de filho(a) sobre<br />

violência sexual cometida por um dos pais em contexto de litígio sobre a guarda,<br />

conforme atesta a literatura, especialmente norte-americana.<br />

ZONAS CINZENTAS DE DIÁLOGO<br />

A complexidade do tema e a escassez de literatura conduziram a Fundação Van<br />

Leer a apoiar a elaboração de uma publicação específica intitulada: ¿Me escuchas?<br />

como conversar com niños de cuatro a doce años (Delfos, 2001).<br />

Quanto à sugestionabilidade, Martine Delfos destaca que o que sustentou<br />

este qualificativo foram pesquisas (algumas datando de 1911), a partir das quais<br />

se pode verificar que: entre os 5 e 6 anos, as crianças ainda são muito influenciadas<br />

por perguntas indutoras, sobretudo quando tratam de características de<br />

pessoas ou coisas. “Partem [da ideia de] que o adulto é sério e que não as quer<br />

enganar. Como consequência, não põem em dúvida algo que um adulto diz...”<br />

(Delfos, 2003, p. 19–20). Assim, para a autora, a sugestionabilidade das crianças<br />

teria mais a ver com o fato de encontrarem-se “sob a influência do adulto” (p.<br />

21). Menciona o trabalho de outros pesquisadores (1987 apud Delfos, 2001, p. 23)<br />

que usaram outras crianças para interrogar crianças, tendo verificado que, neste<br />

caso, a sugestionabilidade não acontecia.<br />

O outro qualificativo, aquele que defende a ideia de que o testemunho<br />

de crianças está impregnado de fantasia, também passa pela análise de Delfos<br />

(2003). A autora reconhece que “existem diferenças no trato da fantasia entre<br />

adultos e crianças” (p. 24), pois a capacidade de fantasia é maior entre as crianças,<br />

que também “não enfatizavam muito o grau de veracidade de suas informações”<br />

(p. 25). Porém, a autora, outra vez, situa a questão em um novo contexto.<br />

Para ela, as diferenças nos resultados de investigações variadas sobre a comunicação<br />

com crianças poderiam facilmente estar relacionadas com a falta de interatividade<br />

entre a criança e seu interlocutor adulto. Assim, o adulto interpreta<br />

que, em seu relato, a criança deixa de distinguir a fantasia da realidade, ainda<br />

que ela saiba distingui-las, mas não deixa o adulto saber. Para ela, “devido a sua<br />

falta de conhecimento do mundo e a credibilidade que as crianças outorgam aos<br />

adultos, se está ensinando às crianças a tomar a fantasia pela realidade” (DEL-<br />

FOS, 2003, p. 25).<br />

52

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!