13.04.2013 Views

CADA CASO É UM CASO - Instituto Fazendo História

CADA CASO É UM CASO - Instituto Fazendo História

CADA CASO É UM CASO - Instituto Fazendo História

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Todas essas indagações das crianças e dos adolescentes são, também, os desafios<br />

que os trabalhadores de abrigos encontram para desenvolver uma prática emancipadora,<br />

tal como nos recomenda toda a normativa legal exposta na primeira parte<br />

deste Caderno. Para auxiliar nesta tarefa, organizamos um capítulo específico sobre<br />

a delicada arte de conversar e de escutar crianças e adolescentes nas diferentes<br />

etapas que envolvem a prática de acolhimento institucional ou familiar.<br />

PENSE NISSO:<br />

Escutar é ouvir atentamente, estar consciente do que se está ouvindo, esforçar-se<br />

para ouvir com clareza. Significa escutar o que a criança diz, como sujeito único<br />

e igual, singular e parte do todo.<br />

O VALOR ATRIBUÍDO À VOZ DA CRIANÇA 33<br />

Ouvir crianças em situações judiciais é uma questão relevante que circula entre<br />

os vários atores do sistema de justiça, com diferentes ênfases. Alguns pensam que<br />

ouvi-las é temerário, em razão de sua condição infantil, enquanto outros não decidem<br />

sem considerar sua opinião. As diferentes posturas estão relacionadas ao<br />

conceito de infância que cada um tem e, consequentemente, ao valor que se atribui<br />

ao seu testemunho nas questões judiciais. Esta é uma questão central no debate<br />

acadêmico e político sobre o valor atribuído à voz ou ao testemunho de crianças.<br />

De um lado, há uma concepção que considera a linguagem de crianças e adolescentes<br />

(até certa idade) como insuficiente, ou inadequada, para testemunhar fatos<br />

e expressar afetos; de outro lado, há pessoas que acreditam que crianças e adolescentes<br />

dispõem de capacidade linguística para serem informantes, seja em um<br />

contexto de pesquisa, seja em outras situações.<br />

O avanço na área parece decorrer, mais uma vez, da mudança de foco ou de<br />

paradigma. As questões que se colocam não são apenas se crianças e adolescentes<br />

são aptos a testemunhar ou a expressar afetos, mas, sobretudo, o quanto os<br />

adultos são capazes de escutá-los. Deste modo, a questão que se coloca é qual a<br />

concepção que o adulto (profissional ou pesquisador) tem sobre a semelhança/<br />

diferença entre adultos e crianças. Ou seja, qual o valor que adultos atribuem à fala<br />

de crianças e adolescentes?<br />

Quanto menor é uma criança, mais incompetentes parecem os adultos para<br />

falar com elas, especialmente quando se trata de temas difíceis ou dolorosos.<br />

O mesmo ocorre com a criança. Quanto menor é a criança, mais estranha lhe<br />

parece à comunicação com os adultos (Delfos, 2001, p. 13).<br />

51<br />

33 Este capítulo foi inspirado<br />

na dissertação de mestrado<br />

da autora e contou com o<br />

auxilio da orientadora Dra.<br />

Fúlvia Rosemberg. Ver nas<br />

referências em BERNARDI,<br />

2005.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!