CADA CASO É UM CASO - Instituto Fazendo História

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13.04.2013 Views

ESTUDOS DE CASO O estudo de caso é um processo que se faz a partir da reflexão em equipe das questões que emergem no trabalho cotidiano com a criança, com o adolescente, com a família e os parceiros corresponsáveis no atendimento. Geralmente essas discussões ocorrem em reuniões semanais, que são espaços de formação com base nas experiências possibilitadas pela ação cotidiana. Nelas são realizadas discussões do percurso de cada criança, cada adolescente e sua família, bem como outras pessoas envolvidas no atendimento sociopsicológico. São propostas novas ações, avaliam-se resultados, constroem-se consensos entre os profissionais do programa e fora dele com base nas informações e reflexões obtidas nas relações. Assim, os conhecimentos do grupo familiar atendido se estruturam a partir de uma prática refletida. A equipe passa a assumir, em cada discussão, o propósito de aprender com o que se está fazendo. Necessário se faz refletir que cada atendimento e decisão com a família, bem como com os parceiros envolvidos, serão sempre tentativas de acertos de todos os envolvidos. Nem sempre resultarão em soluções idealizadas e, sim, no que foi possível construir com todos os envolvidos. A ideia e o compromisso do estudo de caso é que todos os profissionais do Programa saibam e reflitam sobre todos os casos atendidos. Quando um profissional toma uma decisão, não é dele, e sim do Programa. A responsabilidade é de todos. As proposições de cada membro da equipe devem ser negociadas e compartilhadas de forma a se constituir uma base segura para a ação, embora seja sempre diferente no seu modo de concretização, uma vez que é produto das diferentes realidades postas como desafio, por cada criança, cada adolescente, cada família. PLANO INDIVIDUAL DE ATENDIMENTO Nas reuniões com a equipe são também construídos os planos de trabalho, onde os diversos membros da equipe podem até ter opiniões diferentes, mas precisam alcançar um consenso. Deve-se ter em mente o compromisso com um jeito próprio de trabalhar, que não é a busca da homogeneidade, mas da unidade da equipe: cada pessoa constrói a sua maneira de pensar e, com a discussão e a reflexão permanente, vai construindo a unidade da equipe. Nessas oportunidades são resignificadas as propostas de trabalho e reconstruídos conceitos, sempre que necessário. Entende-se que para chegar a uma decisão final do estudo de um caso, muitos outros parceiros foram implicados no atendimento, na reflexão e na construção de possíveis encaminhamentos e soluções. Algumas perguntas são muito importantes nesse processo de construção: • Quem se preocupa com essas crianças e esses adolescentes? 141

• Como a criança ou o adolescente tem percebido o afastamento, a manutenção de vínculos, a possibilidade de ampliação de prazos para um possível retorno? • A família está preparada para esse retorno? O RETORNO À FAMÍLIA É bom lembrar a voz de algumas crianças, como a de Carlinha, reproduzida abaixo, convencendo sua mãe em uma visita próxima à data de sua reintegração familiar: Mãe: Lá em casa não tem carro pra você andar... [remetendo às coisas materiais com as quais a filha estava convivendo na casa da família acolhedora]. Carlinha: A gente anda de “ombus”… [ônibus]. Mãe: É ... mas lá em casa não tem telefone!!!! Carlinha: A gente usa o olhelhão... [telefone público]. Foram respostas claras de que a filha só queria estar na sua família... onde, aliás, está até hoje, seis anos após o retorno. Porém, naquele momento, pareceu claro o quanto a mãe precisava ser reforçada na sua competência e no amor da filha, apesar dos problemas materiais que ainda eram muito presentes em sua vida. Naturalmente, os resultados não acontecem de forma linear e sem contradições. São situações reais, que possibilitam perceber que os resultados de cada ação dependem muito da forma como as famílias se colocam frente ao mundo – o que não é igual em cada uma delas. No acompanhamento da família, também é preciso ter em mente: quem mais fala e de que lugar fala na discussão e nas decisões? Neste momento, outra questão parece emergir: como construir uma relação com a criança, com o adolescente e com as famílias implicadas – tanto a família acolhedora quanto a família de origem? Torna-se muito importante a opinião de cada adulto responsável pelo cuidado e pela proteção. Mas faz-se importante também poder ouvir quem está recebendo esse cuidado: • Como a criança ou o adolescente está percebendo esse cuidado em sua vida? • Como a família de origem está sendo cuidada? • Ela está conseguindo caminhar para uma relação de cuidado com seus filhos? Toda vez que se descuida de algum desses aspectos se empobrece o sentido do acolhimento. Um acompanhamento de caso parte do princípio da possibilidade de conhecimento da realidade da vida das pessoas envolvidas. É preciso ter em mente que a família tem o problema, mas é ela que pode ter a solução, desde que cuidada e protegida. Esse processo envolve sempre um número significativo de profissionais, de serviços e de pessoas. Novos atores surgem a cada momento e o 142

• Como a criança ou o adolescente tem percebido o afastamento, a<br />

manutenção de vínculos, a possibilidade de ampliação de prazos para um<br />

possível retorno?<br />

• A família está preparada para esse retorno?<br />

O RETORNO À FAMÍLIA<br />

<strong>É</strong> bom lembrar a voz de algumas crianças, como a de Carlinha, reproduzida abaixo,<br />

convencendo sua mãe em uma visita próxima à data de sua reintegração familiar:<br />

Mãe: Lá em casa não tem carro pra você andar... [remetendo às coisas materiais<br />

com as quais a filha estava convivendo na casa da família acolhedora].<br />

Carlinha: A gente anda de “ombus”… [ônibus].<br />

Mãe: <strong>É</strong> ... mas lá em casa não tem telefone!!!!<br />

Carlinha: A gente usa o olhelhão... [telefone público].<br />

Foram respostas claras de que a filha só queria estar na sua família... onde, aliás,<br />

está até hoje, seis anos após o retorno. Porém, naquele momento, pareceu claro o<br />

quanto a mãe precisava ser reforçada na sua competência e no amor da filha, apesar<br />

dos problemas materiais que ainda eram muito presentes em sua vida.<br />

Naturalmente, os resultados não acontecem de forma linear e sem contradições.<br />

São situações reais, que possibilitam perceber que os resultados de cada ação<br />

dependem muito da forma como as famílias se colocam frente ao mundo – o que<br />

não é igual em cada uma delas.<br />

No acompanhamento da família, também é preciso ter em mente: quem mais<br />

fala e de que lugar fala na discussão e nas decisões?<br />

Neste momento, outra questão parece emergir: como construir uma relação<br />

com a criança, com o adolescente e com as famílias implicadas – tanto a família<br />

acolhedora quanto a família de origem? Torna-se muito importante a opinião de<br />

cada adulto responsável pelo cuidado e pela proteção. Mas faz-se importante também<br />

poder ouvir quem está recebendo esse cuidado:<br />

• Como a criança ou o adolescente está percebendo esse cuidado em sua vida?<br />

• Como a família de origem está sendo cuidada?<br />

• Ela está conseguindo caminhar para uma relação de cuidado com seus filhos?<br />

Toda vez que se descuida de algum desses aspectos se empobrece o sentido do<br />

acolhimento. Um acompanhamento de caso parte do princípio da possibilidade<br />

de conhecimento da realidade da vida das pessoas envolvidas. <strong>É</strong> preciso ter em<br />

mente que a família tem o problema, mas é ela que pode ter a solução, desde que<br />

cuidada e protegida. Esse processo envolve sempre um número significativo de<br />

profissionais, de serviços e de pessoas. Novos atores surgem a cada momento e o<br />

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