CADA CASO É UM CASO - Instituto Fazendo História
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76 O Programa Sapeca<br />
trabalha com o conceito da<br />
Dra. Regina Mioto (1997):<br />
“um núcleo de pessoas que<br />
convivem em um determinado<br />
lugar, durante um lapso de<br />
tempo mais ou menos longo<br />
e que se acham unidas (ou<br />
não) por laços consanguíneos,<br />
[tendo] como tarefa primordial<br />
o cuidado e a proteção de<br />
seus membros e se encontra<br />
dialeticamente articulado<br />
com a estrutura social na qual<br />
está inserido<br />
(como, por exemplo, conviver com consequências de políticas inexistentes) acabam<br />
acarretando estratégias compensatórias no enfrentamento das necessidades.<br />
Entretanto, essa forma de funcionamento, calcada em soluções imediatas, pouco<br />
ou nada compensa, uma vez que não contribui para a emancipação das pessoas<br />
envolvidas, mantendo-as em um ciclo de dependência de ações assistencialistas isoladas<br />
e fragmentadas. Essa fragmentação é permeada de espaços vazios ocupados<br />
pela violência estrutural que reflete a falta de habitação, de educação, de saúde, de<br />
emprego, de oportunidades de cultura e de lazer. O acúmulo de tarefas, a falta de<br />
atenção, de cuidado, o difícil acesso aos serviços, a baixa remuneração ou mesmo a<br />
falta dela, a habitação em moradias distantes, sem infraestrutura, a falta de vaga nas<br />
escolas, de acesso ao lazer acabam por acarretar sobrecargas aos responsáveis pelas<br />
crianças. Quando pais e mães veem retirados de convívio um ou mais filhos, acabam,<br />
por vezes, acreditando que estar em abrigos ou em famílias acolhedoras significa<br />
uma proteção maior para eles. Esse desacreditar em si mesmo parece ser o resultado<br />
de um acúmulo de relações de descrédito que as famílias pobres vêm vivenciando. O<br />
rompimento de vínculos parentais existentes nas situações que envolvem o universo<br />
da pobreza mostram, uma vez mais, que não se tem conseguido até nossos dias apresentar<br />
soluções mais humanizadas a esses seres em desenvolvimento.<br />
O Programa Sapeca vem construindo, desde sua criação, uma metodologia<br />
de trabalho que propicie a convivência/permanência da criança ou do adolescente<br />
na família e na comunidade mesmo durante o afastamento. Dos 75 casos atendidos<br />
até o momento, têm-se garantido 89% de convivência familiar e comunitária<br />
às crianças e aos adolescentes atendidos.<br />
Entende-se que para realizar um trabalho social precisa haver, como ponto<br />
de convergência, uma metodologia que propicie um processo permanente de<br />
formação da equipe que seja centrado no reforço dos vínculos com a família de<br />
origem e nos modos de enfrentamento das questões centrais que motivaram a<br />
retirada da criança ou do adolescente de seu convívio.<br />
Em consequência, espera-se a construção de significados, de linguagens, de método<br />
e de consensos, tais como: histórico da família pobre no Brasil, conceituação de<br />
“família” 76 , necessidades e direitos das crianças e dos adolescentes, rede de significações,<br />
trabalho em rede, legislação nacional, entre outros. Parte-se do pressuposto de<br />
que somente a partir desta construção de significados e consensos é que poderá existir<br />
a ampliação do conhecimento da vida e das possibilidades de superação e competências<br />
das pessoas implicadas na medida de proteção. O atendimento de uma família no<br />
Programa inicia-se, portanto, no conhecimento de sua história de vida, utilizando-se<br />
de instrumentais como o Mapa da Rede (SLUZKI, 1997) e da aplicação do Genograma<br />
(MCGOLDRICK, 1985), sempre em uma perspectiva de acolhimento.<br />
Penetrar no mundo da família, com respeito e compreensão, levando em<br />
consideração a sua história, é o ponto de partida para uma possível vinculação,<br />
que poderá ser o fator inicial mais importante para provocar alguma mudança nas<br />
questões que originaram a necessidade da retirada da criança ou do adolescente.<br />
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