CADA CASO É UM CASO - Instituto Fazendo História
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tence a uma família que está inserida de um certo modo numa comunidade, com<br />
uma determinada cultura, em um determinado momento histórico. <strong>É</strong> profundamente<br />
marcada pelo meio social em que se desenvolve, mas também o marca,<br />
o que lhe confere a condição de ser humano único, singular. O fato de a criança<br />
ou adolescente, muitas vezes, chegar num abrigo sem expressar claramente seu<br />
universo afetivo e cultural, não quer dizer que não o tenha e que este não seja importante:<br />
sempre se constitui no ponto de apoio vital para esta criança e para sua<br />
estruturação como ser humano.<br />
Toda criança vem de uma família que constitui, ao menos até o momento<br />
em que vai para o abrigo e possivelmente também depois disso, seu referencial<br />
básico. Reconhecer isto implica que o abrigo deve respeitar tudo que a criança já<br />
tem e trás consigo (histórias reais, imaginadas ou fantasiadas), mesmo que esta<br />
não mostre ou conte nada a ninguém num primeiro momento. A criança tem na<br />
família – biológica ou não – um ponto de referência fundamental, apesar da multiplicidade<br />
de interações sociais que estabelece com outras instituições sociais, e<br />
que, quando abrigada, passará a construir também no abrigo.<br />
A rivalização, competição entre o abrigo e seus cuidadores com a(s) família(s)<br />
de origem, só acarreta efeitos danosos para a criança ou o adolescente. <strong>É</strong> fundamental<br />
que os profissionais do abrigo respeitem a bagagem de vida, conhecimentos<br />
e valores que toda criança e todo adolescente traz consigo, mesmo os bebês,<br />
pois o trabalho educativo no abrigo nunca começa do “zero”. Isso, na prática, se<br />
traduz pela postura de respeito que os profissionais do abrigo tenham em relação<br />
aos familiares das crianças e adolescentes abrigados, ou seja, não julgar, não<br />
condenar, não “dar bronca” ou atitudes similares a essa. Isso porque as crianças<br />
têm em seus familiares referências para toda a vida e, mesmo que não voltem a<br />
conviver com eles, são pessoas que os marcam de forma intensa. E cada criança ou<br />
adolescente viverá os vínculos com seus familiares à sua maneira, não necessariamente<br />
levando em conta apenas os fatos ou as experiências objetivas e marcantes<br />
que são conhecidas por outras pessoas.<br />
Muitas vezes, crianças ou adolescentes que foram vítimas de violência ou negligência<br />
por parte de seus familiares continuam ligados afetivamente a eles, e é<br />
importante que esses sentimentos sejam respeitados pelos profissionais que trabalham<br />
no abrigo. Apenas os protagonistas dessas situações têm legitimidade para<br />
alterar, se for o caso, seus sentimentos com relação aos seus responsáveis, a partir<br />
de suas experiências e possibilidades, no momento em que isso se torne viável para<br />
eles – não podemos esquecer que vínculos e afetos não se apoiam apenas em vivências<br />
e experiências concretas. Precisam de ajuda e cuidados especiais as crianças e<br />
adolescentes que viveram ou estiveram envolvidos em circunstâncias especialmente<br />
difíceis, como, por exemplo, a violação de algum direito fundamental.<br />
Toda criança ou adolescente é singular. Embora o desenvolvimento infantil<br />
siga processos semelhantes em todos eles, obedece a ritmos e modos peculiares em<br />
cada um. <strong>É</strong> necessária muita atenção para que não se criem condutas que tendem<br />
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