CADA CASO É UM CASO - Instituto Fazendo História
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lação clara de cooperação e confiança. Conversar sobre suas impressões quanto ao<br />
fato de ela ter sido afastada do convívio com a família, amigos e toda sua rede de<br />
referência e esclarecer que o serviço de acolhida é um direito, oferecido para a sua<br />
proteção. Conversar sobre sua história de vida, abrindo espaço para que a criança<br />
ou o adolescente expresse seus sentimentos, desejos, angústias e dúvidas quanto às<br />
vivências pregressas, ao afastamento da família de origem e sua situação familiar.<br />
O documento Orientações técnicas: serviços de acolhimento para crianças e<br />
adolescentes (Conanda/CNAS) salienta que, para os serviços de acolhimento, a<br />
maneira e o momento de conversar devem ser organizados e revestidos de uma<br />
postura cuidadosa:<br />
Durante o período de acolhimento, deve-se favorecer a construção da vinculação<br />
de afeto e confiança com a equipe técnica, educador/cuidador ou família acolhedora<br />
e colegas. <strong>É</strong> importante, ainda, que ao longo do acolhimento a criança e<br />
o adolescente tenham a possibilidade de dialogar com a equipe técnica e com o<br />
educador/cuidador de referência (ou família acolhedora) sobre suas impressões<br />
e sentimentos relacionados ao fato de estar afastado do convívio com a família.<br />
Nessas conversas é importante que o interlocutor possibilite uma expressão livre<br />
da criança ou do adolescente, oportunizando- -lhes espaço no qual possam falar<br />
sobre sua história de vida, sentimentos, desejos, angústias e dúvidas quanto às vivências<br />
pregressas, ao afastamento da família de origem e sua situação familiar.<br />
MOTIVOS DO ABRIGAMENTO: FALAR OU NÃO?<br />
Na oficina realizada para a construção deste caderno ocorreu um debate interessante<br />
sobre o que revelar à criança sobre seu acolhimento e em que momento isso<br />
deveria acontecer. Alguns defenderam o cuidado em não falar de forma direta sobre<br />
os motivos do abrigamento, para não expor a criança e o adolescente aos mesmos<br />
sentimentos negativos vividos na ocasião. Outros defenderam que a criança e<br />
o adolescente precisam saber da verdade para lidar com ela.<br />
Uma ressalva primordial de Dolto (1984) pode nos auxiliar nesta reflexão. A<br />
autora salienta que mais grave que as separações e rupturas são as incertezas da<br />
criança e do adolescente sobre seu presente e futuro, pois, como vimos, muitas<br />
delas não são informadas sobre os motivos da transferência de moradia nem mesmo<br />
sobre o que poderá ocorrer a partir do abrigamento. Para a autora, o caráter<br />
trágico não é introduzido apenas pelo abandono ou pelo abrigamento, circunstâncias<br />
que poderão superar se forem ajudadas, mas por ficarem submetidas a<br />
dúvidas, incertezas e a um estado de espera permanente.<br />
Uma sugestão para que todos os que utilizam e trabalham no abrigo estejam<br />
cientes dos procedimentos mais indicados é a elaboração de uma Declaração de<br />
propósitos e um Guia das crianças e dos adolescentes (LONDRES, 2002). A De-<br />
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