13.04.2013 Views

anais do xi encontro da epfcl|afcl - brasil - Escola de Psicanálise dos ...

anais do xi encontro da epfcl|afcl - brasil - Escola de Psicanálise dos ...

anais do xi encontro da epfcl|afcl - brasil - Escola de Psicanálise dos ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

to<strong>da</strong>s as partes secretas e vergonhosas <strong>de</strong>le, pelos cheiros to<strong>do</strong>s <strong>de</strong>le e por tu<strong>do</strong> que ele<br />

faz [...] Ensinei-­‐te a quase <strong>de</strong>smaiar quan<strong>do</strong> ouves minha voz cantan<strong>do</strong> ou murmuran<strong>do</strong><br />

à tua alma a paixão e a tristeza e o mistério <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e ao mesmo tempo ensinei-­‐te a fazer<br />

trejeitos in<strong>de</strong>centes com a língua e os lábios [...] meu amor leal, minha colegial travessa<br />

<strong>de</strong> olhar lângui<strong>do</strong>, minha puta, minha amante, tu<strong>do</strong> quanto queiras (minha amantezinha<br />

punheteira, minha putinha fo<strong>de</strong><strong>do</strong>ra!) serás sempre minha flor agreste <strong>da</strong>s sebes, minha<br />

florzinha azul-­‐marinho encharca<strong>da</strong> <strong>de</strong> chuva.” Assina<strong>do</strong>: Jim (1909/1988, p.54-­‐55)<br />

Curiosamente, Lacan que, no seminário 20, já havia proposto fórmulas tão<br />

límpi<strong>da</strong>s quanto: “O que não é signo <strong>do</strong> amor é o gozo <strong>do</strong> Outro, o <strong>do</strong> Outro sexo [...] <strong>do</strong><br />

corpo que o simboliza” (p.28) e “ O que vem em suplência à relação sexual é<br />

precisamente o amor” (p.62), conclui agora que as coor<strong>de</strong>na<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s letras/cartas <strong>de</strong><br />

amor <strong>de</strong> Joyce a Nora indicam que há uma relação sexual, embora bem esquisita. (sem.<br />

23, p. 81)<br />

Os matemas propostos por Lacan no quadro <strong>da</strong> sexuação <strong>de</strong>ixam ver a relação<br />

homem-­‐mulher sob novas luzes: quan<strong>do</strong> um homem abor<strong>da</strong> uma mulher, se ela lhe<br />

serve <strong>de</strong> causa-­‐<strong>de</strong>-­‐<strong>de</strong>sejo, isso significa que ela está exatamente no mesmo lugar <strong>do</strong><br />

objeto a <strong>de</strong> sua fantasia. Mas este não parece ser o caso <strong>de</strong> Joyce. Suas letras/cartas<br />

testemunham que o sentimento que o enlaçou a Nora nunca a transformou na Dama <strong>do</strong><br />

amor cortês, aquela cujo <strong>encontro</strong> tem algo <strong>de</strong> real, consequentemente <strong>de</strong> traumático e<br />

inassimilável. Nora não é a outra face <strong>do</strong> vampiro, aquela que representa a última tela <strong>da</strong><br />

e<strong>xi</strong>stência, para além <strong>da</strong> qual começa o país <strong>do</strong>s fantasmas. Não é uma morta-­‐viva<br />

submeti<strong>da</strong> ao tormento eterno <strong>do</strong> entre-­‐duas-­‐mortes.<br />

Certa feita Nora comenta a reação <strong>de</strong> Joyce diante <strong>de</strong> um novo vesti<strong>do</strong> <strong>de</strong> festa<br />

que acabara <strong>de</strong> comprar: “Jim achou as costas <strong>de</strong>cota<strong>da</strong>s <strong>de</strong>mais e <strong>de</strong>cidiu que teria <strong>de</strong><br />

costurar as costas <strong>do</strong> vesti<strong>do</strong>. Naturalmente ele fez pontos to<strong>do</strong>s tortos [...] Queria que<br />

vocês o tivessem visto costuran<strong>do</strong> minha pele e espinha.” (Ellmann, p.830) Ele não<br />

queria que ninguém, além <strong>de</strong>le, sequer olhasse o que quer que tocasse o corpo <strong>de</strong> Nora.<br />

53

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!