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anais do xi encontro da epfcl|afcl - brasil - Escola de Psicanálise dos ...

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Completamente transtorna<strong>do</strong> frente aos limites impostos pelo médico, como<br />

<strong>de</strong>fesa, não esboça nenhuma elaboração quanto à <strong>do</strong>ença. Não quer saber <strong>de</strong> na<strong>da</strong> disso,<br />

preocupa-­‐se em ser <strong>de</strong>scoberto, em “<strong>da</strong>r pinta”, com o corpo, <strong>de</strong> que estava “pega<strong>do</strong>” 4 .<br />

“Eu não me preocupo em morrer, eu só não quero ficar como um coita<strong>do</strong>, eu prefiro<br />

morrer jovem a ficar velho”. Teríamos aqui o <strong>de</strong>s<strong>do</strong>bramento <strong>da</strong> fantasia “envelhece-­‐se<br />

uma criança, ou pinta-­‐se uma criança”? O paciente prossegue: “Eu nunca achei que<br />

pegaria a <strong>do</strong>ce, ninguém fala o que tem e vai passan<strong>do</strong> para os outros”<br />

No <strong>de</strong>senrolar <strong>da</strong> análise, o jovem recupera-­‐se <strong>do</strong> susto e segue retoman<strong>do</strong> seus<br />

hábitos antigos. É fácil observar que ele não tem nenhum projeto, não pensa em<br />

trabalhar, o estu<strong>do</strong> é só uma facha<strong>da</strong> encobri<strong>do</strong>ra. Ele <strong>do</strong>rme <strong>de</strong> dia para sair na noite.<br />

Interroga<strong>do</strong> sobre os cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s que <strong>de</strong>ve ter para evitar a contaminação, respon<strong>de</strong><br />

evasivamente e troca <strong>de</strong> assunto. Frente a isso, a analista, como diretriz, chama a mãe<br />

para entrevista.<br />

A mãe revela: “Vivo no inferno, meu filho está com HIV, não consegue estu<strong>da</strong>r, não faz<br />

na<strong>da</strong>, só pensa em futili<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Continua arriscan<strong>do</strong>-­‐se pela noite, sai sem dinheiro, com<br />

roupas estranhíssimas, que po<strong>de</strong>m provocar a agressão <strong>do</strong>s outros”. Essas roupas são<br />

peças femininas em um vestuário masculino, <strong>do</strong> tipo: calça jeans masculina, bor<strong>da</strong><strong>da</strong> com<br />

paetês e brilhos; blusa cor <strong>de</strong> rosa; botina <strong>do</strong> Exército; anéis <strong>de</strong> caveira com pulseiras <strong>de</strong><br />

miçangas; gargantilhas; cinturão masculino. Cabe aqui citar o Aba<strong>de</strong> <strong>de</strong> Choisy 5 : “Quan<strong>do</strong><br />

alguns homens possuem ou crêem possuir traços belos, que po<strong>de</strong>m inspirar amor, tratam<br />

<strong>de</strong> aumentá-­‐los com seus a<strong>do</strong>rnos femininos. Sentem, então, um inexprimível prazer <strong>de</strong> ser<br />

ama<strong>do</strong>” (Choisy, 1985, p. 13).<br />

O jovem revela que a<strong>do</strong>ra “se montar” 6 , e nas boates e festas, <strong>de</strong>staca-­‐se com suas<br />

“peças” femininas; sempre que po<strong>de</strong>, <strong>da</strong>nça e se e<strong>xi</strong>be: “To<strong>do</strong>s pensam que eu me drogo,<br />

4 Gíria referente a quem tem o vírus HIV.<br />

5 Referência feita por Lacan, no artigo “A carta rouba<strong>da</strong>” (In: Escritos, 1998), a respeito <strong>de</strong> um homem que se<br />

vestia <strong>de</strong> mulher para amar as <strong>do</strong>nzelas que <strong>de</strong>viam estar vesti<strong>da</strong>s <strong>de</strong> homem.<br />

6 “Montar-­‐se” significa vestir-­‐se com a<strong>de</strong>reços ou roupas femininas.<br />

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