13.04.2013 Views

anais do xi encontro da epfcl|afcl - brasil - Escola de Psicanálise dos ...

anais do xi encontro da epfcl|afcl - brasil - Escola de Psicanálise dos ...

anais do xi encontro da epfcl|afcl - brasil - Escola de Psicanálise dos ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

faltante. E o reconhecimento <strong>de</strong>ssa falta colocou em causa o seu <strong>de</strong>sejo, impulsionan<strong>do</strong>-a a se<br />

movimentar: “Tu<strong>do</strong> isso ela já apren<strong>de</strong>ra através <strong>de</strong> Ulisses. Antes ela evitara sentir. Agora<br />

tinha (...) já (...) leves incursões pela vi<strong>da</strong>” (Lispector, 1998 [1969], p. 15).<br />

Antes <strong>de</strong> se apro<strong>xi</strong>mar <strong>de</strong> Ulisses, Lóri encarava a morte como algo que colocaria um<br />

termo ao vazio que representava a sua vi<strong>da</strong>; <strong>de</strong>pois que por amor colocou em causa o seu<br />

<strong>de</strong>sejo, ela “pensou por um instante se a morte interferiria no pesa<strong>do</strong> prazer <strong>de</strong> estar viva.<br />

(...) nem a idéia <strong>de</strong> morte conseguia perturbar o in<strong>de</strong>limita<strong>do</strong> campo escuro on<strong>de</strong> tu<strong>do</strong><br />

palpitava grosso, pesa<strong>do</strong> e feliz. A morte per<strong>de</strong>ra a glória” (Ibi<strong>de</strong>m, p.81). Lóri, que até então<br />

vivera alheia <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, passa a estabelecer vínculos afetivos, se entregan<strong>do</strong> com prazer a<br />

ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ensinar seus alunos. Antes ela não sentia o “gosto” <strong>da</strong>s coisas, vivia<br />

automaticamente, mas agora:<br />

Lóri entrava, ela própria em agasalho com as crianças (...)falou-lhes que aritmética<br />

vinha <strong>de</strong> "arithmos" que é ritmo, que número vinha <strong>de</strong> "nomos" que era lei e norma,<br />

norma <strong>do</strong> fluxo universal <strong>da</strong> criança. Era ce<strong>do</strong> <strong>de</strong>mais para lhes dizer isso, mas gozava<br />

<strong>do</strong> prazer <strong>de</strong> falar-lhes, queria que eles soubessem, através <strong>da</strong>s aulas <strong>de</strong> português, que<br />

o sabor <strong>de</strong> uma fruta está no contato <strong>da</strong> fruta com o pala<strong>da</strong>r e não na fruta mesmo.Não<br />

havia aprendizagem <strong>de</strong> coisa nova: era só a re<strong>de</strong>scoberta. E chovia muito esse inverno.<br />

Então usou a outra mesa<strong>da</strong> <strong>do</strong> pai e procurou — com que prazer an<strong>da</strong>va pelas lojas<br />

procuran<strong>do</strong> até achar — e procurou e comprou para to<strong>do</strong>s os alunos e alunas <strong>de</strong> sua<br />

classe, guar<strong>da</strong>-chuvas vermelhos e meias <strong>de</strong> lã vermelha.Era assim que ela afogueava<br />

o mun<strong>do</strong> (Lispector, 1998 [1969], p.53-54).<br />

Lóri estava “caminhan<strong>do</strong> com as próprias pernas”; quan<strong>do</strong> vai ao <strong>encontro</strong> <strong>de</strong> Ulisses,<br />

ao contrário <strong>do</strong> que fazia antes (quan<strong>do</strong> colocava vesti<strong>do</strong>s sensuais e excesso <strong>de</strong> maquiagem,<br />

pensan<strong>do</strong> em formas <strong>de</strong> seduzí-lo) “Ela nem precisava pensar no que ia vestir (...) assim<br />

<strong>encontro</strong>u-a ele e olhou-a com admiração: ela estava extravagante e bela” (Lispector, 1998<br />

[1969], p.54).<br />

274

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!