13.04.2013 Views

anais do xi encontro da epfcl|afcl - brasil - Escola de Psicanálise dos ...

anais do xi encontro da epfcl|afcl - brasil - Escola de Psicanálise dos ...

anais do xi encontro da epfcl|afcl - brasil - Escola de Psicanálise dos ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

<strong>de</strong> um prazer puramente formal e que Freud chama <strong>de</strong> “prêmio <strong>da</strong> sedução”. Como o<br />

cria<strong>do</strong>r dá a impressão <strong>de</strong> que está se entregan<strong>do</strong> a um simples jogo, que parece<br />

exemplarmente lícito, a testemunha po<strong>de</strong> esquecer a que ponto esse jogo po<strong>de</strong> ser<br />

sério, isto é, a que ponto está carrega<strong>do</strong> <strong>de</strong> afetos (Kaufmann, 1996 [1993], p. 500-<br />

501).<br />

A arte criativa não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> relações transferenciais que lhe confiram senti<strong>do</strong>; ela<br />

não convoca um ouvinte, está lá por si mesma, para quem quiser <strong>de</strong>la se apropriar. Do contato<br />

com a arte, o sujeito se mobiliza a encontrar um senti<strong>do</strong> por si mesmo, toman<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

empréstimo as criações <strong>do</strong> artista para <strong>da</strong>r vazão aos seus próprios anseios.<br />

Além disso, o texto literário permite ao sujeito se confrontar com a castração, mas sem<br />

evocar to<strong>do</strong> o terror que o contato direto com o inominável suscitaria; ele o faz <strong>de</strong> maneira<br />

suaviza<strong>da</strong>, possibilitan<strong>do</strong> que o sujeito li<strong>de</strong> com o insuportável, relativize a <strong>do</strong>r <strong>da</strong> falta sem<br />

negar a castração, ou em outras palavras: finja a <strong>do</strong>r.<br />

Por isso é que perante a arte, bem como to<strong>do</strong> o sofrimento que o sujeito expressa, cabe<br />

a <strong>Psicanálise</strong> compartilhar <strong>do</strong> enigma, controlan<strong>do</strong> os impulsos <strong>de</strong> atribuir relações <strong>de</strong> causa e<br />

efeito, ou <strong>de</strong> cessar a causa <strong>da</strong> <strong>do</strong>r; a <strong>Psicanálise</strong> prima que o sujeito se haja com o seu<br />

sofrimento, ao invés <strong>de</strong> suprimi-lo; conforme aponta Lóri, personagem <strong>do</strong> romance “Uma<br />

aprendizagem...”:<br />

(...) não se podia cortar a <strong>do</strong>r — senão se sofreria o tempo to<strong>do</strong>. E ela havia corta<strong>do</strong><br />

sem sequer ter outra coisa que em si substituísse a visão <strong>da</strong>s coisas através <strong>da</strong> <strong>do</strong>r <strong>de</strong><br />

e<strong>xi</strong>stir, como antes. Sem a <strong>do</strong>r, ficara sem na<strong>da</strong>, perdi<strong>da</strong> no seu próprio mun<strong>do</strong> e no<br />

alheio sem forma <strong>de</strong> contato (Lispector, 1998 [1969], p.18).<br />

O sujeito que recusa a incompletu<strong>de</strong> <strong>do</strong> Outro, dispon<strong>do</strong> <strong>de</strong>ssa maneira o princípio <strong>do</strong><br />

prazer e o <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> em pólos antagônicos, tenta a qualquer custo expulsar a angústia <strong>da</strong><br />

castração, o que só agrava o seu sofrimento; nesse senti<strong>do</strong>, tanto a Literatura quanto a<br />

270

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!