13.04.2013 Views

anais do xi encontro da epfcl|afcl - brasil - Escola de Psicanálise dos ...

anais do xi encontro da epfcl|afcl - brasil - Escola de Psicanálise dos ...

anais do xi encontro da epfcl|afcl - brasil - Escola de Psicanálise dos ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

“Eu sou um transforma<strong>do</strong>r corporal <strong>de</strong> alto gabarito”, “Fiz (este braço) para ser Emílio<br />

Gonzalez, o mais famoso transforma<strong>do</strong>r corporal”. Gonzalez percorre o mun<strong>do</strong> <strong>de</strong>ixan<strong>do</strong><br />

seu lega<strong>do</strong> e é com orgulho que fala <strong>da</strong> sua obra: “Eu fiz o braço <strong>de</strong>le há muito tempo.<br />

Um braço espetacular: meu trabalho não se compara ao <strong>de</strong> ninguém”, testemunha<br />

Gonzalez a respeito <strong>do</strong>s implantes subcutâneos que havia feito num “paciente”. Satisfeito<br />

com o resulta<strong>do</strong>, seu paciente comenta: “Meu braço representa um braço único. Se você<br />

apalpar, você nunca vai esquecer, é único”.<br />

Assim, Gonzalez preten<strong>de</strong> fazer seu nome, encarregan<strong>do</strong>-­‐se <strong>de</strong> fabricar a<br />

diferença ao acolher em seu estúdio os que não compartilham <strong>da</strong>s vias prescritas pelo<br />

saber <strong>do</strong> nosso tempo. O discurso que orienta e civiliza o gozo numa <strong>de</strong>termina<strong>da</strong><br />

cultura prescreve um mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> comportamento para o corpo: um mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> vestir, <strong>de</strong><br />

an<strong>da</strong>r, <strong>de</strong> apresentar-­‐se, até mesmo um mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> sentar-­‐se à mesa. Por isto, às vezes, os<br />

costumes <strong>de</strong> outras culturas po<strong>de</strong>m nos parecer tão aberrantes.<br />

Se a política é uma tentativa <strong>de</strong> fazer funcionar um “para to<strong>do</strong>s” propon<strong>do</strong> uma<br />

gestão universal <strong>do</strong>s mo<strong>do</strong>s <strong>de</strong> gozo, uma a<strong>da</strong>ptação à reali<strong>da</strong><strong>de</strong> que <strong>de</strong>ve ser<br />

coletiviza<strong>da</strong> -­‐ e nisso sem dúvi<strong>da</strong> há uma ditadura -­‐ o médico <strong>do</strong>s freaks se coloca <strong>do</strong><br />

la<strong>do</strong> <strong>do</strong>s contraditores <strong>do</strong> gozo, <strong>da</strong>queles que po<strong>de</strong>riam ser chama<strong>do</strong>s <strong>de</strong> recalcitrantes<br />

com relação à norma.<br />

científica. Na disputa entre o e<strong>xi</strong>bi<strong>do</strong>r e o médico pelo mesmo objeto, o médico levará a melhor. A<br />

<strong>de</strong>formi<strong>da</strong><strong>de</strong> torna-­‐se tema <strong>da</strong> observação médica e objeto <strong>de</strong> amor moral.<br />

Conferir texto <strong>de</strong> Jean-­‐Jacques Courtine. “O corpo anormal. História e antropologia culturais <strong>da</strong> <strong>de</strong>formi<strong>da</strong><strong>de</strong>”.<br />

In: História <strong>do</strong> corpo: as mutações <strong>do</strong> olhar. O século XX. Petrópolis, RJ, Vozes, 2008.p.253-­‐340.<br />

179

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!