13.04.2013 Views

anais do xi encontro da epfcl|afcl - brasil - Escola de Psicanálise dos ...

anais do xi encontro da epfcl|afcl - brasil - Escola de Psicanálise dos ...

anais do xi encontro da epfcl|afcl - brasil - Escola de Psicanálise dos ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

diferenciar-­‐se <strong>do</strong>s <strong>de</strong>mais. Dentre as técnicas estão as escarificações, os implantes<br />

subcutâneos e as mutilações.<br />

Creio que não po<strong>de</strong>mos fazer uma generalização a ponto <strong>de</strong> dizer que to<strong>do</strong>s os<br />

que se submetem à transformação corporal teriam as mesmas motivações. To<strong>da</strong>via, os<br />

testemunhos <strong>de</strong> alguns <strong>de</strong>sses sujeitos <strong>de</strong>monstram, numa versão contemporânea, como<br />

o sintoma faz impedimento a que as coisas an<strong>de</strong>m, e por isto Lacan (1975a, p. 84) po<strong>de</strong><br />

dizer que “(...) o senti<strong>do</strong> <strong>do</strong> sintoma é o real, o real enquanto se põe em cruz para<br />

impedir que as coisas an<strong>de</strong>m, que an<strong>de</strong>m no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>da</strong>r conta <strong>de</strong> si mesmas <strong>de</strong><br />

maneira satisfatória, satisfatória ao menos para o mestre” (...)<br />

Tomemos <strong>do</strong>is casos. O primeiro é <strong>de</strong> Emílio Gonzalez, um profissional <strong>da</strong><br />

transformação corporal que não apenas modifica o corpo <strong>de</strong> terceiros, mas o seu<br />

próprio.<br />

Mantém seu estúdio em Bogotá e preten<strong>de</strong> ficar conheci<strong>do</strong> como o Dr. Freak 2 ,<br />

pois faz justamente aquilo que os médicos rejeitam fazer: “imagina se você pedir ao<br />

médico para cortar sua língua em <strong>do</strong>is: ‘vá procurar um psicólogo, é o que ele lhe dirá”...<br />

2 Literalmente freak quer dizer <strong>de</strong>formação, aberração. Durante o século XIX e mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> XX encontramos na<br />

Europa e nos EUA até o perío<strong>do</strong> entre-­‐guerras uma multiplicação <strong>do</strong>s freaks shows nos circos, casas <strong>de</strong><br />

espetáculos e museus <strong>de</strong> curiosi<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Tratava-­‐se <strong>de</strong> e<strong>xi</strong>bir as <strong>de</strong>formi<strong>da</strong><strong>de</strong>s e bizarrices <strong>do</strong> corpo humano<br />

como numa aula <strong>de</strong> zoologia: homens-­‐tronco, gêmeos siameses, a mulher mais gor<strong>da</strong> <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>... O exemplo<br />

mais conheci<strong>do</strong> encontra-­‐se no filme “O homem elefante”, <strong>de</strong> David Linch, on<strong>de</strong> o protagonista John Merrick, é<br />

exposto num pequeno circo <strong>de</strong> aberrações para satisfazer a curiosi<strong>da</strong><strong>de</strong> escópica <strong>do</strong> público. Na<strong>da</strong> <strong>de</strong> estranho<br />

para a época até que um médico, Dr.Treves, imbuí<strong>do</strong> <strong>de</strong> boa-­‐vonta<strong>de</strong> e nascente espírito científico <strong>de</strong>ci<strong>de</strong><br />

retirar Merrick <strong>do</strong> circo, <strong>de</strong>monstran<strong>do</strong> com seu ato a estreita relação que será sela<strong>da</strong> <strong>do</strong>ravante entre a<br />

compaixão e a entra<strong>da</strong> no discurso médico. A cultura <strong>do</strong> voyeurismo será então substituí<strong>da</strong> pela observação<br />

178

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!