13.04.2013 Views

anais do xi encontro da epfcl|afcl - brasil - Escola de Psicanálise dos ...

anais do xi encontro da epfcl|afcl - brasil - Escola de Psicanálise dos ...

anais do xi encontro da epfcl|afcl - brasil - Escola de Psicanálise dos ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

ouvi<strong>do</strong>s ao ponto <strong>de</strong> precisar tapá-­‐los para conseguir <strong>do</strong>rmir. Recor<strong>da</strong>-­‐se <strong>da</strong> impotência <strong>do</strong> pai<br />

diante <strong>da</strong> <strong>do</strong>ença <strong>da</strong> mãe e relata uma cena on<strong>de</strong> o vê senta<strong>do</strong> numa ca<strong>de</strong>ira, com as mãos na<br />

cabeça como se a apertasse, choran<strong>do</strong> <strong>de</strong>sespera<strong>do</strong> “feito uma criança. Me <strong>de</strong>u muita pena <strong>de</strong>le,<br />

nunca mais consegui esquecer isso”, diz.<br />

Outras cenas, porém <strong>da</strong>ntescas, povoavam seus pensamentos. Na primeira <strong>de</strong>las, sua mãe<br />

encantrava-­‐se senta<strong>da</strong> à beira <strong>da</strong> cama, muito páli<strong>da</strong>, seguran<strong>do</strong> nas mãos um penico cheio <strong>de</strong><br />

sangue. “Ela cuspia sangue. Era um horror”. Aquele foi um perío<strong>do</strong> marca<strong>do</strong> por uma série <strong>de</strong><br />

acontecimentos carrega<strong>do</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>salento e que ficaram para sempre em sua memória. No dia<br />

em que a mãe morreu Helena voltou <strong>da</strong> escola e levou um gran<strong>de</strong> susto. Ao entrar na sala<br />

<strong>de</strong>parou-­‐se com o caixão ilumina<strong>do</strong> apenas pelas velas acesas em meio à sala escura. Naquele<br />

tempo era costume velar os mortos em casa e forravam-­‐se as pare<strong>de</strong>s com um pano preto<br />

numa <strong>de</strong>monstração <strong>do</strong> luto em que se viam envolvi<strong>do</strong>s os familiares já que o preto era a<br />

representação <strong>do</strong> na<strong>da</strong> <strong>da</strong> ausência e <strong>da</strong> escuridão. Helena disse que foi um “horror” tão gran<strong>de</strong><br />

que ela saiu <strong>da</strong> sala gritan<strong>do</strong> e choran<strong>do</strong>. “O meu pai teve o bom senso <strong>de</strong> não me <strong>de</strong>ixar ir ver o<br />

enterro <strong>de</strong>la”. Helena diz que “o mais impressionante” acontecimento <strong>da</strong>queles tempos foi o<br />

fato <strong>de</strong> que para ela era como se a mãe não tivesse morri<strong>do</strong>. Passou anos mentin<strong>do</strong> para as<br />

colegas <strong>do</strong> colégio, fingin<strong>do</strong> que sua mãe estava viva. Quan<strong>do</strong> alguém perguntava pela mãe ela<br />

tinha sempre uma resposta pronta ou criava uma nova história. Dizia: “minha mãe não gosta;<br />

ou minha mãe não quer que eu fique na rua; minha mãe não <strong>de</strong>ixa; tenho que ir para casa<br />

porque minha mãe tá esperan<strong>do</strong>, etc.”. Deixou <strong>de</strong> participar <strong>da</strong> festa <strong>de</strong> formatura <strong>do</strong> colégio<br />

porque não tinha como apresentar a mãe. Estas lembranças foram, nas sessões, sempre<br />

139

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!