13.04.2013 Views

anais do xi encontro da epfcl|afcl - brasil - Escola de Psicanálise dos ...

anais do xi encontro da epfcl|afcl - brasil - Escola de Psicanálise dos ...

anais do xi encontro da epfcl|afcl - brasil - Escola de Psicanálise dos ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Esse momento foi um marco na direção <strong>do</strong> tratamento pois, enfim, seu en<strong>de</strong>reçamento<br />

à analista começa a se <strong>de</strong>linear. Agora comparece sozinho à sua análise, sempre preocupa<strong>do</strong><br />

em vir “bonito” para a sessão, segun<strong>do</strong> relato <strong>da</strong> mãe.<br />

Percebemos que, para além <strong>de</strong> uma dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> alfabetização, o que se verifica no<br />

caso <strong>de</strong> Marcélio é um regressão a uma fase anterior, on<strong>de</strong> algo se fixa no não saber. Para<br />

abor<strong>da</strong>r como isso se dá, é importante tecermos alguns comentários sobre o que a psicanálise<br />

tem a dizer sobre o processo <strong>de</strong> alfabetização.<br />

No texto sobre as afasias, ain<strong>da</strong> num momento pré-psicanalítico, Freud (1915a)<br />

i<strong>de</strong>ntifica o que está em jogo nos diversos momentos <strong>de</strong> aquisição <strong>da</strong> linguagem, num<br />

percurso que vai <strong>da</strong> aquisição <strong>da</strong> fala à aquisição <strong>da</strong> escrita. Apren<strong>de</strong>mos a falar, segun<strong>do</strong> ele,<br />

servin<strong>do</strong>-nos <strong>de</strong> uma linguagem própria; criamos, uma espécie <strong>de</strong> dialeto. Fazemos isso<br />

associan<strong>do</strong> uma imagem sonora <strong>da</strong> palavra (que adquirimos <strong>do</strong> outro) a uma sensação <strong>de</strong><br />

inervação <strong>da</strong> palavra, associan<strong>do</strong> diferentes e estranhos sons <strong>de</strong> palavras a um único som que<br />

nós mesmos produzimos. No processo que se segue, passamos a tentar tornar esse som<br />

produzi<strong>do</strong> o mais pró<strong>xi</strong>mo possível <strong>da</strong> linguagem <strong>do</strong>s outros.<br />

O processo <strong>de</strong> aquisição <strong>da</strong> leitura e <strong>da</strong> escrita, envolve, segun<strong>do</strong> Freud, uma reedição<br />

<strong>de</strong>sse processo, um segun<strong>do</strong> esforço <strong>de</strong> associação. Associamos as representações obti<strong>da</strong>s ao<br />

pronunciar ca<strong>da</strong> uma <strong>da</strong>s letras e, <strong>de</strong>ssas associações, percebemos surgirem novas<br />

representações <strong>de</strong> palavras. Reconhecemos no que aí obtemos o som <strong>da</strong> palavra tal como a<br />

conhecíamos, e então, lemos compreen<strong>de</strong>n<strong>do</strong>. Segun<strong>do</strong> ele, esse processo é facilita<strong>do</strong> pela<br />

semelhança que há entre o dialeto <strong>do</strong>s primeiros anos <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> e a linguagem escrita.<br />

Percebemos que há uma pro<strong>xi</strong>mi<strong>da</strong><strong>de</strong> entre esse dialeto a que Freud se refere e aquilo<br />

que anos mais tar<strong>de</strong> Lacan vai chamar <strong>de</strong> lalangue 2 . Lalangue não é a linguagem, ela é antes<br />

um banho <strong>de</strong> obsceni<strong>da</strong><strong>de</strong> como diz Colette Soler (2010, p.29) ao se referir a esses uns,<br />

essaim 3 , enxame <strong>de</strong> significantes que a criança recebe <strong>de</strong> primeiro gran<strong>de</strong> outro, a mãe.<br />

lalangue, portanto, não é <strong>da</strong> or<strong>de</strong>m <strong>do</strong> simbólico, mas <strong>do</strong> real. A autora nos adverte que não<br />

2<br />

Neologismo cria<strong>do</strong> por Lacan. O termo “lalangue”, faz referencia a “lalação”, primeiros sons emiti<strong>do</strong>s pelo<br />

bebê.<br />

3<br />

Em Frances há uma homofonia entre “essaim”, enxame e “esse uns”, S1, termo que Lacan utiliza para se<br />

referir ao enxame <strong>de</strong> significantes.<br />

103

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!