13.04.2013 Views

anais do xi encontro da epfcl|afcl - brasil - Escola de Psicanálise dos ...

anais do xi encontro da epfcl|afcl - brasil - Escola de Psicanálise dos ...

anais do xi encontro da epfcl|afcl - brasil - Escola de Psicanálise dos ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

maneira satisfatória. Senti<strong>do</strong> aqui não no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> significação, mas no <strong>de</strong> vetor. Ou seja, o<br />

sintoma é um vetor apontan<strong>do</strong> para a presença <strong>do</strong> real.<br />

O Caso Clínico<br />

Os pais <strong>de</strong> Marcélio, 11 anos, me procuram em Junho <strong>de</strong> 2009 porque, segun<strong>do</strong> os<br />

pais “a professora disse que ele precisava <strong>de</strong> psicólogo”. É muito inquieto, não presta atenção<br />

na aula e briga constantemente com os outros alunos. Alem disso, embora esteja cursan<strong>do</strong><br />

pelo quarto ano consecutivo a terceira série, não consegue ler nem escrever. Trata-se <strong>de</strong> um<br />

caso atendi<strong>do</strong> em um serviço público <strong>de</strong> Fortaleza-CE situa<strong>do</strong> em uma região muito carente<br />

<strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

O <strong>de</strong>safio nas entrevistas preliminares foi tentar localizar algo na fala <strong>de</strong> Marcélio que<br />

o implicasse para alem <strong>da</strong> <strong>de</strong>man<strong>da</strong> <strong>de</strong> a<strong>de</strong>quação <strong>do</strong> comportamento en<strong>de</strong>reça<strong>da</strong> a mim pelos<br />

pais e pela escola e que ele parecia en<strong>do</strong>ssar. Falava muito pouco e, nesse pouco, <strong>de</strong>ixa<br />

entrever que acredita que está ali para ser mais comporta<strong>do</strong>, para parar <strong>de</strong> brigar na escola e<br />

pra conseguir apren<strong>de</strong>r. Peço-lhe para me falar sobre isso, “não conseguir apren<strong>de</strong>r” e<br />

<strong>de</strong>scubro que não se trata simplesmente <strong>de</strong> não conseguir, há uma singulari<strong>da</strong><strong>de</strong> muito<br />

relevante em sua história. Ele diz: eu sabia ler e escrever, mas um dia o colégio caiu. Tive que<br />

ficar em casa por uns meses e quan<strong>do</strong> eu voltei tinha “esqueci<strong>do</strong> <strong>de</strong> tu<strong>do</strong>”. Suas dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

dizem respeito tanto a leitura como a escrita. Também esquece com freqüência <strong>do</strong> que vai<br />

dizer: às vezes a palavra vem reta na minha cabeça mas na hora <strong>de</strong> dizer sai outra coisa.<br />

A passagem que vai permitir a Marcélio sair <strong>da</strong> <strong>de</strong>man<strong>da</strong> <strong>do</strong>s pais para uma<br />

formulação <strong>de</strong> sua própria questão ocorre certo dia em que ele reconhece uma <strong>da</strong>s pacientes<br />

que aten<strong>do</strong> como sen<strong>do</strong> uma <strong>de</strong> suas vizinhas e me pergunta porquê ela está ali. Respon<strong>do</strong> que<br />

as pessoas vem para cá porque tem alguma coisa que as aflige, que as faz sofrer e vem buscar<br />

aju<strong>da</strong>. Pergunto se é o caso <strong>de</strong>le. Ele diz que tem sim, que ele sofre porque esqueceu algumas<br />

coisas e que acha que eu po<strong>de</strong>ria ajudá-lo a lembrar. Outro fato que lhe intriga é que ele, por<br />

diversas vezes, acor<strong>do</strong>u e estava em pé, em frente a gela<strong>de</strong>ira, por exemplo, e não se lembra<br />

como chegou lá.<br />

102

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!