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eBook - Antropologia Missionária - Ronaldo Lidorio - Juvep

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centrada nas experiências ativas, isto é, as de hoje, mais perceptíveis, enquanto os<br />

grupos “históricos” possuem uma cosmovisão construída a partir dos marcos antigos,<br />

sejam históricos, mitos, normas, costumes ou tradição. Nestes, as convicções,<br />

anseios, objetivos e perspectivas são baseados em um passado próximo ou distante e<br />

com esperança futura, escatológica.<br />

Diferente dos “históricos”, os grupos “existenciais” se baseiam no agrupamento<br />

social, sua vivência, sua dinâmica e seus alvos. Aqueles estão fundamentados em sua<br />

cosmologia e nos marcos históricos que construíram a sociedade. Enquanto o<br />

primeiro pensa basicamente na solução dos conflitos imediatos o segundo preocupa-<br />

se com a manutenção de sua identidade, o que inclui a forma, antiga e testada, de<br />

solução de conflitos. Os grupos históricos são por natureza mais rígidos quanto a<br />

mudanças pois os marcos históricos possuem peso de manutenção de valores e<br />

comportamentos enquanto os existenciais tendem a desenvolver uma postura mais<br />

maleável perante os valores e costumes.<br />

Chomsky adverte que o pós-modernismo, com sua alta tendência existencial, possui<br />

este desapego com o passado. Os marcos possuem pouquíssima relevância ética e o<br />

comportamento é reformulado a cada situação levando a um incrível, e sem paralelo,<br />

momento em que os valores estão em aberto. Tornam-se negociáveis.<br />

Os africanos, escravizados, no período da colonização brasileira poderiam ser citados<br />

como um ajuntamento de grupos basicamente históricos enquanto os indígenas<br />

brasileiros, da mesma época, tipicamente existenciais. Os africanos, escravizados e<br />

sem liberdade a vista eram guiados pelo silogismo: “posso sofrer a vida inteira mas<br />

quem sabe meu filho será livre”. Seus cânticos falavam sobre a terra de seus pais e<br />

seus dias eram motivados pela possibilidade de mudança futura. Já os grupos<br />

indígenas, mais existenciais, negavam o sofrimento da escravidão à custo da própria<br />

vida. Eram guiados pelo silogismo: “se é para viver escravizado e humilhado, é<br />

melhor não viver”. Ondas de suicídio e confronto tornaram a escravidão indígena sem<br />

sucesso no Brasil colônia. Ambos os grupos (ou ajuntamento de grupos) desejam a<br />

liberdade com a mesma intensidade, porém suas reações perante a escravidão foram<br />

antagônicas, definidas por seu padrão cultural.<br />

Em relação a solução de conflitos, a existencial está associada a uma abordagem<br />

prática, funcional enquanto a histórica aos marcos antigos, costumes e tradições. O<br />

povo Tariana do Alto Rio Negro seria um exemplo de um grupo existencial onde se<br />

observa, em seu discurso, uma centralização nas questões do dia e busca por soluções<br />

dos conflitos mais imediatos.<br />

85 <strong>eBook</strong> – <strong>Antropologia</strong> <strong>Missionária</strong> – <strong>Ronaldo</strong> A Lidório

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