eBook - Antropologia Missionária - Ronaldo Lidorio - Juvep

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descrever nuances sutis em uma comunicação humana. 64 Utilizaremos também Bourdieu. O “Conceito de Bourdieu” tem suas idéias anteriores a Mauss, denotando a totalidade das habilidades, dos hábitos, do estol, dos gostos instruídos, corporais e assim por diante. “Habitus” pode ser compreendido como uma variante da cultura que é baseada no corpo. “Hexis” é essa parte do habitus, onde uma comunicação entre povos ocorre com corpo-língua: movimentos minúsculos e outros. 65 Tendo estes dois conceitos em mente precisamos utilizar a etnologia como ferramenta de trabalho para a observação e conceituação étnica e social pensando especialmente em três abordagens que julgo fundamentais. A primeira categorizando os relacionamentos, principalmente no âmbito do parentesco, entre os clãs ou grupos, e entre os excluídos. A segunda buscando entender a funcionalidade, pontuando as funções comunitárias, familiares, as oficiais e informais, as espirituais e místicas e, por fim, funções sociais informais. Em terceiro lugar a individualidade, como motivações para a vida, volições e aspirações, modelo de existência e esperança. Propomos, a seguir, uma metodologia viável de macro categorização dos grupos étnicos partindo do pressuposto comparativo. A elaboração deste método visa simplificar a visibilidade comparativa de culturas sensivelmente distintas. É uma análise geral, que objetiva proporcionar não mais do que a compreensão da macro- estrutura social de um segmento humano, porém pontuando e destacando os pontos vitais para sua existência e desenvolvimento. Categorizaremos tais sociedades como sendo progressistas ou tradicionais, existenciais ou históricas, teófanas ou naturalistas. Progressistas ou Tradicionais Os grupos que chamaremos de “progressistas” caracterizam-se por um 64 Dicionário Online de Antropologia, Op.Cit. 65 Idem 82 eBookAntropologia MissionáriaRonaldo A Lidório

comportamento onde são rápidas as mudanças de valores e comportamento. Além disto optam por uma ‘evolução social’ enquanto as “tradicionais” valorizam a constância e preservação dos valores e estrutura de vida. Elas podem ser mais bem conceituadas se as observarmos a partir dos seus símbolos de status, posses e bens, conforto e adaptabilidade, tecnologia e sincretismo religioso. Os chamados tradicionais manifestam total interação com a história. As características supracitadas formam-se dentro de padrões e valores não mutáveis. São chamadas culturas “primitivas” por observarem um impulso interior com motivação não mutável que caracteriza a repetição dos desejos, alvos, perspectivas, axiomas, padrões comportamentais, sejam sociais, morais ou religiosos, de milênios de anos atrás. Com relação ao sincretismo, é mais provável que aconteça em uma sociedade progressista, assim como a mudança de aceitação religiosa. Vale salientar que este sincretismo, ou mesmo as mudanças que não sejam sincretistas, mas substitutivas, são fruto de uma mentalidade que podemos chamar de aberta ou inclusiva, o que Laburthe-Tolra e Warnier chamam de religião dinâmica. “O homem das sociedades abertas poderá participar de um ideal de universalidade que transcende o grupo social e o coloca em comunhão com todos os homens...” 66 A religião se caracteriza por ser estática, numa perspectiva de preservar, a qualquer preço, a coesão da sociedade. “A religião é, no sentido mais forte da palavra, conservadora... proíbe a autonomia do pensamento e da ação individuais, de modo que a crença comum não possui outra regra que o consentimento e a prática unânimes do grupo.” 67 A dessacralização, na perspectiva de Eliade, é marca de culturas progressistas onde o homem, na procura de se ‘libertar’ rejeita o sagrado e se ‘seculariza’ com elementos do profano. Apenas um mecanismo social aberto e progressista comportaria este distanciamento com o sagrado. Algumas perguntas podemos fazer nesta altura, como “o que confere status ao indivíduo?” Para os progressistas é sempre o mais novo ou evoluído. Em culturas progressistas comprar um carro modelo 2008 em julho de 2007 provê a impressão de atualidade, desenvolvimento e prosperidade. Em culturas tradicionais construir sua casa na aldeia, de palha de caranã em modelo circular, como faziam seus avós e outros antes deles, provê a impressão de segurança, identidade e preservação da vida. Em nossa presente cultura, progressista ocidental brasileira, os bens são construídos 66 Laburthe-Tolra e Warnier, Op.Cit., pg. 218 67 Idem, pg. 217 83 eBookAntropologia MissionáriaRonaldo A Lidório

comportamento onde são rápidas as mudanças de valores e comportamento. Além<br />

disto optam por uma ‘evolução social’ enquanto as “tradicionais” valorizam a<br />

constância e preservação dos valores e estrutura de vida. Elas podem ser mais bem<br />

conceituadas se as observarmos a partir dos seus símbolos de status, posses e bens,<br />

conforto e adaptabilidade, tecnologia e sincretismo religioso.<br />

Os chamados tradicionais manifestam total interação com a história. As<br />

características supracitadas formam-se dentro de padrões e valores não mutáveis.<br />

São chamadas culturas “primitivas” por observarem um impulso interior com<br />

motivação não mutável que caracteriza a repetição dos desejos, alvos, perspectivas,<br />

axiomas, padrões comportamentais, sejam sociais, morais ou religiosos, de milênios<br />

de anos atrás.<br />

Com relação ao sincretismo, é mais provável que aconteça em uma sociedade<br />

progressista, assim como a mudança de aceitação religiosa. Vale salientar que este<br />

sincretismo, ou mesmo as mudanças que não sejam sincretistas, mas substitutivas,<br />

são fruto de uma mentalidade que podemos chamar de aberta ou inclusiva, o que<br />

Laburthe-Tolra e Warnier chamam de religião dinâmica. “O homem das sociedades<br />

abertas poderá participar de um ideal de universalidade que transcende o grupo<br />

social e o coloca em comunhão com todos os homens...” 66<br />

A religião se caracteriza por ser estática, numa perspectiva de preservar, a qualquer<br />

preço, a coesão da sociedade. “A religião é, no sentido mais forte da palavra,<br />

conservadora... proíbe a autonomia do pensamento e da ação individuais, de modo<br />

que a crença comum não possui outra regra que o consentimento e a prática<br />

unânimes do grupo.” 67 A dessacralização, na perspectiva de Eliade, é marca de<br />

culturas progressistas onde o homem, na procura de se ‘libertar’ rejeita o sagrado e se<br />

‘seculariza’ com elementos do profano. Apenas um mecanismo social aberto e<br />

progressista comportaria este distanciamento com o sagrado.<br />

Algumas perguntas podemos fazer nesta altura, como “o que confere status ao<br />

indivíduo?” Para os progressistas é sempre o mais novo ou evoluído. Em culturas<br />

progressistas comprar um carro modelo 2008 em julho de 2007 provê a impressão de<br />

atualidade, desenvolvimento e prosperidade. Em culturas tradicionais construir sua<br />

casa na aldeia, de palha de caranã em modelo circular, como faziam seus avós e<br />

outros antes deles, provê a impressão de segurança, identidade e preservação da vida.<br />

Em nossa presente cultura, progressista ocidental brasileira, os bens são construídos<br />

66 Laburthe-Tolra e Warnier, Op.Cit., pg. 218<br />

67 Idem, pg. 217<br />

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