eBook - Antropologia Missionária - Ronaldo Lidorio - Juvep
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mitologia que cerca Yunii é, portanto, de nosso interesse especialmente seu<br />
casamento com as filhas dos homens, impuras, cujos filhos formavam os binaan,<br />
primeiro clã Bassari, que até os dias de hoje ordenam as chefias comunitárias. Por<br />
causa deste conceito o pecado é percebido como residindo na mulher e sendo<br />
transmitido por ela. Crêem que o fracasso do homem reside em seu nascimento, de<br />
mulher, e seu casamento, com uma mulher. Sem estas os homens não pecariam. E<br />
assim os Bassari crêem que qualquer motivo de acusação aos homens, devido a seus<br />
erros e pecados, é imerecida e injusta visto que nas mulheres reside a impureza. Os 12<br />
principais personagens que são seguidos, em grau de importância, a Yunii, se<br />
revezam como guerreiros, heróis e grandes líderes. Seus nomes estão associados a<br />
totens, lendas e magia. Boa parte da religiosidade do povo se associa a estes 12, já que<br />
são o resumo do que um Bassari considera hoje um ancestral. Seus nomes são dados<br />
a fetiches, lugares sagrados e crianças que nascem de forma especial, a quem se crê<br />
ter recebido ajuda sobrenatural para nascer ou sobreviver. Cada clã, em particular,<br />
possui uma elaboração específica (apesar de muito semelhante à primeira vista) de<br />
rituais e cerimônias de nascimento, conservação de poder, transmissão de<br />
conhecimento, dispersão e construção de moradia e outros. Para nos atermos a um só<br />
exemplo o clã Nabii utiliza sangue de cabra para untar os umbrais das portas a fim de<br />
afugentar os espíritos de morte. Já o clã Natii utiliza sangue de aves pois na mitologia<br />
distante o reino de Keren, seu ancestral por ligação direta e fundador do clã (mesmo<br />
sendo um ser lendário, aparentemente) foi salvo por aves durante um conflito<br />
gerando assim uma ação totêmica e também um tabu.<br />
Este estudo, sendo mais êmico, tentará, portanto, identificar a genealogia destes<br />
personagens que chamamos de Persona Alfa. A esta personalização estão ligados<br />
fatos muito relevantes para a comunicação da mensagem do Evangelho como a<br />
queda, dispersão, comunicação com Deus, desejo por reconciliação e expectativa da<br />
intervenção divina. O resultado não será válido no objetivo de gerar historicidade,<br />
repito, mas sim para compreendermos a forma como um povo se vê em termos de<br />
origem e perpetuação da sua espécie, dando-nos a avenida de acesso para uma<br />
comunicação que gere entendimento.<br />
Origem universal – A procura do Ponto Alfa<br />
Se na primeira abordagem procurávamos o primeiro ser criado ou surgido, a Persona<br />
Alfa, procuramos agora o conceito histórico ou mitológico no grupo para o criador ou<br />
força criadora. A origem universal do homem está intrinsecamente ligada à sua<br />
religiosidade, também universal e atemporal: “Um certo racionalismo anuncia<br />
periodicamente o enfraquecimento de toda a religião, sendo ela tida como ligada à<br />
ignorância ou ao sentimentalismo. Mas Durkheim, Weber e Malinowski foram<br />
63 <strong>eBook</strong> – <strong>Antropologia</strong> <strong>Missionária</strong> – <strong>Ronaldo</strong> A Lidório