eBook - Antropologia Missionária - Ronaldo Lidorio - Juvep
eBook - Antropologia Missionária - Ronaldo Lidorio - Juvep
eBook - Antropologia Missionária - Ronaldo Lidorio - Juvep
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Fé e perdão eram os pontos fortes em nossa comunicação pois era sabido que “um<br />
homem não andaria com um fetiche sem antes crer em seu poder” (provérbio<br />
sanboln) e também que “não se esquece o que não se perdoou” (provérbio binaliib) 134 .<br />
Eram portanto dois conceitos já utilizados e de fácil comunicação quando aplicados<br />
ao evangelho. Havia muita curiosidade, e até mesmo atração, pelos ensinos bíblicos<br />
nesta altura. Entretanto o ponto de referência central, que creio ser marco para<br />
perceber com olhos humanos a atuação de Deus, é um verdadeiro arrependimento<br />
entre o povo, transformação de vida e reconhecimento do senhorio de Cristo, o que<br />
ainda aguardávamos acontecer.<br />
Vimos, assim, que apesar do ‘mantotiib’, uma clara ponte de comunicação, cooperar<br />
para a evangelização em algum momento, não era o suficiente para uma clara<br />
compreensão de seu próprio significado. Este fato levou-nos a desenvolver uma<br />
abordagem mais generalista e existencial quanto à cultura observada. Ou seja,<br />
percebemos que era de suma importância não basearmos o processo de comunicação<br />
tão somente em um ou dois pontos culturais marcantes do passado (ou do presente),<br />
mas sim utilizarmos toda a amplitude cultural da sociedade abordada. Tal amplitude<br />
cultural seria o caminho mais seguro para a conclusão dos meios de comunicação de<br />
valores e conceitos, de forma inteligível e aplicável à sociedade de hoje.<br />
O presente método é construído justamente sobre esta base. Categorizar e analisar,<br />
para compreender, todos as principais áreas que formam o bojo cultural da sociedade<br />
alvo. Com isto em mãos darmos o passo, seguinte, que aqui apresentamos como<br />
ANGELOS.<br />
Informação, interpretação e associação<br />
Repetirei aqui, intencionalmente, parte do que narrei na introdução. Creio ser válido,<br />
nesta altura, relembrar nossa base teórica de comunicação e seu processo.<br />
Há uma clara diferença entre informação, interpretação e associação. A informação é<br />
uma mensagem transmitida a outro, seja de forma verbal, não verbal, escrita,<br />
encenada etc. Um indígena caçador pode informar a um branco urbano sobre o uso<br />
da intuição durante a caça. Apesar de ser, em si, uma informação, não significa que<br />
será processada e compreendida devidamente. Isto porque só compreendemos<br />
informações que possuam paralelo com um valor já estabelecido.<br />
A partir de tal paralelo geramos a interpretação e, posteriormente, a associação. A<br />
interpretação, ou seja, a decodificação da informação se dá a partir dos códigos<br />
conhecidos, em nossa própria cultura. Quando a informação é passada de forma<br />
próxima o suficiente conseguimos decodificá-la usando os códigos que já possuímos e<br />
utilizamos em nosso dia a dia. Quando tal não funciona não há compreensão da<br />
informação, ou há má compreensão. Quando funciona abre-se uma janela para a<br />
134 Há um grande acervo de provérbios com aplicação religiosa entre os Konkombas. Provérbios, entre outras<br />
coisas, usam palavras e aplicam sentidos mais profundos lingüisticamente, por utilizarem vastamente o<br />
contexto e a história.<br />
167 <strong>eBook</strong> – <strong>Antropologia</strong> <strong>Missionária</strong> – <strong>Ronaldo</strong> A Lidório