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eBook - Antropologia Missionária - Ronaldo Lidorio - Juvep

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sagrado que remonta ao tempo mítico. Mauss divagou sobre esta questão concluindo<br />

que o sagrado é mais que um fato, ou idéia social, mas sim uma necessidade empírica<br />

encontrada em todos os segmentos humanos. Baseou-se na empírica necessidade de<br />

aproximação com o ‘mana’ para que a vida ganhe maior significado. Entretanto, em<br />

uma perspectiva elementar creio que poderíamos supor que o sagrado, em sua<br />

extensão de relações, não é causador mas sim causado. E neste caso causado por uma<br />

necessidade de crer, de minimizar o mal, de procurar salvação. Encontramos, assim,<br />

de forma incontestável, em uma variedade extensa de culturas estes elementos<br />

necessários de aproximação. O principal destes elementos é o impuro.<br />

O que sugiro, assim, é que o conhecimento do mal em suas diversas formas (erro,<br />

quebra, morte, dor...) é o elemento que desperta e formula o sagrado nas diversas<br />

culturas. Na tentativa de provar este pensamento sugiro imaginarmos uma criança<br />

recém-nascida, desprovida de influencia social e religiosa. Privada de convívio social<br />

é posta a se manter em exílio de presença humana que com ela se comunique até<br />

atingir os 12 anos de idade. Esta mesma criança, sem o desenvolvimento da fala, da<br />

sociabilidade estruturada ou mesmo da compreensão do ‘pecado’ social não está<br />

isenta de sentir o impuro que lhe chega através de elementos psíquicos como medo,<br />

inquietação, inconformação e culpa. Mesmo excluída e só não há dúvida que estes<br />

elementos, representação do impuro, poderiam ser suficientes para a incipiente<br />

produção de sentimentos que levem a criança-adolescente a desenvolver meios<br />

rudimentares de procura do sagrado e evitamento do impuro. Se esta comprovação é<br />

plausível haveríamos de crer que o ‘mal’ produtor das impurezas não se encontra, a<br />

priori, na sociedade e suas inter-relações mas sim no próprio homem, mesmo que<br />

desprovido de fala e sociabilidade. O conjunto destas impurezas, geradas na esfera<br />

psíquica, produz na coletividade social as mazelas comunitárias conhecidas e<br />

analisadas antropologicamente. A partir desta conclusão podemos perceber que o<br />

‘mal’, empírica e não teologicamente, é o causador que desperta a atenção do homem<br />

para a necessidade de minimização do mesmo, gerando assim o sagrado e suas<br />

atribuições.<br />

Uma primeira conclusão, a posteriori, nos levaria a entender que a religiosidade (se<br />

definida pelo conjunto e relação entre sagrado e profano) não apenas contribui para a<br />

estruturação social mas a causa, sendo assim fonte de construção humana e não sua<br />

mera conseqüência. Uma segunda conclusão, a posteriori, nos levaria a iniciar uma<br />

nova caminhada pois, se o mal é o causador do desejo de evitamento do impuro<br />

gerando assim a estruturação do sagrado pessoal e comunitário, este mal, sendo<br />

originalmente psíquico e não social, é o mesmo em todas as suas formas e expressões<br />

lingüísticas e culturais. Sendo universal, portanto, representa uma enfermidade<br />

genérica, para a qual milhares de medicamentos com as mais diferentes fórmulas são<br />

147 <strong>eBook</strong> – <strong>Antropologia</strong> <strong>Missionária</strong> – <strong>Ronaldo</strong> A Lidório

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