eBook - Antropologia Missionária - Ronaldo Lidorio - Juvep
eBook - Antropologia Missionária - Ronaldo Lidorio - Juvep
eBook - Antropologia Missionária - Ronaldo Lidorio - Juvep
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
encontra-se enterrado sempre perto de uma grande árvore 118. Ao nascer um menino<br />
Chakali, o espírito ali enterrado se transporta e ocorre o mantiib, que é o momento<br />
do nascimento, que significa de fato associação, ou seja, o momento em que aquele<br />
espírito até então enterrado se associa a criança. O tipo de espírito (se forte, fraco, em<br />
desenvolvimento) coincide com o tipo de árvore que o retém em sua sombra<br />
(território) coincide com o status do clã. Por isto a mobilidade social é impossível<br />
entre clãs, sendo que seu espírito humano, caráter e força, são definidos nesta<br />
associação logo no nascimento.<br />
De certa forma, portanto, podemos compreender que a base do conceito de<br />
totemismo está enraizado na associação entre elementos. A crença de que alguns<br />
elementos não humanos estão conectados aos homens, em certo grupo ou clã.<br />
Transferência e o conceito de pares<br />
Tal força da vida, auto-existente, se manifesta transferindo vida para outros<br />
elementos da natureza: plantas, elementos inanimados, vento, animais, homens e<br />
assim por diante. Podemos concluir, portanto, que grupos totêmicos se baseiam na<br />
crença de que o universo é vitalizado por uma única força que se associa a seus<br />
habitantes, animados ou inanimados, fazendo com que sejam os homens apenas<br />
parte do todo, dependente do todo, ligado ao todo.<br />
Este conceito totêmico primitivo de religiosidade, ligação mística entre o homem e a<br />
natureza, se transforma em totemismo (ou seja, a elaboração da crença) a partir da<br />
observação humana. Isto ocorre quando membros de um certo grupo, observando a<br />
vida e seu processo, intuem a ligação entre seu grupo humano e certa parte da<br />
natureza, entendendo assim que o mesmo tipo de força que vivifica tal parte da<br />
natureza também o faz em seu grupo. Estas descobertas estão presentes nos mitos<br />
totêmicos. Falam abundantemente sobre momentos em que os velhos observaram<br />
uma reação estranha da natureza em relação ao seu povo. Tais descobertas<br />
(mencionadas nos mitos, contos e lendas) falam quase sempre sobre atos de resgate<br />
ou ajuda de animais ao grupo, em momentos de perigo. Ou sobre um pássaro que<br />
cantava mais alto quando tal grupo por ali passava. Ou um vento que soprava mais<br />
forte. Um leopardo que andou, manso, ao lado de um velho por toda trilha. A raiz de<br />
certa árvore que se assemelha às veias do corpo. Uma mata que serviu de proteção<br />
para um grupo perdido, e assim por diante.<br />
De certa forma o totemismo é um conceito filosófico binário relacional. Funciona em<br />
pares e a sabedoria dos velhos é utilizada na identificação destes pares na natureza,<br />
especialmente aqueles elementos que se relacionam com os homens. Seria o<br />
reconhecimento de que a força da vida, por algum motivo, se distribui de par em par<br />
na natureza. Assim o par de certa família seria o vento enquanto de outra a onça. Este<br />
aspecto binário relacional é amplo em contextos animistas e pode se manifestar tanto<br />
118 Ver casos semelhantes em Radcliffe-Brown, A R, 1952, Structure and Function in Primitive Society, London:<br />
Cohen and West.<br />
138 <strong>eBook</strong> – <strong>Antropologia</strong> <strong>Missionária</strong> – <strong>Ronaldo</strong> A Lidório