eBook - Antropologia Missionária - Ronaldo Lidorio - Juvep

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Ritos de reconhecimento de poder, que estão ligados a adoração, reconhecimento da entidade que ‘provoca’ o rito, ou louvor que é o reconhecimento dos feitos da entidade provocadora do rito. Freqüentemente há presença de possessão espiritual, fenômeno que possui várias percepções. Para alguns é um “estado de sonambulismo provocado, com desdobramento e substituição da personalidade” .113 Mencionando sobre os processos rituais Laburthe-Tolra e Warnier afirmam que: Totemismo “A busca de uma religião aberta, desembocando em perspectiva planetária, poderia tornar possível o cristianismo na África e Ásia, se este chegasse a manifestar, enraizando-se nas culturas, a universalidade de sua mensagem. Mas o cristianismo esbarra no racionalismo leigo e no relativismo que contestam o seu direito a desempenhar um papel no mundo moderno ... Os próprios sincretismos testemunham a capacidade das religiões de salvação de dar vida aos símbolos antigos. Atualmente, no entanto, os antropólogos com freqüência acusam os cristãos de terem destruído a autenticidade das culturas com seu proselitismo. A verdade, no entanto, é mais complexa: podemos afirmar, ao contrário, que as igrejas são as únicas instituições bastante desinteressadas e isentas para recolher o que subsiste das culturas em vias de destruição” 114. Neste tópico não me dedicarei a mencionar as diversas teorias sobre o totemismo, desenvolvidas por Frazer, Spencer, Roth, Lang e outros, nem mesmo o conceito original deste estudo a partir de McLennan. Meu intuito é apresentar o totemismo e sua correlação com a força da vida, regulando assim as práticas sociais. Goldenweiser em sua dissertação “Totemismo: um estudo analítico” 115 retira o simplismo no trato do totemismo apenas através de sua ligação com os diversos tabus e clãs. Com isto ele desloca o assunto da área puramente etnográfica e o coloca no mundo das idéias e identidade social, a etnologia. Ou seja, totemismo é uma concepção advinda de uma forma de interpretar o mundo ao seu redor, cosmovisão, e não apenas um agrupamento de práticas clânicas. Emile Durkheim, baseando-se no estudo do grupo Arunta da Austrália, diz que a base da religião é o totemismo e não a magia como pensam alguns, pois o primeiro faz a ligação entre a forma que o homem se posiciona na natureza e seu critério religioso. 113 Rodrigues, Nina, citado por René Ribeiro no livro “Antropologia da religião e Outros Estudos”, da Editora Massagana, 1982, (citado à pg.159). 114 Laburthe-Tolra e Warnier, Op.Cit., pg 264 115 GOLDENWEISER – Totemism: an analytical study – 1910:88 136 eBookAntropologia MissionáriaRonaldo A Lidório

Afirma, de forma metafórica, que o totem é a bandeira de um clã. São símbolos que transcendem sua aparência e identidade objetiva apontando para um grupo humano. Classicamente conceitua-se totemismo como um conjunto de idéias e práticas que tem como base a crença na existência de um parentesco místico entre seres humanos e a natureza, como animais e plantas. O estudo do totemismo na antropologia cultural se dá a partir de uma percepção sócio-filosófica de clara interação entre o homem e natureza. Strauss defende que tal ligação é sentida e se passa no inconsciente do grupo 116. O clã Binaliib da etnia Konkomba de Gana, na África, por exemplo, sente-se histórica e socialmente ligado ao leopardo, fazendo com que o clã receba seu nome, compartilhe seu território de caça, creia que há uma explicação mística de tempos recuados para esta integração e sente-se ‘misturado’ ao perfil daquele animal, crendo que experimenta e compartilha sua força, resistência e velocidade. A partir desta ligação totêmica surgem tabus e normas. Por vezes leis. No caso Konkomba, o clã Binaliib não poderá caçar ou comer um leopardo. Não poderá também partilhar das mesmas presas que ele ou transitar com muita liberdade em seu território de caça. No caso extremo de ataques de leopardo de forma constante em uma área Binaliib, pede-se a um membro de outro clã que possa caçá-lo. As habilidades do leopardo são valorizadas entre os Binaliib. A velocidade e força são valores ensinados para as crianças como associados ao totem crendo que, aqueles que desenvolverem tais habilidades possuirão maior associação com o animal. Os velhos utilizavam a expressão ndjotiib (irmãos de sangue) quando se referiam aos leopardos. A força da vida e a associação dos elementos Apesar do totemismo ser popularmente apresentado desta forma, a partir de uma união mística entre homem e natureza, seu conceito é bem mais amplo e creio que se dá a partir da cosmovisão de um grupo em relação à vida. Tenho defendido que está especificamente ligado a cosmovisão de um povo em relação à força da vida. Goldenweiser concorda que os tabus quanto a caça e localização do grupo não podem ser apontados como a origem do totemismo, sendo mais seu desdobramento 117. Os grupos humanos, e de forma especial os animistas, possuem um claro conceito em relação à força da vida. Alguns a localizam em um deus, ou deuses, outros no próprio homem, na natureza, e ainda outros a julgam auto-existente. Desta forma pensaríamos que, nos grupos que aqui chamaremos de totêmicos, a religiosidade não está centrada no homem, na natureza ou nos espíritos mas sim na força da vida. A força que provê e regula a vida. Tudo o que é visível ou sentido a possui. Os Chakalis de Gana, totêmicos, crêem que o espírito que dá vida ao homem 116 Strauss, Claude, 1908-. Totemismo hoje. 2.ed. -. São Paulo: Abril Cultural, 1980.181p. 117 American Anthropologist. Oct 1912, Vol 14, No 4: 600 137 eBookAntropologia MissionáriaRonaldo A Lidório

Ritos de reconhecimento de poder, que estão ligados a adoração, reconhecimento da<br />

entidade que ‘provoca’ o rito, ou louvor que é o reconhecimento dos feitos da<br />

entidade provocadora do rito. Freqüentemente há presença de possessão espiritual,<br />

fenômeno que possui várias percepções. Para alguns é um “estado de sonambulismo<br />

provocado, com desdobramento e substituição da personalidade” .113<br />

Mencionando sobre os processos rituais Laburthe-Tolra e Warnier afirmam que:<br />

Totemismo<br />

“A busca de uma religião aberta, desembocando em perspectiva planetária,<br />

poderia tornar possível o cristianismo na África e Ásia, se este chegasse a<br />

manifestar, enraizando-se nas culturas, a universalidade de sua mensagem.<br />

Mas o cristianismo esbarra no racionalismo leigo e no relativismo que<br />

contestam o seu direito a desempenhar um papel no mundo moderno ... Os<br />

próprios sincretismos testemunham a capacidade das religiões de salvação de<br />

dar vida aos símbolos antigos. Atualmente, no entanto, os antropólogos com<br />

freqüência acusam os cristãos de terem destruído a autenticidade das culturas<br />

com seu proselitismo. A verdade, no entanto, é mais complexa: podemos<br />

afirmar, ao contrário, que as igrejas são as únicas instituições bastante<br />

desinteressadas e isentas para recolher o que subsiste das culturas em vias de<br />

destruição” 114.<br />

Neste tópico não me dedicarei a mencionar as diversas teorias sobre o totemismo,<br />

desenvolvidas por Frazer, Spencer, Roth, Lang e outros, nem mesmo o conceito<br />

original deste estudo a partir de McLennan. Meu intuito é apresentar o totemismo e<br />

sua correlação com a força da vida, regulando assim as práticas sociais.<br />

Goldenweiser em sua dissertação “Totemismo: um estudo analítico” 115 retira o<br />

simplismo no trato do totemismo apenas através de sua ligação com os diversos tabus<br />

e clãs. Com isto ele desloca o assunto da área puramente etnográfica e o coloca no<br />

mundo das idéias e identidade social, a etnologia. Ou seja, totemismo é uma<br />

concepção advinda de uma forma de interpretar o mundo ao seu redor, cosmovisão, e<br />

não apenas um agrupamento de práticas clânicas.<br />

Emile Durkheim, baseando-se no estudo do grupo Arunta da Austrália, diz que a base<br />

da religião é o totemismo e não a magia como pensam alguns, pois o primeiro faz a<br />

ligação entre a forma que o homem se posiciona na natureza e seu critério religioso.<br />

113<br />

Rodrigues, Nina, citado por René Ribeiro no livro “<strong>Antropologia</strong> da religião e Outros Estudos”, da Editora<br />

Massagana, 1982, (citado à pg.159).<br />

114<br />

Laburthe-Tolra e Warnier, Op.Cit., pg 264<br />

115<br />

GOLDENWEISER – Totemism: an analytical study – 1910:88<br />

136 <strong>eBook</strong> – <strong>Antropologia</strong> <strong>Missionária</strong> – <strong>Ronaldo</strong> A Lidório

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