eBook - Antropologia Missionária - Ronaldo Lidorio - Juvep
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que toda magia é simpática, porém utilizamos aqui o termo para designar as<br />
iniciativas mágicas usadas para procriação, proteção e paixão, como a branca e<br />
imitativa mas com a característica de serem atos abertos e não velados, disponível<br />
para compra ou prática, de forma simples e comunitária. Está associada a tabus e<br />
talismãs e se propõe a controlar o acaso e não produzir um fim específico. No Brasil<br />
poderíamos classificar como magia simpática a utilização de branco como roupa de<br />
ano novo produzindo felicidade e fartura, o uso de fitas do senhor do Bonfim nos<br />
pulsos para proteção. São chamadas popularmente de simpatias.<br />
Alegórica, produtoras de ganhos e perdas, com elementos específicos que em<br />
determinadas situações podem produzir ganhos e, em sua ausência, prejuízos, como<br />
a água benta vendida em algumas igrejas. Assemelha-se à imitativa e a mais forte<br />
diferença seria a crença. Enquanto a primeira está mais associada ao acaso, a forças<br />
indefinidas, a segunda está associada a forças pessoais definidas como invocações,<br />
profecias e visões. Entre os Aborígines da Austrália o sonho manifesta elementos que<br />
podem ser utilizados na magia. Neste caso a magia não é um ato produzido mas sim<br />
um acontecimento, resultado do poder e desejo do divino para um indivíduo que<br />
sonha o sagrado. Desta forma o sonho é em si um processo mágico, com efeito<br />
sobrenatural, com participação, mesmo que inconsciente, do praticante ou sonhador.<br />
O relato de que o sonho alegoriza a vida, e os acontecimentos do sonho se revelariam<br />
na vida cotidiana traz esta porção alegórica à magia encontrada também em diversas<br />
outras sociedades.<br />
Por fim gostaria de mencionar a conexão entre os elementos e formas de prática<br />
mágica. Os problemas estão relacionados com as soluções. Os ambientes com os<br />
indivíduos que praticam a magia. Os objetos utilizados na magia se relacionam com<br />
os que a encomendam ou são alvos da mesma. A forma de praticá-la se relaciona com<br />
o resultado a ser produzido. A técnica com a pessoa que manipula os elementos e<br />
assim por diante.<br />
Isto demonstra que, primeiramente, a magia é um ato social central nas culturas que<br />
a praticam de forma abrangente. Assim torna-se relevante, especialmente para o<br />
pesquisador, observar a prática mágica como sendo uma pista para o centro da<br />
religiosidade do povo. Em segundo lugar por sua abrangente prática em contexto<br />
animista. Isto se explica pelo fato do animismo já produzir, em si, a plataforma de<br />
idéia do sobrenatural sobre o natural, propício à magia. Magias também estão<br />
presentes em atos invocatórios coletivos e organizados, cúlticos, como pajelanças, e<br />
assim não devemos reduzi-la apenas a ambientes de forças puramente mecânicas,<br />
impessoais. Em terceiro lugar por sua característica utilitária. Como se propõe a<br />
organizar a vida, e solucionar possíveis problemas, a magia é um ato religioso e social<br />
129 <strong>eBook</strong> – <strong>Antropologia</strong> <strong>Missionária</strong> – <strong>Ronaldo</strong> A Lidório