eBook - Antropologia Missionária - Ronaldo Lidorio - Juvep
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As categorias da magia<br />
Podemos categorizar a magia como branca, negra, simpática, alegórica e imitativa.<br />
Branca, que produz ou colabora com a cura, proteção e prosperidade. A magia branca<br />
é uma prática que visa o benefício, sobretudo, do manipulador dos elementos, ou<br />
alguém a quem serve momentaneamente, de forma objetiva. Está normalmente<br />
associada a uma magia voluntária, solicitada pelo que a necessita. Os processos de<br />
magia branca comunitários através de benzimento são sempre abertos e coletivos.<br />
Possui também uma característica abrangente não apenas atuando no problema em<br />
si mas em suas áreas de abrangência. Quando os Tariana, por exemplo, realizam o ato<br />
mágico de benzimento buscando proteção e cura para a comunidade, estes permitem<br />
que a fumaça também seja ventilada para o rio mais próximo para purificação do<br />
ambiente, demonstrando a não percepção exata da causa dos males. Não raramente,<br />
após o benzimento que objetiva a cura ou proteção, comenta-se que o rio também<br />
lhes deu mais peixes mostrando um fator importante no processo da magia em<br />
grupos animistas: a conexão entre os elementos da vida. Ao passo que uma cultura<br />
ocidental urbanizada vê os atos da vida, seus conflitos e soluções com um arquivo,<br />
com pastas separadas e catalogadas, um grupo animista os vê como um cesto, um<br />
aturá, cujas fibras se entrelaçam sem que se saiba exatamente onde começam ou<br />
terminam.<br />
Marcelo Carvalho nos diz que para os Hupdah o lugar mais protegido contra todas as<br />
forças espirituais é a casa e, em seguida, a comunidade. As roças e rios não são<br />
seguros. Há benzimentos para purificação e proteção da casa bem como de toda a<br />
comunidade renovando a segurança do ambiente.<br />
Como magia branca simples e doméstica podemos também exemplificar os Quéchuas<br />
que organizam ossos de lhama atrás das portas de suas casas, em ordem e tamanho<br />
específicos, a fim de proporcionar abundância naquele lar. Há necessidade de<br />
conhecimento específico dos elementos e sua manipulação; conhecimento este<br />
passado dos velhos para os novos. Neste caso é uma magia aberta, comunitária, visto<br />
que todos podem observá-la, aprendê-la e praticá-la.<br />
Negra, temida por trazer destruição e morte. Pode ser praticada pelo homem mágico<br />
ou feiticeiro, ou pela categoria rara de bruxo. Normalmente a magia negra é mais<br />
especializada e restritiva, sendo que apenas alguns podem aprendê-la ou realizá-la.<br />
Em alguns casos pode ser herdada. É aprendida a partir de uma iniciativa pontual,<br />
iniciando-se o jovem à arte de tal magia pelo velho, que já a pratica. O bruxo,<br />
antropologicamente, usaremos aqui para designar a figura reclusa de um homem, ou<br />
127 <strong>eBook</strong> – <strong>Antropologia</strong> <strong>Missionária</strong> – <strong>Ronaldo</strong> A Lidório