13.04.2013 Views

Versão eletrônica - Furb

Versão eletrônica - Furb

Versão eletrônica - Furb

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

UNIVERSIDADE REGIONAL DE BLUMENAU<br />

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE<br />

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO FÍSICA E DESPORTO<br />

PÓS-GRADUAÇÃO EM GERONTOLOGIA<br />

GERONTOLOGIA TRANSPESSOAL:<br />

NOVA DIMENSÃO AO ENVELHECIMENTO<br />

BLUMENAU<br />

2007<br />

ROSANE MAGALY MARTINS


ROSANE MAGALY MARTINS<br />

GERONTOLOGIA TRANSPESSOAL:<br />

NOVA DIMENSAO AO ENVELHECIMENTO<br />

Monografia apresentada ao Programa de Pós-<br />

Graduação em Gerontologia do Programa de<br />

Pós-Graduação do Centro de Ciências da<br />

Saúde, Departamento de Educação Física e<br />

do Desporto da Universidade Regional de<br />

Blumenau, como requisito parcial para a<br />

obtenção do grau de especialista em<br />

Gerontologia.<br />

Prof. Ms. – Orientador Sálvio Alexandre Muller<br />

BLUMENAU<br />

2007


GERONTOLOGIA TRANSPESSOAL:<br />

TRANSCENDÊNCIA E ENVELHECIMENTO<br />

Por<br />

ROSANE MAGALY MARTINS<br />

Monografia apresentada à Universidade<br />

Regional de Blumenau, Programa de Pós-<br />

Graduação em Ciências da Saúde, para<br />

obtenção do grau de Especialista em<br />

Gerontologia<br />

_________________________________________________<br />

Orientador, Professor Ms. Sálvio Alexandre Muller<br />

Titulação: Graduado em filosofia com mestrado em antropologia<br />

pela Universidade Federal de Santa Catarina. Leciona na Universidade<br />

Regional de Blumenau (FURB)<br />

Blumenau, outubro de 2007.


Dedico aos médicos psiquiatras Manoel<br />

Brandão e Dimas Calegari, pelas experiências<br />

de transcendência. Dedico a mestre Susan<br />

Andrews, pela mudança de paradigmas.


AGRADECIMENTOS<br />

Agradeço às envelhecentes do Grupo Você Melhor (SESC/Blumenau) que<br />

tornaram esta especialização possível com seus exemplos positivos de superação e<br />

envelhecimento ativo: Cândida Vedes, Arlete Hasse Bugmann, Raquel Acácia Fidélis,<br />

Izolde Ines Zimmer, Maria Aparecida Goedert Torinelli, Tusnelda Steierlein e Maria<br />

Regina Custódio.


“O ego é o caminho do Self, do mesmo modo<br />

que a lagarta é o caminho da borboleta”.<br />

(Jean-Yves Leloup)


LISTA DE ILUSTRAÇÕES<br />

Figura 1- Homem físico (sistema muscular)<br />

Figura 2- Homem físico (sistema vascular)<br />

Figura 3- Homem físico (sistema linfático)<br />

Figura 4 - Homem transpessoal<br />

[Atenção1] Comentário: List<br />

a de ilustrações é um elemento<br />

opcional, constituindo de uma<br />

relação de itens como: desenhos,<br />

esquemas, fluxogramas,<br />

fotografias, gráficos, lâminas,<br />

mapas, organogramas, plantas,<br />

quadros, retratos, entre outros.


SUMÁRIO<br />

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................9<br />

1.1 PROBLEMA DE PESQUISA ................................................................ 10<br />

1.2 QUESTÃO DE PESQUISA.................................................................. 11<br />

1.3 PRESSUPOSTOS............................................................................. 12<br />

1.4 JUSTIFICATIVA PARA ESTUDO DO TEMA ............................................ 12<br />

2 DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA ................................................... 13<br />

2.1 REVISÃO DE LITERATURA................................................................ 13<br />

2.2. MEDITAÇÃO .................................................................................. 24<br />

2.3 RESPIRAÇÃO HOLOTRÓPICA ............................................................ 24<br />

2.4 IDOSOS E DEPRESSÃO.................................................................... 26<br />

2.5 PESQUISA NACIONAL ..................................................................... 27<br />

3 METODOLOGIA DE PESQUISA .......................................................... 28<br />

3.1 POPULAÇAO E AMOSTRA ................................................................. 29<br />

3.2 PROCEDIMENTOS PARA ANÁLISE DE DADOS ...................................... 29<br />

3.3 LIMITAÇÕES DA PESQUISA .............................................................. 29<br />

4 RESULTADOS DA PESQUISA............................................................. 30<br />

5 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ................................................... 30<br />

REFERÊNCIAS............................................................................................ 30<br />

APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO DE PESQUISA ................................................. 38


1 INTRODUÇÃO<br />

Diversos estudos mostram o rápido crescimento da população idosa mundial. As<br />

estimativas para os próximos 20 anos indicam que a população idosa poderá<br />

exceder 30 milhões de pessoas, e representará quase 13% de toda a população. O<br />

Brasil deverá ser em 2020, a sexta população mundial em número absoluto de<br />

idosos (IBGE, 2000).<br />

O papel do idoso com todas as suas complexidades de vida longeva precisam ser<br />

revisto e, para tanto, a Organização das Nações Unidas (ONU), em seu Plano de<br />

Ação Internacional de Envelhecimento (2003) fez um alerta para a necessidade<br />

indispensável em se assumir compromissos de fortalecer políticas e programas com<br />

o objetivo de criar sociedades de inclusão e coesão para todos – homens, mulheres,<br />

idosos, jovens e crianças.<br />

Estados e instituições de todo o mundo passam a direcionar com maior ênfase, a<br />

partir da década de 90, ações e pesquisas para este público específico de diversas<br />

áreas da ciência. Esta construção de saberes contribuirá para a difusão destes<br />

conhecimentos e deverá assegurar cidadania e autonomia à população envelhecida.<br />

Atualmente ressalta-se a necessidade de uma atuação não só multidisciplinar de<br />

atendimento às demandas desta parcela da população, como ter um olhar<br />

transdisciplinar a elas.<br />

Entretanto há aspectos que estão distantes destas novas ações que, apesar de<br />

profundas e ancoradas em pesquisa, não se preocuparam em observar o idoso<br />

como um ser integral em relação às suas necessidades bio-psico-sócio-espirituais.<br />

As maiores barreiras referem-se à compreensão deste idoso como um ser<br />

multidimensional. Para isso é necessário, ou melhor, fundamental, que as pessoas<br />

que atuem com esta parcela da população percebam os novos conceitos que<br />

surgem como necessários para a construção de novos paradigmas. Deve-se ampliar<br />

o olhar primeiro para si (autopercepção) aceitando-se humano bio-psico-sócio-<br />

cultural acrescendo-se a este humano a dimensão espiritual.<br />

9


Estamos cada vez mais longevos e, em decorrência, as demandas gerontológicas<br />

tornam-se mais amplas e diversas. Sabe-se que os idosos que iniciam práticas de<br />

convivência em grupos com abordagens psicoterápicas apresentam demandas<br />

relacionadas à espiritualidade. Quando instados a realizarem exercícios de<br />

meditação e/ou respiração holotrópica, os idosos apresentam relatos de<br />

experiências internas únicas, diferenciadas e classificadas pela literatura<br />

pesquisada, como experiências transpessoais.<br />

Tais temas foram investigados na bibliografia revisada e constatou-se que há pouca<br />

pesquisa na área da gerontologia e psicologia (em torno de 14% de toda a pesquisa<br />

produzida no Brasil), assim como quase nenhuma acerca dos fenômenos da<br />

consciência e da transcendência, que surgem na prática de tais atividades<br />

transpessoais com idosos.<br />

As hipóteses indicam a necessidade de trazer conceitos sobre envelhecimento,<br />

gerontologia e ainda, sobre consciência e transpessoalidade para a construção da<br />

gerontologia transpessoal como uma especialidade de investigação de tais<br />

fenômenos, onde a espiritualidade e a transcendência de experiências reais possam<br />

ser avaliadas e reunidas em pesquisas e estudos científicos futuros.<br />

O arcabouço teórico principal é trazido pelo Doutor PhD em medicina, pesquisador<br />

da consciência humana, tcheco Stanislav Grof, circundado pelo psicólogo e<br />

antropólogo do Colégio Internacional dos Terapeutas Roberto Crema e pelo<br />

estudioso da transdisciplinaridade, físico romeno Basarab Nicolescu, que introduzem<br />

conceitos teóricos do que sejam transpessoal e transdisciplinar que possibilitam a<br />

construção do conceito de gerontologia transpessoal.<br />

1.1 PROBLEMA DE PESQUISA<br />

Os profissionais que atuam com o público envelhecente não têm a justa percepção<br />

de sua dimensão bio-psico-sócio-espiritual. Em não tendo esta auto-percepção,<br />

podem ignorar ou não perceber tais experiências e aspectos da espiritualidade nesta<br />

parcela da população, que apresenta demandas de alta complexidade sem o devido<br />

acolhimento ou encaminhamento. Isto decorre da falta de compreensão do que tais<br />

conteúdos representam. Os profissionais não possuem compreensão porque não<br />

10


existe uma disciplina específica que aborde tais conceitos e experiências, e permite<br />

que tais demandas continuem sob o domínio das religiões e do misticismo, distantes<br />

dos profissionais envolvidos na produção científica dos cuidados humanos, e em<br />

especial, cuidados com os idosos.<br />

A necessidade da pesquisa foi percebida entre pessoas envelhecentes e idosas<br />

participantes do Grupo Permanente de Atividades realizadas no SESC/Blumenau,<br />

que utiliza como iniciadores físicos os exercícios dos grupos de movimentos Gama e<br />

Rego (1996) que enfatizam a consciência corporal e percepção transpessoal,<br />

observados no período de setembro de 2005 a outubro de 2007. O grupo foi<br />

monitorado com relação à prática semanal de exercícios de alongamento e<br />

relaxamento, seguidos de meditação e respiração, como forma de promover a<br />

expansão da consciência e vivenciar experiências transpessoais.<br />

Também a pesquisa nacional realizada pelo SESC, em parceria com o Núcleo de<br />

Opinião Pública da Fundação Perseu Abramo apresenta um cenário onde os idosos<br />

destacam a espiritualidade como fator importante para a construção de seu bem<br />

estar. A maioria das instituições educacionais e científicas se esquiva de pesquisas<br />

sobre espiritualidade pelas oposições de ordem religiosas e do subjetivismo de<br />

experiências ditas como místicas. Mas tais experiências são relevantes e devem ser<br />

estudados pela gerontologia, para que os profissionais tenham ferramentas para<br />

avaliar tais conteúdos e auxiliar os idosos na revisão de seus conceitos sobre viver e<br />

morrer e sua inserção no mundo onde vivem.<br />

1.2 QUESTÃO DE PESQUISA<br />

As questões de pesquisa que norteiam este estudo são as seguintes:<br />

a) Qual o entendimento sobre transdisciplinaridade, consciência e<br />

transpessoalidade na literatura produzida sobre a Gerontologia<br />

brasileira?<br />

b) A partir destes entendimentos prévios, conceituarem o que será<br />

transpessoalidade e fenômenos de consciência.<br />

11


c) A partir dos conceitos da revisão da literatura especializada e das<br />

pesquisas realizadas, conceituar Gerontologia Transpessoal, indicando<br />

área de atuação.<br />

1.3 PRESSUPOSTOS<br />

Um dos pressupostos é que os idosos necessitam ser amparados em suas<br />

demandas transpessoais. Com tais experiências pode-se perceber a transitoriedade<br />

da vida, a ausência de um tempo opressor e assimilar experiências de morte como<br />

uma passagem para a transcendência.<br />

Outro pressuposto é fato decorrente: a conseqüente ausência de procedimentos e<br />

ações direcionadas para as questões da Gerontologia Transpessoal faz com que o<br />

tema não se desenvolva e as demandas continuem sem atendimento especializado.<br />

Até o momento dispomos de muito pouca informação de caráter oficial, coletada<br />

rotineiramente, ou através de pesquisas no contexto universitário, contemplando a<br />

problemática específica dos idosos e suas experiências transpessoais que possam<br />

traçar as perspectivas em termos de demanda de serviços, principalmente nas<br />

áreas da saúde, filosofia, psicologia e assistência social.<br />

1.4 JUSTIFICATIVA PARA ESTUDO DO TEMA<br />

A primeira justificativa é a constatação de ocorrência de fenômenos e experiências<br />

multidimensionais e transcendentes do idoso quando conduzido nas práticas de<br />

meditação, relaxamento profundo ou respiração holotrópica, analisadas e<br />

conceituadas como experiências transpessoais.<br />

Os registros destas experiências ao longo de três anos de grupo permanente de<br />

atividades psicofísica no SESC/Blumenau trouxeram questionamentos e<br />

necessidades de um estudo teórico/prático acerca dos temas, para encontrar<br />

amparo científico para tais demandas.<br />

Percebeu-se, em conseqüência, a pequena pesquisa científica da Gerontologia<br />

Transpessoal devido à pessoalidade e subjetividade de cada experiência, estrutura<br />

do trabalho e dificuldades de consolidar metodologias. Mas tais obstáculos haverão<br />

de ser transpostos, diante da realidade encontrada.<br />

12


Outra justificativa é alertar para a potencial gravidade desta situação em longo<br />

prazo, numa tentativa de sensibilizar pessoas e instituições para a tarefa de<br />

reverter alguns determinantes deste contexto socioeconômico e cultural que tende<br />

muitas vezes a condenar os cidadãos idosos a um final de vida em condições<br />

bastante adversas, sem amparo às demandas desconhecidas deles e muitas vezes<br />

diagnosticadas como distúrbios em decorrência da deteriorização do cérebro ou<br />

demências.<br />

2. DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA CIENTÍFICA<br />

2.1. REVISÃO DE LITERATURA<br />

O envelhecimento humano se processa pela ação do tempo sobre os indivíduos.<br />

Tempo individual da vida de cada um, que se esgota na finitude objetivada na<br />

morte biológica, e tempo inesgotável da infinitude subjetivada nas possibilidades de<br />

produzir eternidades, que cada imaginário humano possui.<br />

Para a Organização Mundial de Saúde, são consideradas idosas as pessoas com<br />

mais de 65 anos. Guite Zimerman (2000) conceitua “Gerontologia como a ciência<br />

que estuda (logos) o envelhecimento (geros)”. E mais adiante observa que<br />

gerontologia estuda o processo de envelhecimento “sob o prisma biofisiológico,<br />

genético, imunológico e em níveis celular e subcelular”.<br />

Nas palavras de Neri, citado em Prado & Sayd (2006), “o envelhecimento<br />

compreende os processos de transformação do organismo que ocorrem após a<br />

maturação sexual e que implicam a diminuição gradual da probabilidade de<br />

sobrevivência”. É interessante notar que o processo de envelhecimento engloba a<br />

velhice que, distintamente, é definida por ele em termos mais amplos: “velhice é a<br />

última fase do ciclo vital e é delimitada por eventos de natureza múltipla, incluindo,<br />

por exemplo, perdas psicomotoras, afastamento social, restrição em papéis sociais e<br />

especialização cognitiva. À medida que o ciclo vital humano se alonga, a velhice<br />

passa a comportar subdivisões que atendem a necessidades organizacionais da<br />

ciência e da vida social”.<br />

13


Além trabalhar com dois conceitos enunciados em campos distintos – o<br />

envelhecimento, definido em termos biológicos, e a velhice, delimitada por eventos<br />

de natureza múltipla, mas também física e social, indica que se tomarmos apenas<br />

os limites da velhice para análise, já estaremos diante de um grande problema.<br />

Prado e Sayd (2006) salientam que nada flutua mais do que os limites da velhice<br />

em termos de complexidade fisiológica, psicológica e social.<br />

Buscando compreender aspectos relativos aos conceitos centrais de que tratam a<br />

gerontologia, encontramos em Groisman (2002) importante revisão bibliográfica<br />

internacional sobre o tema e enérgica crítica às pretensões de cientificidade da<br />

gerontologia. Nesses estudos, evidenciam-se indicações relativas à inexistência<br />

tanto de uma conceituação clara quanto de limites que poderiam descrever esse<br />

campo como uma ciência do envelhecimento, além de considerações referentes a<br />

um elevado grau de incerteza e de controvérsias em relação às bases da<br />

gerontologia, que corresponderiam a um conjunto pouco específico de teorias do<br />

envelhecimento.<br />

Para o caso brasileiro, Sá (1999) discutindo os fundamentos epistemológicos e o<br />

conceito de gerontologia apresenta várias definições e diz que se continuar a<br />

analisar os demais conceitos, verificaremos que existe certa frouxidão no uso de<br />

noções referentes à natureza científica da gerontologia. A menção aos aspectos<br />

biopsicossociais do envelhecimento é recorrente nos trabalhos publicados no Brasil.<br />

Entretanto, ao buscarmos identificar o conceito de envelhecimento na literatura<br />

nacional, este é encontrado em termos biológicos.<br />

Discute-se hoje gerontologia como um campo de estudos interdisciplinar que<br />

investiga os fenômenos fisiológicos, psicológicos e sociais relacionados com o<br />

envelhecimento do ser humano. O termo surgiu nos Estados Unidos da América em<br />

1903, através do médico pesquisador Matchnicoff. No Brasil surgiu oficialmente em<br />

1961, com a criação da Sociedade Brasileira de Gerontologia, que iniciou a<br />

disseminação de conceitos e estimulou o desenvolvimento de pesquisas sobre os<br />

idosos no país.<br />

14


A Gerontologia, hoje, busca estabelecer-se como ciência do envelhecimento. Prado<br />

e Sayad (2007) consideram que "Ciência" talvez não seja o mais preciso termo. Em<br />

sua concepção mais ampla, a Gerontologia é marcada por atividades de natureza<br />

técnica, como a Geriatria, e demais campos da saúde, como Enfermagem Geriátrica<br />

etc., o que inclui sensibilidades particulares, artes presentes no diagnóstico e na<br />

cura. Segundo eles a “Gerontologia relaciona-se com a pesquisa científica, com a<br />

produção de conhecimento por meio das ciências que têm o homem que envelhece<br />

como seu objeto empírico de estudo”.<br />

Quanto ao fato de a Gerontologia ter por objeto de estudo o envelhecimento,<br />

entende-se que se trata de um projeto absolutamente ambicioso, que praticamente<br />

coincide com as Ciências Humanas e da Vida, quando se tematizam a juventude e o<br />

envelhecer, ainda muito distante do que se pratica e se estuda nos dias atuais.<br />

Hoje, parece-nos, a Gerontologia encontra-se voltada para a velhice, enquanto que<br />

o processo de envelhecimento do ser humano corresponde apenas a uma pequena<br />

parcela de suas iniciativas. O que nos leva a afirmar que a Gerontologia, hoje,<br />

corresponde a um conjunto de ciências, técnicas e saberes voltados, principalmente,<br />

para esse ainda nebuloso domínio que é a velhice.<br />

Desde a década de 60 há intensos debates no Brasil sobre velhice, envelhecimento<br />

e até na existência do discurso daqueles que crêem que jamais ficarão velhos.<br />

"Velhice é um termo e sua realidade difícil de perceber. quando uma pessoa se<br />

torna velha? Aos 50, 60, 65 ou 70 anos? Nada flutua mais do que os limites da<br />

velhice em termos de sua complexidade fisiológica, psicológica e social”. (Veras,<br />

1994).<br />

Também há escassa pesquisa dedicada aos temas Gerontologia e<br />

Transpessoalidade, que estariam vinculadas as linhas de pesquisa da Psicologia,<br />

como se depreende do artigo de Prado & Sayd (2004) que trata da “pesquisa sobre<br />

envelhecimento humano no Brasil: grupos e linhas de pesquisa”. Elas afirmam que<br />

há evidente predominância das ciências da saúde entre os grupos que se voltam<br />

para o estudo do envelhecimento humano.<br />

Apresentam uma tabela que detalha a distribuição de grupos de pesquisa de acordo<br />

com a área predominante, mostrando a liderança da saúde coletiva, o que também<br />

15


se dá de forma mais enfática entre os grupos específicos. Embora em proporções<br />

distintas, o estudo referente à Psicologia correspondia, no ano 2000, há 7% de toda<br />

a pesquisa desenvolvida no Brasil, denotando a importância deste tipo de<br />

investigação.<br />

16


A grande amplitude de áreas do conhecimento a que se vinculam os grupos de<br />

pesquisa voltados para o envelhecimento humano corresponde a um achado<br />

importante, confirmando as indicações de estudos anteriores que registram teses e<br />

dissertações provenientes de programas de pós-graduação inscritos em grande<br />

diversidade de áreas e qualificando os registros acerca do amplo leque de<br />

abordagens que marca este objeto de estudo (Prado et al., 1999 e Prado e Lima,<br />

2000).<br />

O paradigma que está sendo reavaliado é o newtoniano/cartesiano, um sistema de<br />

pensamento baseado no trabalho do cientista inglês Isaac Newton e do filósofo<br />

francês René Descartes. Este sistema foi mantido como critério de legitimidade<br />

científica nos últimos três séculos e hoje apresenta obstáculos para a pesquisa e<br />

progresso científico, com seus rígidos métodos de validação científica. O ponto de<br />

vista do pesquisador e psicólogo Stanislav Grof é abrangente quando coloca o<br />

transpessoal como facilitador do diálogo entre a perspectiva científica, representada<br />

pela ciência oriental, e a perspectiva espiritual, representada pelas tradições<br />

filoreligiosas, pois ambas são visões da realidade, complementares e necessárias ao<br />

homem.<br />

Tabone (2005) explica que “O estudo da consciência humana está muito<br />

enriquecida pelo diálogo da psicologia transpessoal com as ciências exatas, como a<br />

Física e a pesquisa do cérebro. As teorias “quântica” e “relativista” do campo da<br />

Física Moderna e a teoria “holográfica do cérebro”, do neurocientista Pribam, e a do<br />

“holomovimento”, do físico Bohn, permitiram uma explicação da consciência<br />

transpessoal que intera os conhecimentos transcendentais e tem a vantagem de se<br />

derivar dos mais sofisticados enfoques da ciência contemporânea”.<br />

Therezinha Moreira Leite (1997) conceitua consciência humana como sendo a<br />

instância e faculdade mental à qual se atribuiriam funções, como percepção,<br />

discriminação, julgamento, orientação para a ação, controle, e outras, valorizadas<br />

como operações por excelência constituintes da vida de relação. Em conseqüência,<br />

seria explicada a construção do eu e da identidade, unos e únicos, garantia de<br />

manutenção do sujeito. Colocado o foco sobre a consciência, esta exerceria o<br />

contato verdadeiro com a realidade, portanto, o mais válido e ao qual toda ação<br />

17


deve retornar. Quando falamos de expansão da consciência através de técnicas e<br />

métodos da transpessoalidade registra-se justamente a alteração dos estados desta<br />

consciência de si, e desta forma, ampliação do conhecimento de si, da vida e das<br />

relações.<br />

Já o conceito de transpessoalidade tem as suas origens na psicologia transpessoal,<br />

novo ramo da psicologia com raízes no existencialismo, no humanismo e na<br />

fenomenologia e encontra subsídios nos mais recentes conceitos da física moderna,<br />

neurobiologia e informática. A psicologia transpessoal foi oficializada em 1968, nos<br />

Estados Unidos da América, por Abraham Maslow, Viktor Frankl e Stanislav Grof. As<br />

associações de profissionais liberais que se interessaram pela psicologia<br />

transpessoal passaram a admitir profissionais de outros saberes, que aderiram aos<br />

pressupostos daquela corrente e sua designação reduziu-se à substantivação da<br />

palavra transpessoal.<br />

Marc-Alain Descamps (1997) apresenta a definição de Transpessoal como sendo um<br />

movimento com pressupostos ontológicos, teorização do self, valores perenes e<br />

potenciais evolutivos, estados (modificados) da consciência e bem estar bio-psico-<br />

social, integrando a dimensão espiritual. Hoje, dada a extensão de conhecimentos<br />

acumulados sobre diversos tipos de experiência (sonho acordado, meditação,<br />

experiências místicas, fenômeno placebo, fenômenos parapsicológicos) impõe-se<br />

uma visão mais compreensiva e abrangente da natureza humana. Reconhece-se a<br />

individualidade única e também uma dimensão transpessoal, algo para além do ego<br />

individual e que também faz parte do ser humano.<br />

Desta forma, Descamps (1997) afirma que: “baseado em observações e práticas de<br />

várias culturas, o conceito transpessoal, deriva de uma epistemologia eclética, com<br />

conhecimentos inter e transdisciplinares da moderna psicologia, das ciências<br />

humanas e exatas e também das disciplinas espirituais contemporâneas e<br />

tradicionais do oriente e ocidente”.<br />

18


As dificuldades em encontrar achados científicos sobre o tema é justificado,<br />

segundo Descamps, pois “grande parte da investigação científica em psicologia<br />

transpessoal não decorria na universidade sob esta denominação, dada uma certa<br />

resistência do meio ao conceito, mas que se encontra um arsenal de trabalhos<br />

científicos publicados sob a palavra chave altered states of consciousness.”<br />

Uma das maiores dificuldades na pesquisa Transpessoal encontra-se na<br />

subjetividade das experiências do indivíduo, de grande potencial transformador<br />

permanente, mas difícil de quantificar. Basarab Nicolescu (Descamps, 1997) afirma<br />

que “trata-se, na vivência transpessoal, de uma transformação no ser, melhor uma<br />

transmutação, obrigando o experenciador a dar um sentido pessoal à sua vida e a<br />

rever a sua visão do mundo, não se centrando mais no seu ego”. Convém citar<br />

Camões, quando se referia ao amor: “vale mais experimentá-lo, que julgá-lo, mas<br />

julgue-o quem o não puder experimentar”, pois conhecer é envolver-se e não<br />

apenas estudar.<br />

Para Mario Schenberg (1984) “a Física e a Psicologia são aspectos diferentes da<br />

mesma realidade, vistos sob ângulos diferentes” e considera Carl G. Jung, “um<br />

precursor na tarefa de reunir conhecimentos da física e da psicologia”. E o físico<br />

Fritjof Capra (1985) destaca ”A ciência não necessita do misticismo e este não<br />

precisa da ciência; entretanto o homem necessita de ambos”.<br />

A psicologia transpessoal como filosofia e método surgiu em 1969, com a criação do<br />

Jornal of Transpersonal Phychology, por Antony Sutich, que comunicava seu<br />

interesse na capacidade e potencialidade humana tais como “criatividade, amor,<br />

self, crescimento, organismo, satisfação de necessidades básicas, auto-realização,<br />

valores superiores, transcendência do ego, objetividade, autonomia” entre outros.<br />

Já naquela década havia o reconhecimento da existência do nível transpessoal da<br />

consciência e das experiências ligadas a esse nível, entendidas como aspectos<br />

intrínsecos da natureza humana e de que todo indivíduo tem o direito de escolher<br />

ou de modificar o seu caminho para atingir objetivos transpessoais. Isso passava,<br />

necessariamente pela aceitação e da importância atribuída à dimensão espiritual da<br />

vida humana. Várias experiências passaram a ser observadas, qualificadas e<br />

quantificadas, como o êxtase, as experiências místicas, a transcendência, a<br />

19


consciência cósmica, a teoria e prática de meditação e a sinergia interindividual e<br />

interespécies (Grof, 1984).<br />

Transpessoal significa ainda “além do pessoal” ou “além da personalidade”. Atribui-<br />

se menor importância à personalidade; esta vista apenas como um dos aspectos do<br />

ser, com o qual o indivíduo pode, mas não deve identificar-se (Vaughan, 1980).<br />

Houve uma rápida evolução destes conceitos e a perspectiva transpessoal<br />

transcendeu os limites da psicologia, da psiquiatria e da psicoterapia. Descobertas<br />

de outras disciplinas, como a física quântica, teoria dos sistemas, parapsicologia e a<br />

holografia confirmaram e fundamentaram as constatações apresentadas pelo<br />

movimento transpessoal.<br />

O transpessoal tem como foco central a consciência, sendo que esta é tanto objeto<br />

como instrumento de mudança. A consciência, especialmente a auto-reflexiva, é<br />

vista como essência, o contexto ou a base do ser humano (Walsh, S. Vaughan,<br />

1980). Reconhece-se o potencial humano para experimentar uma ampla gama de<br />

“estados alterados da consciência”, que implicam em expansão de identidade para<br />

além dos limites usuais do ego e da personalidade, com forte enfoque da<br />

importância da experiência do aqui e do agora para o indivíduo.<br />

Moraes & Souza (2005), realizaram uma pesquisa acerca dos fatores associados ao<br />

envelhecimento bem sucedido de idosos socialmente ativos da região metropolitana<br />

de Porto Alegre, e identificaram, entre vários outros indicadores, que a<br />

espiritualidade e crenças são fatores destacados pelos entrevistados. Isto corrobora<br />

o entendimento que a espiritualidade é fator preponderante para aferição de<br />

qualidade de vida, mas ingressa em pesquisas apenas como um subitem, sem<br />

maiores detalhamentos e há escassa pesquisa científica a espiritualidade na<br />

construção do bem estar e envelhecimento humano bem sucedido.<br />

As idosas observadas para a realização deste trabalho relatam experiências<br />

culminantes, as quais se caracterizam por momentos de paz, felicidade ou de<br />

realização suprema. Com tais experiências passaram a buscar o significado da vida<br />

e, da tentativa de compreensão de si mesmo, da mente, e da natureza da<br />

experiência.<br />

20


Stanislav Grof (1985) apresenta uma definição de experiência transpessoal: “(...) a<br />

experiência transpessoal envolve uma expansão ou extensão da consciência além<br />

das limitações usuais do ego e das limitações de tempo e espaço, como são<br />

percebidas no mundo tridimensional.” (p. 129). Segundo ele “no estado normal de<br />

consciência, experimentamo-nos como objetos newtonianos, vivendo dentro dos<br />

limites da nossa pele”. Desta maneira a percepção do ambiente fica restrita as<br />

limitações fisiológicas. Nos estados transpessoais da consciência não há limitações<br />

para o alcance dos sentidos humanos, com a possibilidade de experimentar com<br />

todas as qualidades sensoriais situações que tenham ocorrido no passado ou até<br />

episódios que não foram registrados, acentua.<br />

Grof (2000, 71) apresenta a tabela que categoriza vários tipos de experiências que<br />

pertencem ao domínio transpessoal. Neste estudo nos limitaremos a falar de duas<br />

técnicas que possibilitam tais experiências (meditação e respiração) e não em<br />

definir e descrever todas as experiências possíveis através delas.<br />

EXPERIÊNCIAS TRANSPESSOAIS<br />

Extensão Experencial dentro do<br />

espaço-tempo e da realidade<br />

consensual<br />

Transcendência de barreiras espaciais<br />

. Experiência de união dual<br />

. Identificação com outras pessoas<br />

. Identificação grupal<br />

. Identificação com animais<br />

. Identificação com plantas<br />

. União com a vida e toda a criação<br />

. Experiência com seres extraterrestres<br />

. Identificação com todo universo físico<br />

. Fenômenos psíquicos envolvendo a transcendência do<br />

espaço<br />

Transcendência de barreiras temporais<br />

. Experiências embrionárias e fetais<br />

. Experiências ancestrais<br />

. Experiências raciais e coletivas<br />

21


Extensão Experencial além do<br />

espaço-tempo e da realidade<br />

consensual<br />

Experiências transpessoais de<br />

natureza psicóide<br />

. Experiências de encarnações anteriores<br />

. Experiências filogenéticas<br />

. Experiências de evolução planetária<br />

. Experiências cosmogenéticas<br />

. Fenômenos psíquicos envolvendo transcendência do<br />

tempo<br />

Explorações experenciais do micromundo<br />

. Consciência orgânica e tissular<br />

. Consciência celular<br />

. Experiência do DNA<br />

. Experiência do mundo dos átomos e das articulas<br />

subatômicas<br />

Experiências mediúnicas<br />

Fenômenos energéticos do corpo sutil<br />

Experiências de espíritos de animais<br />

Encontro com guias espirituais<br />

Visitas a universos paralelos<br />

Experiências com seqüência mitológicas<br />

Experiências com divindades<br />

Experiências de arquétipos universais<br />

Compreensão intuitiva de símbolos universais<br />

Inspiração criativa e o impulso de prometeu<br />

Experiências do demiurgo e insigths da criação<br />

cósmica;<br />

O vazio supracósmico e metacósmico<br />

Sincronicidade<br />

Evento psicóide espontâneo<br />

. façanhas físicas sobrenaturais<br />

. fenômenos espíritas e mediunidade física<br />

. Psicocinese espontânea<br />

. Ovnis e experiências de abduções por alienígenas<br />

Psicocinese Intencional<br />

. magia cerimonial<br />

. curas e feitiços<br />

. siddhis da ioga<br />

. Psicocinese laboratorial<br />

Tabela transcrita de GROF, Stanislav. Psicologia do futuro: lições das pesquisas modernas de consciência. Rio de<br />

Janeiro: Ed. Heresis, 2000. P.71<br />

22


Falar em transpessoalidade e consciência é falar também em transcendência e<br />

fenômenos da consciência ampliada, descritos por Grof em mais de 40 anos de<br />

investigação científica. Ele afirma que “as observações provenientes das pesquisas<br />

da consciência dissipam o mito presente da ciência materialista de que a consciência<br />

é um epifenômeno da matéria, um produto de processos neurofisiológicos do<br />

cérebro”.<br />

Suas pesquisas mostram que a consciência é um atributo primário da existência e é<br />

capaz de muitas atividades impossíveis de serem desempenhadas pelo cérebro.<br />

Para isso ele recomenda adicionar aos domínios da biologia, da biografia e do<br />

inconsciente individual, também os domínios perinatal e o domínio transpessoal,<br />

que consiste em memórias ancestrais, raciais, coletivas e filogenéticas, assim como<br />

experiências cármicas e dinâmicas arquetípicas (Grof, 2000, 12).<br />

Para ele a natureza mais profunda da humanidade não é animal, mas sim divina.<br />

Afirma isso explicando que o universo é imbuído de inteligência criativa e a<br />

consciência é inextricavelmente entrelaçada em sua textura. Essa compreensão<br />

favorece ao desenvolvimento de uma base natural de reverência à vida, cooperação<br />

e sinergia, consideração pela humanidade e o planeta como um todo e uma<br />

profunda consciência ecológica.<br />

Todas as culturas nativas mantinham e mantém rituais que facilitavam os estados<br />

de alteração da consciência (holotrópicos) e utilizavam estes recursos como<br />

principal veículo em sua vida espiritual e ritual. Faziam parte destas técnicas<br />

aborígenes os trabalhos respiratórios (pranayama, ioga, respiração sufi, ketjak<br />

balinês etc.), tecnologias sonoras (tambores, sinos, gongos, mantras, músicas),<br />

danças e movimento (rodopios dos dervishes, dança dos lamas, tai chi, etc.)<br />

isolamento social e privação sensorial (permanência em desertos, cavernas, topos<br />

de montanha, busca da visão), sobrecarga sensorial (combinação de estímulos<br />

acústicos, visuais e proprioceptivos, dor extrema).<br />

Outro exemplo de transformação que envolve estados de expansão da consciência<br />

são os ritos de passagem, cuja expressão foi cunhada pelo antropólogo holandês<br />

Arnold van Gennep, autor do primeiro tratado científico sobre o assunto (Grof,<br />

2000, p.25). Tais experiências da expansão da consciência foram disseminadas no<br />

23


mundo antigo - Suméria, Egito e Grécia. Muitas grandes religiões desenvolveram<br />

procedimentos psicoespirituais sofisticados, como as meditações vipassana, zen e<br />

budismo tibetano, exercícios espirituais taoístas e abordagens usadas pelos sufis,<br />

místicos do Islã. Da tradição judaico-cristã menciona-se a respiração dos essênios e<br />

seu batismo, a oração de Jesus (hesicasmo) e a entoação de mantras em rosários<br />

de contas.<br />

2.2. MEDITAÇÃO<br />

A meditação consiste na prática de focar a atenção, freqüentemente formalizada em<br />

uma rotina específica. É comumente associada a religiões orientais. Há dados<br />

históricos comprovando que ela é tão antiga quanto a humanidade. Não sendo<br />

exatamente originária de um povo ou região, desenvolveu-se em várias culturas<br />

diferentes e recebeu vários nomes. Apesar da associação entre as questões<br />

tradicionalmente relacionadas à espiritualidade e essa prática, a meditação pode<br />

também ser praticada como um instrumento para o desenvolvimento pessoal em<br />

um contexto não religioso.<br />

A palavra meditação vem do latim, meditare, que significa: voltar-se para o centro<br />

no sentido de desligar-se do mundo exterior e voltar a atenção para dentro de si. A<br />

meditação costuma ser definida da seguinte maneira: um estado que é vivenciado<br />

quando a mente se torna vazia e sem pensamentos; prática de focar a mente em<br />

um único objeto (por exemplo: em uma estátua religiosa, na própria respiração, em<br />

um mantra); uma abertura mental para o divino, invocando a orientação de um<br />

poder mais alto; análise racional de ensinamentos religiosos.<br />

No grupo foram usadas as técnicas relacionadas no livro MEDITAÇÃO: um repertório<br />

das melhores técnicas (Rocco, 1995) de maneira aleatória pelo período de um ano e<br />

meio, para apuração dos resultados apresentados.<br />

2.3. RESPIRAÇÃO HOLOTRÓPICA<br />

A respiração holotrópica é uma técnica utilizada dentro da abordagem transpessoal,<br />

desenvolvida pelo psicólogo Stanislav Grof no final da década de 60. O paciente fica<br />

deitado de uma a duas horas, respirando de forma mais acelerada que o normal, o<br />

que o induz a um estado alterado de consciência. Possibilita integrar insights da<br />

24


ciência moderna, notadamente a física quântica, às praticas espirituais orientais e<br />

tradições místicas do mundo. Utilizam basicamente de respiração rápida e profunda,<br />

música evocativa, trabalho corporal focalizado e desenho de mandalas. A<br />

experiência é completamente interna e amplamente não-verbal, sem intervenções.<br />

Exceções são constricção na garganta, gerenciamento de problemas, dor excessiva<br />

ou medo ameaçador da continuação da sessão e solicitação explícita do respirante.<br />

A música (ou outras formas de estimulação acústica - tamborilar, sons da natureza,<br />

etc.) é uma parte integral do processo holotrópico. Tipicamente, a escolha da<br />

música segue um padrão característico que reflete o desenrolar mais comum da<br />

experiência holotrópica: no início, ela é evocativa e estimulante, mais tarde ela se<br />

torna gradativamente dramática e dinâmica, e finalmente alcança a culminação.<br />

Seguindo a culminação, ela é apropriada a mudar gradualmente a uma música mais<br />

calma e termina em plena paz, fluindo, e com seleções meditativas. Embora isto<br />

pareça representar a média estatística, poderia ser modificada se a energia no<br />

grupo sugere que um padrão diferente é indicativo da mudança.<br />

O papel do acompanhante durante a sessão é para ser responsivo e não-intrusivo,<br />

para assegurar uma respiração efetiva, criar um meio seguro, respeitar o que a<br />

experiência revela naturalmente e prover assistência em todas as situações em que<br />

for requerido (incluindo apoio físico, ajuda durante intervalos para uso do lavabo,<br />

trazendo lenço de papel ou um copo de água, etc.). É importante permanecer<br />

focado e centrado enquanto estiver frente ao espectro inteiro de emoções e<br />

comportamentos possíveis do respirante. O Trabalho de Respiração Holotrópica não<br />

usa nenhuma intervenção que venha de análise intelectual ou que estejam<br />

baseadas a priori em um construto teórico.<br />

O princípio básico deste trabalho é aceitar as dicas da experiência e criar uma<br />

situação onde os sintomas existentes são amplificados; enquanto a energia e a<br />

consciência forem mantidas nesta área, o sujeito é encorajado a expressar<br />

completamente sua reação, seja ela qual for. Esta forma de trabalho de liberação de<br />

energia é uma parte essencial da abordagem holotrópica e tem um importante<br />

papel na complementação e integração da experiência. Mais detalhes podem ser<br />

obtidos na obra de Stanislav Grof: PSICOLOGIA DO FUTURO (Heresis, 2000).<br />

25


2.4. IDOSOS E DEPRESSÃO<br />

Estudos recentes (Blazer e Koenig, 1996) apresentam a depressão como um dos<br />

fatores preponderantes para o declínio na qualidade de vida dos idosos, em<br />

respostas previsíveis às perdas comuns que ocorrem com a idade, como a morte de<br />

um dos cônjuges; outras pessoas da família e amigos; mudança de papéis; declínio<br />

na própria saúde física e vigor; reveses econômicos e, para muitos, a necessidade<br />

de assumir o papel de cuidador do cônjuge.<br />

Experiências realizadas por Larry Thompson junto ao National Institute of Mental<br />

Health (WHITE. John R., 2003) informam que a experiência de perda em si não leva<br />

necessariamente à depressão, mas é como a experiência é percebida e qual o<br />

significado para o indivíduo que determina se o resultado será a depressão ou não.<br />

Destaca a importância de conhecer tradições, crenças e valores tradicionais, assim<br />

como crenças e práticas de saúde física e mental no atendimento do idoso com<br />

sintoma depressivo.<br />

Desta forma, percebe-se a importância da elaboração de pesquisa que traga<br />

subsídio ao cuidador do idoso que possam entender tradições espirituais e as<br />

experiências decorrentes.<br />

Além da prática de técnicas de meditação ativa e passiva e exercícios semanais de<br />

respiração, ao longo de quase dois anos, no grupo de terceira idade mantido no<br />

SESC/Blumenau, pode-se constatar uma efetiva melhora no quadro de depressão<br />

evidenciado no primeiro momento. Para aferição de dados foi utilizada a Escala de<br />

Depressão Geriátrica (abreviada de Yesavage), desenvolvida por Yesavage, em<br />

1986, que pode aferir quadros de depressão em pessoas do grupo de terceira idade.<br />

Os itens nessa medida (ver no anexo) são respondidos com um sim ou um não, o<br />

que supostamente torna mais fácil para idosos pouco esclarecidos ou com algum<br />

dano cognitivo para preencher a escala. O formulário com quinze itens foi aplicado<br />

ao grupo de idosas em dois períodos distintos de tempo, para aferir o resultado do<br />

trabalho desenvolvido.<br />

26


Do grupo entrevistado em 24 de maio de 2005, 30% apresentaram quadro de<br />

possível depressão, enquanto os demais apresentaram índices dentro de um padrão<br />

de normalidade. Cerca de um ano depois, no mesmo grupo, repetiu-se a aplicação<br />

do formulário, em 10 de julho de 2006. Constatou-se que o índice de depressão<br />

caiu de 30 para 12,5% com quadro depressivo e 87,5% das entrevistadas<br />

apresentaram índices de otimismo diante da vida.<br />

Oferecer atividades em grupo de pessoas de faixa etária mais madura (acima dos<br />

50 anos) oportuniza o desenvolvimento de estratégias individualizadas para<br />

satisfazer as diversas necessidades sob a luz das situações complexas e condições<br />

vividas por elas. Não só o desenvolvimento de atividades em grupo, como a prática<br />

constante da meditação e da respiração foram elementos fundamentais para a<br />

obtenção deste resultado.<br />

2.5. PESQUISA NACIONAL<br />

O Serviço Nacional do Comércio (SESC) em parceria com o Núcleo de Opinião<br />

Pública da Fundação Perseu Abramo analisou no início do ano de 2007 a opinião de<br />

idosos e não idosos em 204 municípios do Brasil. Destaca-se nela a lista com 15<br />

sentimentos de importância para estes idosos. Diante de uma lista com 12 valores e<br />

atitudes propostos, os idosos indicaram como os mais importantes a<br />

responsabilidade (46%), sabedoria e alegria (44% cada), amizades (35%) e<br />

religiosidade (34%). Na mesma pesquisa aborda-se a percepção da morte.<br />

A maioria da população brasileira declara não ter medo da morte, ainda mais os<br />

idosos, sobretudo por considerarem que está no campo das coisas inevitáveis, sobre<br />

as quais não se tem domínio, ou simplesmente por entendê-la como parte da vida.<br />

Alguns justificam também ser essa a vontade de Deus ou a apenas a passagem<br />

para uma próxima vida. O medo da morte, entre os que admitem possuí-lo, está<br />

mais relacionado ao apego à família, ao sentimento de que ainda há muita coisa<br />

para ser vivida, ou mesmo ao medo do desconhecido.<br />

27


Esta mesma pesquisa constatou que para cerca de metade dos idosos o que<br />

assusta é a morte de conhecidos, que os faz sentir cada vez mais sozinhos. Já a<br />

visão do mistério e da desesperança, embora menos comuns, afetam ao menos um<br />

terço dos idosos. A maior parte dos entrevistados não tem medo da morte (81%),<br />

restando o percentual de 18% de idosos que declararam ter medo dela.<br />

As principais razões apontadas nesta pesquisa para não se temer a morte se devem<br />

à falta de domínio sobre ela, apontada por 55% dos idosos, ou seja, ela é<br />

inevitável, faz parte da vida. Outras justificativas para não temer a morte que se<br />

baseiam na vontade e determinação de Deus e passagem para a próxima vida,<br />

citada por 21% dos idosos.<br />

Uma visão espiritualista, como a de que “a morte é só uma passagem para outra<br />

vida” é compartilhada por 80% dos idosos pesquisados em 2007, enquanto “a<br />

morte não me assusta, mas tenho pena de deixar a vida” obtém concordância de<br />

63%. Desta maneira percebe-se evidente a necessidade da abordagem de temas<br />

tidos como tabus no envelhecimento humano, como morte e espiritualiade nos<br />

grupos de atuação com o público idoso.<br />

3 MÉTODO DE PESQUISA<br />

Os métodos utilizados são de pesquisa bibliográfica referencial, acompanhada de<br />

pesquisa de campo qualitativa com o grupo específico de idosos, com observação<br />

participante. Os resultados são obtidos através da análise de questionário, havendo<br />

interpretação do cenário, das pessoas envolvidas e do processo evolutivo dos<br />

acontecimentos. A mostra é pequena, mas de resultado significativo que vai ao<br />

encontro dos objetivos propostos e da fundamentação teórica construída.<br />

O objetivo da pesquisa é localizar subsídios para a construção da gerontologia<br />

transpessoal, como técnica eficaz de atuação com seres envelhecentes, que possam<br />

construir um cenário de velhice impregnado de crescimento pessoal, familiar, social<br />

e espiritual através da prática de técnicas transpessoais, como a meditação e a<br />

respiração.<br />

O tema é novo, instigante e divergente. Para ser medido, foi aplicado ao grupo a<br />

Tabela de Depressão Geriátrica num período de um ano, que apresentou redução<br />

28


nos índices de idosos com aparente depressão e dificuldades subjetivas de atuar<br />

com seus conteúdos familiares e espirituais. Da mesma forma foi analisado o<br />

resultado de pesquisa nacional aplicada pelo SESC, que indicou um percentual<br />

significativo de idosos otimistas pelo fato de terem uma pratica e compreensão<br />

acerca da espiritualidade, tendo a crença que há possibilidade de transcendência do<br />

ego após a morte.<br />

3.1 POPULAÇÃO E AMOSTRA<br />

No presente estudo foi observado o resultado da aplicação da Escala de Depressão<br />

Geriátrica num grupo médio de 20/30 idosos, em maio de 2005 e junho de 2006,<br />

onde se constatou a efetiva redução de 30 para 12,5% o quadro de idosos<br />

depressivos que participam do grupo permanente de prática de meditação,<br />

relaxamento indutivo e respiração, entre outras dinâmicas grupais. O objetivo não é<br />

generalizar os resultados, mas sim, obter boas idéias e opiniões críticas experientes,<br />

sendo recomendada para pesquisas nas quais o objetivo é o entendimento em<br />

profundidade dos casos estudados.<br />

3.2 PROCEDIMENTOS DE COLETA E ANÁLISE DE DADOS<br />

Como o estudo é participativo e qualitativo, buscar-se os elementos que viabilizem<br />

o mesmo, dentro das expectativas criadas. O instrumento de coleta de dados<br />

primários será uma entrevista individual com depoimento espontâneo da<br />

experiência vivenciada.<br />

Para não criar equívocos, bem como permitir uma análise mais acurada dos dados,<br />

usou-se o artifício de não identificar as entrevistadas. As respostas foram agrupadas<br />

e resumidas.<br />

3.3 LIMITAÇÕES DA PESQUISA<br />

Um fator importante que merece destaque é em relação ao número da amostra,<br />

pequeno, mas significativo e que apresenta subsídios aos parâmetros adotados.<br />

Além disso, considerando-se que é um estudo do tipo qualitativo, os aspectos<br />

relativos às crenças e valores pessoais influenciam nas respostas.<br />

29


Dadas as características próprias e ao que se propõe a pesquisa não se aplica, em<br />

princípio, a outros grupos de terceira idade que não recebam dinâmicas e técnicas<br />

de respiração holotrópica ou de meditação de maneira regular, que possam<br />

propiciar estados alterados a consciência.<br />

4 RESULTADOS DA PESQUISA<br />

Visando a um melhor entendimento sobre o instrumento de coleta e às respostas<br />

obtidas, fez-se um resumo das respostas dos idosos que participam há mais de um<br />

ano no grupo terapêutico.<br />

A análise das respostas se divide em resultado da aplicação da escala de depressão<br />

e depoimentos espontâneos do resultado gerado pela atividade desenvolvida no<br />

grupo ao longo de um ano e de relato da experiência transpessoal. E, finalmente,<br />

serão apresentadas as conclusões do trabalho que possibilitarão o entendimento da<br />

experiência por idosos das mais variadas camadas sociais.<br />

Constatou-se que não há um conceito do que seja gerontologia transpessoal. Mas<br />

insere-se como sendo a produção de conhecimento por meio das ciências que têm o<br />

homem que envelhece como seu objeto empírico de estudo, observando os<br />

fenômenos transpessoais com seus pressupostos ontológicos, teorização do seu,<br />

valores perenes e potenciais evolutivos, estados (modificados) da consciência e bem<br />

estar bio-psico-social, integrando a dimensão espiritual.<br />

Os profissionais que trabalham com o envelhecimento humano devem perceber que<br />

a formação de uma pessoa passa inevitavelmente pela dimensão transpessoal. O<br />

desrespeito para com esse processo necessário tem uma distante origem em uma<br />

das tensões fundamentais de nossa era, ou seja, a tensão entre o material e o<br />

espiritual. Nicolescu (1997) afirma que na visão transdisciplinar, há uma<br />

transrelação que conecta os quatro pilares do novo sistema de educação e tem sua<br />

fonte na nossa própria constituição, enquanto seres humanos. Uma educação viável<br />

só pode ser uma educação integral do ser humano. E adverte que a educação que<br />

privilegia o intelecto e relativiza a sensibilidade e o corpo será nefasta para a<br />

humanidade.<br />

30


A proposta da transdisciplinaridade é um protótipo do surgimento de um novo tipo<br />

de inteligência, fundada no equilíbrio entre a inteligência analítica, o sentimento e o<br />

corpo. É apenas dessa maneira que a sociedade do século XXI poderá reconciliar a<br />

efetividade com a afetividade.<br />

Assim, gerontologia transpessoal passa, efetivamente, pelos novos conceitos da<br />

transdiciplinaridade e na observação de fenômenos que ocorrem entre os idosos em<br />

grupos de prática de meditação e respiração e em outras demandas relatadas por<br />

Grof, dentro do espaço-tempo, além do espaço-tempo e de natureza psicóide como<br />

forma de ampliar a relação entre o que sentimos e o que pensamos e o que<br />

vivenciamos. Tais técnicas possibilitam uma reflexão e experiência sobre a inteireza<br />

da vida, sobre experiências e possibilidades do que seja a morte, assim como<br />

vínculos estabelecidos com o grupo e com a sociedade com o qual estejam<br />

inseridos.<br />

Constatou-se que depois de um ano de exercícios de meditação e respiração os<br />

idosos apresentaram acentuada redução do quadro depressivo (de 30 para 12,5%)<br />

e os relatos demonstram que ocorreram melhoras substanciais na qualidade de suas<br />

vidas tanto interna, de auto-reconhecimento de suas vivências e experiências,<br />

quanto sociais, tornando-se idosos mais afetivos, integrados e atores que buscam a<br />

solução de conflitos familiares e comunitários.<br />

Os relatos dos participantes dão conta que:<br />

* Pelo pouco tempo, houve uma melhora no meu relacionamento e nos paradigmas<br />

que trazemos durante a vida (R.W dos S., bancário)<br />

* Melhorou em todos os sentidos. Senti-me tão bem, que hoje sou outra pessoa.<br />

(Z. J. F., costureira)<br />

* Melhorou em minha vida a respiração e a autopercepção (N. K., diretora escolar<br />

aposentada)<br />

* Notei melhora em todo meu corpo, com maior flexibilidade. A vida mudou para<br />

melhor. (A.P., aposentada)<br />

31


* Melhorou minha cabeça e meu estado de espírito. O estresse é bem menor. (D.L.,<br />

aposentada)<br />

* Melhorou em vários aspectos, como respirar, expressar a raiva, meditar... (C.<br />

K,do lar)<br />

Os benefícios da prática de meditação, respiração holotrópica ou outro meio de<br />

ampliação da consciência trazem benefícios inúmeros, conforme relata GROF<br />

(2000): acesso ao conhecimento extraordinário de nós mesmos, de outras pessoas,<br />

da natureza e do cosmo; compreensão profunda da dinâmica inconsciente de nossa<br />

psique; descobrir como nossa percepção de nós mesmos e do mundo é influenciado<br />

por memórias esquecidas ou reprimidas da infância; identificação com outras<br />

pessoas, animais, plantas e elementos do mundo inorgânico que revolucionam e<br />

transformam nossa visão sobre si e o mundo em que vivemos.<br />

Ele destaca que o transpessoal desenvolve método eficaz de auto-exploração, cura<br />

e transformação da personalidade, sendo favorável a abordagem no contexto de<br />

grupos de auto-ajuda, que possibilita a abertura espiritual. Finaliza afirmando que<br />

se um número suficiente de pessoas passar por um processo de profunda<br />

transformação interna, talvez seja possível alcançar um nível de evolução da<br />

consciência no qual possamos merecer o nome que demos a nossa espécie: homo<br />

sapiens.<br />

5 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES<br />

Finalmente, não identificamos um claro projeto político nacional de constituição da<br />

gerontologia como novo campo científico, mas sua conformação parece estar em<br />

andamento. A gerontologia não é ciência, mas conjunto de ciências, técnicas e<br />

saberes voltados ao envelhecimento. Prado e Sayd (2007) entendem-na como<br />

pesquisa científica de construção deste novo saber que tem o homem que<br />

envelhece seu objeto de estudo. Os pilares teóricos vem sendo construídos a partir<br />

de referenciais provenientes de outras ciências.<br />

Ficaram bem evidenciados os esforços dos gerontólogos, no sentido de se<br />

aproximarem da universidade desde os primeiros passos na trajetória empreendida<br />

no Brasil, na década de 60, com vistas à constituição da gerontologia como uma<br />

32


autoridade apoiada na ciência. O momento atual de elaboração de um projeto<br />

político para a gerontologia está situado no espaço da tentativa de incorporação do<br />

discurso epistemológico, numa perspectiva que nos faz pensar, mais e mais, na<br />

necessidade de aprofundar a abordagem teórica acerca do conceito e produção de<br />

conhecimento sobre o ser que envelhece.<br />

Pudemos perceber que as limitações para que a gerontologia venha a se consolidar<br />

como campo de produção de conhecimento científico não são desprezíveis. O estudo<br />

do envelhecimento humano, bem como as propostas de ação que, no limite,<br />

conduzem à sua eliminação – desejo, sonho e mito presentes em toda a<br />

humanidade –, estão em vigoroso curso também em espaços não cogitados pela<br />

pesquisa gerontológica brasileira.<br />

As conclusões deste trabalho vêm ao encontro da construção do conceito do que<br />

seja gerontologia transpessoal e destaca a relevância do tema para o público<br />

envelhecente, idoso e aos profissionais. Tem a intenção de contribuir<br />

cientificamente para a melhor compreensão dos mecanismos teóricos que regem a<br />

transpessoalidade e a gerontologia. Os dados coletados confirmam que há efetiva<br />

redução de quadros depressivos em idosos que desenvolvem práticas que<br />

possibilitem experiências da gerontologia transpessoal (especificamente respiração<br />

e meditação) onde apresentam aumento da autopercepção sobre si e o mundo, com<br />

a redução de quadro depressivo.<br />

Por transpessoal entende-se o estudo da consciência, incluindo-se nestas pesquisas<br />

as disciplinas espirituais contemporâneas e tradicionais do Oriente e do Ocidente,<br />

com a aceitação da importância e relevância da dimensão espiritual para o ser<br />

humano.<br />

Assim, Gerontologia Transpessoal é a pesquisa científica com produção de<br />

conhecimento do ser que envelhece em sua dimensão espiritual, com todo o<br />

arcabouço subjetivo que cada experiência individual representa, com resultados<br />

positivos para a completude do ser. A validade deste trabalho está justamente<br />

destacar a importância do tema e, a partir disto, recomendar novas áreas a serem<br />

pesquisadas.<br />

33


Com relação ao objetivo geral desta pesquisa, que é a identificação de pesquisas<br />

que trazem a espiritualidade como um dos quesitos necessários ao bem estar físico<br />

e psíquico na terceira idade (Pesquisa SESC, 2007), pode-se concluir que<br />

efetivamente há necessidade de ampliar a pesquisa, aprofundar os saberes. O<br />

conceito transpessoal deriva de uma epistemologia eclética, com conhecimentos<br />

inter e transdisciplinares da moderna psicologia, das ciências humanas e exatas e<br />

também das disciplinas espirituais. Assim estaremos a produzir eternidades,<br />

respeitando o imaginário e espiritual contido em cada humano que em nós vive.<br />

34


REFERÊNCIAS<br />

BLAZER, D. & Koenig, H (1996). Mood disorders. In E.W.Busse & D. Blazer (eds),<br />

Texbook of geriaric psychiatry (2end ed., pp. 235-263). Washington, DC: American<br />

Psychiatric Press, citado por Thompson, Larry W. e outros, em TERAPIA COGNITIVO<br />

COMPORTAMENTAL EM GRUPO PARA POPULAÇÕES E PROBLEMAS ESPECÍFICOS Ed.<br />

Monica Giglio Armando São Paulo: Roca, 2003.<br />

CAPRA, F. O Tao da Física. São Paulo. Cultrix, 1985.<br />

GROISMANN D. A velhice: entre o normal e o patológico. Hist Cienc Saúde.<br />

Manguinhos 2002.<br />

GAMA, M.E.R. da G.; REGO, R.A. Grupos de movimento. Cadernos Reichianos, São<br />

Paulo, n. 1, 2. Ed. Instituto Sedes Sapientiae. 1996.<br />

GROF, Stanislav. Psicologia do futuro: lições das pesquisas modernas de<br />

consciência. Rio de Janeiro: Heresis, 2000.<br />

IBGE, Censo Demográfico 2000. Disponível em:<br />

HTTP://ww.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/perfilidoso. acesso em 8 ago<br />

2007.<br />

LEITE, Therezinha Moreira. Estado de Consciência Onírica. Psicol. USP , São Paulo,<br />

v. 8, n. 2, 1997 . Disponível em:<br />

. Acesso em: 20 Out 2007.<br />

MORAES, João Feliz Duarte de; SOUZA, Valdemarina Bidone de Azevedo e. Fatores<br />

associados ao envelhecimento bem-sucedido de idosos socialmente ativos da região<br />

metropolitana de Porto Alegre. Rev. Bras. Psiquiatr. , São Paulo, v. 27, n. 4, 2005<br />

35


. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-<br />

44462005000400009&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 13 Out 2007.<br />

NICOLESCU, Basarab. Conferência no Congresso International "A Responsabilidade<br />

da Universidade para com a Sociedade", International Association of Universities,<br />

Chulalongkorn University, Bangkok, Thailand, de 12 a 14 de novembro de 1997,<br />

disponível em: http://nicol.club.fr/ciret/bulletin/b12/b12c8por.htm. acesso em 17<br />

out 2007.<br />

ONU. Plano de Ação Internacional de Envelhecimento, 2003. Disponível em:<br />

HTTP://www.onu.brasil.org.br/documentos.php. Acesso em 1 jul. 2006.<br />

Pesquisa de Opinião Pública: Idosos no Brasil 2007 Vivências, Desafios e<br />

Expectativas na 3ª Idade. SESC e Fundação Perseu Abramo. Disponível em:<br />

http://www2.fpa.org.br/portal/modules/news/index.php?storytopic=1642 acesso<br />

em 12 out. 2007.<br />

PRADO, Shirley Donizete; SAYD, Jane Dutra. A gerontologia como campo do<br />

conhecimento científico: conceito, interesses e projeto político. Ciênc. saúde<br />

coletiva, Rio de Janeiro, v. 11, n. 2, 2006. Disponível em:<br />

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-<br />

81232006000200026&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 13 Out 2007.<br />

PRADO, Shirley Donizete; SAYD, Jane Dutra. A pesquisa sobre envelhecimento<br />

humano no Brasil: grupos e linhas de pesquisa. Ciênc. saúde coletiva, Rio de<br />

Janeiro, v. 9, n. 1, 2004. Disponível em:<br />

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-<br />

81232004000100006&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 04 Out 2007.<br />

PRADO, Shirley Donizete; SAYD, Jane Dutra. O ser que envelhece: técnica, ciência e<br />

saber. Ciênc. saúde coletiva, Rio de Janeiro, v. 12, n. 1, 2007. Disponível em:<br />

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-<br />

81232007000100028&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 04 Out 2007.<br />

SÁ JLM. Gerontologia e interdisciplinaridade: fundamentos epistemológicos. In: Neri<br />

AL, Debert GG, organizadores. Velhice e sociedade. Campinas: Papirus; 1999.<br />

36


Disponível em http://www.scielo.br/pdf/csc/v11n2/30436.pdf. Acesso em 16 out<br />

2007.<br />

SMITH, Pan e Gordon. Meditação: um repertório das melhores técnicas. Rio de<br />

Janeiro: Rocco, 1989.<br />

TABONE, Marcia. A psicologia transpessoal: introdução à nova visão da consciência<br />

em psicologia e educação. São Paulo, 7ª Ed. 2005.<br />

ZIMERMAN, Guite I. Velhice: aspectos biopsicossociais. Porto Alegre: Artmed, 2000.<br />

WHITW, John R. & FREEMAN, Arthur S. Terapia cognitivo-comportamental em grupo<br />

para populações e problemas específicos. São Paulo: Roca, 2003 p. 270.<br />

37


APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO DE PESQUISA<br />

1 Escala de Depressão Geriátrica (Abreviada de Yesavage)<br />

38

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!