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Livro de Enredos 2011 - Liesa

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Diretoria da LIESA (Triênio 2009-2012)<br />

Presi<strong>de</strong>nte - Jorge Luiz Castanheira Alexandre<br />

Vice-Presi<strong>de</strong>nte e<br />

Diretor <strong>de</strong> Patrimônio<br />

- Zacarias Siqueira <strong>de</strong> Oliveira<br />

Tesoureiro - Américo Siqueira Filho<br />

Diretor Jurídico - Dr. Nelson <strong>de</strong> Almeida<br />

Secretário -<br />

Wagner Tavares <strong>de</strong> Araújo<br />

Diretor <strong>de</strong> Carnaval - Elmo José dos Santos<br />

Diretor Comercial - Hélio Costa da Motta<br />

Diretor Cultural - Hiram Araújo<br />

Diretor Social - Jorge Perlingeiro


ÍNDICE<br />

3<br />

PÁGINA<br />

ORDEM DOS DESFILES 05<br />

RANKING DAS ESCOLAS 07<br />

G.R.E.S. SÃO CLEMENTE 09<br />

G.R.E.S. IMPERATRIZ LEOPOLDINENSE 21<br />

G.R.E.S. MOCIDADE IND. DE PADRE MIGUEL 33<br />

G.R.E.S. UNIDOS DA TIJUCA 45<br />

G.R.E.S. UNIDOS DE VILA ISABEL 53<br />

G.R.E.S. ESTAÇÃO PRIMEIRA DE MANGUEIRA 61<br />

G.R.E.S. UNIÃO DA ILHA DO GOVERNADOR 75<br />

G.R.E.S. ACADÊMICOS DO SALGUEIRO 83<br />

G.R.E.S. PORTELA 91<br />

G.R.E.S. ACADÊMICOS DO GRANDE RIO 105<br />

G.R.E.S. UNIDOS DO PORTO DA PEDRA 115<br />

G.R.E.S. BEIJA-FLOR DE NILÓPOLIS 125


ORDEM<br />

GRUPO ESPECIAL<br />

ORDEM DOS DESFILES<br />

CARNAVAL/<strong>2011</strong><br />

HORÁRIO<br />

DE INÍCIO<br />

DOMINGO<br />

(06/03/<strong>2011</strong>)<br />

1 Às 21:00 h SÃO CLEMENTE<br />

2 Entre 22:05 e 22:22 h<br />

3 Entre 23:10 e 23:44 h<br />

4 Entre 00:15 e 01:06 h<br />

5 Entre 01:20 e 02:28 h<br />

6 Entre 02:25 e 03:50 h<br />

IMPERATRIZ<br />

LEOPOLDINENSE<br />

MOCIDADE IND. DE<br />

PADRE MIGUEL<br />

UNIDOS DA<br />

5<br />

TIJUCA<br />

UNIDOS DE<br />

VILA ISABEL<br />

ESTAÇÃO PRIMEIRA<br />

DE MANGUEIRA<br />

SEGUNDA<br />

(07/03/<strong>2011</strong>)<br />

UNIÃO DA ILHA DO<br />

GOVERNADOR<br />

ACADÊMICOS DO<br />

SALGUEIRO<br />

PORTELA<br />

ACADÊMICOS DO<br />

GRANDE RIO<br />

UNIDOS DO<br />

PORTO DA PEDRA<br />

BEIJA-FLOR<br />

DE NILÓPOLIS<br />

As Escolas <strong>de</strong> Samba, cuja posição na Or<strong>de</strong>m dos Desfiles<br />

corresponda à numeração ímpar <strong>de</strong>verão se concentrar a partir da<br />

lateral do Setor 01 (um) da Avenida dos Desfiles no sentindo do<br />

Edifício “Balança Mas Não Cai”;<br />

As Escolas <strong>de</strong> Samba, cuja posição na Or<strong>de</strong>m dos Desfiles<br />

corresponda à numeração par <strong>de</strong>verão se concentrar a partir do<br />

prédio do Juizado <strong>de</strong> Menores no sentido do prédio da Empresa<br />

Brasileira <strong>de</strong> Correios e Telégrafos.


ORDEM<br />

ESCOLA<br />

RANKING LIESA<br />

2006 / 2010<br />

2006 2007 2008 2009 2010<br />

Col. Pt. Col. Pt. Col. Pt. Col. Pt. Col. Pt.<br />

1º Beija-Flor <strong>de</strong> Nilópolis 5º 8 1º 20 1º 20 2º 15 3º 12 75<br />

2º Acadêmicos do Gran<strong>de</strong> Rio 2º 15 2º 15 3º 12 5º 8 2º 15 65<br />

3º Unidos <strong>de</strong> Vila Isabel 1º 20 6º 6 9º 2 4º 10 4º 10 48<br />

3º Acadêmicos do Salgueiro 11º 0 7º 4 2º 15 1º 20 5º 8 47<br />

3º Unidos da Tijuca 6º 6 4º 10 5º 8 9º 2 1º 20 46<br />

6º<br />

Estação Primeira <strong>de</strong><br />

Mangueira<br />

4º 10 3º 12 10º 1 6º 6 6º 6 35<br />

8º Portela 7º 4 8º 3 4º 10 3º 12 9º 2 31<br />

8º Unidos do Viradouro 3º 12 5º 8 7º 4 8º 3 12º 0 27<br />

9º Imperatriz Leopoldinense 9º 2 9º 2 6º 6 7º 4 8º 3 17<br />

Mocida<strong>de</strong> In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong><br />

10º<br />

Padre Miguel<br />

10º 1 11º 0 8º 3 11º 0 7º 4 8<br />

11º<br />

Unidos do Porto da Pedra 12º 0 10º 1 11º 0 10º 1 10º 1 3<br />

Império Serrano 8º 3 12º 0 - - 12º 0 - - 3<br />

União da Ilha do<br />

13º<br />

Governador<br />

- - - - - - - - 11º 0 0<br />

14º<br />

São Clemente - - - - 12º 0 - - - - 0<br />

Estácio <strong>de</strong> Sá - - 13º 0 - - - - - - 0<br />

Caprichosos <strong>de</strong> Pilares 13º 0 - - - - - - - - 0<br />

7<br />

TOTAL


“O seu, o meu, o nosso Rio,<br />

abençoado por Deus e bonito<br />

por natureza”<br />

G.R.E.S. SÃO CLEMENTE<br />

Presi<strong>de</strong>nte: Renato Almeida Gomes<br />

Carnavalesco: Fábio Ricardo<br />

Fundação: 25/10/1961<br />

Cores: Preto e amarelo<br />

9


G.R.E.S. São Clemente<br />

“O seu, o meu, o nosso Rio,<br />

abençoado por Deus e bonito por natureza”<br />

Conselho Deliberativo da Criação Divina<br />

Lá longe e tão perto, eternizado em nossos corações, está<br />

Deus. Dada sua condição especial, onipresente e divino, Ele<br />

convoca todos os santos, anjos e arcanjos e institui o<br />

Conselho Deliberativo da Criação Divina.<br />

Transforma-os em incansáveis missionários para construir o<br />

mundo dos homens em sete dias. E afirma: - Dos sete,<br />

utilizarei dois para criar uma cida<strong>de</strong> admirável, esculpida<br />

pela própria natureza.<br />

Em seguida, chama por São Clemente e São Sebastião e<br />

or<strong>de</strong>na-os:<br />

- Vocês serão responsáveis pela obra <strong>de</strong>sta “cida<strong>de</strong> única”.<br />

Descerão da criação divina ao plano material, levando o<br />

sopro à vida. Distribuirão mistérios por uma terra abundante<br />

<strong>de</strong> frutos, pássaros e peixes. Belas, igualmente únicas e<br />

belas, serão suas paisagens e suas águas cristalinas “azuis<br />

como a cor do mar”. E ao término do cumprimento <strong>de</strong><br />

minha or<strong>de</strong>m divina chamem-na <strong>de</strong> E Deus fez a Maravilha.<br />

Contudo, antes <strong>de</strong> partirem, o criador <strong>de</strong> todas as<br />

coisas <strong>de</strong>signou os anjos Ariel, Gabriel e Raphael para a<br />

tarefa <strong>de</strong> fiscalizar as obras e a vida na cida<strong>de</strong><br />

única por Ele planejada.<br />

13


Rio: um porto <strong>de</strong>sejado!<br />

A Maravilha <strong>de</strong> Deus é contemplada.<br />

14<br />

Carnaval/<strong>2011</strong><br />

Os fenícios po<strong>de</strong>m ter sido os primeiros que aqui chegaram.<br />

Eles vislumbram um “Rio Alado”. Algumas inscrições<br />

gravadas no alto da Pedra da Gávea permitem fantasiar<br />

sobre esta versão indubitavelmente mágica em sintonia com<br />

a natureza.<br />

O Rio torna-se alvo irresistível para os navegadores<br />

portugueses e franceses, que ávidos da majestosa natureza,<br />

travam batalhas por seu valor inestimável.<br />

Deus percebendo a cobiça e o crescente <strong>de</strong>sejo pelo domínio<br />

<strong>de</strong> sua menina dos olhos promove São Sebastião a santo<br />

padroeiro da cida<strong>de</strong>. Credita-se a São Sebastião, o bemaventurado,<br />

parte do nosso futuro sucesso como cida<strong>de</strong>.<br />

Dada a batalha final, é ele quem surge na visão do<br />

consciente imaginário português motivando-o a vencer e<br />

expulsar os invasores, fundando-se a Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São<br />

Sebastião do Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />

Império Tropical<br />

Vendo através dos olhos dos homens, o nosso divino<br />

arquiteto dá condições à vida...<br />

A Família Real <strong>de</strong>sembarca no Rio <strong>de</strong> Janeiro. É a época da<br />

política do “Ponha-se na Rua”, nome dado, com senso <strong>de</strong><br />

humor, pelos cariocas, que se inspiravam nas iniciais “PR”,<br />

<strong>de</strong> Príncipe Regente, que eram gravadas na porta das casas<br />

requisitadas para os nobres portugueses.


G.R.E.S. São Clemente<br />

A Divinda<strong>de</strong> transforma-se em uma realida<strong>de</strong> histórica. É a<br />

fonte cristalina das águas do Rio carioca. Suas águas<br />

correm, suprem as necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> abastecimento e chegam<br />

aos homens. Tornam-se as águas do Rio, dos escravos<br />

agueiros, dos caminhos dos aquedutos, das mães-d‟água:<br />

das bicas públicas, dos chafarizes, das casas dos nobres.<br />

Águas que molham o canto das lava<strong>de</strong>iras nos riachos e<br />

atiçam o imaginário carioca: mulheres que <strong>de</strong>las bebiam<br />

ficavam formosas e os homens recuperavam o vigor físico.<br />

Seguindo o caminho das águas do Rio, a sabedoria divina é<br />

observada na natureza.<br />

Emerge da terra macia e fértil uma <strong>de</strong>slumbrante floresta<br />

urbana. Depois <strong>de</strong> emitidos os relatórios pelos anjos<br />

consultores <strong>de</strong> Deus, visando garantir a comunhão entre a<br />

natureza e a cultura dos seres humanos, conclui-se a<br />

Floresta que se <strong>de</strong>nominou Floresta da Tijuca. Não<br />

obe<strong>de</strong>cendo à or<strong>de</strong>m existente, o homem, nela, cultivou o<br />

plantio do café. A cafeicultura se espalhou rapidamente por<br />

gran<strong>de</strong> parte do Maciço da Tijuca, ocasionando forte<br />

<strong>de</strong>smatamento, o que levou os barões e os senhores do café,<br />

os nobres e a crescente população da capital do Império a<br />

sentirem a ira <strong>de</strong> Deus. Como resposta, atribui aos homens<br />

consequências <strong>de</strong>sastrosas como as severas secas que<br />

atingiram o Rio <strong>de</strong> Janeiro, criando um problema periódico<br />

<strong>de</strong> falta d‟água para a cida<strong>de</strong> carioca. Como se não bastasse,<br />

o governo imperial foi responsabilizado por um programa<br />

emergencial <strong>de</strong> preservação dos mananciais e do replantio<br />

das árvores da Floresta da Tijuca, seguido das<br />

<strong>de</strong>sapropriações das fazendas cafeeiras da região.<br />

15


16<br />

Carnaval/<strong>2011</strong><br />

Em contrapartida, o governo propôs o cultivo <strong>de</strong> um jardim,<br />

com o intuito <strong>de</strong> estimular a aclimatação e a cultura <strong>de</strong><br />

especiarias exóticas vindas das Índias Orientais.<br />

A fluida terra <strong>de</strong>sse jardim, nomeado, inicialmente, <strong>de</strong> Real<br />

Horto, Real Jardim Botânico e, finalmente, <strong>de</strong> Jardim<br />

Botânico do Rio <strong>de</strong> Janeiro, semeou-se <strong>de</strong> novas opções <strong>de</strong><br />

plantio.<br />

Nele, a mão <strong>de</strong> obra chinesa foi utilizada para testar a<br />

receptivida<strong>de</strong> do solo carioca ao cultivo do chá. Contudo,<br />

diante da experiência marcada pelo insucesso, os chineses<br />

foram aproveitados para abrir uma via carroçável. Nesta<br />

obra, teriam feito seu acampamento on<strong>de</strong> hoje está<br />

localizada a Vista Chinesa, dando origem <strong>de</strong>sta maneira a<br />

um dos mais belos mirantes da cida<strong>de</strong> do Rio.<br />

Mo<strong>de</strong>rnismo Carioca<br />

São Clemente e São Sebastião, após se reunirem com os<br />

anjos fiscais das obras divinas, chegam à conclusão que<br />

<strong>de</strong>vem, mesmo sabendo da conformação geográfica da<br />

cida<strong>de</strong> (constituída <strong>de</strong> elevações, lagoas e pântanos),<br />

encaminhar, para a aprovação do Conselho Deliberativo da<br />

Criação Divina, o programa urbanístico do engenheiro e<br />

prefeito Pereira Passos, que visa transformar a antiga cida<strong>de</strong><br />

imperial em uma metrópole cosmopolita.<br />

Sob esta ação, inicia-se no centro carioca uma gran<strong>de</strong><br />

intervenção. Em pouco tempo as picaretas do progresso<br />

abrem à cida<strong>de</strong> as vias da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>. Construção <strong>de</strong><br />

gran<strong>de</strong>s e largas avenidas, <strong>de</strong> praças e jardins; revitalização<br />

do cais do porto e arborização da Avenida Beira-Mar.


G.R.E.S. São Clemente<br />

Entre planos estratégicos, riscos e traços, o Rio civiliza-se e<br />

é “rebatizado” <strong>de</strong> Cida<strong>de</strong> Maravilhosa. Conta-se, inclusive,<br />

que nessa época, Deus para proteger os seres aterrados,<br />

nomeou São Jorge como General da Guanabara. E salve<br />

Jorge!<br />

Os princípios do projetar mo<strong>de</strong>rno, contudo, somente são<br />

aplicados nas décadas seguintes pelo estudo urbanístico do<br />

arquiteto Alfred Agache e dos projetos do arquitetopaisagista<br />

Roberto Burle Marx que, entre outros, assina o<br />

projeto paisagístico do Parque do Flamengo.<br />

Nesse contexto <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s transformações, os belos<br />

cenários urbanos projetados e or<strong>de</strong>nados pelos novos meios<br />

técnicos do homem conjugam harmoniosamente as<br />

paisagens do Rio, possibilitando uma gestão cultural à altura<br />

do que a cida<strong>de</strong> única i<strong>de</strong>alizada por Deus merece.<br />

Música: a paisagem do Rio<br />

A música é um dom divino. O som está por toda parte. É<br />

pura ilusão achar que a natureza é silenciosa.<br />

A paisagem do Rio <strong>de</strong> Janeiro situa-se no horizonte musical<br />

do carioca Villa-Lobos, que incorporou o folclore brasileiro<br />

às seduções urbanas do Rio <strong>de</strong> Janeiro; e no repertório<br />

original da pianista Chiquinha Gonzaga, autora da primeira<br />

marcha carnavalesca “Ô Abre-Alas”.<br />

17


18<br />

Carnaval/<strong>2011</strong><br />

Sobre as formas populares situa-se nos “chorões” das<br />

composições <strong>de</strong> Pixinguinha e nos aspectos mais<br />

<strong>de</strong>scontraídos como o samba e todas as músicas <strong>de</strong><br />

inspiração rítmica, que <strong>de</strong>scem dos morros e interagem com<br />

a cida<strong>de</strong>.<br />

A Bossa Nova, o mais carioca dos estilos musicais, é o Rio<br />

que inspira “no doce balanço a caminho do mar”. É a<br />

paisagem musical que canta a paixão do carioca pelo Rio, a<br />

benção divina que, <strong>de</strong> braços abertos, ilumina a vida, a<br />

diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cores e <strong>de</strong> sabores, <strong>de</strong> flertes e <strong>de</strong> olhares, e<br />

<strong>de</strong> muitos amores.<br />

A Bossa Nova gira em 78 rotações e re<strong>de</strong>scobre o Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro.<br />

Universaliza, revoluciona, rompe fronteiras e leva a música<br />

do Brasil aos quatro cantos do mundo.<br />

Rio Cida<strong>de</strong>!<br />

Muito antes, o divino criador já anunciava: é preciso ter fé e<br />

re<strong>de</strong>nção.<br />

Cuidados com a cida<strong>de</strong> para sua preservação...<br />

Mais <strong>de</strong> 400 anos se passaram e a cida<strong>de</strong> única planejada<br />

por Deus é dominada pela Lei do mais forte, “que dita as<br />

normas e causa algumas imperfeições à cida<strong>de</strong>”.<br />

Não se vê mais o todo: a vida, as águas, a terra. A cida<strong>de</strong><br />

cresce <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nadamente.


G.R.E.S. São Clemente<br />

O Homem autoriza, polui, e a “pobreza” chancela a<br />

construção em terras invadidas e em áreas ina<strong>de</strong>quadas.<br />

As consequências são drásticas! Salve-se quem pu<strong>de</strong>r.<br />

Engarrafamentos, enchentes, <strong>de</strong>slizamentos, lixo, injustiças<br />

sociais e epi<strong>de</strong>mias.<br />

Esses efeitos chamam a atenção do nosso divino arquiteto,<br />

que intervém lançando um <strong>de</strong>safio para a cida<strong>de</strong>: no lugar<br />

do “progresso” e do crescimento ilimitado, hostil para a<br />

natureza do Rio, <strong>de</strong>vem-se convocar todos os engenheiros,<br />

arquitetos e paisagistas e criar um gran<strong>de</strong> planejamento para<br />

a reconstrução urbana da cida<strong>de</strong>. Isto porque, o Rio haverá<br />

<strong>de</strong> ser o responsável pela realização <strong>de</strong> dois gran<strong>de</strong>s eventos<br />

mundiais.<br />

Eis o meu <strong>de</strong>safio para garantir as condições <strong>de</strong><br />

continuida<strong>de</strong> à vida nesta cida<strong>de</strong>.<br />

Ser Carioca é...<br />

Ser abençoado por Deus e bonito por natureza.<br />

Ser carioca ou não, é se reconhecer na paisagem do Rio, nos<br />

seus morros, na sua geografia humana e nos seus estados <strong>de</strong><br />

espírito.<br />

Ser carioca é sermos nós. São nossas manifestações, nossos<br />

costumes, nosso sotaque, nosso jeito <strong>de</strong> ser e nossa alegria<br />

<strong>de</strong> sermos lembrados e vistos em diversos pontos do mundo.<br />

19


20<br />

Carnaval/<strong>2011</strong><br />

Ser carioca é manter a aliança divina, quando contemplamos<br />

a beleza <strong>de</strong> um pôr do sol. É uma explosão <strong>de</strong> cores. São<br />

encantos mil. É ser blasé com a própria rotina, é sorrir para<br />

o surreal, confiando nos próprios instintos.<br />

É ser patrimônio cultural e observar a cida<strong>de</strong> em 360 graus.<br />

Contudo, ser carioca é torcer pela carioquíssima São<br />

Clemente, é ser o Rio que eu canto e exalto, o mesmo Rio<br />

que Deus protege e cuida lá do alto.<br />

Carnavalesco: Fábio Ricardo<br />

Pesquisa e texto: Marcos Roza<br />

Bibliografia consultada:<br />

BOFF, Leonardo. Uma <strong>de</strong>claração: os Direitos da Mãe<br />

Terra. Jornal do Brasil, Rio <strong>de</strong> Janeiro, 3 <strong>de</strong> mai. 2010,<br />

p. A11.<br />

COLASANTI, Marina; PINHEIRO, Augusto Ivan <strong>de</strong><br />

Freitas. Rio <strong>de</strong> Janeiro 360º. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Priuli &<br />

Verlucca editori, 1997.<br />

LODI, Maria Cristina Vereza. Dossiê da Candidatura do<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro a Patrimônio Mundial, na categoria<br />

“Paisagem Cultural” - IPHAN, <strong>de</strong>z. <strong>de</strong> 2009.<br />

NEVES, Margarida <strong>de</strong> Souza. A Cida<strong>de</strong> e Paisagem. In:<br />

MARTINS, Carlos (org.). Paisagem Carioca. Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro, MAM, 2000.


“A IMPERATRIZ ADVERTE:<br />

SAMBAR FAZ BEM À SAÚDE”<br />

G.R.E.S. IMPERATRIZ<br />

LEOPOLDINENSE<br />

Presi<strong>de</strong>nte: Luiz Pacheco Drumond<br />

Carnavalesco: Max Lopes<br />

Fundação: 06/03/1959<br />

Cores: Ver<strong>de</strong>, Ouro e Branco<br />

21


G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense<br />

“A IMPERATRIZ ADVERTE:<br />

SAMBAR FAZ BEM À SAÚDE”<br />

Uma viagem pelo tempo leva a Imperatriz a passear pela<br />

história da Medicina, conhecendo a sua origem e o seu<br />

<strong>de</strong>senvolvimento. A arte <strong>de</strong> salvar vidas <strong>de</strong>ve ter sua<br />

importância enaltecida e merece essa gran<strong>de</strong> homenagem<br />

oferecida pelos leopoldinenses. Deixe o tempo te levar...<br />

Desperta a Velha África. Desperta do solo africano o po<strong>de</strong>r<br />

<strong>de</strong> curar.<br />

Nos primórdios <strong>de</strong> sua existência, o homem encontrava na<br />

caça <strong>de</strong> animais e na coleta <strong>de</strong> espécies vegetais, os meios<br />

para sua sobrevivência. Nôma<strong>de</strong> por excelência, nutriu-se<br />

dos elementos naturais encontrados para exercer o po<strong>de</strong>r da<br />

cura. Praticava rituais que buscavam o autoconhecimento e<br />

o equilíbrio do ser, através das manifestações da natureza e<br />

da compreensão <strong>de</strong> seus fenômenos.<br />

Os sacerdotes africanos, primeiros praticantes da mágica<br />

arte da cura, evocavam a sabedoria da mãe-natureza para<br />

apren<strong>de</strong>r o perfeito modo <strong>de</strong> utilização das plantas, raízes e<br />

ervas medicinais.<br />

Batidas <strong>de</strong> tambor. Danças. Ervas. Curan<strong>de</strong>iros. Uma<br />

viagem espiritual ao encontro das formas <strong>de</strong> proteção e<br />

controle do corpo. A cura estava diretamente ligada à magia<br />

e à crença na força dos po<strong>de</strong>res da natureza e seus<br />

elementos.<br />

25


26<br />

Carnaval <strong>2011</strong><br />

Com o passar do tempo, diversas outras civilizações pelo<br />

mundo passaram a <strong>de</strong>senvolver seus próprios pensamentos<br />

médicos. Dentre elas, po<strong>de</strong>-se citar os hindus, fundadores da<br />

Ayurveda (Ciência da Vida); os semitas em geral, que<br />

acreditavam na noção <strong>de</strong> que a doença era um castigo<br />

divino; os mesopotâmios que viam uma relação entre a<br />

movimentação dos astros, a mudança das estações e as<br />

doenças; os chineses, através <strong>de</strong> sua medicina tradicional<br />

que se baseava na cura por plantas e outros elementos<br />

naturais; e, principalmente, os egípcios.<br />

O esplendor da civilização do Egito Antigo trouxe a<br />

evolução do conhecimento <strong>de</strong> diversos procedimentos<br />

médicos, o uso <strong>de</strong> numerosas drogas e a realização <strong>de</strong><br />

pequenas cirurgias, além da técnica da mumificação,<br />

marcando a história da arte <strong>de</strong> curar.<br />

Um traço comum entre essas socieda<strong>de</strong>s citadas é a<br />

profunda relação entre a religião e a prática da cura. Seus<br />

povos, diferentemente do homem pré-histórico, acreditavam<br />

na existência <strong>de</strong> <strong>de</strong>uses superiores aos homens, que seriam<br />

os verda<strong>de</strong>iros responsáveis pela saú<strong>de</strong> e pela doença. Os<br />

<strong>de</strong>uses, não só eram os <strong>de</strong>tentores do po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> curar e dos<br />

conhecimentos médicos, mas também respondiam pelo<br />

<strong>de</strong>sequilíbrio do corpo humano e pelo envio das doenças e<br />

enfermida<strong>de</strong>s.<br />

A cura mítica ainda era a base da crença do povo da<br />

Antiguida<strong>de</strong>. A magia e a religião se enlaçavam e<br />

influciavam a prática médica.


G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense<br />

O povo da gran<strong>de</strong> Grécia, inicialmente, sustentava suas<br />

crenças em sua mitologia, na qual os po<strong>de</strong>rosos <strong>de</strong>uses<br />

influenciavam a vida e a morte, tendo o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> curar ou<br />

provocar doenças. Os gregos acreditavam que a doença era<br />

um severo castigo dos céus, enquanto a cura, uma benção<br />

divina. Nos templos <strong>de</strong> Asclépio, Deus grego da Medicina,<br />

se realizavam rituais para curar, englobando banhos e<br />

poções para relaxar e adormecer, já que a cura <strong>de</strong>veria vir<br />

com os sonhos, durante o sono do enfermo.<br />

Com o <strong>de</strong>senvolvimento do valor humanístico na Grécia, a<br />

prática da cura tomou um caráter racional, empregado<br />

principalmente por Pitágoras, o que possibilitou o<br />

surgimento <strong>de</strong> uma medicina verda<strong>de</strong>iramente científica.<br />

Hipócrates, o pai da medicina <strong>de</strong>senvolveu métodos que se<br />

baseavam na filosofia, no raciocínio e na lógica, i<strong>de</strong>alizando<br />

um mo<strong>de</strong>lo ético e humanista da prática médica.<br />

A objetivida<strong>de</strong> e a precisão se tornaram elementos<br />

imprescindíveis para o diagnóstico das enfermida<strong>de</strong>s, sendo<br />

necessária a separação da Medicina da noção religiosa. Os<br />

estudos realizados pelos médicos passaram a substituir a<br />

fervorosa crença nos <strong>de</strong>uses e na cura pela magia pela<br />

observação empírica <strong>de</strong> seus pacientes.<br />

Com o início do período da Ida<strong>de</strong> Média, a ciência médica,<br />

assim como a vida humana, passou a ser dominada pela<br />

Igreja Católica. Esta, abafou o <strong>de</strong>senvolvimento científico e<br />

filosófico, trazendo tempos <strong>de</strong> trevas e pouca evolução para<br />

a Medicina. O conhecimento era restrito ao ambiente<br />

católico, tendo os monges como principais pensadores, que<br />

<strong>de</strong>veriam basear seus estudos na fé e na salvação da alma,<br />

27


28<br />

Carnaval <strong>2011</strong><br />

ao invés da evolução científica. Para a Igreja Católica, o<br />

corpo do homem era intocável à dissecação, pois este<br />

representava o corpo <strong>de</strong> Cristo, consi<strong>de</strong>rando o estudo <strong>de</strong><br />

anatomia algo pagão e inumano.<br />

A <strong>de</strong>sprezível falta <strong>de</strong> noção higiênica da socieda<strong>de</strong><br />

medieval possibilitava a proliferação <strong>de</strong> diversas doenças,<br />

que se tornavam verda<strong>de</strong>iras epi<strong>de</strong>mias. A peste negra<br />

aterrorizou a população europeia e assolou o continente,<br />

<strong>de</strong>ixando fortes marcas em seu chão.<br />

Da escuridão, renasce a esperança com o surgimento do<br />

movimento humanista, no qual era centrado o Renascimento<br />

europeu. Um novo jeito <strong>de</strong> pensar. Uma nova mentalida<strong>de</strong>.<br />

O homem é o centro do universo. Em total contraponto à era<br />

medieval, o período renascentista trouxe diversos avanços e<br />

<strong>de</strong>scobertas científicas para a Medicina. As universida<strong>de</strong>s<br />

passaram a se distanciar das bases religiosas e dos credos<br />

eclesiásticos, focando nos estudos <strong>de</strong> anatomia e fisiologia,<br />

muito pesquisados por Leonardo da Vinci (pai da anatomia),<br />

Versalius e Michelangelo.<br />

Brilha. Reluz o século das luzes. Com o advento do<br />

Iluminismo, correntes filosóficas surgem na Medicina,<br />

enfatizando o uso da razão e da ciência para explicar o<br />

universo. Um gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento das especialida<strong>de</strong>s<br />

médicas, como a Cardiologia, a Obstetrícia e a Pediatria<br />

tiveram um gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>staque, apresentando novos caminhos<br />

para a evolução da medicina mo<strong>de</strong>rna. A criação do<br />

microscópio, do termo célula, da homeopatia, além das<br />

diversas <strong>de</strong>scobertas na física, química e outras áreas, foram<br />

importantes acontecimentos iluministas, que possibilitaram<br />

o progresso da Medicina em geral.


G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense<br />

Todas as evoluções <strong>de</strong>monstradas nos períodos anteriores se<br />

tornaram base para o gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento que a<br />

Medicina contemporânea apresentou e continua a nos<br />

apresentar. Sua evolução é constante e surpreen<strong>de</strong>nte. A<br />

imunização preventiva, a <strong>de</strong>scoberta do raio X, a <strong>de</strong>scoberta<br />

<strong>de</strong> novos medicamentos, e a cirurgia plástica são frutos<br />

<strong>de</strong>ste esforço da Ciência Médica. Apesar dos <strong>de</strong>bates éticos<br />

trazidos pela socieda<strong>de</strong> civil, os estudos <strong>de</strong> genética e<br />

células artificiais trazem esperança para a criação <strong>de</strong> novos<br />

remédios e vacinas preventivas. Além disso, a evolução dos<br />

estudos do DNA, traz os segredos da “Chave da Vida”,<br />

possibilitando o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> pesquisas relativas à<br />

clonagem.<br />

A Medicina e a arte <strong>de</strong> curar estão sempre em evolução. O<br />

estudo e as pesquisas são extremamente necessários, para<br />

que a construção <strong>de</strong> novas técnicas <strong>de</strong> cura ou novas formas<br />

<strong>de</strong> prevenção à doenças surjam.<br />

Povo do Brasil, povo carioca, <strong>de</strong> bem com a vida, feliz e<br />

festeiro, vai buscar no carnaval e no samba a sua felicida<strong>de</strong><br />

e a cura para os seus problemas. O brasileiro encontra o seu<br />

bem-estar ao vestir a sua fantasia e passar pela passarela da<br />

imaginação, ao ouvir a batucada da bateria, ao sentir o<br />

pulsar do surdo como se fosse o seu próprio coração, ao<br />

ouvir a melodia do cavaquinho, ...<br />

O povo quer sambar, quer encontrar uma forma <strong>de</strong> esquecer<br />

os seus problemas. Sai pra lá, <strong>de</strong>ngue! Sai pra lá gripe suína!<br />

O que resta a este povo guerreiro é a felicida<strong>de</strong>. Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro, palco do maior carnaval do mundo. Venha para cá e<br />

encontre no samba a cura para a sua dor.<br />

29


30<br />

Carnaval <strong>2011</strong><br />

Deixe o prazer do samba e do carnaval dominarem seu<br />

corpo. Com o prazer que sentimos, nosso corpo libera uma<br />

substância chamada endorfina. Esse hormônio, ao ser<br />

liberado, viaja pelo nosso organismo, oferecendo uma<br />

sensação <strong>de</strong> bem-estar, conforto, tranquilida<strong>de</strong> e felicida<strong>de</strong>.<br />

Sinta o “hormônio da alegria” correr e alivie a sua dor<br />

sambando. O samba também faz bem para o corpo e para a<br />

mente.<br />

Além disso, <strong>de</strong>vemos reconhecer os gran<strong>de</strong>s esforços dos<br />

médicos brasileiros, que tentaram, <strong>de</strong> diversas formas, trazer<br />

saú<strong>de</strong> ao nosso povo e conhecimentos para a evolução <strong>de</strong><br />

novas técnicas médicas. Oswaldo Cruz. Carlos Chagas.<br />

Vital Brazil. Ivo Pitanguy. E muitos outros.<br />

Parabéns médicos brasileiros! Parabéns médicos <strong>de</strong> todo<br />

mundo!<br />

Não per<strong>de</strong>ndo o espírito carnavalesco, po<strong>de</strong>mos afirmar que,<br />

mesmo com toda a evolução que a Medicina tem nos<br />

apresentado e com todo o seu <strong>de</strong>senvolvimento, <strong>de</strong> acordo<br />

com a letra da marchinha dos antigos carnavais, ainda está<br />

pra nascer o doutor que cure a eterna dor <strong>de</strong> cotovelo.<br />

“Penicilina cura até <strong>de</strong>funto<br />

Petróleo bruto faz nascer cabelo<br />

Mas ainda está pra nascer, O doutor<br />

Que cure a dor <strong>de</strong> cotovelo”<br />

Marchinha <strong>de</strong> Klécius Caldas e Armando Cavalcanti


G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense<br />

Sambista, esqueça a dor! Vista a fantasia e caia na folia com<br />

a Imperatriz!<br />

Sambar faz bem à saú<strong>de</strong>!<br />

Carnavalesco: Max Lopes<br />

Pesquisa e Texto: Emanoel Campos Filho e<br />

Gabriel Haddad<br />

31


“Parábola dos Divinos<br />

Semeadores”<br />

G.R.E.S. MOCIDADE<br />

INDEPENDENTE DE<br />

PADRE MIGUEL<br />

Presi<strong>de</strong>nte: Paulo Vianna<br />

Carnavalesco: Cid Carvalho<br />

Fundação: 10/11/1955<br />

Cores: Ver<strong>de</strong> e Branco<br />

33


G.R.E.S. Mocida<strong>de</strong> In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> Padre Miguel<br />

“Parábola dos Divinos Semeadores”<br />

INTRODUÇÃO<br />

Com a última glaciação, o gelo e a neve ce<strong>de</strong>ram<br />

lentamente.<br />

Uma estrela incan<strong>de</strong>scente brilhou no horizonte primitivo e<br />

espalhando luz e calor fez a vida explodir em cores e<br />

fartura. O homem, enfim, se libertou das cavernas e<br />

festejou.<br />

As forças da natureza foram transformadas em <strong>de</strong>uses e as<br />

respostas para o <strong>de</strong>sconhecido eram encontradas pelos<br />

feiticeiros primitivos nos raios e trovões, nas águas, nas<br />

matas e nos mistérios da terra.<br />

De caçadores coletores até se tornarem semeadores, nossos<br />

ancestrais atravessaram um longo caminho, muitas vezes<br />

marcado por pedras e espinhos.<br />

À medida que a agricultura e a criação se estabeleceram, as<br />

plantas das quais <strong>de</strong>pendiam os homens e animais para se<br />

alimentarem tornaram-se crucialmente importantes e os<br />

ciclos da natureza passaram a ser fator dominante e foco <strong>de</strong><br />

atenção mágica e religiosa.<br />

O plantio e a colheita se transformaram nos gran<strong>de</strong>s<br />

acontecimentos do ano e eram celebrados com festivais e<br />

ritos que pretendiam assegurar um bom resultado.<br />

37


38<br />

Carnaval <strong>2011</strong><br />

Foi através <strong>de</strong>sta reverência à natureza que o homem<br />

começou a entrar no reino da utopia através das<br />

comemorações: no momento da festa se <strong>de</strong>sligava das coisas<br />

ruins como o inverno e as enchentes, que concretamente,<br />

tinham ido embora e saudava o que lhe parecia um bem,<br />

como a chegada da primavera e o nascer do sol, com danças<br />

e cânticos, em torno das fogueiras, para espantar os espíritos<br />

do mal e as forças negativas que prejudicavam o plantio.<br />

Em uma <strong>de</strong>liciosa viagem através <strong>de</strong>ssas festas, rituais e<br />

celebrações em louvor aos <strong>de</strong>uses da agricultura e que<br />

<strong>de</strong>pois foram abraçadas e remo<strong>de</strong>ladas pelo catolicismo,<br />

encontramos a origem, a raiz da frondosa árvore que é o<br />

carnaval do Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />

E é no templo sagrado dos <strong>de</strong>sfiles das escolas <strong>de</strong> samba que<br />

vamos relembrar em ritmo <strong>de</strong> comemoração as nossas<br />

origens agrárias e agrícolas. Afinal festejar é o que fazemos<br />

melhor.<br />

Louvados sejam os divinos semeadores do carnaval!<br />

Viva a folia!<br />

Parábola dos Divinos Semeadores<br />

A primeira semente: <strong>de</strong>pois do <strong>de</strong>gelo, eis que surge o<br />

caminho.<br />

Em um tempo muito distante, gran<strong>de</strong> parte das sagradas<br />

terras africanas encontrava-se sob o domínio do frio. Um<br />

império branco e gelado que mantinha o homem primitivo<br />

praticamente prisioneiro nas cavernas.


G.R.E.S. Mocida<strong>de</strong> In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> Padre Miguel<br />

Certa manhã, uma estrela incan<strong>de</strong>scente reluziu<br />

intensamente no horizonte; um forte clarão cortou o<br />

nevoeiro e espalhou-se pela pali<strong>de</strong>z da paisagem,<br />

anunciando um <strong>de</strong>slumbrante espetáculo <strong>de</strong> luz e calor. Aos<br />

poucos, o branco do gelo e da neve foi sendo matizado pelo<br />

ver<strong>de</strong> da vegetação, que surgia vigorosa. Assim, nossos<br />

ancestrais saíram da toca e festejaram.<br />

A vida explodiu em cores e fartura. Plantas <strong>de</strong> todos os<br />

tipos; diversas espécies <strong>de</strong> frutas e animais variados<br />

passaram a dominar o cenário renovado. O po<strong>de</strong>r dos raios e<br />

trovões, os mistérios das águas e da terra e os segredos das<br />

matas passaram a ser reverenciados por guias espirituais<br />

escolhidos entre os mais sábios <strong>de</strong> cada tribo. Nas<br />

celebrações, esses feiticeiros cantavam e dançavam<br />

enfeitados com folhas e máscaras em torno <strong>de</strong> fogueiras<br />

para afastar os maus espíritos e garantir as boas colheitas.<br />

De festa em festa e <strong>de</strong> ritual em ritual, o homem evoluiu e<br />

<strong>de</strong>scobriu o milagre da vida contido no interior dos grãos e<br />

sementes que se manifestavam quando estes alcançavam o<br />

solo.<br />

Ao se tornar, então, semeador, o homem criou raiz e se<br />

fixou na terra.<br />

A segunda semente: sobre pedras pagãs, ergueram-se<br />

templos <strong>de</strong> adoração.<br />

As cavernas geladas, cada vez mais, faziam parte do<br />

passado e os campos, agora cultivados, sinalizavam um<br />

mundo em transformação.<br />

39


40<br />

Carnaval <strong>2011</strong><br />

Grandiosas civilizações floresceram, templos <strong>de</strong> pedra e<br />

magníficos palácios foram construídos; rituais <strong>de</strong> sacrifício<br />

e cânticos <strong>de</strong> louvor ecoaram em celebração à fertilida<strong>de</strong> da<br />

terra.<br />

Deuses da agricultura e animais sagrados se juntaram aos<br />

<strong>de</strong>uses dos raios e trovões, das águas, da terra e das matas<br />

consolidando um po<strong>de</strong>roso panteão agrícola que atravessaria<br />

as fronteiras do tempo e do espaço nos lombos <strong>de</strong> camelos e<br />

cavalos.<br />

No antigo Egito, tochas e incensos impregnavam <strong>de</strong> magia<br />

os grandiosos banquetes em honra à <strong>de</strong>usa Ísis, senhora da<br />

agricultura, enquanto majestosos cortejos reverenciavam o<br />

Boi Ápis.<br />

Na Grécia, alegres festivais <strong>de</strong> músicas, danças sensuais e<br />

farta distribuição <strong>de</strong> vinho embalavam as festivida<strong>de</strong>s em<br />

homenagem a Dionísio, <strong>de</strong>us protetor das parreiras, e eram<br />

marcadas por uma <strong>de</strong>liciosa inversão <strong>de</strong> papéis: o miserável<br />

se vestia <strong>de</strong> rei e machos reconhecidos se fantasiavam <strong>de</strong><br />

fêmeas.<br />

Em Roma pagã, as festas da primavera anunciavam as<br />

Saturnálias em homenagem ao <strong>de</strong>us italiano da agricultura e,<br />

num momento <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> euforia, Saturno era saudado<br />

calorosamente pelo povo. Na ocasião, a cida<strong>de</strong>, com as ruas<br />

ricamente <strong>de</strong>coradas com flores, era governada por um rei<br />

escolhido entre os pobres e, do alto <strong>de</strong> seu “carro naval”,<br />

Momo, o soberano da alegria, comandava a farra que não<br />

tinha hora para acabar.


G.R.E.S. Mocida<strong>de</strong> In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> Padre Miguel<br />

A terceira semente: a festança é sufocada pelos espinhos<br />

<strong>de</strong> uma nova religião.<br />

Espremida entre as celebrações pagãs, surge em Roma uma<br />

nova religião.<br />

Enquanto pregava a fraternida<strong>de</strong>, o Catolicismo logo tentou<br />

sufocar as origens <strong>de</strong>ssas manifestações e, aos poucos, os<br />

festejos vão sendo modificados.<br />

Dessa maneira, o dia <strong>de</strong>dicado às comemorações da<br />

Saturnália passou a <strong>de</strong>terminar o nascimento <strong>de</strong> Jesus em<br />

um estábulo cercado por bois, ovelhas e pastores, em uma<br />

cena tipicamente agrícola.<br />

O pão e o vinho, símbolos dos rituais e festas pagãs, foram<br />

transformados no corpo e no sangue do próprio Cristo,<br />

anunciados na nova liturgia como “... o pão da vida e o<br />

cálice da salvação...”.<br />

Por sua vez, o <strong>de</strong>us Sol, exaltado com a chegada da<br />

primavera, ganhou a forma <strong>de</strong> ostensório dourado e foi<br />

colocado nas cabeças das imagens dos mártires católicos.<br />

Subjugada pelo clero romano, a “ritualística primitiva” foi<br />

transformada em uma celebração marcada por banhos <strong>de</strong><br />

cheiro, fantasias e <strong>de</strong>sfiles alegóricos.<br />

Ao incorporar personagens da Comédia Dell‟art, o novo<br />

formato acabou por conquistar as cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Nice, Roma e<br />

Veneza e invadiu os salões da nobreza com seus requintados<br />

bailes <strong>de</strong> máscaras.<br />

41


42<br />

Carnaval <strong>2011</strong><br />

Nascia, assim, o “carnevalle”, comemorado nos dias que<br />

antecediam a Quaresma e que, feito sementes sopradas pelo<br />

vento, espalhou-se pelos quatro cantos do mundo.<br />

A quarta semente: “... e nesta boa terra, cresceu e<br />

produziu a cento por um”.<br />

No Brasil, essas divinas sementes encontraram solo fértil e<br />

abençoado. Lançadas aos diversos recantos do nosso torrão,<br />

rapidamente germinaram e se multiplicaram, dando frutos<br />

com características próprias.<br />

De Norte a Sul <strong>de</strong>sta nação, virou manifestação popular.<br />

O boi que veio <strong>de</strong> tão longe, lá no Norte, também se tornou<br />

sagrado: “é boi Ápis pra lá, é bumba-meu-boi, meu-boibumbá<br />

pra cá”.<br />

No Nor<strong>de</strong>ste, a festa do <strong>de</strong>us Sol se transformou em festa <strong>de</strong><br />

São João e a comilança não po<strong>de</strong> faltar: tem milho assado,<br />

tem arroz doce, garapa <strong>de</strong> cana, um bom cafezinho e<br />

fogueira acesa “pra” esquentar.<br />

Tem festa da uva nos Pampas e cavalhadas no Cerrado; mas,<br />

foi aqui no Rio <strong>de</strong> Janeiro que a mais bela e formosa das<br />

sementes encontrou o seu lugar. Misturando as festas e<br />

celebrações que vieram da Europa com a magia que<br />

<strong>de</strong>sembarcou com os africanos, criamos o nosso próprio<br />

ritual. Cantando, dançando e batucando com alegria sem<br />

igual, acrescentamos tempero à festança, reinventamos o<br />

carnaval.


G.R.E.S. Mocida<strong>de</strong> In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> Padre Miguel<br />

Hoje, celebramos o nosso passado agrário e agrícola<br />

enquanto festejamos o nosso presente como o maior<br />

espetáculo da Terra e, quando esse tal <strong>de</strong> futuro chegar e a<br />

folia for levada “pro” espaço si<strong>de</strong>ral, estará, na verda<strong>de</strong>,<br />

voltando ao início, encontrando-se com o próprio passado e<br />

fechando um ciclo.<br />

Afinal, vale lembrar que tudo começou com o brilho<br />

incan<strong>de</strong>scente <strong>de</strong> uma estrela que <strong>de</strong>rreteu a neve e fez a<br />

folia começar.<br />

Viva o carnaval!!!<br />

43<br />

Cid Carvalho.


“Esta noite levarei sua alma”<br />

G.R.E.S. UNIDOS DA TIJUCA<br />

Presi<strong>de</strong>nte: Fernando Horta<br />

Carnavalesco: Paulo Barros<br />

Fundação: 31/12/1931<br />

Cores: Azul Pavão e Amarelo Ouro<br />

45


G.R.E.S. Unidos da Tijuca<br />

“Esta noite levarei sua alma”<br />

Todas as noites vocês voltam. Arrastam-se até aqui, pagam,<br />

entram e, em pouco tempo, estão rezando para sair. Mas não<br />

há como <strong>de</strong>sistir. Depois que embarcam, não têm mais<br />

forças para levantar antes <strong>de</strong> chegar ao final. Precisam saber<br />

como tudo vai terminar ou nunca mais encontrarão<br />

tranquilida<strong>de</strong>. Serão incapazes <strong>de</strong> permanecer sozinhos,<br />

tremerão a cada ruído, per<strong>de</strong>rão os sentidos, vagando<br />

durante noites <strong>de</strong> pavor. Então, venham...<br />

Entreguem suas almas, <strong>de</strong>scubram suas fraquezas,<br />

encontrem o fim. Todos têm o mesmo rosto: a boca<br />

trincada, os olhos <strong>de</strong> espanto, as mãos frias, o medo <strong>de</strong><br />

atravessar. Retorcem seus corpos nos assentos, não<br />

conseguem se mexer, sair do lugar, enfrentam cada etapa.<br />

Querem o escuro e o silêncio. Estão imóveis, apavorados,<br />

in<strong>de</strong>fesos. A expressão <strong>de</strong> horror acompanha o choro, o<br />

lamento, o grito, o grunhido, a explosão, o ruído, as<br />

máquinas <strong>de</strong> <strong>de</strong>struição. A ameaça po<strong>de</strong> assumir qualquer<br />

forma. Po<strong>de</strong> estar em qualquer lugar. Alguns virão para<br />

<strong>de</strong>fendê-los. A maioria virá para <strong>de</strong>struí-los...<br />

E, através dos séculos, o <strong>de</strong>sejo da conquista espalhará luta<br />

e sofrimento. E o mundo se dividirá entre os homens da<br />

guerra e os homens da paz. Algozes e vítimas. Senhores e<br />

escravos. Não importa on<strong>de</strong>: nas al<strong>de</strong>ias, nos campos,<br />

travam batalhas que <strong>de</strong>rrubam corpos nas areias e pelas<br />

cida<strong>de</strong>s; na Terra ou em outros planetas. Virão <strong>de</strong> todos os<br />

lugares. E vocês permanecem assim: assistindo a tudo,<br />

vendo cada cena e se emocionando. Segurando a espada e<br />

49


50<br />

Carnaval <strong>2011</strong><br />

sentindo a dor do ferimento, a tristeza da perda, o temor do<br />

próximo ataque. De on<strong>de</strong> virá? Forças estranhas vêm do<br />

além, seres fantásticos atravessam o espaço <strong>de</strong>vorando<br />

planetas. Nada sobrevive ao seu po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>vastador.<br />

Vocês presenciam o inabalável ataque das trevas, sofrem<br />

com a tragédia da miséria humana, temem os espíritos<br />

furiosos, suportam o sofrimento da incerteza, a dor da<br />

mentira, a angústia do preconceito. Esperam por aqueles que<br />

serão capazes <strong>de</strong> combater as injustiças, transformar<br />

cor<strong>de</strong>iros em leões, caçar os fantasmas, conceber<br />

mirabolantes planos <strong>de</strong> fuga ou, simplesmente, exercitar o<br />

direito à liberda<strong>de</strong>, transcen<strong>de</strong>r limites, explodir fronteiras.<br />

Perseguir seus <strong>de</strong>sejos a qualquer preço, em qualquer lugar.<br />

Mesmo que isso se torne uma obsessão por <strong>de</strong>vorar suas<br />

vítimas. Transformar algozes mercenários em covar<strong>de</strong>s,<br />

diante do temor <strong>de</strong> um reencontro. Ou <strong>de</strong>fensores da vida,<br />

em vítimas da ganância <strong>de</strong> covar<strong>de</strong>s. Destemidos? Sim, mas<br />

até quando...<br />

Talvez se vocês tivessem escolhido uma vida mais tranquila,<br />

no campo ou numa cida<strong>de</strong>zinha do interior... Será? Cada um<br />

colhe o que planta. E esse po<strong>de</strong> ser o começo do fim. Não<br />

adianta se escon<strong>de</strong>r, ele vai te encontrar. E po<strong>de</strong> ser on<strong>de</strong><br />

menos se espera. Nas brinca<strong>de</strong>iras divertidas da infância, na<br />

entrega ao riso fácil quando se <strong>de</strong>sarmam as <strong>de</strong>fesas. Na<br />

procura pelo segredo que jamais <strong>de</strong>veria ter sido revelado.<br />

Cuidado, lá se escon<strong>de</strong> o terror. Como se livrar <strong>de</strong>le?<br />

A maldição, para alguns, <strong>de</strong>ve ar<strong>de</strong>r na fogueira. Para<br />

outros, é preciso punir o mal, enfrentando aqueles que<br />

causam tristeza, morte e dor. Não importa. Herege ou bruxo,


G.R.E.S. Unidos da Tijuca<br />

<strong>de</strong>mônio ou santo, quem encontrar a resposta po<strong>de</strong>rá ser a<br />

próxima ameaça a ser controlada.<br />

Estão com medo... Por que ainda temem, se já embarcaram<br />

e não há mais nada a fazer? Já sentiram isso antes?<br />

Certamente, porque aqui estão. Então, prossigam... Vençam<br />

suas batalhas, enfrentem suas assombrações. Mas sem<br />

esquecer que elas voltam, sempre voltam... Por mais que<br />

vocês tentem se livrar, elas querem vingança e não<br />

<strong>de</strong>sistirão. A maldição nunca será vencida, ela não termina,<br />

ressurge quando já não mais se acredita que possa existir.<br />

Vocês po<strong>de</strong>m até se escon<strong>de</strong>r e rezar. Mas não vão escapar.<br />

Quando a extinção termina, o <strong>de</strong>safio começa. Seres préhistóricos,<br />

violentos, abomináveis. Tenham medo, porque<br />

esse po<strong>de</strong> ser o último mergulho... Talvez eles sequer<br />

estejam vivos. Muito além da morte e da imaginação, haverá<br />

uma aventura que viverá por toda a eternida<strong>de</strong>. Sobrevivam<br />

a ela, se forem capazes. E, se não forem, peçam ajuda.<br />

Po<strong>de</strong>m acreditar que estarei sempre ao lado, espreitando...<br />

Aguardando o momento em que, exaustos, vocês <strong>de</strong>sistirão.<br />

E se entregarão, sem luta, à impossibilida<strong>de</strong>.<br />

Não sentem a brisa quente e o perfume <strong>de</strong>licioso dos frutos,<br />

só o calor sufocante? Desejam o <strong>de</strong>scanso da longa<br />

travessia? Sofram, então, porque não é possível voltar. Esta<br />

viagem não tem retorno. Em pouco tempo, sentirão o peso<br />

dos grilhões, a dor da chibata, o sofrimento do exílio, o<br />

<strong>de</strong>sejo pela liberda<strong>de</strong>.<br />

Mas o que está acontecendo aqui? Não me obe<strong>de</strong>cem? Por<br />

que continuam a resistir, se não haverá um só homem <strong>de</strong> pé<br />

51


52<br />

Carnaval <strong>2011</strong><br />

que possa testemunhar tanta bravura? Todos irão comigo e<br />

<strong>de</strong>saparecerão. Novos tormentos virão, cruelda<strong>de</strong>,<br />

ignorância, estupi<strong>de</strong>z. Não querem aceitar o domínio? Não<br />

<strong>de</strong>sistem jamais? Lutam contra a opressão, querem voltar<br />

para casa? Caminham juntos, aos milhares, aon<strong>de</strong> irão? Não<br />

percebem que não adianta? Ninguém voltou jamais,<br />

acreditem! Que força é essa a que assisto sem nada po<strong>de</strong>r<br />

fazer? Como trazê-los <strong>de</strong> volta ao pesa<strong>de</strong>lo? Pareciam tão<br />

frágeis ao menor sinal <strong>de</strong> tempesta<strong>de</strong>, e, no entanto,<br />

renascem! Afinal, o que os assusta realmente? Pareciam<br />

mortos <strong>de</strong> medo, incapazes <strong>de</strong> reagir e, agora... Como<br />

ousam? Me enganam e zombam <strong>de</strong> mim? Para on<strong>de</strong><br />

estávamos indo? Não po<strong>de</strong>mos mais voltar porque, enfim,<br />

chegamos. Aqui estamos. Esperavam por nós.<br />

E vocês se divertiam comigo esse tempo todo, não? Então,<br />

me enganavam? Mudavam sem que eu percebesse? Só<br />

agora entendi que me conduziam, faziam <strong>de</strong> mim<br />

personagem <strong>de</strong> um filme em que eu não po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>cidir o<br />

final. Nas telas ou na vida real, dominam a arte do começo<br />

sem fim. Recomeço. Aí estão, <strong>de</strong>ixando para o futuro a<br />

ousadia <strong>de</strong> um passado sem medo. E, a cada ano, surgem<br />

novos personagens, novas histórias <strong>de</strong> lutas e glórias. De<br />

simplicida<strong>de</strong> e força. Porque têm a certeza <strong>de</strong> que o que está<br />

na outra margem é mais um motivo para eternizar a vida. A<br />

história <strong>de</strong> um povo <strong>de</strong> coragem, que possui o surpreen<strong>de</strong>nte<br />

po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> se reinventar. Fim?<br />

Paulo Barros<br />

Isabel Azevedo<br />

Ana Paula Trinda<strong>de</strong><br />

Simone Martins


“Mitos e Histórias Entrelaçadas<br />

Pelos Fios <strong>de</strong> Cabelo”<br />

G.R.E.S. UNIDOS DE<br />

VILA ISABEL<br />

Presi<strong>de</strong>nte: Wilson Vieira Alves<br />

Carnavalesca: Rosa Magalhães<br />

Fundação: 04/04/1946<br />

Cores: Azul e Branco<br />

53


G.R.E.S. Unidos <strong>de</strong> Vila Isabel<br />

“Mitos e Histórias Entrelaçadas<br />

Pelos Fios <strong>de</strong> Cabelo”<br />

Os cabelos têm valores simbólicos. O universo teve começo,<br />

segundo a tradição indiana, através da tecedura dos cabelos<br />

<strong>de</strong> SHIVA e ainda, nessa mesma cultura, os cabelos soltos<br />

são características <strong>de</strong> divinda<strong>de</strong>s terríveis como VAYU, o<br />

vento, e também com Ganga, o rio Ganges, manifestação da<br />

divinda<strong>de</strong> acima mencionada, que flui <strong>de</strong> sua coroa <strong>de</strong><br />

cabelos emaranhados.<br />

Outra figura caracterizada como sendo uma divinda<strong>de</strong><br />

terrível associada ao cabelo é a Medusa, personagem da<br />

mitologia grega. Ela era uma mulher bonita, que foi<br />

seduzida por Poseidon em um dos templos <strong>de</strong> Atenas. Ele a<br />

transformou em uma górgona, e o que ela tinha <strong>de</strong> mais<br />

belo, os cachos das suas ma<strong>de</strong>ixas, em cobras. Todo homem<br />

que a olhava se transformava em pedra.<br />

Na China, os cabelos dispostos ao redor da cabeça<br />

representam o sol. E, também, po<strong>de</strong>m ser símbolos <strong>de</strong><br />

sacrifício como T’ang, que ofereceu seus cabelos em<br />

sacrifício pelo seu povo. Assim, essas representações<br />

extrapolam o limite do ser humano, expandindo-se através<br />

do universo da simbologia cósmica.<br />

Os índios Hopi do Arizona acreditavam que o corte do<br />

cabelo tinha que ser feito <strong>de</strong> maneira coletiva, durante as<br />

festas <strong>de</strong> solstício <strong>de</strong> inverno, para não per<strong>de</strong>rem a força<br />

vital.<br />

57


58<br />

Carnaval <strong>2011</strong><br />

O primeiro corte <strong>de</strong> cabelo do Príncipe Her<strong>de</strong>iro dos Incas<br />

coincidia com o momento em que era <strong>de</strong>smamado ao<br />

completar dois anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. No mesmo momento em que<br />

cortava o cabelo, recebia o nome, tornando-se uma pessoa,<br />

fato que acontecia numa gran<strong>de</strong> festa coletiva.<br />

Um caso individual da força do cabelo é a história bíblica <strong>de</strong><br />

Sansão e Dalila. Ao contrário das histórias relatadas nos<br />

dois parágrafos acima, Sansão per<strong>de</strong>u os po<strong>de</strong>res quando lhe<br />

cortaram os cabelos.<br />

As tranças e os cabelos longuíssimos têm como simbolismo<br />

a submissão. A trança dos chineses, a das mulheres russas,<br />

e, até mesmo, a <strong>de</strong> Rapunzel, fábula dos irmãos Grimm,<br />

provam este fato. Porém, po<strong>de</strong>m ser também símbolos <strong>de</strong><br />

salvação como a <strong>de</strong> Lady Godiva, que se vestiu só com seus<br />

longos cabelos e livrou seu povo dos pesados impostos.<br />

As perucas foram adotadas por várias razões. Os egípcios,<br />

por exemplo, raspavam a cabeça por higiene e usavam<br />

perucas para se embelezarem. Até mesmo as barbas dos<br />

faraós eram postiças. Cleópatra tinha todo tipo <strong>de</strong> jóias<br />

incrustadas nas suas perucas.<br />

Luís XIV, o Rei Sol, possuía também uma gran<strong>de</strong> coleção,<br />

que era cuidadosamente tratada e cacheada.<br />

No afã <strong>de</strong> agradar ao Rei <strong>de</strong> França Luis XVI, as damas da<br />

corte se exibiam, cada qual, com apliques cada vez mais<br />

extraordinários. Alguns recebiam vasos para flores naturais,<br />

cheios d‟água. Outros, pássaros voando presos por fios <strong>de</strong><br />

seda. Havia também aqueles com tendas militares e


G.R.E.S. Unidos <strong>de</strong> Vila Isabel<br />

canhões, navios, mobília completa <strong>de</strong> sala e <strong>de</strong> quarto,<br />

jardins floridos, exemplos <strong>de</strong> algumas das <strong>de</strong>corações<br />

inventadas por essas damas, que a tudo se submetiam, com<br />

perucas muito bem empoadas com farinha, que<br />

possivelmente fazia falta ao povo faminto.<br />

No Brasil, muito do ouro <strong>de</strong> Minas foi <strong>de</strong>sviado pelos<br />

cabelos fofos dos escravos e escravas, e era usado para<br />

pagamento <strong>de</strong> alforria dos negros, para seus adornos<br />

filigranados e para a <strong>de</strong>coração das suas igrejas.<br />

No Rio <strong>de</strong> Janeiro do século XIX eram os escravos <strong>de</strong><br />

ganho que exerciam as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> barbeiro e cabeleireiro.<br />

Também acumulavam as funções <strong>de</strong> ven<strong>de</strong>dores <strong>de</strong> pentes e<br />

remendavam as meias <strong>de</strong> seda. Mais tar<strong>de</strong>, chegaram os<br />

cabeleireiros franceses para a alegria das damas <strong>de</strong> então.<br />

E, nos remetemos ainda à trança que abalou a Rua do<br />

Ouvidor, exposta em uma vitrine <strong>de</strong> loja <strong>de</strong> cabeleireiro.<br />

Ela foi muito admirada por sua extensão. Depois <strong>de</strong> muita<br />

especulação soube-se que era <strong>de</strong> uma mineira, que tinha<br />

fortes dores <strong>de</strong> cabeça, por usar essa trança <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> dois<br />

metros <strong>de</strong> comprimento, e o médico a aconselhou a cortá-la,<br />

tendo assim curado a sua mazela.<br />

Mami Wata, figura mítica africana, possuía numa mesma<br />

cabeleira invejável, todos os tipos <strong>de</strong> cabelo: lisos, crespos,<br />

ondulados, carapinha, loiros, morenos e ruivos.<br />

A Vênus Romana inspirou as “Vênus” loiríssimas do século<br />

XX, como Marilyn Monroe.<br />

59


60<br />

Carnaval <strong>2011</strong><br />

Mas, Lamartine Babo na sua sabedoria, <strong>de</strong>mocraticamente,<br />

exaltou as morenas, as mulatas, as ruivas, e as loirinhas,<br />

todas naturalmente com lindos cabelos escovados, tratados,<br />

brilhantes e vitaminados.<br />

Carnavalesca: Rosa Magalhães<br />

Autores do Enredo: Rosa Magalhães &<br />

Alex Varela (Historiador)<br />

Bibliografia:<br />

CHEVALIER, Jean et alii. Cabelos. In: Dicionário dos<br />

Símbolos. Rio <strong>de</strong> Janeiro: José Olympio, 1987, pp.<br />

154-157.<br />

COHEN, Alberto A. Ouvidor, a rua do Rio. Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro: AACohen, 2001.<br />

JUNG, Carl G. O homem e seus Símbolos. Rio <strong>de</strong> Janeiro:<br />

Editora Nova Fronteira, 1984.<br />

MACEDO, J. M. <strong>de</strong>. Memórias da rua do Ouvidor.<br />

Brasília: Editora Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Brasília, 1988 [1ª ed.<br />

1878].<br />

Mami Wata. In: http: pt.wikipedia.org/wiki/Mami_Wata<br />

(Acessado no dia 21/07/2010).<br />

MARQUES, Silvia. A História do Penteado. São Paulo:<br />

Matrix, 2009.<br />

ROUSSELOT, Bernard. Mythologies. Une Anthologie<br />

Illustrée <strong>de</strong>s Mythes et Légends du Mon<strong>de</strong>. Paris:<br />

Éditions Grund, 2002.<br />

GRIMM. Rapunzel. In: Os Mais Belos Contos <strong>de</strong> Grimm.<br />

São Paulo: Ciranda Cultural Ed., 2007.


“O filho fiel,<br />

sempre Mangueira”<br />

G.R.E.S. ESTAÇÃO PRIMEIRA<br />

DE MANGUEIRA<br />

Presi<strong>de</strong>nte: Ivo Meirelles<br />

Carnavalescos: Mauro Quintaes e<br />

Wagner Gonçalves<br />

Fundação: 28/04/1928<br />

Cores: Ver<strong>de</strong> e Rosa<br />

61


G.R.E.S. Estação Primeira <strong>de</strong> Mangueira<br />

“O filho fiel, sempre Mangueira”<br />

A Mangueira me chama, eu vou<br />

Sempre fui o seu <strong>de</strong>fensor<br />

Sou um filho fiel<br />

À Mangueira eu tenho amor<br />

Foi a Mangueira quem me <strong>de</strong>u apoio e fama<br />

Até hoje ela me ama<br />

Agora vieram me dizer<br />

Que a Mangueira me quer ver quer me ver<br />

(A Mangueira me chama)<br />

A Estação Primeira <strong>de</strong> Mangueira pe<strong>de</strong> passagem para<br />

afirmar, em plena Marquês <strong>de</strong> Sapucaí, que um dos maiores<br />

baluartes da sua história, Nelson Antônio da Silva, o nosso<br />

Nelson Cavaquinho, que completaria 100 anos <strong>de</strong><br />

nascimento em <strong>2011</strong>, está vivo e comparece à Marquês <strong>de</strong><br />

Sapucaí, com o seu talento e a sua poesia, para dizer que o<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro é esta festa <strong>de</strong> criativida<strong>de</strong> porque tem filhos<br />

como ele.<br />

E pe<strong>de</strong> passagem também para contar o belo caso <strong>de</strong> amor<br />

envolvendo o poeta e a nossa comunida<strong>de</strong>. Um caso <strong>de</strong><br />

amor que começou na década <strong>de</strong> 30, quando Nelson<br />

Cavaquinho, carioca nascido nas proximida<strong>de</strong>s da Praça da<br />

Ban<strong>de</strong>ira, apareceu no Morro <strong>de</strong> Mangueira na condição <strong>de</strong><br />

soldado da Polícia Militar, ativida<strong>de</strong> que exercia por<br />

influência do pai, Brás Antônio da Silva, tocador <strong>de</strong> tuba e<br />

contramestre da banda <strong>de</strong> música da PM. Mas, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

menino, Nelson tocava cavaquinho – e passou logo a ser<br />

conhecido como Nelson Cavaquinho – e fazia sambas e<br />

65


66<br />

Carnaval <strong>2011</strong><br />

choros, razão pela qual aproximou-se imediatamente <strong>de</strong><br />

Cartola (seu amigo e ídolo), Carlos Cachaça, Alfredo<br />

Português e Zé da Zilda ou Zé com fome. Quis o <strong>de</strong>stino<br />

que ele, montado em seu cavalo, tomasse o rumo da<br />

Mangueira. “Buraco quente”, “Pendura saia”,” Olaria” e<br />

“Chalé” passaram a ser uma espécie <strong>de</strong> extensão da casa<br />

<strong>de</strong>le, um quintal do poeta. Quem havia sido <strong>de</strong>signado a<br />

cuidar da or<strong>de</strong>m estava envolvido na boemia e atraído pelo<br />

charme e calor <strong>de</strong> um morro que se consagrava como o mais<br />

rico canteiro <strong>de</strong> cultura popular da nossa cida<strong>de</strong>. Foi nessa<br />

época que Nelson trocou o cavaquinho pelo violão, um<br />

instrumento, por sinal, que tocava num estilo absolutamente<br />

original, com a utilização apenas do polegar e do indicador<br />

da mão direita. A troca <strong>de</strong> instrumento, porém, não alterou o<br />

pseudônimo que o consagrou, pois permanece Nelson<br />

Cavaquinho até agora, quando comemoramos um século do<br />

seu nascimento.<br />

A boemia fez <strong>de</strong>le um personagem <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>staque nas<br />

noites do Rio <strong>de</strong> Janeiro e também pela convivência com a<br />

fina-flor do samba mangueirense.<br />

Ele sempre impressionou os apreciadores da música popular<br />

brasileira pela capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> compor letras e músicas tão<br />

sofisticadas que chega a ser inacreditável que aquele homem<br />

tão simples fosse capaz <strong>de</strong> criar obras tão sofisticadas,<br />

trabalhando sozinho ou com o seu excelente parceiro<br />

Guilherme <strong>de</strong> Brito…<br />

Nelson Cavaquinho e Cartola viveram uma experiência <strong>de</strong><br />

gran<strong>de</strong> importância na história do samba do Rio <strong>de</strong> Janeiro,<br />

quando ambos, ao lado <strong>de</strong> Zé Kéti, eram as atrações


G.R.E.S. Estação Primeira <strong>de</strong> Mangueira<br />

principais do Zicartola - a primeira casa <strong>de</strong> samba do Brasil<br />

e responsável pela projeção <strong>de</strong> novos valores da nossa<br />

música – Paulinho da Viola, por exemplo – e pelo retorno<br />

<strong>de</strong> sambistas que raramente se apresentavam em público,<br />

como Ismael Silva. Foi ouvindo os sambas cantados no<br />

Zicartola que Nara Leão, até então consi<strong>de</strong>rada a musa da<br />

Bossa-Nova, <strong>de</strong>cidiu gravar o seu primeiro disco com as<br />

obras daqueles compositores.<br />

A partir do Zicartola, o Rio <strong>de</strong> Janeiro foi contemplado com<br />

a moda das rodas <strong>de</strong> sambas, com <strong>de</strong>staque para as Noitadas<br />

<strong>de</strong> Samba do Teatro Opinião. Todas as segundas-feiras<br />

apresentavam Nelson Cavaquinho como atração principal.<br />

Numa <strong>de</strong>ssas noitadas conheceu a cantora Beth Carvalho.<br />

Beth era uma menina da Zona Sul, que ia todas as segundas<br />

no teatro Opinião ver Nelson cantar. O poeta ficara muito<br />

impressionado, pois a menina sabia tudo do seu repertório…<br />

De admiradora e fã, virou sua intérprete e querida amiga.<br />

Assumiu, imediatamente, a condição <strong>de</strong> sua principal<br />

intérprete, incluindo um samba <strong>de</strong>le em cada disco que<br />

gravava, até que gravou um CD inteiramente com obras do<br />

extraordinário compositor. “Folhas secas”, por exemplo, foi<br />

uma espécie <strong>de</strong> presente da dupla Nelson<br />

Cavaquinho/Guilherme <strong>de</strong> Brito para Beth Carvalho.<br />

A Estação Primeira preten<strong>de</strong> apresentar um retrato <strong>de</strong><br />

Nelson Cavaquinho, chamado algumas vezes <strong>de</strong> “o trovador<br />

dos aflitos”. Mulheres, botequins, dor <strong>de</strong> cotovelo e até a<br />

morte são temas predominantes nos seus sambas. Certa vez,<br />

não permitiu que o relógio da sua casa passasse das duas<br />

horas da madrugada, porque sonhara que morreria naquela<br />

noite, às três horas da manhã. Nelson sempre conviveu com<br />

67


68<br />

Carnaval <strong>2011</strong><br />

a fatalida<strong>de</strong> e, por isso, sua poesia é marcada pela<br />

melancolia.<br />

Compunha com intensa paixão para os solitários dos bares,<br />

para as mulheres sem alma, para os errantes e plebeus da<br />

noite.<br />

Apresentamos também o boêmio <strong>de</strong> um profissionalismo<br />

um tanto ou quanto estranho, pois era capaz <strong>de</strong> pagar com<br />

músicas as compras <strong>de</strong> comestíveis para sua casa. Portanto,<br />

saibam todos que alguns dos parceiros <strong>de</strong>sconhecidos, cujos<br />

nomes aparecem em suas músicas, são, na verda<strong>de</strong>,<br />

pequenos comerciantes ou feirantes e fornecedores <strong>de</strong><br />

gêneros alimentícios para sua família. Quando estava sem<br />

dinheiro, ia até a Praça Tira<strong>de</strong>ntes e vendia o produto que<br />

melhor sabia fazer, seus sambas. César Brasil, um <strong>de</strong> seus<br />

“parceiros”, era gerente <strong>de</strong> um velho hotel, no Centro do<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro, e incapaz <strong>de</strong> compor um verso ou <strong>de</strong> tocar<br />

uma nota, em qualquer instrumento, mas entrou para a<br />

história como um dos autores <strong>de</strong> um dos mais belos samba<br />

do gênio: “Degraus da vida”.<br />

Foi na Praça Tira<strong>de</strong>ntes, também, que conheceu Lygia. Uma<br />

mulher sem teto e que se tornara sua companheira <strong>de</strong> copo.<br />

Nelson a consi<strong>de</strong>rava tanto que tatuou seu nome no braço.<br />

Muitos o criticaram por isso, então, compôs: “Muita gente<br />

tem o corpo tão bonito e a alma toda tatuada” (Tatuagem).<br />

Enfim, apresentamos Nelson Cavaquinho ao grand complet,<br />

chamando atenção, naturalmente, para o gran<strong>de</strong> caso <strong>de</strong><br />

amor entre ele e a Mangueira, um caso que o gran<strong>de</strong><br />

compositor fazia questão <strong>de</strong> tornar público. Agora, o morro


G.R.E.S. Estação Primeira <strong>de</strong> Mangueira<br />

que ele tanto subiu é que <strong>de</strong>sce para exaltar sua vida e sua<br />

obra. E cada componente da nossa escola vai viver<br />

intensamente a sua vida, beber da sua obra e louvar a sua<br />

alma boêmia. Seremos uma só voz! Empunhando uma só<br />

ban<strong>de</strong>ira! Estação Primeira <strong>de</strong> Mangueira, com muita<br />

emoção e garra, anuncia por quem dobram os surdos <strong>de</strong><br />

primeira.<br />

Na manhã do dia 18 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1986, aos 75 anos,<br />

morreu o homem, mas o poeta vive! Então vem, Nelson!<br />

Vem receber as “flores em vida”! Você, que sempre fora um<br />

Filho Fiel, a Mangueira o chama mais uma vez! E agora é<br />

para sempre, por que <strong>de</strong> hoje em diante, nunca mais você<br />

será chamado <strong>de</strong> sauda<strong>de</strong>.<br />

…Mas <strong>de</strong>pois que o tempo passar,<br />

sei que ninguém vai se lembrar que eu fui embora<br />

(Quando eu me chamar sauda<strong>de</strong>)<br />

Quando eu piso em folhas secas<br />

Caídas <strong>de</strong> uma mangueira<br />

Penso na minha escola…<br />

(Folhas secas)<br />

Em Mangueira<br />

Quando morre um poeta todos choram<br />

Vivo tranqüilo em Mangueira porque sei<br />

Que alguém há <strong>de</strong> chorar quando eu morrer<br />

(Pranto <strong>de</strong> um poeta)<br />

Finjo-me alegre, pro meu pranto ninguém ver Feliz àquele<br />

que sabe sofrer<br />

(Rugas)<br />

69


70<br />

Carnaval <strong>2011</strong><br />

Sei que a maior herança que tenho na vida, é meu coração,<br />

amigo dos aflitos<br />

Sei que não perco nada em pensar assim<br />

Porque amanhã não sei o que será <strong>de</strong> mim<br />

(Carida<strong>de</strong>)<br />

Mas o sambista vive eternamente no coração da gente<br />

Os versos <strong>de</strong> Mangueira são mo<strong>de</strong>stos<br />

Mas há sempre força <strong>de</strong> expressão…<br />

Ô, foi Mangueira que chegou<br />

(Sempre Mangueira)<br />

Tire seu sorriso do caminho que eu quero passar com a<br />

minha dor… Hoje pra você eu sou espinho… Espinho não<br />

machuca a flor<br />

(A Flor e o Espinho)<br />

Vingança, meu amigo eu não quero vingança. Os meus<br />

cabelos brancos me obrigam a perdoar uma criança<br />

(Notícia)<br />

Do mal será queimada a semente…<br />

O amor será eterno novamente<br />

(Juízo Final)<br />

Sei que estou no último <strong>de</strong>grau da vida, meu amor Já estou<br />

envelhecido, acabado Por isso muito eu tenho chorado<br />

(Degraus da vida)<br />

Fui tão bom pra ela, <strong>de</strong>i meu nome a ela Tudo no princípio<br />

eram flores Sem saber que eu era <strong>de</strong>mais, entre seus<br />

amores.<br />

(Mulher sem alma)


G.R.E.S. Estação Primeira <strong>de</strong> Mangueira<br />

Graças a Deus minha vida mudou!<br />

Quem me viu, quem me vê a tristeza acabou<br />

(Minha Festa)<br />

Nesse mundo <strong>de</strong> Deus tudo po<strong>de</strong> acontecer<br />

Porque que eu não posso Te esquecer?<br />

(Aceito teu a<strong>de</strong>us)<br />

E quando vejo a torre bem alta, Daquela linda catedral,<br />

Fujo <strong>de</strong> tua amiza<strong>de</strong>, infernal.<br />

(Devia ser con<strong>de</strong>nada)<br />

Levantei-me da cama, sem po<strong>de</strong>r Até hoje ninguém veio me<br />

ver Fui amigo enquanto eu tive dinheiro Hoje eu não tenho<br />

companheiro<br />

(Dona Carola)<br />

A luz negra <strong>de</strong> um <strong>de</strong>stino cruel<br />

Ilumina um teatro sem cor<br />

On<strong>de</strong> estou representando um papel<br />

De palhaço do amor....<br />

(Luz Negra)<br />

Você tendo vida, saú<strong>de</strong> e dinheiro Todos lhe querem muito<br />

bem Mas se você fracassar Po<strong>de</strong> Ter a certeza Que ninguém<br />

vai lhe procurar<br />

(Nem todos são amigos)<br />

Vamos pra bem longe da malda<strong>de</strong> Deus que nos guie Em<br />

direção à bonda<strong>de</strong><br />

(Tenha paciência)<br />

71


72<br />

Carnaval <strong>2011</strong><br />

Vou partir não sei se voltarei... tu não me queiras mal hoje<br />

é carnaval<br />

(Vou partir)<br />

Vou sair daqui<br />

Seu caso cheira à vela<br />

Quem está te olhando é o marido <strong>de</strong>la<br />

(Cheira à vela)<br />

Quando eu passo perto das flores<br />

Quase elas dizem assim:<br />

Vai que amanhã enfeitaremos o seu fim<br />

(Eu e as flores)<br />

Meu coração é terra que ninguém passeia<br />

Tu és igual a quem traiu Jesus na Ceia<br />

Sou companheiro<br />

Não mereço ser trocado por dinheiro<br />

(Minha honestida<strong>de</strong> vale ouro)<br />

Deus, Nosso Senhor, <strong>de</strong>via castigar<br />

O infeliz que faz uma mulher chorar<br />

(Nome sagrado)<br />

Sei que choras palhaço<br />

Por alguém que não lhe ama<br />

Faça a platéia gargalhar<br />

Um palhaço não <strong>de</strong>ve chorar<br />

(Palhaço)<br />

Meu reinado é cheio <strong>de</strong> ilusão<br />

E ninguém <strong>de</strong> mim tem compaixão<br />

(Rei vagabundo)


G.R.E.S. Estação Primeira <strong>de</strong> Mangueira<br />

Noites eu varei<br />

Mas cada amor me fez um rei<br />

Um rei vadio…<br />

(Rei vadio)<br />

Passei a mocida<strong>de</strong> esperando dar-te um beijo<br />

Eu sei que agora é tar<strong>de</strong>, mas matei o meu <strong>de</strong>sejo<br />

É pena que os lábios gelados como os teus<br />

Não sinta o calor que eu conservei nos lábios meus<br />

(Depois da vida)<br />

Hoje não é dia 1º <strong>de</strong> abril<br />

Com essa cara, outra vez, você mentiu<br />

Por favor, não faça isso, mais<br />

Se outra vez você mentir eu sei do que serei capaz<br />

(1º <strong>de</strong> abril)<br />

Já vem a sauda<strong>de</strong> outra vez me visitar<br />

Que visita triste, só me faz chorar<br />

Para ninguém ver o meu pranto<br />

Boa noite para todos! Eu vou me retirar<br />

(Visita triste)<br />

“lugar <strong>de</strong> Mangueirense é na Mangueira”<br />

73


“O Mistério da Vida”<br />

G.R.E.S. UNIÃO DA<br />

ILHA DO GOVERNADOR<br />

Presi<strong>de</strong>nte: Sidney Filardi<br />

Carnavalesco: Alex <strong>de</strong> Souza<br />

Fundação: 07/03/1953<br />

Cores: Vermelho, Azul e Branco<br />

75


G.R.E.S. União da Ilha do Governador<br />

“O Mistério da Vida”<br />

Ela é insulana por NATUREZA. Já foi domingueira,<br />

mística, curiosa, nostálgica, carnavalesca, assombrosa,<br />

profana, biriteira, circense, mágica, mandingueira, infantil e<br />

por fim: AVENTUREIRA.<br />

E mais uma vez, prepara as malas para outra <strong>de</strong> suas<br />

aventuras. Embarca no carnaval <strong>de</strong> <strong>2011</strong> a bordo do navio<br />

Beagle para atravessar o mar e ancorar na passarela trazendo<br />

memórias da maior <strong>de</strong> todas as viagens. Na companhia do<br />

jovem naturalista Charles Darwin, parte da Inglaterra para<br />

<strong>de</strong>sbravar os sete mares e dar uma volta ao mundo.<br />

Mapeando a América do Sul, chega ás costas brasileiras e se<br />

encanta com as belezas das nossas florestas tropicais.<br />

Prossegue a viagem contornando o continente. São<br />

<strong>de</strong>sembarques fascinantes por tantas terras, tantas ilhas, que<br />

as maravilhas da natureza encontradas no caminho são<br />

coletadas e catalogadas, assim como vestígios <strong>de</strong> um<br />

passado remoto, que lhes <strong>de</strong>spertam o interesse em<br />

<strong>de</strong>svendar suas origens. Segue seu curso, até retornar a sua<br />

terra natal.<br />

Com seus diários <strong>de</strong> bordo, anotações e constatações, ele<br />

chegará a uma teoria revolucionária que mudaria o rumo da<br />

história. Através <strong>de</strong>la partiremos para a gran<strong>de</strong> viagem <strong>de</strong><br />

fato: a que nos leva para a origem <strong>de</strong> tudo, ao gran<strong>de</strong><br />

mistério: a história da vida.<br />

Que começa na água, <strong>de</strong> uma única célula, que se dividiu,<br />

cresceu e se multiplicou. Logo surgiu vida nos oceanos.<br />

79


80<br />

Carnaval <strong>2011</strong><br />

Seres com coluna, ossos e crânio <strong>de</strong>senvolvido, criaram<br />

barbatanas, para nadar com velocida<strong>de</strong>. Dominaram as<br />

águas do mundo.<br />

Algumas formas se aventuraram pela Terra. Brotaram, se<br />

ramificaram, floresceram e frutificaram.<br />

Seres animados chegam à superfície; estes possuem asas,<br />

antenas, geram larvas, passam pela metamorfose, zumbem,<br />

se alimentam <strong>de</strong> néctar.<br />

Daquelas criaturas aquáticas, algumas <strong>de</strong>senvolveram a<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> engolir ar na superfície da água; barbatanas<br />

viram patas, e passeiam na terra com suas peles molhadas e<br />

pegajosas.<br />

Seus <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes criaram peles escamosas e secas e<br />

romperam seu elo com a água. Rastejam, silvam, têm<br />

cascos, e por um tempo dominaram o mundo com suas<br />

formas colossais. Destes muitos foram exterminados, mas<br />

geraram outros cujas escamas viraram penas.<br />

Criaturas aladas que dominaram os céus, com seus cantos,<br />

seus encantos, suas cores fascinantes.<br />

Outro ramo começou a crescer em gran<strong>de</strong> número na Terra.<br />

Diferentes <strong>de</strong> outros viventes, seus corpos quentes, que<br />

<strong>de</strong>senvolveram pelos e garras, ganharam resistência,<br />

velocida<strong>de</strong>, em todo ambiente, do ártico aos trópicos, na<br />

água, na terra e no ar.<br />

Do alto das árvores alguns <strong>de</strong>sceram e se apoiaram em duas<br />

patas, inteligentes, foram evoluindo, evoluindo, e evoluíram<br />

para o quê?


G.R.E.S. União da Ilha do Governador<br />

Para achar que é sobre os <strong>de</strong>mais, um ser superior? Para<br />

po<strong>de</strong>r pensar que tudo po<strong>de</strong> <strong>de</strong>struir?<br />

Esta é a gran<strong>de</strong> revelação, sob a luz da ciência, do modo <strong>de</strong><br />

vermos o mundo. Que não estamos separados do mundo<br />

natural. Somos todos frutos <strong>de</strong> uma mesma árvore: A<br />

ÁRVORE DA VIDA e a ela <strong>de</strong>vemos PRESERVAR.<br />

Colorindo com toda a sua simpatia outra vez na passarela,<br />

tão bonita e tão singela, chega a ILHA, trazendo<br />

FELICIDADE e cheia <strong>de</strong> ALEGRIA para celebrar a VIDA.<br />

Vamos cantar sambar e EVOLUIR, ao som do samba no<br />

rufar da bateria, porque HOJE é carnaval. Quanto ao futuro<br />

pergunto através dos meus versos: o QUE SERÁ O<br />

AMANHÃ, como vai ser o meu <strong>de</strong>stino? Responda quem<br />

pu<strong>de</strong>r o que irá me acontecer, o meu <strong>de</strong>stino será como<br />

DEUS quiser...<br />

81<br />

Alex <strong>de</strong> Souza<br />

Carnavalesco


“Salgueiro apresenta:<br />

O Rio no cinema”<br />

G.R.E.S. ACADÊMICOS DO<br />

SALGUEIRO<br />

Presi<strong>de</strong>nte: Regina Celi Fernan<strong>de</strong>s Duran<br />

Carnavalesco: Renato Lage<br />

Fundação: 05/03/1953<br />

Cores: Vermelho e Branco<br />

83


G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro<br />

“Salgueiro apresenta: O Rio no cinema”<br />

Noite <strong>de</strong> estreia. A agitação na porta do cinema revive os<br />

tempos <strong>de</strong> glamour da eterna Cinelândia. Uma multidão se<br />

aglomera para ver <strong>de</strong> perto os astros da superprodução<br />

salgueirense que entra em cartaz <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> um ano <strong>de</strong><br />

filmagens. Todos prontos? Vai começar a sessão!<br />

(E no apagar das luzes, surge na tela):<br />

O cenário: Rio 40º. Uma mística terra em eterno transe<br />

tropical, paisagem perfeita para uma chanchada<br />

musicalmente mirabolante. Babilônia maravilhosa, <strong>de</strong> on<strong>de</strong><br />

se avista a gran<strong>de</strong> montanha que estampa as letras <strong>de</strong> uma<br />

monumental indústria <strong>de</strong> sonhos. Bem vindos à SAPUCAÍ<br />

Produções Cinematográficas, os estúdios on<strong>de</strong> brilham<br />

milhares <strong>de</strong> artistas no maior espetáculo da “tela”.<br />

Ação! Logo nas primeiras cenas, surgem imagens <strong>de</strong> um<br />

continente que há muito tempo teria afundado no mar da<br />

baía <strong>de</strong> Guanabara. Mito? Delírio? Alucinação? O que há<br />

por trás do sumiço da Atlântida carioca? O que revelariam<br />

os fotogramas perdidos? Relatos dão conta <strong>de</strong> um tesouro <strong>de</strong><br />

87


88<br />

Carnaval <strong>2011</strong><br />

valor incalculável escondido sob um mar <strong>de</strong> mistérios.<br />

Quem po<strong>de</strong>rá encontrá-lo?<br />

Começa, então, uma gran<strong>de</strong> caçada ao ouro <strong>de</strong> Atlântida. Na<br />

Praça XV, entra em cena Carlota Joaquina, que prepara a<br />

expedição para retomar os caminhos da submersa Atlântida.<br />

Mas é obrigada a abortar a missão para voltar à Europa, em<br />

uma saída cinematográfica. A notícia, então, foi bater na<br />

Lapa. Da sua alcova, Satã não se faz <strong>de</strong> santa e convoca a<br />

malandragem para empunhar as navalhas em busca da tão<br />

falada riqueza. Será que vão conseguir?<br />

Mais ao Sul da cida<strong>de</strong>, já se po<strong>de</strong> ouvir o chacoalhar dos<br />

ganzás e a batida do pan<strong>de</strong>iro que vem do Cassino da Urca.<br />

No palco, a Pequena Carmen Notável Miranda,<br />

acompanhada do seu Bando, ataca no melhor estilo Chica-<br />

Chica-Boom-Chic. E ao final da arrebatadora apresentação,<br />

sai à brasileira, em apoteose, sacudindo as tamancas noite<br />

afora, sem que ninguém perceba suas reais intenções <strong>de</strong> se<br />

juntar à caça ao tesouro.<br />

Enquanto isso, na favela <strong>de</strong> tantos amores, Orfeu embarca<br />

no sonho <strong>de</strong> Atlântida, enquanto arranca do violão as notas<br />

<strong>de</strong> um samba clássico, embalando as belas cabrochas do<br />

morro. Castiga nas cordas, distraindo também a tropa em<br />

incursão pela comunida<strong>de</strong>. E o faroeste urbano, enfim, dá<br />

uma trégua pra ver a escola passar. Pedir pra sair? Naquela<br />

noite, não...<br />

Muda a cena e o Rio amanhece cantando em mais um dia <strong>de</strong><br />

verão. Na mais real dimensão, surge a fantasia que salta aos<br />

olhos. A invasão aérea que tinge os céus da Zona Sul à Zona<br />

Norte é traçada por uma turma pra lá <strong>de</strong> animada. Alô,


G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro<br />

amigos! Voando para o Rio, também atraídos pelas lendas<br />

do continente perdido, a passarada esperta solta suas feras e<br />

arrasta a asa pras araras nativas. Afinal, as aves que aqui<br />

gorjeiam, não gorjeiam como lá...<br />

A notícia do tesouro escondido ao Sul do Equador não para<br />

<strong>de</strong> se espalhar. E <strong>de</strong>u a louca no cinema! Estrelas da sétima<br />

arte <strong>de</strong>sembarcam por aqui e entram em irreversível<br />

processo <strong>de</strong> carioquização. Trocam o hot dog pela feijoada,<br />

o bip-bop pelo samba, <strong>de</strong>sfilam pelo calçadão da fama <strong>de</strong><br />

Copacabana... Uma confusão! Até o King Kong, vejam só,<br />

foi se pendurar na torre da Central do Brasil. O Homem<br />

Aranha se amarra no Beijo da Mulher Aranha, e com ela se<br />

pren<strong>de</strong> numa teia conjugada na Zona Sul. A bela mocinha,<br />

que o vento levou, agora veste plumas e paetês e, quem<br />

diria, foi parar em Irajá! E a loirinha, que nunca foi santa?<br />

Virou rainha da escola. Gostou do samba e hoje vive muito<br />

bem.<br />

E lá no infinito, quem um dia há <strong>de</strong> duvidar que o gran<strong>de</strong><br />

tesouro perdido <strong>de</strong> Atlântida era brilhar na avenida numa<br />

noite <strong>de</strong> carnaval? Isso tudo é verda<strong>de</strong>? Nada foi<br />

comprovado... Mas na memória, o que fica são as gran<strong>de</strong>s<br />

histórias e a alegria <strong>de</strong> receber, enfim, o prêmio maior da<br />

Aca<strong>de</strong>mia.<br />

E como toda boa chanchada, tudo acaba em carnaval!<br />

89<br />

Renato Lage, Márcia Lage e<br />

Diretoria Cultural<br />

“Esta é uma obra <strong>de</strong> ficção. Mas qualquer semelhança com<br />

nomes, obras ou datas não terá sido mera coincidência...”


“Rio, azul da cor do mar”<br />

G.R.E.S.<br />

PORTELA<br />

Presi<strong>de</strong>nte: Nilo Men<strong>de</strong>s Figueiredo<br />

Carnavalescos: Roberto Szaniecki e Amauri Santos<br />

Fundação: 11/04/1923<br />

Cores: Azul e Branco<br />

91


G.R.E.S. Portela<br />

Carta <strong>de</strong> Navegação<br />

“Rio, azul da cor do mar”<br />

A bravura e o <strong>de</strong>stemor dos navegantes foram <strong>de</strong>terminantes<br />

para que o homem criasse rotas marítimas e, através <strong>de</strong>las,<br />

promovesse o comércio e o intercâmbio entre os povos mais<br />

distantes e <strong>de</strong> diferentes culturas. Este aprendizado foi<br />

essencial para a evolução da humanida<strong>de</strong>; e a consolidação<br />

do que convencionamos chamar <strong>de</strong> “globalização”.<br />

Des<strong>de</strong> os primórdios, o homem enten<strong>de</strong>u a importância do<br />

mar para alcançar os seus objetivos <strong>de</strong> interação,<br />

comunicação, comércio, conquistas e, em sentido mais<br />

amplo, <strong>de</strong> sobrevivência.<br />

Nas civilizações mais remotas – e entre elas <strong>de</strong>stacamos os<br />

egípcios, chineses e gregos – o homem se valeu <strong>de</strong><br />

embarcações rudimentares para enfrentar o maior <strong>de</strong> seus<br />

<strong>de</strong>safios: o mar. Para se orientar na imensidão e no<br />

<strong>de</strong>sconhecido, apren<strong>de</strong>u a <strong>de</strong>cifrar a configuração das<br />

constelações.<br />

Estrelas foram companheiras em missões <strong>de</strong> comércio e<br />

conquista, transformando aventuras em expedições com<br />

metas pré-estabelecidas. Mesmo assim, esses homens foram<br />

obrigados a enfrentar o medo espalhado pelos sete mares.<br />

Para encontrar um caminho que os levassem às terras das<br />

especiarias – condimentos usados para tempero e<br />

conservação dos alimentos – tiveram que cruzar regiões<br />

supostamente habitadas por monstros e terríveis criaturas<br />

das profun<strong>de</strong>zas, acostumados a <strong>de</strong>vorar quem ousasse<br />

cruzar os seus domínios.<br />

95


96<br />

Carnaval <strong>2011</strong><br />

Tratava-se <strong>de</strong> uma estratégia usada pelos mercadores árabes<br />

para atemorizar os concorrentes europeus, protegendo - com<br />

a criação <strong>de</strong>ssas lendas e mitos - o monopólio <strong>de</strong><br />

mercadorias que tinham, na época, a mesma importância<br />

que o petróleo possui atualmente para a economia mundial.<br />

Nesse Mar Tenebroso, a ambição dos colonizadores<br />

inaugurou também a rota do tráfico negreiro.<br />

Essas linhas <strong>de</strong> comércio e conquista ultrapassaram os<br />

limites do Mediterrâneo, ganharam o Atlântico e o Pacífico,<br />

traçando novas etapas na História da Humanida<strong>de</strong>.<br />

Consolidaram “estradas” que até hoje são essenciais para o<br />

transporte dos mais diversos tipos <strong>de</strong> mercadorias e<br />

equipamentos, bem como <strong>de</strong> viajantes que se locomovem<br />

por todos os quadrantes. São vitais para a nossa<br />

sobrevivência.<br />

Dentro <strong>de</strong>sse contexto, a Portela <strong>de</strong>dicará um momento<br />

especial <strong>de</strong> sua apresentação para homenagear os 100 anos<br />

do Porto do Rio – historicamente, a porta <strong>de</strong> entrada <strong>de</strong><br />

nosso país, por on<strong>de</strong> também exportamos produtos gerados<br />

pela mão-<strong>de</strong>-obra e tecnologia brasileiras. É lá que a Cida<strong>de</strong><br />

Maravilhosa ganha um novo impulso, sendo referência do<br />

comércio exterior.<br />

Manancial inesgotável <strong>de</strong> inspiração, consolidado em todos<br />

os gêneros <strong>de</strong> arte, o mar conduzirá a Portela a uma nova<br />

missão: mais do que um Rio, ela se propõe a ser um Mar<br />

que passará em nossas vidas. E, certamente, nossos corações<br />

se <strong>de</strong>ixarão levar.<br />

Venha, navegue conosco!


G.R.E.S. Portela<br />

Sinopse<br />

Porto <strong>de</strong> Sapucahy, verão <strong>de</strong> <strong>2011</strong><br />

Soltem as amarras e <strong>de</strong>ixem as velas enfunarem ao sabor do<br />

vento. Vejam o cais se distanciar e, com ele, as lembranças<br />

que ficaram. Na bagagem, trazemos sonhos e esperança.<br />

Nossos olhos já não conseguem divisar o que é mar, o que é<br />

céu, e tentam traçar uma linha <strong>de</strong> equilíbrio no horizonte.<br />

Singramos no azul!<br />

Subamos à gávea para conversar com as estrelas,<br />

companheiras <strong>de</strong> sauda<strong>de</strong>s e solidão. Ora, direis, ouvir<br />

estrelas… Por que não?<br />

Estrelas são quase tudo o que temos. Além <strong>de</strong>las, trazemos<br />

instrumentos que nos ajudarão a <strong>de</strong>cifrá-las. Elas se<br />

espalham pelo céu formando <strong>de</strong>senhos e um <strong>de</strong>les nos<br />

chama a atenção. É uma águia! Sim, uma águia em forma <strong>de</strong><br />

constelação. E será esta que escolheremos para nos guiar<br />

pela imensidão.<br />

Dizem que o <strong>de</strong>stino está traçado nas estrelas. Ensinam que<br />

precisaremos <strong>de</strong> muita coragem para enfrentar os perigos e,<br />

sobretudo, <strong>de</strong>terminação. E, com fé em Deus, navegaremos<br />

pelos sete mares que abrirão os portais do coração.<br />

97


No Reino <strong>de</strong> Poseidon, tempesta<strong>de</strong> e bonança<br />

98<br />

Carnaval <strong>2011</strong><br />

Estamos a muitas braças do continente, nessa noite<br />

tenebrosa. A fúria do vento força a resistência dos cabos que<br />

sustentam o mastro principal. O tecido das velas parece que<br />

não conseguirá resistir. Ondas se agigantam, cobrindo o<br />

casco. Raios, relâmpagos e trovões abrem fendas no<br />

firmamento.<br />

Começamos a enfrentar o <strong>de</strong>safio do <strong>de</strong>sconhecido. E, sem<br />

que tenhamos tempo <strong>de</strong> raciocinar, nos <strong>de</strong>paramos com o<br />

medo escondido em nossos porões.<br />

Das profun<strong>de</strong>zas surgem criaturas fantásticas! São polvos,<br />

serpentes e dragões abrindo uma estrada na espuma,<br />

levando-nos por um turbilhão sem fim.<br />

Ao abrirmos os olhos, porém, tudo se transforma. Cavalos<br />

marinhos conduzidos por guerreiros transportam o cortejo<br />

<strong>de</strong> reis e rainhas que governavam a crença <strong>de</strong> civilizações<br />

que <strong>de</strong>sapareceram no mar abissal.<br />

O que tenta nos dizer a tempesta<strong>de</strong>, afinal?<br />

Respeitar o que é do mar, mas nunca temer. Acima <strong>de</strong> toda<br />

malda<strong>de</strong>, o bem sempre há <strong>de</strong> vencer.


G.R.E.S. Portela<br />

Mare Nostrum, sob a luz <strong>de</strong> Alexandria<br />

Estas galés que cruzam o nosso caminho transportam toras<br />

<strong>de</strong> cedro, tapetes, tecidos, cerâmicas, corantes, jóias, peças<br />

<strong>de</strong> metal e outros produtos que as mãos do homem foram<br />

capazes <strong>de</strong> moldar.<br />

Do Oriente partem gigantescas embarcações. São os<br />

chineses oferecendo novas trocas, ampliando suas rotas,<br />

construindo relações.<br />

São mercadorias que remontam aos tempos dos primeiros<br />

navegantes, que se lançaram ao mar. Para trocá-las em<br />

outros portos, fenícios e egípcios não imaginavam que<br />

também <strong>de</strong>ixariam vestígios <strong>de</strong> sua cultura milenar.<br />

Gregos e romanos inauguraram um tempo <strong>de</strong> conquistas,<br />

ampliando as frentes <strong>de</strong> comércio e os limites <strong>de</strong> seus<br />

territórios.<br />

Da distante Alexandria, brilha uma chama, transformando a<br />

noite em dia.<br />

A caminho <strong>de</strong> Calicut<br />

Debruçados sobre mapas, lendas e antigos relatos tentamos<br />

encontrar o caminho que nos levará às misteriosas terras das<br />

especiarias. É para lá que apontam nossos olhos,<br />

mergulhados em fascínio.<br />

99


100<br />

Carnaval <strong>2011</strong><br />

Para proteger este comércio, mercadores árabes semearam<br />

lendas <strong>de</strong> monstros e gigantes que <strong>de</strong>voravam quem ousasse<br />

cruzar os seus domínios.<br />

Tudo mentira. O pesa<strong>de</strong>lo agora é um sonho. As águas<br />

ganham novos matizes e como atrizes representam cada<br />

uma <strong>de</strong> nossas expectativas: cravo, canela, açafrão, flor <strong>de</strong><br />

lótus e também porcelanas, tapetes, sedas e joias que não se<br />

cansam <strong>de</strong> brilhar.<br />

As mais variadas fragrâncias se misturam no ar.<br />

Conseguimos, estamos em Calicut! Mas não <strong>de</strong>vemos nos<br />

<strong>de</strong>morar.<br />

Atlântico, em direção ao Pacífico<br />

O Velho Mundo <strong>de</strong>spertou para um novo século sabendo<br />

que não estava mais só. Por trás do horizonte, entre o<br />

nascente e o poente, existiam outras terras e riquezas a se<br />

alcançar.<br />

Eram terras primitivas, que ficavam muito além da calmaria<br />

e daqui po<strong>de</strong>mos vê-las. Ao dia, parece uma <strong>de</strong>slumbrante<br />

miragem, ocupada por nativos, adornadas pelas praias e a<br />

plumagem dos pássaros mais bonitos que já se viu. Eis a<br />

visão do paraiso tropical.<br />

São tantas terras que nossos olhos se per<strong>de</strong>m ao tentar<br />

abraçá-las. Elas se escon<strong>de</strong>m sob florestas, percorrem<br />

montanhas e flutuam nas nuvens, on<strong>de</strong> guardam segredos e<br />

mistérios <strong>de</strong> antigos impérios, que se curvavam diante do<br />

Sol.


G.R.E.S. Portela<br />

Quantas riquezas brotam <strong>de</strong> suas nascentes! Ouro, prata,<br />

pedras preciosas e uma ma<strong>de</strong>ira estranha, que tinge <strong>de</strong><br />

sangue o tecido mais nobre. Dizem que o futuro a<br />

perpetuará na força <strong>de</strong> um gigante chamado Brasil.<br />

Mare Liberum, numa ilha do Caribe<br />

Quantas estradas se abrem neste azul sem fim! O Atlântico é<br />

cortado em todas as direções. Embarcações <strong>de</strong> diversas<br />

ban<strong>de</strong>iras transportam cana-<strong>de</strong>-açúcar, café, tabaco e<br />

algodão.<br />

Já não existem fronteiras para o comércio, nem medidas<br />

para a ambição. Outras galés rumam para a África,<br />

inaugurando a rota do tráfico negreiro. Trazem milhões <strong>de</strong><br />

escravos, <strong>de</strong>spejando-os em solo americano. Aceleram a<br />

produção, <strong>de</strong>ixando uma dor que não se apaga e uma chaga<br />

que ainda marca o sentimento humano.<br />

Negros vão, corsários vem. O mar já não pertence nem à<br />

Armada do Rei. Agora, é terra <strong>de</strong> ninguém.<br />

Brasil, entre riquezas e belezas<br />

Abençoada natureza, que sempre encantará os olhos <strong>de</strong><br />

quem veleja no aconchego <strong>de</strong>ssa Baía. A mesma brisa que<br />

traz lembranças do passado, sopra na direção do futuro,<br />

ensinando que o mar foi, é e será a principal via <strong>de</strong><br />

comunicação entre os povos mais distantes.<br />

101


102<br />

Carnaval <strong>2011</strong><br />

Salve, Porto centenário, e esse intenso vai-e-vem do<br />

comércio exterior. Foi aqui que começaram e <strong>de</strong>pois se<br />

intensificaram nossas relações com o estrangeiro.<br />

Esse marulhar fustiga a todo instante, recordando investidas<br />

e o leva-e-traz . As ondas não se cansam <strong>de</strong> contar todos os<br />

tesouros que ficaram para trás; mas ainda guardam nas<br />

profun<strong>de</strong>zas a mais preciosa das riquezas, que, por muito<br />

tempo, nos impulsionará.<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro, ponto <strong>de</strong> encontro <strong>de</strong> brasileiros <strong>de</strong> Norte a<br />

Sul, <strong>de</strong> Leste a Oeste; que recebe <strong>de</strong> braços abertos o<br />

janga<strong>de</strong>iro e outros irmãos do Nor<strong>de</strong>ste. Rio das praias, das<br />

raias, cruzeiros, pescadores da noite e da vida marinha.<br />

Terra <strong>de</strong> São Sebastião, paraíso dos golfinhos.<br />

Porto dos Amores, Fonte da Inspiração<br />

Aqui da proa, quando olhamos para trás, não conseguimos<br />

dar conta do tempo que passou. Orientados pelas estrelas,<br />

<strong>de</strong>safiamos tempesta<strong>de</strong>s, enfrentamos inimigos e<br />

apren<strong>de</strong>mos que navegar é preciso – mas na mesma direção!<br />

Foi assim que <strong>de</strong>scobrimos novos continentes, inauguramos<br />

a rota do Oriente e encontramos em pleno mar a Fonte da<br />

Inspiração.<br />

Traduzimos os sentimentos em música, transportamos a<br />

emoção para a ópera e o teatro, recriamos aventuras em<br />

romances, no cinema eternizamos sagas e amores em<br />

paginas <strong>de</strong> clássicos memoráveis. Quando pintamos uma<br />

marina, tentando retratar a fascinação que existe em tanto<br />

mar, <strong>de</strong>ixamos o azul brincar na tela.


G.R.E.S. Portela<br />

Descobrimos que o mar não é apenas um tema: ele tem<br />

início, meio e fim, é um enredo. E toda essa experiência<br />

começou quando vencemos o medo, <strong>de</strong>sfraldando as velas<br />

no Carnaval.<br />

Pois, o amor é azul. O céu é azul. O mar é azul.<br />

E entre eles, navega a nossa querida Portela!<br />

G.R.E.S. PORTELA<br />

Presi<strong>de</strong>nte: Nilo Figueiredo<br />

Coor<strong>de</strong>nadora <strong>de</strong> Projetos Sociais: Val Carvalho<br />

Autores: Marta Queiroz, Cláudio Vieira e<br />

Roberto Szaniecki<br />

Carnavalesco: Roberto Szaniecki<br />

Harmonia: Alex Fab e Marcelo Jacob<br />

Assessoria <strong>de</strong> Imprensa: Enildo do Rosário (Viola)<br />

103


104


“Y-JURERÊ MIRIM –<br />

A Encantadora Ilha das Bruxas<br />

(Um conto <strong>de</strong> Cascaes)”<br />

G.R.E.S. ACADÊMICOS DO<br />

GRANDE RIO<br />

Presi<strong>de</strong>nte: Hélio Ribeiro <strong>de</strong> Oliveira<br />

Carnavalesco: Cahê Rodrigues<br />

Fundação: 22/09/1988<br />

Cores: Vermelho, Ver<strong>de</strong> e Branco<br />

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G.R.E.S. Acadêmicos do Gran<strong>de</strong> Rio<br />

“Y-JURERÊ MIRIM – A Encantadora Ilha das Bruxas<br />

(Um conto <strong>de</strong> Cascaes)”<br />

A Gran<strong>de</strong> Rio é sempre uma possibilida<strong>de</strong>, e <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> todas<br />

as possibilida<strong>de</strong>s, ela po<strong>de</strong> propor-te a conhecer um pedaço<br />

<strong>de</strong> Brasil, <strong>de</strong> gente bela, <strong>de</strong> cultura forte e folclore plural.<br />

Por tratar-se <strong>de</strong> um pedaço <strong>de</strong> terra cercado por água, outras<br />

coisas <strong>de</strong>la se acercam, como suas belezas naturais, e muitas<br />

lendas que refletem um Brasil lúdico, que aponta para o<br />

futuro com o interesse <strong>de</strong> levar adiante o que <strong>de</strong> mais<br />

valioso possui: a cultura popular <strong>de</strong> seu povo.<br />

Y-JURERÊ MIRIM<br />

A Encantadora Ilha das Bruxas<br />

(um conto <strong>de</strong> Cascaes)<br />

Bruxas, feiticeiras, lobisomens, sete cuias, boitatás e<br />

mapinguaris: Uma forte névoa se faz presente, e em pleno<br />

Atlântico Sul, logo abaixo ao trópico <strong>de</strong> Capricórnio, num<br />

arquipélago <strong>de</strong> visão paradisíaca encoberto <strong>de</strong> mistérios e<br />

lendas bruxólicas; entre mangues, dunas e lagoas cercadas<br />

por um intenso mar azul, repousa Y-JURERE MIRIM. Uma<br />

Ilha encantada <strong>de</strong> magia on<strong>de</strong> se fala o manezês.<br />

Neste conto <strong>de</strong> Cascaes, ela é uma fascinante Ilha coberta <strong>de</strong><br />

magia, recebendo portanto, o nome <strong>de</strong> ILHA DAS<br />

BRUXAS. Porém, essas bruxas não são tão maléficas como<br />

as que habitam o imaginário coletivo, e sim, as que<br />

assustam apenas para proteger seus espaços, preservar sua<br />

terra, suas etnias, folclore e crendices.<br />

109


110<br />

Carnaval <strong>2011</strong><br />

A Gran<strong>de</strong> Rio para o carnaval <strong>2011</strong>, coberta <strong>de</strong> rezas e<br />

patuás, <strong>de</strong>svenda a história <strong>de</strong>ssa ilha misteriosa que começa<br />

numa era chamada cambriana.<br />

Nesse país on<strong>de</strong> se encontra o tal arquipélago, misteriosos<br />

habitantes do alto Amazonas <strong>de</strong>scem em direção a essa ilha<br />

<strong>de</strong> magia mesclando-se a um povo já existente, chamado<br />

Carijós, remanescentes <strong>de</strong> uma presença humana registrada<br />

por sambaquis que datam <strong>de</strong> 4.800 anos a.C.<br />

Há quem diga que o mar que cerca o arquipélago é povoado<br />

por Ondinas, seres das profun<strong>de</strong>zas, e que, num passado,<br />

esse pedaço <strong>de</strong> terra, serviu <strong>de</strong> paragem e pousada para<br />

navegadores aventureiros, cientistas, piratas, náufragos e<br />

marinheiros infratores que, em suas retiradas <strong>de</strong>ixaram para<br />

trás rastros <strong>de</strong> temores, misticismos e lendas <strong>de</strong><br />

possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> tesouros piratas tão possíveis e capazes <strong>de</strong><br />

aguçar a curiosida<strong>de</strong> humana como a <strong>de</strong> uma embarcação<br />

pirata inglesa naufragada numa praia que recebeu seu nome<br />

(Praia dos Ingleses) ou até mesmo, <strong>de</strong> secretos caminhos<br />

conhecidos por guerreiros Avás ( Guaranis) e que levariam a<br />

um Eldorado coberto <strong>de</strong> tesouros da mais pura prata, como<br />

também, a <strong>de</strong> uma gran<strong>de</strong> fortuna em pérolas produzidas por<br />

ostras cravadas nas pedras e encostas da Ilha banhada pelo<br />

Atlântico<br />

Há uma força mística que faz atrair para essa parte do<br />

Atlântico, baleias e golfinhos, além <strong>de</strong> uma gran<strong>de</strong><br />

varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> cardumes <strong>de</strong> peixes que, além <strong>de</strong> sustentar o<br />

povo da ilha, é motivo para festejos e agra<strong>de</strong>cimentos a esse<br />

imenso e mágico mar azul.


G.R.E.S. Acadêmicos do Gran<strong>de</strong> Rio<br />

Essa onda magnética que envolve essa ilha <strong>de</strong><br />

encantamentos também exerceu atração sobre os povos <strong>de</strong><br />

outras terras, cada qual, vindo para cá com suas razões,<br />

metas, ou até mesmo, <strong>de</strong>stinos retorcidos e alongados, como<br />

uma imensa e centenária figueira carregada <strong>de</strong> histórias<br />

bíblicas e estórias acontecidas em seu entorno<br />

transformando-a quase que como um totem envolvido em<br />

crendices e fé dos que habitam a ilha.<br />

E a ilha então os abraçou como filhos da terra comungando<br />

com eles e os tornando também, her<strong>de</strong>iros da nação Carijó,<br />

dos mitos e lendas do lugar.<br />

“Vão-te daqui bruxas e boitatás”.<br />

E todos os seres que nos possam amedrontar.<br />

Arreda, arreda as brumas que cobrem essa ilha <strong>de</strong> mistérios.<br />

Pela cruz <strong>de</strong> São Simão, que te benza com a vela benta.<br />

Na sexta-feira da paixão.<br />

Treze raios tem o Sol, treze raios tem a Lua<br />

“Salta <strong>de</strong>mônio para o inferno que esta alma não é tua”.<br />

“Tosca, marosca, rabo <strong>de</strong> rosca”.<br />

Vassoura na tua mão<br />

Aguilhão nos teus pés e relho na tua bunda.<br />

Por baixo do telhado, São Pedro, São Paulo e São Fontista.<br />

Por cima do telhado, São João Batista.<br />

Bruxa, Tatara-bruxa,<br />

Tu não me entres nessa casa, nem nesta comanda toda.<br />

Por todos os santos, e pela Gran<strong>de</strong> Rio<br />

Amem!<br />

111


112<br />

Carnaval <strong>2011</strong><br />

Ao cair da noite, quando das datas dos festejos da ilha, uma<br />

ritualização se po<strong>de</strong> sentir na mágica tradição folclórica que<br />

habita a ilha protegida por feiticeiras, fadas ren<strong>de</strong>iras,<br />

bruxas e seres da mitologia ameríndia cantada por Cascaes.<br />

Uma ilha que vive um rico calendário entre o profano e o<br />

sacro, com procissões, danças e folguedos folclóricos numa<br />

pluralida<strong>de</strong> cultural on<strong>de</strong> os festejos em homenagem aos<br />

frutos provenientes do mar e da terra convivem com a<br />

alegria colorida e dançante do boi-<strong>de</strong>-mamão, cacumbis e as<br />

festas do Divino.<br />

O cantador se põe a falar<br />

Ò Matumba, ó querenga, erunganda<br />

Òruganda, Ó matumba, Ó querenga<br />

Moreninha vem brincar<br />

Meu boi já está na rua, ele vem para mostrar<br />

Revelo ser Florianópolis, o nome <strong>de</strong>sse lugar<br />

Ó Matumba, ó querenga, eruganda<br />

Òruganda, Ó matumba, Ò querenga<br />

Misteriosas e encantadoras paisagens cobrem a ilha <strong>de</strong><br />

riquezas em sua fauna e flora exuberante. A extensão<br />

litorânea <strong>de</strong>svenda praias inexploradas, sendo a ilha das<br />

bruxas, um monumento natural do litoral sul brasileiro<br />

digna <strong>de</strong> ter sido, em seu passado, paragem e pousada para<br />

todos que por lá passaram, tornando-se real diante do que<br />

antes nos pareceu lenda ou conto. A hospitalida<strong>de</strong> é marca


G.R.E.S. Acadêmicos do Gran<strong>de</strong> Rio<br />

<strong>de</strong> um povo que soube mesclar-se tendo como principio o<br />

respeito mutuo <strong>de</strong> suas crenças e tradições.<br />

Florianópolis possui uma marca romântica registrada nas<br />

fachadas <strong>de</strong> seu casario e azulejaria portuguesa, o <strong>de</strong>senho<br />

rico da renda <strong>de</strong> bilro, os “points” noturnos do mercado<br />

público municipal, a lagoa da Conceição on<strong>de</strong> a prática <strong>de</strong><br />

esportes náuticos “fervem” no verão, as praias do litoral<br />

florianopolitano com suas ondas fortes e convidativas para<br />

as práticas <strong>de</strong> surf e esportes ligados aos ventos fortes, uma<br />

culinária rica e <strong>de</strong> sabor requintado, ou até mesmo, o<br />

simples peixe frito servido pelo “manézinho” local regado<br />

sempre com a presença mística das tradições e do passado<br />

da ilha.<br />

E, terminado o mistério <strong>de</strong>ste conto inspirado em Cascaes, a<br />

Gran<strong>de</strong> Rio revela a Floripa <strong>de</strong> todos nós, que, com sua<br />

ponte “luz da in<strong>de</strong>pendência”, nos transportará para uma<br />

travessia lúdica, e agora, mais mágica do que nunca, ligando<br />

a folia momesca da ilha ao carnaval da cida<strong>de</strong> maravilhosa<br />

mostrando ao Brasil e ao mundo, toda essa beleza da ilha <strong>de</strong><br />

magia e encantamento chamada Florianópolis.<br />

Cahê Rodrigues<br />

Carnavalesco.<br />

Pesquisa e texto<br />

Cahê Rodrigues , Lucas Pinto e Leandro Vieira<br />

113


114<br />

Carnaval <strong>2011</strong><br />

“Franklin Cascaes é magnético e envolvente. Topei com ele,<br />

viajar por entre bruxas e lendas da ilha. Misturei-me no<br />

barro <strong>de</strong> suas esculturas e <strong>de</strong> rabiscos <strong>de</strong> muitos dos seus<br />

registros. Com ele, vi a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> construir um<br />

enredo da mesma forma como ele conseguiu registrar a<br />

história <strong>de</strong> seu povo e da encantadora ilha das bruxas – A<br />

bela Florianópolis.”<br />

Agra<strong>de</strong>cimentos:<br />

À Prefeitura Municipal <strong>de</strong> Florianópolis.<br />

Casa da Memória<br />

Instituto Franklin Cascaes<br />

Instituto Contato<br />

Ao Professor Marcio <strong>de</strong> Souza, Fabio Aguiar e Joaquim<br />

Aurino


“O sonho sempre vem pra<br />

quem sonhar...”<br />

G.R.E.S. UNIDOS DO<br />

PORTO DA PEDRA<br />

Presi<strong>de</strong>nte: Uberlan Jorge <strong>de</strong> Oliveira<br />

Carnavalesco: Paulo Menezes<br />

Fundação: 08/03/1978<br />

Cores: Vermelho e Branco<br />

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G.R.E.S. Unidos do Porto da Pedra<br />

“O sonho sempre vem pra quem sonhar...”<br />

“Voar é com os pássaros<br />

Sonhar é com a gente<br />

porque eles têm asas<br />

e nós temos a mente<br />

que nos permite voar<br />

<strong>de</strong> um jeito bem diferente<br />

ir - sem sair do lugar -<br />

ao futuro lá na frente<br />

e além <strong>de</strong> ir, enfeitar,<br />

construir e habitar<br />

uma realida<strong>de</strong> inexistente<br />

como se fosse real<br />

o que é apenas sonho,<br />

realmente.”<br />

- Sonhar parece coisa <strong>de</strong> gente que vive <strong>de</strong> fantasia, fora da<br />

realida<strong>de</strong>!<br />

Quantas vezes já ouvi: Caia na real!<br />

Mas hoje eu te proponho: Caia no sonho!<br />

Sonhe acordado, com o impossível e o improvável.<br />

Use a imaginação!<br />

Conheci muitas pessoas que também sonhavam, mas não<br />

tiveram coragem <strong>de</strong> lutar pelo que acreditavam, e foram<br />

<strong>de</strong>ixando que seus sonhos se esvaziassem. Sonhando<br />

sozinhas... <strong>de</strong>sanimaram.<br />

Sonharam o sonho dos outros, nunca foram protagonistas,<br />

somente figurantes.<br />

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“o sonho é a fotografia<br />

<strong>de</strong> um tempo muito esperado<br />

que dorme <strong>de</strong>ntro da gente<br />

sonhando ser acordado<br />

... o sonho é a expressão<br />

do nosso mundo sonhado”<br />

-Sempre vivi num ambiente <strong>de</strong> sonhos. Que sorte!<br />

120<br />

Carnaval <strong>2011</strong><br />

Ainda menina, cresci cercada <strong>de</strong> finas companhias, com<br />

tantos sonhos quanto eu, só que maiores e mais importantes,<br />

sonhos <strong>de</strong> gente gran<strong>de</strong>.<br />

Aníbal Machado, meu pai; Drummond, Cecília Meirelles,<br />

Eneida, Fernando Sabino, Paulo Men<strong>de</strong>s Campos, Rubem<br />

Braga e muitos outros.<br />

Que prazer senti em conhecer tanta gente diferente,<br />

inusitada!<br />

Pareciam nem viver neste mundo...<br />

Fez parte da minha essência: sonhar!<br />

“(...) sonhos que viraram história<br />

(...) sonhos que nos enchem <strong>de</strong> esperança<br />

sonhos pra quando a gente crescer<br />

e sonhos <strong>de</strong> voltar a ser criança”<br />

- Fiz do meu dia-a-dia sempre uma história diferente, pois<br />

queria ter a cada minuto um encontro com a liberda<strong>de</strong> e a<br />

fantasia, o sonho e a ilusão.<br />

Ninguém me contava as histórias que queria ouvir, por isso<br />

criava as minhas.


G.R.E.S. Unidos do Porto da Pedra<br />

Vivi a aventura <strong>de</strong> perseguir meus sonhos, ainda que para<br />

muitos esses sonhos fossem utopia, coisa <strong>de</strong> “gente doida”,<br />

levei-os adiante, fazendo com que outras pessoas<br />

acreditassem neles e os tornassem realida<strong>de</strong>.<br />

Transformei o natural em maravilhoso, a realida<strong>de</strong> em<br />

fantasia, um pedaço <strong>de</strong> pano e papel pintado em<br />

personagens vivos.<br />

Através dos bonecos consegui atingir a alma da criança e da<br />

“criança” que os gran<strong>de</strong>s guardam <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> si, fazendo-os<br />

crer no irreal, e viver <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>le, tão próprio do espírito<br />

infantil.<br />

Meu sonho: surpreen<strong>de</strong>r, divertir, encantar.<br />

“Tem sonhos <strong>de</strong> todos os tipos<br />

pra todos os gostos e agitos (...)<br />

sonhos que são mesmo da gente<br />

e sonhos emprestados (...)<br />

sonhos <strong>de</strong> crescer, <strong>de</strong> mudar o mundo<br />

e sonhos <strong>de</strong> ir viver<br />

bem distante <strong>de</strong>ste mundo<br />

Sonhos <strong>de</strong> todas as cores,<br />

formas e tamanhos (...)<br />

e sonhos que todos po<strong>de</strong>m sonhar<br />

a qualquer hora do dia<br />

em qualquer tempo e lugar”<br />

- Criança é um ser que acredita. Quando começa a <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong><br />

acreditar finge que acredita. É o faz-<strong>de</strong>-conta.<br />

E fiz <strong>de</strong> conta tantas coisas!<br />

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122<br />

Carnaval <strong>2011</strong><br />

Misturei, inventei e reinventei <strong>de</strong> tudo. Já fui herói e<br />

bandido, já fui boa e fui má.<br />

Já fui menino sonhador e até matei um dragão. Fui ladrão,<br />

roubei fórmulas, cebolinhas, receita e colar. Conversei com<br />

Deus e fui bicho que nem existe. Brinquei <strong>de</strong> banguebangue,<br />

fui artista <strong>de</strong> circo e viajei na corcunda do vento. Já<br />

tive medo <strong>de</strong> gente, conheci o mundo inteiro e tive a audácia<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar um rei sem roupa.<br />

Imaginei que fui fantasma, marinheiro, palhaço, músico,<br />

velha, <strong>de</strong>tetive, jurado, juiz, xerife, bruxo, pirata e até<br />

cavalo. Fui tudo o que eu quis ser.<br />

Inventei tanta coisa, até um teatro! Ah, o meu Tablado!<br />

Só não inventei que eu era escritora, porque isso... ah eu era!<br />

“Há sonhos pra se sonhar sozinho<br />

e sonhos pra se sonhar a dois<br />

sonhos que muitos já sonharam antes<br />

e que muitos sonharão <strong>de</strong>pois<br />

sonhos pra se sonhar em vida<br />

e sonhos pra <strong>de</strong>pois (...)”<br />

- Criei meus sonhos principalmente porque quis mexer com<br />

a emoção e o inconsciente das pessoas. Procurei em cada<br />

um <strong>de</strong> nós aquilo que parecia e precisava, nos dar um<br />

motivo maior para viver.<br />

Ainda quero sonhar muito, sonhar alto e fazer sonhar.


G.R.E.S. Unidos do Porto da Pedra<br />

Sonho que as minhas histórias sejam sempre recontadas e<br />

reinventadas, pois a cada reinvenção, o meu sonho continua,<br />

e cada criança que a ouve, um dia cresça e conte aos seus<br />

filhos, para que estas histórias recomecem.<br />

Sonhou?<br />

123<br />

Maria Clara Machado,<br />

reinventada por mim,<br />

Paulo Menezes<br />

*O texto em negrito é parte do poema “Sonhos” <strong>de</strong> autoria<br />

<strong>de</strong> Geraldo Eustáquio <strong>de</strong> Souza.


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“A Simplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um Rei”<br />

G.R.E.S. BEIJA-FLOR<br />

DE NILÓPOLIS<br />

Presi<strong>de</strong>nte: Farid Abraão David<br />

Carnavalescos: Alexandre Louzada, Fran Sérgio,<br />

Laila, Ubiratan Silva e Vitor Santos<br />

Fundação: 25/12/1948<br />

Cores: Azul e Branco<br />

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G.R.E.S. Beija-Flor <strong>de</strong> Nilópolis<br />

SINOPSE<br />

“A Simplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um Rei”<br />

Me leva meu sonho em viagem, por uma estrada colorida,<br />

on<strong>de</strong> o tempo pe<strong>de</strong> passagem e carrega, em sua bagagem, as<br />

lembranças que eu trago da vida.<br />

E lá vou eu, bem longe, além do horizonte, vivendo esse<br />

momento lindo, a reconstruir meu castelo <strong>de</strong> sonhos entre<br />

emoções, como quem chora sorrindo.<br />

Olha <strong>de</strong>ntro dos meus olhos e vê quanta lembrança que na<br />

distância do tempo guar<strong>de</strong>i. Ah! Como o tempo passa, é<br />

como se o trem que me trouxe, voltasse e dissipasse a<br />

fumaça, e eu, então, retornasse pras coisas que eu <strong>de</strong>ixei.<br />

Meu pequeno Cachoeiro, essas terras entre as serras, doce<br />

terra on<strong>de</strong> eu nasci, te confesso, você é a sauda<strong>de</strong> que eu<br />

gosto <strong>de</strong> ter, e que mora pra sempre em mim; é como sentir<br />

você bem perto, é como estar <strong>de</strong>sperto pra ver tudo igual<br />

como era antes, que nada se modificou, e ouvir <strong>de</strong> novo as<br />

águas cantantes do meu Itapemirim.<br />

E é assim que o pensamento voa, vagueia assim, à toa, e até<br />

parece que eu voltei... Voltei a ser criança, a ser “Zunga”<br />

outra vez. Ah! Sentimento bem vindo... Vejo o meu<br />

cachorro me sorrir latindo, estou em frente ao portão, eu<br />

voltei, pra viver o sonho mais bonito que um dia alguém já<br />

sonhou, e sentir que o sol que atravessa essa estrada jamais<br />

se apagou.<br />

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130<br />

Carnaval <strong>2011</strong><br />

Me vejo menino, correndo aos braços <strong>de</strong> minha mãe, pro<br />

seu abraço, e no carinho e afago, me envolver num laço, e<br />

adormecer, como sempre eu fazia. Olhar meu pai, e seus<br />

cabelos brancos, seu rosto marcado, à disfarçar o cansaço<br />

com um sorriso franco das verda<strong>de</strong>s da vida e ouvir as suas<br />

histórias, lições que me fizeram crescer e, do jeito simples à<br />

escon<strong>de</strong>r as dificulda<strong>de</strong>s, tentando encher minha vida <strong>de</strong><br />

fantasia ao enfeitar as coisas que eu via.<br />

Ah! Quem <strong>de</strong>ra... Po<strong>de</strong>r fazer <strong>de</strong>sse tempo, uma eterna<br />

primavera, <strong>de</strong>sabrochar em flor pra sempre, o flamboyant no<br />

meu quintal, e <strong>de</strong>itar à sua sombra, e sentir aquela brisa<br />

mansa, que sopra enquanto lança o perfume do laranjal.<br />

Vai e vem na minha mente, esse vento do tempo, e traz as<br />

ondas do rádio que um dia me embalaram ao som <strong>de</strong> tangos<br />

e boleros, velhos tempos... Belos dias... On<strong>de</strong> o meu sonho<br />

crescia nas cordas <strong>de</strong> um violão. Hoje relembro e refaço<br />

aquela <strong>de</strong>spedida, nas lágrimas soltas na estação, a partir na<br />

promessa <strong>de</strong> uma volta, como todos que um dia se vão e<br />

assim, na lembrança, colar os cacos do meu coração, me<br />

redimir e repartir essa dor e a sauda<strong>de</strong>, nos versos <strong>de</strong> uma<br />

canção.<br />

Assim, como naquele dia, eu me vejo, com aqueles olhos<br />

tristes, porém cheios <strong>de</strong> esperança, buscando encontrar à<br />

sorte, todas as coisas que um dia eu sonhei pra mim, e me<br />

<strong>de</strong>ixo levar em ritmo <strong>de</strong> aventura, nas batidas do meu<br />

coração, igual a quando aqui cheguei, nesse Rio <strong>de</strong> Janeiro,<br />

no seu abraço aberto, hospitaleiro, na transviada inquietu<strong>de</strong><br />

daquela louca juventu<strong>de</strong>, que andava na contramão.


G.R.E.S. Beija-Flor <strong>de</strong> Nilópolis<br />

Até parece que foi ontem... Aquelas tar<strong>de</strong>s <strong>de</strong> domingo, <strong>de</strong><br />

guitarras eletrizantes, que ecoavam como o ronco<br />

barulhento dos carangos, incendiando a multidão; era um<br />

ritmo alucinante e quente, o rock and roll envolvente, uma<br />

brasa a aquecer meu coração... E eu que sempre fui tão<br />

inconstante, te juro, bicho, me rendi àquela paixão...<br />

E não adianta nem tentar esquecer, o que durante muito<br />

tempo em minha vida passou a viver... Eu me lembro com<br />

<strong>de</strong>talhes, a velha calça <strong>de</strong>sbotada, a jaqueta encouraçada e a<br />

brilhantina no cabelo. Meu mundo girava no vinil da vitrola,<br />

vivia voando no meu carro, a 120 por hora, a velocida<strong>de</strong><br />

andava junto a mim, e sem saber quando, nem pra on<strong>de</strong>, me<br />

levava ao espaço, como “Sputnik” pelo ar.<br />

Nas curvas e esquinas da vida, encontrei amigos, parceiros<br />

da mesma viagem, e seguimos juntos a mesma estrada,<br />

como bons companheiros, amigos <strong>de</strong> fé, irmãos camaradas,<br />

que eu não esqueço jamais. Aquele era o meu momento,<br />

nascia um novo tempo, agitando o mundo ao som do Iê Iê<br />

Iê, e com ele, um movimento: a Jovem Guarda, que assim,<br />

como do nada, me coroou o seu rei.<br />

E eu então, me perguntava:<br />

- Que rei sou eu?<br />

Que rei que nada... Eu sou terrível! Um lobo mau, um negro<br />

gato <strong>de</strong> arrepiar, talvez um gênio... Nem pensar! Basta ver<br />

os erros do meu português ruim...<br />

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132<br />

Carnaval <strong>2011</strong><br />

Avancei sinais, vivi em festas <strong>de</strong> arromba e, pra conquistar<br />

garotas, dispensei meu cadilac, me rendi à um calhambeque,<br />

fui o bom no Splish Splash dos beijos roubados no cinema,<br />

<strong>de</strong> garotas papo firme, namoradinhas dos amigos e dos<br />

brotos no portão... Foi quando me lembrei do passado, do<br />

romântico apaixonado que eu era, do meu velho violão, e da<br />

simplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> dizer „Eu Te Amo‟ com a voz do coração.<br />

Assim então, assumi meu reinado e proclamei, com um<br />

brado à esquecer a tristeza e ter a certeza <strong>de</strong> que a felicida<strong>de</strong><br />

um dia vem, que daqui pra frente, tudo vai ser diferente, e<br />

que eu quero que vá tudo... Tudo pra quem ama com<br />

ternura, tudo, pra tudo que se quer bem.<br />

Eh!.. Esse mundo dá voltas... E, numa <strong>de</strong>las, lá ia eu e meu<br />

sonho viver, era uma força estranha, uma voz tamanha que<br />

me levava a cantar, a atravessar fronteiras, a romper<br />

barreiras, „parlando‟ italiano a „Canzone Per Te‟; e foi<br />

assim, <strong>de</strong> mansinho, que San Remo todinho, viu e ouviu o<br />

amor vencer.<br />

Senti então, que esse amor fala uma só linguagem, e faz o<br />

sonho acontecer... E assim, contei histórias <strong>de</strong> romances, <strong>de</strong><br />

amadas e amantes, o amor infinito, puro, sem medida,<br />

incontido; sentimento sem dia, sem hora ou lugar pra nascer,<br />

o que não sai <strong>de</strong> moda, é mo<strong>de</strong>rno, mesmo que seja à moda<br />

antiga, é eterno, um constante amanhecer.<br />

E assim, afaguei em meus versos, mil mulheres, enxergando<br />

a beleza <strong>de</strong> todas as formas e proporções, foram tantas,<br />

foram todas, tantas rimas, em tantas canções.


G.R.E.S. Beija-Flor <strong>de</strong> Nilópolis<br />

Desven<strong>de</strong>i caminhos, procurei atalhos, como a abelha<br />

necessita <strong>de</strong> uma flor e na se<strong>de</strong> <strong>de</strong> amor, bebi das paixões<br />

<strong>de</strong>senfreadas, por metáforas <strong>de</strong>screvi o côncavo e o<br />

convexo, o sexo como cavalgada. Me vi em <strong>de</strong>salinho, a<br />

fazer ninho nos lençóis macios, a <strong>de</strong>ixar marcas sem me<br />

importar com a <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m <strong>de</strong> tanto amar, entre os botões que<br />

se <strong>de</strong>satam e se abrem em braços que se abraçam e se<br />

enlaçam no céu do êxtase, mudando estrelas <strong>de</strong> lugar.<br />

E então, <strong>de</strong>sse infinito universo <strong>de</strong> prazer, me abastecendo<br />

<strong>de</strong> brasilida<strong>de</strong>, viajei na verda<strong>de</strong> da vida do meu povo, <strong>de</strong><br />

cada palmo <strong>de</strong>sse chão; no dia-a-dia da cida<strong>de</strong>, na lida pra<br />

ganhar o pão.<br />

Fiz da canção a passageira no táxi das nossas ruas; no<br />

campo foi ela a companheira, tangendo em moda <strong>de</strong> viola,<br />

nas veredas <strong>de</strong>sse sertão, e fui presente na sauda<strong>de</strong> que roda<br />

e rola no coração disparado, no pára-choque estampado,<br />

todo dia nessa estrada, a contar horas <strong>de</strong> ansieda<strong>de</strong> na boleia<br />

<strong>de</strong> um caminhão.<br />

Fiz da minha voz, um grito <strong>de</strong> alerta à consciência dos seres<br />

humanos a zelar pela natureza, e usei a poesia em <strong>de</strong>fesa do<br />

céu, da terra e do mar; fiz chegar àqueles que estão surdos, a<br />

mensagem, que o progresso, às vezes absurdo, tantos males<br />

nos traz, e que é preciso saber viver, que a razão precisa<br />

enten<strong>de</strong>r enquanto há tempo e passar a seguir o exemplo: ser<br />

civilizado como os animais.<br />

É meu irmão, nessa vida são idas e vindas que me levam na<br />

brisa do vento, no fluxo das marés em movimento, à algum<br />

lugar bonito e tranqüilo pra gente se amar, pois <strong>de</strong> que vale<br />

o paraíso sem amor?... E continua a viagem e mergulho livre<br />

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134<br />

Carnaval <strong>2011</strong><br />

num oceano <strong>de</strong> <strong>de</strong>sejos, a singrar ondas <strong>de</strong> emoções, a<br />

flutuar num mar <strong>de</strong> rosas, como navegante dos sentimentos,<br />

comandante <strong>de</strong> tantos corações.<br />

E por fim, essa fé que me faz otimista <strong>de</strong>mais, me fez subir<br />

a montanha, à dispor do alto, minha voz à voz <strong>de</strong> Deus, a<br />

fazer do meu cantar, uma oração para a humanida<strong>de</strong>, a<br />

<strong>de</strong>scobrir no verbo, a sua essência e sua verda<strong>de</strong>, a tornarme<br />

um instrumento mensageiro <strong>de</strong> paz e <strong>de</strong> boa vonta<strong>de</strong>.<br />

Não, eu não sou rei... Mas acho que me tornei amigo do Rei,<br />

o Rei dos reis, esse ser <strong>de</strong> luz, a clarida<strong>de</strong> que faz com a sua<br />

simplicida<strong>de</strong>, a força que me conduz.<br />

São tantas emoções já vividas, <strong>de</strong>talhes <strong>de</strong> uma vida,<br />

histórias que eu contei aqui. E se hoje você me faz seu<br />

enredo, é talvez, a maior das emoções <strong>de</strong>ssa minha vida, a<br />

qual, com palavras, não sei dizer, mas quero sim, abrir meus<br />

braços num abraço e em suas asas, Beija-Flor, me entregar e<br />

agra<strong>de</strong>cer, e assim po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>finir com singeleza, como é<br />

gran<strong>de</strong> o meu amor por você!<br />

E se não há nada pra comparar, <strong>de</strong>ixa o seu samba explicar,<br />

esse puro sentimento, que só o coração po<strong>de</strong> falar. Agora eu<br />

sei o que é ter um milhão <strong>de</strong> amigos e bem mais forte po<strong>de</strong>r<br />

cantar...<br />

Canta Beija-Flor! Pois seu canto acen<strong>de</strong>rá ainda mais essa<br />

chama, essa aura azul e branca que te encanta, que te dá<br />

força, fé e esperança, que ilumina o sorriso <strong>de</strong> suas crianças,<br />

anjos <strong>de</strong> guarda da sua herança, essa luz que cobre como um<br />

manto essas “nossas senhoras”, Marias, mães baianas do<br />

samba.


G.R.E.S. Beija-Flor <strong>de</strong> Nilópolis<br />

Que os céus as abençoem, e que <strong>de</strong>rramem por todo o seu<br />

povo essa luz que do amor emana e inflama o mundo<br />

através da nação nilopolitana, uma luz divina e que assim se<br />

traduz:<br />

Uma luz que nos une e se fun<strong>de</strong> numa só luz, que nos traz a<br />

simplicida<strong>de</strong> e a paz do verda<strong>de</strong>iro Rei, a paz do Nosso Rei<br />

Jesus.<br />

Alexandre Louzada, Fran Sérgio,<br />

Laila, Ubiratan Silva e Vitor Santos<br />

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LIESA - Liga In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte das Escolas <strong>de</strong> Samba do Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />

Av. Rio Branco, n o 04 - 2 o , 17 o , 18 o e 19 o andares – Centro<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro – RJ CEP.: 20.090-000<br />

Tel.: (21) 3213-5151 Fax.: (21) 3213-5152<br />

Home Page: www.liesa.com.br E-mail: liesarj@liesa.com.br<br />

Digitação e Diagramação:<br />

Fernando Benvindo Neto e Mauro Antonio da Silva<br />

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