Livro em PDF - Racionalismo Cristão
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Bernardo Scheinkman<br />
COMO E POR QUE<br />
SE TORNOU RACIONALISTA?<br />
Edição Internet<br />
2004<br />
Texto adaptado da 1 a edição, 1934, por Valdir Aguilera
A<br />
Carlos Sussekind de Mendonça,<br />
Antonio do Nascimento Cottas<br />
e<br />
R<strong>em</strong>o Antonio Ottino<br />
A amizade e admiração do<br />
AUTOR
É NAS UNIVERSIDADES QUE ESTÁ O FUTURO DO BRASIL.<br />
É NA MÃO DAS UNIVERSIDADES<br />
QUE REPOUSAM OS DESTINOS DO BRASIL.<br />
A verdadeira cultura consiste no trato freqüente do mestre, na sist<strong>em</strong>atização da<br />
consulta aos autores, no aprendizado técnico da pesquisa e no hábito adquirido do<br />
raciocínio.<br />
Prof. Júlio Pires Porto Carrero (discurso proferido no Instituto Nacional de<br />
Música, por ocasião da solenidade de reabertura dos cursos universitários).
A TODOS OS MEUS COLEGAS<br />
DAS UNIVERSIDADES BRASILEIRAS,<br />
PARA QUE LEIAM, RACIOCINEM<br />
E CONCLUAM.
Sumário<br />
Nota do Editor ....................................................................................................... 9<br />
Ao leitor................................................................................................................ 10<br />
Antonio Mendes Corrêa ..................................................................................... 13<br />
Antonio do Nascimento Cottas........................................................................... 16<br />
Católico apostólico português........................................................................... 16<br />
Defensor dos padres, hoje é um dos que mais os combat<strong>em</strong> ............................ 16<br />
Católico – esoterista – racionalista cristão........................................................ 17<br />
Enfim, a Luz...................................................................................................... 17<br />
Interessante fenômeno psíquico........................................................................ 18<br />
Iniciando-se... a Doutrina não deve ser imposta ............................................... 18<br />
O ex<strong>em</strong>plo, a melhor propaganda ..................................................................... 18<br />
A Verdade, base da Doutrina ............................................................................ 18<br />
De que depend<strong>em</strong> o êxito ou o fracasso do hom<strong>em</strong>.......................................... 19<br />
A finalidade da Doutrina é, sobretudo, beneficiar almas.................................. 19<br />
A guerra movida à Doutrina.............................................................................. 20<br />
Os médicos de honra estão com a Doutrina...................................................... 20<br />
A Doutrina no estrangeiro................................................................................. 20<br />
Guerra, fome e peste é o que espera a humanidade .......................................... 20<br />
Resolverá a humanidade primeiro o probl<strong>em</strong>a econômico, para <strong>em</strong> seguida<br />
resolver o espiritual, ou por intermédio de grandes desgraças encarará logo este<br />
último?........................................................................................................................ 20<br />
A mocidade que estude para aprender e saber .................................................. 21<br />
O casamento deve ser realizado por simpatia ou amor..................................... 22<br />
Instrução para o rico e para o pobre.................................................................. 22<br />
Ensino gratuito .................................................................................................. 22<br />
Luiz de Mattos visto pelo mais fiel dos seus discípulos ................................... 22<br />
Um revoltado contra a mentira.......................................................................... 23<br />
Diligente, trabalhador e inteligente................................................................... 23<br />
Empregado no comércio ................................................................................... 23<br />
Hom<strong>em</strong> de destaque .......................................................................................... 24<br />
O primeiro passo para o <strong>Racionalismo</strong> <strong>Cristão</strong>................................................. 24<br />
Para fundar a Doutrina da Verdade................................................................... 25<br />
A Razão e a orientação que s<strong>em</strong>pre teve ........................................................... 25<br />
Não é essa a vida............................................................................................... 25<br />
Maria Mattos do Nascimento Cottas................................................................. 27<br />
A mediunidade e o seu desenvolvimento.......................................................... 27<br />
Todos os seres humanos são médiuns............................................................... 27<br />
O valor de Luiz de Mattos................................................................................. 28
O papel da mulher moderna .............................................................................. 28<br />
A infelicidade conjugal que reina hoje nos lares .............................................. 28<br />
O lar de uma mulher inteligente........................................................................ 29<br />
Só a educação.................................................................................................... 29<br />
Papel da mulher esposa e mãe........................................................................... 29<br />
Como se dev<strong>em</strong> educar crianças ....................................................................... 30<br />
Luiz de Mattos era dedicadíssimo à família...................................................... 30<br />
Dois interessantes fenômenos psíquicos ........................................................... 30<br />
Amélia Maria de Mattos Thomaz...................................................................... 31<br />
Médium desenvolvido....................................................................................... 31<br />
Uma vontade de aço, principal característica de Luiz Alves Thomaz .............. 31<br />
Qualidades raríssimas ....................................................................................... 31<br />
Quase católico ................................................................................................... 32<br />
Uma vida de sofrimentos .................................................................................. 32<br />
Provas de resignação e força de vontade .......................................................... 33<br />
Como desencarnou Luiz Alves Thomaz ........................................................... 33<br />
A primeira atuação............................................................................................ 33<br />
Fluidos de Luiz Alves Thomaz nitidamente sentidos ....................................... 34<br />
Esposa e mãe ex<strong>em</strong>plares é o dever da mulher................................................. 34<br />
Heitor Lima ......................................................................................................... 35<br />
Excelente filosofia moral .................................................................................. 35<br />
Raízes na própria natureza humana e cósmica.................................................. 35<br />
Fator valiosíssimo de aperfeiçoamento moral e espiritual................................ 35<br />
Em face da criminologia, é um terapêutica do crime........................................ 36<br />
O espiritualismo s<strong>em</strong>pre governou a Terra ....................................................... 36<br />
O primeiro dever do Estado .............................................................................. 36<br />
A marcha da humanidade.................................................................................. 36<br />
Estudar os probl<strong>em</strong>as fundamentais da felicidade humana .............................. 36<br />
O Espiritualismo e o divórcio ........................................................................... 37<br />
Emir Nunes de Oliveira ...................................................................................... 38<br />
Como entrou <strong>em</strong> contacto com a Doutrina ....................................................... 38<br />
Distinção necessária.......................................................................................... 38<br />
A diferença........................................................................................................ 38<br />
Doutrina evident<strong>em</strong>ente espiritualista............................................................... 39<br />
O telescópio para a visão física e os guias para a razão.................................... 39<br />
Contra o dogma e a fé ....................................................................................... 39<br />
A crise é uma resultante dos dois el<strong>em</strong>entos antagônicos: o B<strong>em</strong> e o Mal....... 40<br />
O <strong>Racionalismo</strong> <strong>Cristão</strong> perante a criminologia ............................................... 40<br />
O desenvolvimento do raciocínio e a sua significação ..................................... 41
Dever primordial ............................................................................................... 41<br />
A incontestabilidade de fenômenos espiríticos................................................. 42<br />
As diretrizes do Centro Redentor...................................................................... 42<br />
Arlindo Estrella................................................................................................... 44<br />
O <strong>Racionalismo</strong> <strong>Cristão</strong> perante a medicina ..................................................... 44<br />
Um fenômeno psíquico que leva à averiguação................................................ 44<br />
A medicina não pode prescindir do psiquismo ................................................. 44<br />
Todos os fenômenos dev<strong>em</strong> ser estudados ....................................................... 45<br />
Não há incompatibilidade ................................................................................. 45<br />
Oito anos de aplicação dos princípios racionalistas cristãos............................. 45<br />
O valor da influência psíquica .......................................................................... 45<br />
Um caso concreto.............................................................................................. 45<br />
O verdadeiro médico......................................................................................... 46<br />
Eduardo Freire.................................................................................................... 47<br />
O que é ser racionalista cristão?........................................................................ 47<br />
As explicações do padre.................................................................................... 47<br />
Fenômenos convincentes .................................................................................. 47<br />
Os probl<strong>em</strong>as econômico e espiritual ............................................................... 48<br />
Charles Boschini.................................................................................................. 49<br />
Pugnando s<strong>em</strong>pre pela Doutrina ....................................................................... 49<br />
Depois que a humanidade tiver passado por grandes sofrimentos.................... 49<br />
A escola das escolas.......................................................................................... 49<br />
Resultados obtidos com a Doutrina .................................................................. 50<br />
João Baptista Cottas ........................................................................................... 51<br />
Precisamos sair de toda e qualquer letargia ...................................................... 51<br />
<strong>Racionalismo</strong> <strong>Cristão</strong> e Medicina ..................................................................... 51<br />
Nada de sobrenatural n<strong>em</strong> mistérios ................................................................. 52<br />
Sábios que reconhec<strong>em</strong> a existência de fenômenos psíquicos.......................... 52<br />
Agir e reagir prontamente ................................................................................. 52<br />
Pontes de Miranda .............................................................................................. 53<br />
Seleção biológica e sociologia .......................................................................... 53<br />
Espiritualistas e materialistas da esquerda e da direita ..................................... 54<br />
O mundo marcha para o socialismo integral..................................................... 54<br />
Todos se preocupam muito com o probl<strong>em</strong>a econômico.................................. 54<br />
O que nos convém............................................................................................. 55<br />
No capitalismo são insolúveis os probl<strong>em</strong>as educativos .................................. 55<br />
Combate ao fascismo!....................................................................................... 55<br />
Defender a liberdade é o dever da mocidade acadêmica. ................................. 55<br />
Procópio Ferreira................................................................................................ 56
Nota do Editor<br />
Esta edição digital do livro Como e por que se tornou racionalista?, de Bernardo<br />
Scheinkman, foi atualizada <strong>em</strong> alguns aspectos. Não mencionando questões menores de<br />
ord<strong>em</strong> ortográfica, retiraram-se opiniões <strong>em</strong>itidas e correntes na época e que não se<br />
coadunam mais com a atual postura do <strong>Racionalismo</strong> <strong>Cristão</strong> frente a outras<br />
organizações e políticas. Por outro lado, o material apresentado nesta edição digital é<br />
reprodução fiel daquele apresentado no livro.<br />
Valdir Aguilera<br />
Guarapuava, set<strong>em</strong>bro de 2004
Ao leitor<br />
“PORQUE SE TORNOU RACIONALISTA?” é um livro cuja finalidade é uma<br />
única: a de esclarecer.<br />
A mocidade vibra ao contacto de qualquer idéia nobre. E o <strong>Racionalismo</strong><br />
(cristão), se outros títulos lhe faltass<strong>em</strong>, indiscutivelmente a esse ele teria incontestável<br />
direito. Assim que deparei com essa doutrina, fiquei admirado de encontrar<br />
mentalidades admiráveis <strong>em</strong> seu seio.Não estou acostumado a, no regime burguês, ver o<br />
adepto de uma doutrina qualquer dizer que não quer crentes, n<strong>em</strong> fanáticos, para essa<br />
mesma doutrina. Foi esse a grande característica, que primeiro me chamou a atenção<br />
para o <strong>Racionalismo</strong>. Não foi uma, mas inúmeras vezes que ouvi <strong>em</strong> sessão o Presidente<br />
do Centro Redentor, dizer que só se prejudicaria aquele que, antes de mais nada, não<br />
tivesse confiança <strong>em</strong> si mesmo, que não criasse <strong>em</strong> si uma vontade forte e autônoma, a<br />
fim de não ser um simples joguete na vida. O <strong>Racionalismo</strong>, ouvi muitas vezes dizer o<br />
mesmo Presidente, é um conjunto de leis racionais e científicas, que pod<strong>em</strong> servir de<br />
auxílio a qu<strong>em</strong> quer que seja, mas para essas leis poder<strong>em</strong> ser assimiladas necessário se<br />
tornava que a pessoa tivesse absoluta confiança <strong>em</strong> si mesma.<br />
Ora, eu nunca ouvi falar assim qualquer um que se dissesse adepto de uma crença<br />
qualquer. Os judeus falam no rabino, os católicos, no padre, os protestantes no pastor,<br />
etc.<br />
Notando essa colossal divergência, pois, à meu ver, as crenças <strong>em</strong> geral serv<strong>em</strong><br />
para diminuir o desenvolvimento da personalidade, interessei-me, logo á principio, pela<br />
Doutrina (que tão firm<strong>em</strong>ente caminha).<br />
Procurei ler e observar. Pus-me <strong>em</strong> contacto com as pessoas que melhores<br />
informações me poderiam prestar sobre os princípios e fins do <strong>Racionalismo</strong>. E,<br />
confesso: encontrei um novo mundo, desconhecido para mim.<br />
Materialista por excelência, não poderia nunca conceber o que verifiquei e<br />
averigüei.<br />
Convicto que estou, de que a religião é a mais forte arma burguesa; de que esta,<br />
utilizando-se daquela, faz com que o proletariado fanatizado não realize a sua grande<br />
revolução, que será um passo gigantesco na evolução da espécie, estou disposto a baterme,<br />
franca e sinceramente, com todo o entusiasmo de minha mocidade, para que o<br />
<strong>Racionalismo</strong> não se torne uma religião.<br />
Aliás, a Doutrina visa exclusivamente, pelo que me consta, ao esclarecimento da<br />
humanidade, mostrando-lhe de onde v<strong>em</strong> o hom<strong>em</strong> e para onde vai. Ora, qualquer<br />
marxista que deve ter antes de mais nada o desejo de evoluir, certamente não condenará<br />
homens que utilizando-se de meios científicos, procuram com desprendimento trazer<br />
alga mais á escuridão reinante no terreno dos conhecimentos humanos.<br />
Reconheço, e digo-o francamente, que o probl<strong>em</strong>a magno para se andar mais<br />
depressa é a solução do probl<strong>em</strong>a econômico. Mas, reconheço também que ao lado<br />
deste exist<strong>em</strong> outros, tão e mesmo mais importantes do que ele.<br />
O desenvolvimento das forças psíquicas no hom<strong>em</strong> representa, indiscutivelmente,<br />
o maior passo que esse hom<strong>em</strong> pode dar para o seu progresso. Resolvido esse probl<strong>em</strong>a,<br />
o do desenvolvimento da força do pensamento, que é o probl<strong>em</strong>a individual, ter-se-á<br />
andado muito para solução do coletivo.
Que diferença entre o hom<strong>em</strong>, <strong>em</strong>bora culto e instruído, mas fraco de espírito,<br />
autômato nas mãos de outr<strong>em</strong>, e o hom<strong>em</strong>-convicção, que tudo faz consciente e<br />
voluntariosamente, enfim o hom<strong>em</strong> personalidade!<br />
Aquele, utilizando a sua instrução e cultura, que adquiriu, não pelo desejo de<br />
progredir e vencer,mas porque viu os outros fazer<strong>em</strong> o mesmo, exclusivamente para um<br />
pequeno conforto pessoal, e este, <strong>em</strong>bora s<strong>em</strong>, muitas vezes, ter esta cultura, pondo<br />
s<strong>em</strong>pre <strong>em</strong> ação o raciocínio, sabendo o porquê de tudo o que faz.<br />
Não há comparação possível. O hom<strong>em</strong> de vontade desenvolvida torna-se um<br />
el<strong>em</strong>ento essencial no conjunto. Dá ex<strong>em</strong>plos bons e aproveitáveis; resolve os<br />
probl<strong>em</strong>as que se lhe antolham com calma, ponderação e justiça; domina-se <strong>em</strong> seus<br />
impulsos irrefreados; sabe que os outros têm o mesmo direito à vida que ele; não pratica<br />
a caridade, pois para ele não existe este vocábulo, mas entende que é do seu dever<br />
auxiliar o seu s<strong>em</strong>elhante, com ele colaborando para o progresso universal, que é o dele.<br />
O hom<strong>em</strong> autômato, por ignorância e fraqueza fala muito <strong>em</strong> deus, <strong>em</strong> caridade, <strong>em</strong><br />
nosso senhor, na virg<strong>em</strong> santíssima, etc., enganando os outros iguais a ele e,<br />
principalmente, a si mesmo.<br />
Ora, qu<strong>em</strong> reconhece o valor das forças psíquicas, e t<strong>em</strong> energia bastante de<br />
publicamente dizê-lo, não poderia deixar de se interessar por uma doutrina como o<br />
<strong>Racionalismo</strong>.<br />
Consoante declarei no início destas linhas, procurei estudar e averiguar, achandome<br />
ainda nesta fase de preparação.<br />
Num belo dia, ou melhor, numa bela noite, <strong>em</strong> que raciocinava sobre certos<br />
trechos que eu tinha lido num livro hindu sobre a força do pensamento e a repercussão<br />
deste sobre a vida física do hom<strong>em</strong>, l<strong>em</strong>brei-me de promover o presente inquérito, a fim<br />
de me esclarecer, exclusivamente a mim, sobre o assunto que ele aborda.<br />
Desejava ver o <strong>Racionalismo</strong> através das mais autorizadas vozes físicas que sobre<br />
ele poderiam falar. Queria ouvir os homens que mais ativamente trabalham pela<br />
Doutrina.<br />
Antes de mais nada, procurei, confesso, observar a vida de cada um desses<br />
homens, pois, um princípio, racionalista é o de que o hom<strong>em</strong> só pode dar aquilo que<br />
t<strong>em</strong>, isto é, antes de pregar uma moral qualquer t<strong>em</strong> que se submeter<br />
incondicionalmente a ela. Verifiquei, então, que a maioria dos que ides ouvir adiante, e<br />
que eu tive oportunidade de observar, obedece restrita e sinceramente aos princípios,<br />
submetendo-se com entusiasmo e vigor à Doutrina, pois, têm-na como a Verdade.<br />
Verificando isso, não duvidei mais, dispondo-me a levar avante, o que idealizara.<br />
Porém, mais tarde, refletindo melhor, achei de meu dever não fazer a presente enquete<br />
para <strong>em</strong> seguida metê-la na gaveta, mas sim, pela sua importância e significação, levá-la<br />
ao conhecimento do público.<br />
Certamente, como acadêmico, eu desejaria que os que mais aproveitass<strong>em</strong> do<br />
livro foss<strong>em</strong> os meus prezados colegas. A nossa responsabilidade como estudantes é<br />
enorme. Precisamos observar e perscrutar tudo, tudo, a fim de podermos ser melhores<br />
do que os da geração que nos antecedeu, compreendendo melhor e mais perfeitamente a<br />
vida, que hoje é tão imperfeita.<br />
Todos os nossos males, é preciso dizê-lo, dev<strong>em</strong>o-los a nós mesmos. Ser<strong>em</strong>os nós<br />
os culpados se,permitirmos que continue a péssima organização social de hoje; ser<strong>em</strong>os<br />
nós os culpados se não nos pusermos ao lado dos que sinceramente lutam por um
mundo melhor; ser<strong>em</strong>os nós os culpados se não dermos um passo à frente na evolução<br />
natural das coisas.<br />
Por pensar assim, é que deliberei fazer o presente livro.<br />
Dele, todos os de boa vontade, pod<strong>em</strong> tirar muito proveito e inúmeros<br />
ensinamentos. A opinião de homens como os que ides ouvir, cujas vidas são a maior<br />
recomendação do seu valor, energia e dignidade, sobre assuntos de grande importância é<br />
de suma utilidade para todos os que estudam.<br />
B. S.
Antonio Mendes Corrêa<br />
A VOZ DE PORTUGAL<br />
ALGUMAS PALAVRAS COM O PROF. DR. MENDES CORRÊA<br />
Assim que tiv<strong>em</strong>os a notícia que o Prof. Mendes Corrêa, uma das mais brilhantes<br />
figuras científicas da Europa, viria ao Brasil inaugurar o Instituto Luso-Brasileiro,<br />
compreend<strong>em</strong>os que na presente obra não poderíamos prescindir de sua palavra.<br />
Seria a palavra de Portugal, de qu<strong>em</strong> tanto somos amigos, dizendo-nos algo de<br />
interessante sobre grandes probl<strong>em</strong>as da atualidade. Mas, com o que não contávamos<br />
era que S. Exa., <strong>em</strong>baixador da alta cultura lusa dispusesse ele de tão pouco t<strong>em</strong>po.<br />
De feito, o Prof. Mendes Corrêa não nos pôde dar uma entrevista completa<br />
devido à exigüidade do t<strong>em</strong>po de que dispunha. Mal tiv<strong>em</strong>os t<strong>em</strong>po de fazer-lhe<br />
algumas perguntas às quais rapidamente respondeu com a carta que nos enviou, já de<br />
malas prontas para São Paulo. Contudo, <strong>em</strong>bora sinteticamente, S. Exa. exteriorizou<br />
brilhant<strong>em</strong>ente o pensamento de sua Pátria.<br />
Pedimos licença à “REVISTA BRASILEIRA” para transcrevermos a página <strong>em</strong><br />
que, noticiando a inauguração do Instituto Luso-Brasileiro, faz justas referências ao<br />
Prof. Mendes Corrêa.<br />
Acha-se entre nós o <strong>em</strong>inente Prof. Antonio Mendes Corrêa que v<strong>em</strong> a convite do<br />
Instituto Luso-Brasileiro de Alta Cultura inaugurar a série de conferências<br />
portuguesas.<br />
Realizará o Prof. Mendes Corrêa, entre outras conferências, as seguintes. “As<br />
origens do povo português”, “A arte pré-histórica”, “O hom<strong>em</strong> fóssil”, “A Atlântida”,<br />
“As origens de Lisboa”, “Montaigne e a História Natural”.<br />
O Sr. Dr. Mendes Corrêa, nasceu no Porto, <strong>em</strong> 1888, tendo-se formado <strong>em</strong><br />
Medicina <strong>em</strong> 1911. Dois anos depois, foi nomeado, por concurso, assistente da<br />
Faculdade de Ciências do Porto.<br />
Em 1919 entrou para a Faculdade de Letras, também do Porto, como Professor<br />
de Geografia e Etimologia e <strong>em</strong> 1921 foi promovido, na Faculdade de Ciências, a<br />
professor catedrático, regendo a cadeira de Antropologia e os cursos de Paleontologia<br />
e Geografia Física.<br />
Desde 1921, dirige o Instituto de investigação Científica de Antropologia. Em<br />
1929 foi nomeado Diretor da Faculdade de Ciências de sua cidade natal.<br />
A sua bibliografia é enorme, desde a sua obra inicial <strong>em</strong> 1909, a tese de medicina<br />
“O gênio e o talento na patologia”, até agora publicou o Prof. Mendes Corrêa 186<br />
trabalhos. Entre os seus livros mais notáveis e largamente conhecidos no Brasil, onde o<br />
nome do ilustre cientista é grand<strong>em</strong>ente acatado, dev<strong>em</strong>os mencionar “Os criminosos<br />
portugueses”, “Raça e nacionalidade”, “Crianças delinqüentes”, “Homo” <strong>em</strong> que<br />
desenvolve uma nova teoria sobre a orig<strong>em</strong> do hom<strong>em</strong>, “Povos primitivos da<br />
Lusitânia”, “A nova antropologia criminal”.<br />
O Prof. Mendes Corrêa é sócio correspondente da Acad<strong>em</strong>ia de Ciências de<br />
Lisboa, sócio efetivo da Acad<strong>em</strong>ia Pontifícia dos Novos Linces de Roma; sócio<br />
honorário da Sociedade de Antropologia de Madri, Barcelona, Florença, Roma e<br />
Viena, titular e m<strong>em</strong>bro da direção do Instituto Internacional de Antropologia de Paris,<br />
sócio do Instituto Arqueológico da Al<strong>em</strong>anha e Cavalheiro da Legião de Honra, oficial
de Instrução Pública da França, Grande Oficial da Ord<strong>em</strong> da Instrução Pública de<br />
Portugal, Cavalheiro da Ord<strong>em</strong> de Afonso XII de Espanha, Comendador da Ord<strong>em</strong> da<br />
Coroa da Bélgica.<br />
Tomou parte nos Congressos de Ciências do Porto, <strong>em</strong> 1921, de Coimbra <strong>em</strong><br />
1925, de Roma <strong>em</strong> 1926, de Amsterdã <strong>em</strong> 1927, de Barcelona <strong>em</strong> 1929, do Porto <strong>em</strong><br />
1930, e de Paris <strong>em</strong> 1931, sendo presidente da Comissão Organizadora do Próximo<br />
Congresso de Antropologia Colonial do Porto.<br />
Em 1931, realizou o Prof. Mendes Corrêa, por incumbência da Junta Nacional,<br />
uma série de conferências nas Universidades de Toulouse, Lion, Lille, na Escola de<br />
Antropologia de Paris, no Palácio da Justiça de Bruxelas e na Harnack-Hans do<br />
Instituto Imperador Guilherme, de Berlim.<br />
Vê-se, pois, que ninguém melhor do que o ilustre cientista português poderia dar<br />
a contribuição de sua pátria para o “Como e por que se tornou racionalista?”<br />
Meu amigo Bernardo Scheinkman<br />
Respondo às suas perguntas:<br />
O aperfeiçoamento moral da humanidade é muito mais lento do que o<br />
aperfeiçoamento material. Assim, aos estupendos progressos técnicos do nosso t<strong>em</strong>po<br />
não corresponde, no campo moral, a melhoria que seria para desejar. Operou-se mesmo<br />
um grave retrocesso por se haver suposto que os objetivos da existência são puramente<br />
materiais.<br />
O espiritualismo é necessário numa justa medida que não prescinda totalmente das<br />
aquisições úteis da civilização. Só ele pode inspirar um otimismo saudável e restituir a<br />
humanidade a um equilíbrio de que ela se afastou numa louca vertig<strong>em</strong> de ambições e<br />
comodidades.<br />
Se a civilização cont<strong>em</strong>porânea fosse local, circunscrita no espaço, como as<br />
antigas, e não ecumênica, planetária, como é, eu julgá-la-ia, perante as lições do<br />
passado, condenada a subverter-se, como as da antiguidade, nos escombros duma<br />
catástrofe. Dada, porém, a sua amplitude, suponho que, por entre as ruínas causadas por<br />
um estado quase permanente de agitação e desord<strong>em</strong> – muitas vezes trist<strong>em</strong>ente vãs e<br />
inglórias – sobreviverão ao terr<strong>em</strong>oto alguns focos verdadeiramente renovadores onde,<br />
s<strong>em</strong> renegar o que houve de bom no passado, surgirá para os homens mais<br />
tranqüilidade, mais b<strong>em</strong> estar, mais justiça – nunca uma perfeição definitiva,<br />
geométrica, rígida, que, além de desoladamente monótona, é absolutamente impossível.<br />
O dever da mocidade acadêmica de todos os países é, na minha opinião,<br />
interessar-se pelos probl<strong>em</strong>as mais angustiosos da hora presente, num anseio nobre de<br />
justiça e de verdade, mas s<strong>em</strong> servir às paixões doentias ou perversas de seitas, de<br />
fanáticos ou de ambiciosos.<br />
A mocidade é ardente e generosa, não deve servir de instrumento à maldade e à<br />
perfídia. As suas inquietações e dúvidas não me são desconhecidas: tenho-as sentido<br />
também! Mas, s<strong>em</strong> diminuição da sua fé, do seu ímpeto heróico e belo, ela deve<br />
reconhecer que lhe não pertence o exclusivo de seus ideais, que suas nobres aspirações<br />
não surg<strong>em</strong> agora pela primeira vez na face da terra e que os melhores no mundo não<br />
são precisamente aqueles que mais apregoam sê-lo.<br />
É incompreensível o isolamento recíproco de duas juventudes que por tantos<br />
motivos pod<strong>em</strong> e dev<strong>em</strong> compreender-se. O meu convívio no Brasil com a mocidade<br />
universitária foi uma das mais gratas impressões da minha jornada, porque nela
encontrei uma vibração intelectual, uma fisionomia que jubilosa e esperançosamente<br />
noto também na juventude do meu país.<br />
Para uma aproximação entre os estudantes das duas nações irmãs, seria de desejar<br />
a organização de visitas recíprocas de grupos acadêmicos e estudantes isolados. A<br />
alternância de períodos letivos e de férias dum país para outro facilitaria e tornaria<br />
eficazes essas visitas. Deveriam instituir-se no Brasil e <strong>em</strong> Portugal fundos que<br />
financiass<strong>em</strong> essas excursões e mesmo missões mais d<strong>em</strong>oradas de estudo por<br />
estudantes especialmente indicados como el<strong>em</strong>entos desse intercâmbio.<br />
À sua última pergunta, já respondi. À mocidade deve ensinar-se tudo o que se<br />
sabe e revelar-se até a extensão imensa do que se ignora. Precisamente isto a estimulará<br />
a querer saber mais, a querer penetrar mais fundo na vastidão do mistério.<br />
Lamento ter de escrever tão apressadamente, num breve interregno de viag<strong>em</strong>.<br />
Quanto tenho s<strong>em</strong>pre que dizer à gente nova!<br />
Com simpatia e estima<br />
A. Mendes Corrêa
Antonio do Nascimento Cottas<br />
O RACIONALISMO CRISTÃO PELA PALAVRA DE SUA MAIS<br />
AUTORIZADA VOZ FÍSICA<br />
Antonio do Nascimento Cottas, atual Presidente do Centro Redentor, é um<br />
hom<strong>em</strong> de valor, cujos esforços para levar avante o que iniciara o seu sogro, Luiz de<br />
Mattos, têm que ser reconhecidos por todo hom<strong>em</strong> que avaliar a obra desse incansável<br />
Presidente e acompanhar a sua ação, s<strong>em</strong>pre orientada no sentido de prestar serviços à<br />
humanidade.<br />
Modesto, como todo o ser sincero e de grandes merecimentos, quando lhe<br />
solicitei uma fotografia sua para estampá-la no fim do livro, ao lado dos fundadores do<br />
<strong>Racionalismo</strong> <strong>Cristão</strong>, pois nada mais natural do que o livro contendo as efígies de Luiz<br />
de Mattos e Luiz Alves Thomaz contivesse também a do atual e segundo Presidente do<br />
Centro, obtive uma recusa formal e decisiva, b<strong>em</strong> como um pedido para que não<br />
insistisse.<br />
Diante disso, limito-me apenas, com as poucas linhas supra, a tornar pública a<br />
admiração e amizade que voto a este grande espírito, e ainda a minha gratidão pelo<br />
incentivo moral que me deu para levar a cabo a presente obra.<br />
Quando se entra <strong>em</strong> contacto com um hom<strong>em</strong> como Antonio do Nascimento<br />
Cottas, quando se lhe fala e se sente a sua irradiação valorosa, quer-se, principalmente<br />
quando se é moço, saber logo a causa que o levou a este estado, (quase diria, a esta<br />
perfeição se não soubesse que a perfeição não existe no ser humano) a fim de se<br />
verificar se é possível também ser-se assim.<br />
Sabendo que o Presidente, como todos os que segu<strong>em</strong> a Doutrina, atribuíam ao<br />
que dela receberam o seu estado de compreensão nítida da vida, naturalmente a<br />
primeira pergunta que lhe fiz<strong>em</strong>os foi: "O que o trouxe ao <strong>Racionalismo</strong> cristão?", e<br />
obtiv<strong>em</strong>os, consoante se verá, uma resposta, pequena e concisa:<br />
Ao <strong>Racionalismo</strong> <strong>Cristão</strong> me trouxe a ânsia de saber algo sobre as coisas da Alma,<br />
o desejo ardente de esclarecer-me sobre os porquês da vida e da morte.<br />
Católico apostólico português<br />
Seria interessante saber-se se, antes de racionalista cristão, era religioso ou<br />
materialista. Poderia dizer-nos algo sobre isso?<br />
Pois não: Era católico apostólico português, (de Roma nunca quis ser), mas apesar<br />
de ter feito parte da mesa administrativa de certa irmandade, nunca fui católico<br />
praticante, s<strong>em</strong>pre abominei os exorcismos religiosos, as subserviências e as<br />
humilhações provindas do confessionário.<br />
Ia raramente à igreja, mas quando o fazia era movido pelo desejo de por-me <strong>em</strong><br />
comunhão espiritual com “Deus” e os “Santos”. Diante das supostas imagens me<br />
colocava genuflexo, pois julgava que a igreja fosse t<strong>em</strong>plo para “rezar” e meditar e por<br />
isso censurava todos aqueles que a ela iam para “flertar”, para mostrar vestuários e<br />
maquiagens.<br />
Defensor dos padres, hoje é um dos que mais os combat<strong>em</strong><br />
Antes de conhecer a História das Religiões, considerava o padre como se fosse, de<br />
fato, ministro de Deus, e quando alguém, já esclarecido ou materialista, se referia
desairosamente aos sacerdotes e à igreja, defendia-os e ficava tendo os maldizentes<br />
como hereges, ou ateus, que se atreviam a falar do que não conheciam, porém, à medida<br />
que me fui tornando hom<strong>em</strong> e me fui inteirando dos fatos, reconheci que os padres não<br />
eram os homens puros que eu supunha, mas continuava católico, <strong>em</strong>bora já investigasse<br />
sobre o Protestantismo, Esoterismo e Espiritismo.<br />
Esoterista já, discutia com os meus companheiros de mesa da irmandade a que<br />
pertencia. Era dentre eles o mais jov<strong>em</strong>, e se muitas vezes fingiam discordar dos meus<br />
comentários sobre a religião católica, faziam-no mais com medo de pecar e chegar às<br />
penas do “purgatório” ou do “inferno”, porém, intimamente concordavam comigo, mas<br />
s<strong>em</strong> esforço para estudar<strong>em</strong> e raciocinar<strong>em</strong>, acomodavam-se às bulas e encíclicas.<br />
Católico – esoterista – racionalista cristão<br />
Interessando-me as ciências ocultas, iniciei-me nos exercícios magnéticos e<br />
hipnóticos, obedecendo também às determinações secretas do esoterismo.<br />
Como esoterista, reconhecia relativo valor <strong>em</strong> algumas disciplinas secretas, mas<br />
notando o mercantilismo de suas obras, que serviam para todos os fins, bons e maus,<br />
reputei uma doutrina perigosa, principalmente pelo ensino da concentração isolada e <strong>em</strong><br />
“bolas de cristal” e outros objetos, a fim de ser-se b<strong>em</strong> sucedido no jogo, nas conquistas<br />
amorosas e noutras misérias humanas.<br />
Se os fins foss<strong>em</strong> somente de elevação moral e de guerra aos bruxedos e<br />
patifarias, e não todo mercenário, como, aliás, acontece com todas as seitas, o<br />
esoterismo poderia, de algum modo, caminhar para o <strong>Racionalismo</strong> <strong>Cristão</strong>.<br />
Alguns já me tinham como espírita, que não o era, mas todos me queriam no seu<br />
meio, e eu entre eles, como amigo, s<strong>em</strong>pre me senti b<strong>em</strong>, mas a Alma queria algo mais<br />
e eis a razão por que, <strong>em</strong>bora tendo prevenção com os praticantes de espiritismo,<br />
cheguei ao Centro Redentor poucos dias antes da grande epid<strong>em</strong>ia de 1918.<br />
Nas suas proximidades residia havia cerca de cinco anos, e muitas vezes fiz<br />
comentários ao ver tanta gente ingressar nele, de garrafas debaixo do braço.<br />
Cheguei, pois, ao Centro Redentor não como enfermo do corpo, mas com o<br />
espírito repleto de dúvidas, de incertezas, preocupadíssimo com a composição do<br />
Universo, com as apregoadas LEIS DE DEUS, (que os próprios sacerdotes e católicos<br />
praticantes primam por praticar o contrário do que elas encerram) e como Deus estar <strong>em</strong><br />
toda a parte já que mo apresentavam à s<strong>em</strong>elhança do hom<strong>em</strong>.<br />
Enfim, a feitura de vários “Nosso Senhor” e “Nossa Senhora”, de santos e santas,<br />
fazia-me perturbado. Perguntava aos outros, consultava os livros sacros, a bíblia e tudo<br />
me respondia: é mistério.<br />
Enfim, a Luz<br />
Só no Centro Redentor é que a alma recebeu a luz de que carecia. Na primeira<br />
sessão pública de limpeza psíquica, tudo foi confusão para meu espírito, o que era<br />
natural, dado o fato de ter ele sofrido a limpeza psíquica que até então não sabia o que<br />
fosse, mas que depressa compreendeu tratar-se do afastamento dos espíritos malfeitores<br />
quedados na atmosfera da Terra e que assist<strong>em</strong> às criaturas conforme seus pensamentos<br />
místicos, religiosos, de gozo, etc.<br />
Limpo psiquicamente não me foi difícil assimilar melhor, na segunda sessão, o<br />
que ouvia através dos médiuns e principalmente do próprio Presidente, cujo modo<br />
franco, leal e positivo por que se expressava me entusiasmava. Foi tal o meu entusiasmo
com as suas doutrinações <strong>em</strong> tese, que pensei: “Por que este hom<strong>em</strong> não vai pregar esta<br />
Doutrina lá por fora? Se ele fosse algum dia, oferecer-me-ia para acompanhá-lo”.<br />
Interessante fenômeno psíquico<br />
Qu<strong>em</strong> não refletirá muito sobre um fenômeno como este que se vai ouvir, contado<br />
pela palavra sincera, honrada, de um hom<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre à procura de esclarecimentos,<br />
como se nos vai revelando, através do presente depoimento, Antonio do Nascimento<br />
Cartas?<br />
Mal acabo de pensar isto, ouço na mesa um dos médiuns proferir textualmente as<br />
palavras retidas no meu mental.<br />
E, estupefato, ouço o Presidente responder:<br />
“Cada um caminha por si. Esclareça-se e cumpra o seu Dever, que eu procurarei<br />
cumprir o meu, não precisando que me acompanh<strong>em</strong>, mas de qu<strong>em</strong> faça o que estou<br />
fazendo”.<br />
Como acontece com quase todos que ainda não estão firmes nos Princípios da<br />
Doutrina, e também com muitos que nunca desejam estar, quando saí do Centro dizia<br />
para comigo: “de fato, eu pensei aquilo, mas não deve ser comigo, deve entender-se<br />
com algum outro, que no mínimo pensava como eu”.<br />
Iniciando-se... a Doutrina não deve ser imposta<br />
Naquele t<strong>em</strong>po somente existia o Espiritismo Racional e Científico (cristão), obra<br />
clássica da Doutrina, <strong>em</strong> primeira edição, que li de um arranco, e estando concorde com<br />
tudo, queria que todos os meus mais íntimos freqüentass<strong>em</strong> o “Redentor” também<br />
provindo dessa minha irrefletida atitude grandes sofrimentos morais, que não v<strong>em</strong> ao<br />
caso referir, mas, sim, deixar patente que a Doutrina explanada no “Redentor” não deve<br />
ser imposta a qu<strong>em</strong> quer que seja, e que erra todo aquele que, s<strong>em</strong> estar b<strong>em</strong> firmado<br />
ainda nos Princípios Racionais e Científicos, se atreve a propagá-la e a quase impô-la<br />
aos seu amigos a freqüência às sessões. Esse procedimento vai justamente de encontro<br />
aos princípios básicos da Doutrina, que determinam que se diga a Verdade, mas que não<br />
se os imponham a terceiros; cada um deve agir por si nas coisas espirituais, e, portanto,<br />
neste particular, dev<strong>em</strong>os nos limitar a dar explicações racionais àqueles que, por sua<br />
livre e espontânea vontade, no-las peçam.<br />
O ex<strong>em</strong>plo, a melhor propaganda<br />
A melhor propaganda que se pode fazer de tão salutar Doutrina será o<br />
procedimento de cada um, esclarecido, na família e na sociedade: o ex<strong>em</strong>plo é tudo, as<br />
palavras são como a fumaça, desaparec<strong>em</strong> com a ação do t<strong>em</strong>po.<br />
A Verdade, base da Doutrina<br />
Em seguida, fala-nos sobre quê se fundamenta a Doutrina.<br />
A Doutrina se funda na Verdade, que é a fonte da ciência, e que nos encaminha<br />
para a investigação de todos os porquês da vida, fazendo-nos chegar às conclusões<br />
acertadas e à certeza absoluta de que no Universo tudo se rege dentro da Força e<br />
Matéria, e que o hom<strong>em</strong> nada mais é que um universo <strong>em</strong> miniatura, e porque o é, sente<br />
todas as mudanças atmosféricas como se fosse um observatório.
De que depend<strong>em</strong> o êxito ou o fracasso do hom<strong>em</strong><br />
Continua:<br />
É, pois, dentro desses dois el<strong>em</strong>entos – Força e Matéria – que o ser humano<br />
maneja a vontade e o pensamento, e consegue ter êxito ou insucesso na sua trajetória<br />
terrestre.<br />
Todos os fracassos na luta pela vida provêm da ignorância e da desobservância<br />
das leis naturais, que tudo reg<strong>em</strong>. Liberte-se o ser do misticismo, de crenças <strong>em</strong><br />
absurdos, para confiar <strong>em</strong> si mesmo, no êxito de seus esforços, na ação de seus<br />
pensamentos criadores, idealizadores para o B<strong>em</strong>, e o êxito será certo.<br />
Só invocam a proteção do abstrato os amigos do menor esforço, os fanáticos de<br />
qualquer seita, os descrentes da vida. Os esclarecidos não mendigam proteção oculta,<br />
estudam e raciocinam convictos de que, agindo dentro das leis da atração e da evolução,<br />
reguladoras do trabalho e da honra, o que equivale dizer, dentro do cumprimento dos<br />
deveres que cada um a si impôs ao encarnar, têm que conseguir tudo que desejar<strong>em</strong>,<br />
porque só desejarão o que é possível obter-se neste mundo.<br />
Os místicos, continua o Sr. Cottas, é que se descuram das coisas da Terra para<br />
cuidar das do hipotético céu, e disso é que provêm os desequilíbrios mentais.<br />
“Na Terra como na Terra”, dizia Padre Antonio Vieira, e nós dir<strong>em</strong>os: “O<br />
cuidarmos b<strong>em</strong> da vida terrena é termos certeza de que ser<strong>em</strong>os b<strong>em</strong> sucedidos na vida<br />
espiritual, pois, a alma vive s<strong>em</strong>pre, a morte do corpo representa apenas a mudança de<br />
invólucro para a alma ou espírito.”<br />
Qu<strong>em</strong> se atreverá a negar, hoje, a lei da reencarnação?<br />
Não t<strong>em</strong>os a própria História a descrever-nos feitos e fatos de certos personagens<br />
cuja ação é idêntica ao que fizeram <strong>em</strong> épocas próximas ou r<strong>em</strong>otas?<br />
Não t<strong>em</strong>os as crianças chamadas prodígios?<br />
E como explicar esses fenômenos senão pela lei da reencarnação?<br />
Hoje não faltam fenômenos por toda a parte. O que falta é o espírito de<br />
investigação e sensatez.<br />
Se uma criança descreve passagens de outra vida, citando fatos e fenômenos de<br />
nós conhecidos, e nos diz que <strong>em</strong> tal lugar havia isto e aquilo, que esteve no colégio tal,<br />
e lá ainda está fulano que foi seu filho (!), que dizer a isto se os quatro ou cinco anos da<br />
criança não nos deixam suscitar dúvidas?<br />
A finalidade da Doutrina é, sobretudo, beneficiar almas<br />
Desde que o Centro Redentor surgiu, <strong>em</strong> quanto calcula as pessoas beneficiadas<br />
moral, física e espiritualmente pela Doutrina?, perguntamos.<br />
Não sendo o fim do Espiritismo Racional e Científico propriamente beneficiar<br />
corpos, mas sim almas, porque estas esclarecidas, beneficiados serão os corpos, é-nos<br />
impossível citar números, mesmo porque não se visa fazer propaganda para aquisição<br />
de adeptos, como <strong>em</strong> geral faz<strong>em</strong> religiões ou doutrinas.<br />
Afirmamos, porém, por estar à vista de qu<strong>em</strong> queira ver, que as sessões públicas<br />
de limpeza psíquica, no Centro Redentor (à Rua Jorge Rudge, 121 - Rio), são assistidas<br />
por cerca de quatro mil pessoas, realizando-se as mesmas todas as segundas, quartas e<br />
sextas, havendo nelas s<strong>em</strong>pre novos assistentes.
O <strong>Racionalismo</strong> <strong>Cristão</strong> está se fazendo conhecido por toda parte, não só dentro<br />
do país, como no estrangeiro. Racionalistas, propriamente dito, não haverá muitos, pois<br />
aquele que de fato for racionalista será criatura de bons predicados: valorosa,<br />
trabalhadeira, honrada, justa <strong>em</strong> toda a linha. Agora, de criaturas com desejo de ser<strong>em</strong><br />
racionalistas, contar-se-ão milhares, senão já milhões.<br />
A guerra movida à Doutrina<br />
Seria interessante ouvir de um hom<strong>em</strong> que tão brilhant<strong>em</strong>ente nos v<strong>em</strong> expondo<br />
belíssimos princípios de uma Doutrina, até que ponto esta é combatida e por qu<strong>em</strong>.<br />
T<strong>em</strong> a Doutrina sofrido grande opressão? Por parte de qu<strong>em</strong>?<br />
Sim, grande t<strong>em</strong> sido e será a guerra movida à Doutrina da Verdade: ela, como<br />
tudo que t<strong>em</strong> valor será combatida pelos nulos, pelos materialões e gozadores, religiosos<br />
ou não, que jamais conseguirão ofuscar a Verdade, pois ela corre mundos, vindo como o<br />
óleo à tona da água.<br />
Opressores, propriamente ditos, nunca a Doutrina da Verdade teve, pois, não<br />
propagando a rebelião, mas sim a ord<strong>em</strong>, a reforma de usos e costumes, como<br />
valorosamente o fez Cristo, o maior revolucionário de sua época, está visto que todos os<br />
homens de honra e vergonha, amigos da Pátria, do Progresso e da Liberdade, estão <strong>em</strong><br />
pensamento conosco.<br />
Os médicos de honra estão com a Doutrina<br />
Convém, porém, que fique patente estar<strong>em</strong> os médicos de honra e sentimentos,<br />
b<strong>em</strong> como os padres na forma, mas não no fundo, (cujos corpos amortalhados de<br />
negrura é que estão escravizados ao papa, mas não as suas almas) de pleno acordo com<br />
os Princípios Racionais e Científicos, pregados no Centro Redentor, e que não é<br />
pequeno o número de médicos que, de fronte erguida, assist<strong>em</strong> às suas sessões públicas<br />
de limpeza psíquica, tendo também muitos padres as freqüentado disfarçadamente e<br />
outros as assist<strong>em</strong> mentalmente por estar<strong>em</strong> conformes com a Verdade.<br />
A Doutrina no estrangeiro<br />
Só é conhecida no Brasil a Doutrina?<br />
No Brasil e no estrangeiro, principalmente na América do Norte, México,<br />
Argentina, Espanha, França, Portugal, Açores e África Portuguesa.<br />
Guerra, fome e peste é o que espera a humanidade<br />
Quis<strong>em</strong>os ouvir de um hom<strong>em</strong> culto e inteligente o que poderia esperar a<br />
humanidade dentro de um lustro. Para isso fiz<strong>em</strong>os-lhe a seguinte pergunta: "o que<br />
prevê de mais interessante para a humanidade dentro de um lustro?"<br />
Guerra, fome e peste. Ou os homens dos governos desc<strong>em</strong> a estudar junto do povo<br />
outras formas de governar as Nações, ou as classes trabalhistas farão ruir os déspotas e<br />
imperialistas; o choque será tr<strong>em</strong>endo, pois para governar nações é preciso preparo, não<br />
se pode ser administrador da noite para o dia.<br />
Resolverá a humanidade primeiro o probl<strong>em</strong>a econômico, para <strong>em</strong> seguida<br />
resolver o espiritual, ou por intermédio de grandes desgraças encarará logo este<br />
último?<br />
Foi nossa próxima pergunta ao Senhor Cottas.
O probl<strong>em</strong>a econômico vive ligado ao espiritual. Este, de fato, faria solucionar<br />
mais rapidamente aquele, mas dado o estado mórbido <strong>em</strong> que se encontra a humanidade<br />
é preciso que ela seja abalada por tr<strong>em</strong>enda t<strong>em</strong>pestade para, então, aqueles que não<br />
soçobrar<strong>em</strong>, dar<strong>em</strong> outra feição moral à sociedade.<br />
Devido ao sectarismo religioso, a humanidade não t<strong>em</strong> vivido, t<strong>em</strong> vegetado. Mas<br />
desde que a única religião seja o trabalho e o respeito ao próximo, será cultivada a<br />
inteligência, e serão criadas leis à s<strong>em</strong>elhança das da Natureza, de igualdade para todos.<br />
Aquele que delinqüir sofrerá as penalidades s<strong>em</strong> dó n<strong>em</strong> piedade. Bastaria que os<br />
homens se l<strong>em</strong>brass<strong>em</strong> que todos nasc<strong>em</strong> e morr<strong>em</strong> por igual, para algo fazer<strong>em</strong> <strong>em</strong><br />
proveito de si mesmos. Viver não é gozar: só vive qu<strong>em</strong> sabe pensar.<br />
A mocidade que estude para aprender e saber<br />
Interrogamos:<br />
Na qualidade de Presidente do Centro Redentor e, portanto, responsável físico<br />
pela Doutrina, o que aconselha à mocidade <strong>em</strong> geral, especialmente à acadêmica, no<br />
momento presente de incertezas e lutas?<br />
Como hom<strong>em</strong> e pai que deseja dar ao Brasil cidadãos que o elev<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre moral<br />
e materialmente, aconselharei que se estude para aprender e saber, que não se pass<strong>em</strong> os<br />
compêndios e se alis<strong>em</strong> os bancos das acad<strong>em</strong>ias para aquisições de pergaminhos a<br />
servir<strong>em</strong> de passaporte para se apresentar<strong>em</strong> na sociedade, mas sim, que façam jus à<br />
consideração pública pelo seu talento, pelas suas elevadas qualidades morais e de<br />
trabalho.<br />
O jov<strong>em</strong> só será útil a si e à pátria se seguir a sua vocação íntima. Erram os pais<br />
que forçam os filhos a seguir<strong>em</strong> esta ou aquela carreira científica. Cada um é para o que<br />
veio e não para aquilo que o quer<strong>em</strong> forçar a ser.<br />
O jov<strong>em</strong>, ao cursar uma Acad<strong>em</strong>ia, deve ter <strong>em</strong> mira fazer-se por si e não estar<br />
contando com o valor político ou monetário do progenitor. Enfraquece o valor e o<br />
caráter todo aquele que está atido à proteção alheia. O inábil é pernicioso à sociedade.<br />
O hom<strong>em</strong> que se faz por si t<strong>em</strong> mérito e será s<strong>em</strong>pre um bom amigo.<br />
A juventude, para não prejudicar o intelecto e o físico, deve estudar e recrear-se<br />
dentro de método e disciplina inalteráveis, comer a horas certas, deitar e levantar a horas<br />
certas, não beber líquidos às refeições, só água 3 horas depois de feitas as mesmas, não<br />
sobrecarregar o estômago, n<strong>em</strong> tampouco dar-lhe alimento insuficiente, preferir s<strong>em</strong>pre<br />
legumes, verduras e tudo que possua fósforo vegetal, e deste têm a cenoura e a maçã <strong>em</strong><br />
abundância, frutas <strong>em</strong> geral e de preferência <strong>em</strong> jejum, peixe, ovos, pouca carne,<br />
bastante leite, queijo e manteiga.<br />
As orgias, o álcool, o fumo e a libidinag<strong>em</strong> furtam anos de vida ao hom<strong>em</strong>,<br />
perturbam o sist<strong>em</strong>a nervoso e degradam o seu caráter. As melhores horas para estudar<br />
são as da manhã. O estudante deve deitar-se às 22 horas e levantar-se entre 5 e 6 horas.<br />
Há jovens que, ao colar<strong>em</strong> grau, já são velhos para a luta pela vida.<br />
O estudante é s<strong>em</strong>pre a esperança dos pais e da Pátria, mas o que pode ele dar à<br />
família ou à Pátria, quando uma e outra o chamar<strong>em</strong> ao cumprimento do seu dever, se<br />
ele estiver de corpo e alma envenenados pela sífilis e pensamentos perniciosos?<br />
Para termos uma mocidade gigante de alma e esbelta de físico, precisaríamos dar<br />
melhor rumo à família: educar a juventude para o trabalho, economia do t<strong>em</strong>po,<br />
preparando meninas e meninos para a compreensão da vida.
Ora, se isso fosse feito racional e cientificamente por pais e mães, os jovens<br />
saberiam se abster de tudo que os enfermasse, chegariam à vida conjugal sãos e puros<br />
como as suas jovens noivas.<br />
O mal social, <strong>em</strong> grande parte, provém de não haver igualdade de direitos para o<br />
hom<strong>em</strong> e para a mulher.<br />
Respeitadas as leis da natureza, o hom<strong>em</strong> deve casar dos 20 aos 25 anos. Até esta<br />
idade pode ele conservar-se alheio à sexualidade ou melhor à prática do ato sexual. O<br />
hom<strong>em</strong> ou a mulher só poderão produzir bons frutos aos 20 anos. Há casos esporádicos,<br />
mas <strong>em</strong> geral, qu<strong>em</strong> casa antes desse t<strong>em</strong>po força a natureza.<br />
O casamento deve ser realizado por simpatia ou amor<br />
O casamento deve ser realizado por simpatia ou amor e não somente com fins<br />
lúbricos. Destes virão filhos disformes; daqueles, esbeltos e robustos.<br />
Se ambos se completam para a vida de reprodução, por que não retirar a mulher e<br />
o hom<strong>em</strong> das peias do convencionalismo torpe, amorfo, religioso ou social?<br />
Havendo igualdade de direitos para ambos os sexos, existirá mais moral, melhor<br />
sociedade, <strong>em</strong>bora os curtos de idéias possam dizer, por conveniência, o contrário.<br />
Instrução para o rico e para o pobre<br />
O cultivo da inteligência é indispensável e deve ser proporcionado por igual para<br />
todos, ricos ou pobres. Deve acabar o privilégio de só cursar<strong>em</strong> acad<strong>em</strong>ias os filhos dos<br />
ricos. Ricos ou pobres, são todos filhos da Pátria, e esta não pode ser mãe para uns e<br />
madrasta para outros.<br />
Ensino gratuito<br />
Os estudantes dev<strong>em</strong> bater-se pelo ensino gratuito. Aconselharei, porém, a que<br />
tenham a máxima compostura na Escola ou fora dela e que não se perca o respeito aos<br />
Mestres. Estes, quando pela sua <strong>em</strong>páfia ou nulo saber não correspondam aos desejos da<br />
juventude estudiosa, deve ela recorrer a qu<strong>em</strong> de direito para que seja afastado tal<br />
professor e preenchida a sua vaga por outro de mais valor moral e intelectual.<br />
Professores e discípulos dev<strong>em</strong> se confundir no saber, mas nunca no desrespeito e na<br />
inépcia. Os professores, que são de fato professores, representam os nossos segundos<br />
pais. Uns o são materialmente, outros o são espiritualmente. Se uns nos guiam nos<br />
primeiros passos, os outros nos clarividenciam o raciocínio para todo s<strong>em</strong>pre.<br />
Luiz de Mattos visto pelo mais fiel dos seus discípulos<br />
Um pouco ousada, consoante diz muito b<strong>em</strong> o Sr. Cottas, a pergunta que lhe<br />
fiz<strong>em</strong>os: Como teria respondido Luiz de Mattos, fundador da Doutrina, à pergunta:<br />
“Como e por que se tornou Racionalista?”. Visávamos com ela obter um pequeno<br />
perfil daquele que fundou o <strong>Racionalismo</strong> <strong>Cristão</strong>, traçado pelo mais fiel dos seus<br />
discípulos e continuador de sua obra, e de feito, obtiv<strong>em</strong>o-lo num pequeno e sintético<br />
resumo de Antonio Cottas:<br />
É-me dificílimo responder. O mais competente ficaria aquém do seu sentir e<br />
explanar. Hom<strong>em</strong> de sua envergadura moral e espiritual, psicólogo e analista, como<br />
jamais conheci, materialista que foi até ao meio século de sua existência na Terra, que<br />
não acreditava <strong>em</strong> Cristo, quanto mais <strong>em</strong> Deus, não é fácil a um terceiro interpretar o<br />
pensamento de tão <strong>em</strong>inente personag<strong>em</strong>. Julgando, pois, arriscada e até ousada a<br />
pergunta feita, como discípulo de Luiz de Mattos, o Mestre querido, direi:
Um revoltado contra a mentira<br />
Luiz de Mattos, <strong>em</strong> toda a sua vida, foi um revoltado contra a mentira, a<br />
hipocrisia, a opressão e a dissolução.<br />
Hom<strong>em</strong> de caráter reto e de fibra guerreira tinha o valor e a honra inatos no<br />
espírito. Contam que desde a juventude era taciturno, retraído, sendo seus melhores<br />
amigos os livros.<br />
Diligente, trabalhador e inteligente<br />
Trabalhador e inteligente, depressa fez carreira no alto comércio de café, porém,<br />
para de algum modo descrevermos como ele era diligente desde rapaz, citar<strong>em</strong>os duas<br />
passagens interessantes da sua vida.<br />
Empregado no comércio<br />
Naquele t<strong>em</strong>po, era de praxe fazer plantão aos domingos nas casas de comércio.<br />
Os <strong>em</strong>pregados não podiam sair a passeio todos de uma vez: saia uma turma, ficava<br />
outra. Luiz de Mattos saíra. Amigo que era da pescaria e da caça resolveu naquele<br />
domingo ir pescar. Quando quis regressar à terra fê-lo com dificuldade devido à<br />
corrente marinha. Chegando à casa do patrão, fora das horas de praxe para recolher,<br />
encontrou já trancada a porta e recolhida a turma que ficara de plantão. Veio abrir-lhe a<br />
porta o patrão, que o recebeu com insolentes impropérios. Querendo justificar a causa<br />
da sua d<strong>em</strong>ora, era interrompido com a saraivada de incontidas repreensões.<br />
Desesperado com a desconsideração do patrão, corre à porta, desprende a tranca de<br />
madeira e investe para o patrão, que se refugia debaixo da grande mesa das refeições.<br />
Com o alarido, acorda os d<strong>em</strong>ais <strong>em</strong>pregados, inclusive o cozinheiro que, <strong>em</strong> vez de o<br />
socorrer<strong>em</strong>, ficaram à distância possessos de riso, tão cômico era o quadro deparado.<br />
Implorando o patrão socorro, Luiz de Mattos julgou por b<strong>em</strong> não mais sacrificálo.<br />
Saiu porta fora e encaminhou-se para a casa de seu tio Mattos Chaves, a qu<strong>em</strong><br />
contou o sucedido, e que não pôde deixar de aprovar a sua atitude de hom<strong>em</strong>, dado o<br />
fato de o patrão não ter permitido que ele se explicasse, justificando a sua d<strong>em</strong>ora.<br />
O patrão e o tio de Luiz eram velhos amigos. No outro dia aquele vai à casa de<br />
Mattos Chaves para insistir na volta de Luiz ao serviço, mas este não quis, e não mais<br />
voltou. Empregou-se numa importante casa importadora e, <strong>em</strong> breves dias, pela sua<br />
competência, estava na gerência da mesma.<br />
Tendo chegado da Europa, onde se achava cursando uma acad<strong>em</strong>ia, um dos filhos<br />
do chefe da casa, este o entregou a Luiz de Mattos para o encaminhar na vida prática do<br />
comércio, dizendo-lhe: “entrego-lhe meu filho e espero que o prepare para que ele<br />
venha a ser um hom<strong>em</strong> do comércio”. Luiz de Mattos marcou tarefa ao ex-acadêmico,<br />
esperança viva do pai para ser seu continuador na firma, até que, num certo dia, estando<br />
o rapar marcando mercadoria para exportação, Luiz de Mattos tropeça numa régua e<br />
vira-lhe a vasilha com a tinta; o rapaz (que era b<strong>em</strong> educado!) diz-lhe “não enxerga, seu<br />
galego?” Foi quanto bastou para Luiz chegar a roupa ao pelo do filho do patrão.<br />
Dirigindo-se ao escritório, despede-se do chefe, dizendo-lhe que supunha que lho<br />
tivesse recomendado o filho para o preparar para o comércio, mas não para o educar.<br />
Que com um mal educado daqueles não mais trabalharia.<br />
Estimado que era na casa, todos procuraram impedir a sua saída, mas baldados<br />
foram os apelos, pois, ele saiu mesmo, e o mais interessante é que quando ele descia a<br />
rua General Câmara, encontrou-se com o ex-patrão a qu<strong>em</strong> surrara e que novamente<br />
insistiu para que voltasse para a sua casa, o que fez com a condição de ir viajar.
Esta narrativa parece nada ter com a pergunta feita, mas t<strong>em</strong>, porque já fica o<br />
leitor sabendo ter sido Luiz de Mattos um espírito altivo, dest<strong>em</strong>ido, livre de<br />
subserviências e hipocrisias.<br />
Hom<strong>em</strong> de destaque<br />
Aos 26 anos estava negociante conceituado, e conquistava as melhores relações na<br />
plêiade abolicionista e republicana, formando ao lado de Patrocínio, Campos Salles, e<br />
outras figuras notáveis daquele t<strong>em</strong>po.<br />
Recusando ser deputado por São Paulo, era já, além de comissário de café,<br />
banqueiro e industrial; e foi organizador também do monopólio das carnes verdes, e da<br />
Empresa do Lixo (Limpeza Pública e Particular) no Rio. Era, como se vê, hom<strong>em</strong><br />
<strong>em</strong>preendedor, lutador incansável. A sua religião era a família e o trabalho. Não tinha<br />
crença, mas era um profundo admirador da Natureza, da Arte, e como Grão Mestre da<br />
Maçonaria pleiteava grandes reformas, que por escritos existentes no arquivo do Centro<br />
Redentor, verifica-se tratar<strong>em</strong>-se de Princípios que são hoje a base do <strong>Racionalismo</strong><br />
<strong>Cristão</strong>.<br />
É, pois, de supor-se que sendo interpelado “Por que se tornou racionalista?” ,<br />
respondesse: “Por amor à Verdade e por amor ao próximo”.<br />
“Racionalista já o era, faltava-me apenas saber por que o era. A esta prova<br />
submeti-me depois de desiludido do mundo e dos homens, pois, n<strong>em</strong> Buchner, que tudo<br />
baseava na ‘Força e Matéria’, me satisfez com a sua obra assim intitulada.”<br />
O primeiro passo para o <strong>Racionalismo</strong> <strong>Cristão</strong><br />
“Inimigo figadal do espiritismo e dos espíritas, tive de estudá-lo forçado por<br />
circunstâncias especiais. E, desde o primeiro dia, causou-me surpresa estar<strong>em</strong><br />
aguardando, no Centro a que me dirigi, a minha chegada para presidir a sessão, quando<br />
era certo ninguém saber que eu ali iria naquela noite.”<br />
– “O nosso Presidente Astral ordenou-nos, irmão Comendador Luiz de Mattos,<br />
que logo que chegasse presidisse os Trabalhos”, disse-me o porteiro da choupana onde<br />
fui encontrar a prática do Espiritismo Racional e Científico.”<br />
“Recusando, tive de aceitar por insistência, não só dos do Centro, como do meu<br />
depois dedicado companheiro Luiz Thomaz.”<br />
“Presidindo os trabalhos, verifiquei que foram prescritos conselhos para vários<br />
enfermos, cujo formulário <strong>em</strong> original levei comigo e, tendo eu estudado medicina para<br />
curar os meus mais caros, entendi que fazendo como vira poderia, também, receitar com<br />
precisão. Fechei-me no meu gabinete e, sentado à escrivaninha, de olhos fechados,<br />
comecei a formular receitas para A e B (incorreu <strong>em</strong> grande erro, que o podia levar ao<br />
avassalamento). Surpreendeu-me o que havia escrito, mais por verificar que o médium<br />
traçara os tt e ponteara os ii e tudo o mais <strong>em</strong> linha reta, entretanto, eu nada disso fizera<br />
e estava tudo ilegível.”<br />
“Inúmeras provas me foram dadas da existência da vida fora da matéria e também<br />
me foi afirmado pelo Astral Superior que os meus doentes (desenganados tuberculosos<br />
pelo meu particular amigo Dr. Oliveira Botelho), iam curar-se, e de fato se curaram,<br />
pois aí estão vivos e sãos para qu<strong>em</strong> quiser se certificar.”<br />
“Discutindo com os Espíritos de Luz atuados nos médiuns, como qu<strong>em</strong> discutisse<br />
com os homens, foi-me dito que era preciso não estar gastando palavras, perdendo<br />
t<strong>em</strong>po, pois, muito t<strong>em</strong>po já eu tinha perdido.”
Para fundar a Doutrina da Verdade<br />
“Que tinha encarnado justamente para fundar a Doutrina da Verdade,<br />
prosseguindo assim na obra criada por Cristo, mas deturpada pelos falsos discípulos.<br />
Que era chegado o momento de ele confirmar aquilo que os Evangelhos atribuíam a<br />
Jesus: ‘Que <strong>em</strong> t<strong>em</strong>po devido viria o Espírito da Verdade fazer o que ele não pôde<br />
fazer’, e que ‘de mil passaria, mas a dois mil não chegaria’. Esta máxima t<strong>em</strong> dado<br />
causa a explorações, pois, o clero afirma que Cristo dissera que o ano dois mil seria o<br />
fim do mundo. Como se o mundo ou o que t<strong>em</strong> vida tivesse fim.”<br />
“A dois mil não chegaria a ignorância da Verdade, eis o que Cristo quis dizer e<br />
confirmado está desde 1910 com a implantação da Doutrina da Verdade ou<br />
<strong>Racionalismo</strong> <strong>Cristão</strong>.”<br />
“Convencendo-me dia a dia da verdade, ainda assim levei 18 meses a completar<br />
os meus estudos psíquicos, pois, já havia concluído que o gênero humano poderia<br />
comparar-se ao relógio: defeituosa a menor peça, todo o maquinismo sofreria; portanto,<br />
o corpo humano bastaria ter uma das suas células enfraquecidas para todo o organismo<br />
se ressentir, e daí o concluir: Não havendo corpos perfeitamente sãos, toda a<br />
humanidade está anormal.”<br />
“Admirando os mais notáveis escritores socialistas, via s<strong>em</strong>pre: o espírito<br />
revoltado ensinando a destruir, mas não a construir dum modo racional e científico,<br />
<strong>em</strong>bora falando muito <strong>em</strong> fraternidade.”<br />
“Os sábios, <strong>em</strong> sua maioria, <strong>em</strong>baralham as causas e os efeitos, atribuindo ao<br />
efeito causa e a esta efeito. Em vez de se unir<strong>em</strong> para construir, guerreiam-se uns aos<br />
outros, cada qual querendo a primazia. Conclusão: Muito já há feito, mas os homens<br />
têm agido impulsionados para o progresso e amenização do sofrimento humano, s<strong>em</strong><br />
que se apercebam da Força que os incita e movimenta.”<br />
“Eis o que era preciso explicar ao mundo, mas, de modo racional e científico, livre<br />
de misticismo e sobrenatural, o que fiz através do livro Espiritismo Racional e<br />
Científico <strong>Cristão</strong> pela imprensa e por conferências.”<br />
A Razão e a orientação que s<strong>em</strong>pre teve<br />
“Fundado o jornal A Razão, nunca tive a pretensão de diminuir a qu<strong>em</strong> quer que<br />
fosse, mas, sim de fazer luz na inteligência daqueles que se abrigam sob os estandartes<br />
da ‘ciência’, ou da ‘caridade’."<br />
“Era tão franca e leal a minha atitude, que s<strong>em</strong>pre me propus oferecer<br />
graciosamente as colunas do dito jornal para ser combatida, s<strong>em</strong> alteração de uma<br />
vírgula, a Verdade.”<br />
“Hom<strong>em</strong> de atitudes francas, desejei s<strong>em</strong>pre colaborar na Obra do Todo, como<br />
partícula do povo que almeja paz. Mas, para ser conseguida essa Paz tão falada, é<br />
preciso dar cultivo à inteligência a fim de vencer por meio dela, não pelo das armas que<br />
são o produto da ignorância ao serviço dos potentados s<strong>em</strong> alma, para qu<strong>em</strong> a vida<br />
representa GOZAR, ainda que acobertados do pomposo título de religiosos.”<br />
“Que lhes importa qu<strong>em</strong> morre de fome se eles têm para gastar à larga?”<br />
Não é essa a vida<br />
“Racionalize-se o povo e estar-se-á movendo guerra aos vícios, aos nulos, aos<br />
escravocratas de casaca e batina, surgirá o governo do povo pelo povo – governantes e<br />
governados se respeitarão; os direitos serão iguais perante a Lei.”
“Se o Criador é um e único, por que favorecer a uns e desprezar a outros? Serão<br />
essas as suas leis?”<br />
“Não! A Natureza nos está indicando que não. Isso é somente obra do hom<strong>em</strong><br />
bruto com requintes de civilidade.”<br />
Eis por que e para que Luiz de Mattos se tornou racionalista: PARA<br />
CONTINUAR A OBRA GIGANTESCA DA VERDADE. PARA DESBRAVAR A<br />
MATA VIRGEM DA IGNORÂNCIA. PARA MOVER GUERRA DE MORTE À<br />
MENTIRA E À CIVILIZAÇÃO BASEADA NA HIPOCRISIA.
A MULHER PERANTE O RACIONALISMO CRISTÃO<br />
As duas mais autorizadas vozes f<strong>em</strong>ininas, Maria Mattos do Nascimento Cottas e<br />
Amélia Maria de Mattos Thomaz,, falam-nos sobre o papel da mulher, segundo os<br />
princípios racionalistas e científicos.<br />
Maria Mattos do Nascimento Cottas<br />
Maria Mattos do Nascimento Cottas é filha de Luiz de Mattos e esposa de Antonio<br />
do Nascimento Cottas, o que já seria suficiente para recomendá-la como voz autorizada<br />
da Doutrina. Porém, antes de mais nada, impõe-se pelo seu valor pessoal, pois basta<br />
vê-la uma única vez transmitir uma comunicação de um Espírito de Luz, para nos<br />
convencermos que só uma mulher valorosa e digna seria capaz de des<strong>em</strong>penhar tal<br />
papel. Conforme fiz<strong>em</strong>os ver no nosso prefácio, procuramos observar o modo de viver<br />
de todos os que neste livro se manifestaram sobre o <strong>Racionalismo</strong> <strong>Cristão</strong> e só depois<br />
de verificarmos que a pessoas os seguia é que procurávamos entrevistá-la. A Maria<br />
Mattos do Nascimento Cottas nunca fomos oficialmente apresentados. Porém, basta<br />
olhar-se para as suas filhas, cheias de saúde e vigor, educadas e disciplinadas, para<br />
reconhecer-se que só guiadas por mãe de princípios elevados é que assim podiam ser.<br />
Quanto ao seu grau de cultura, nada mais precisamos do que vê-la des<strong>em</strong>penhar a<br />
função de médium para nos convencermos tratar-se de uma senhora altamente<br />
instruída, pois é sabido que o espírito só se pode manifestar <strong>em</strong> instrumento afim. Ora,<br />
para um Luiz de Mattos, Pinheiro Guedes, Oswaldo Cruz, Henrique de Castro, Pedro<br />
Lessa e outros poder<strong>em</strong> transmitir os seus elevados e científicos ensinamentos, preciso<br />
é que o instrumento físico os conheça, a fim de haver a necessária compreensão por<br />
parte deste e, assim, fielmente interpretar o pensamento daqueles.<br />
Pode, pois, a mulher brasileira orgulhar-se de, <strong>em</strong> seu seio, contar com um<br />
el<strong>em</strong>ento do valor de Maria Mattos do Nascimento Cottas, cujas declarações, conforme<br />
se poderá verificar, revelam uma mulher de nítida compreensão da vida, capaz,<br />
portanto, de ser mãe e esposa ex<strong>em</strong>plar.<br />
A mediunidade e o seu desenvolvimento<br />
A primeira pergunta que à nossa entrevistada fiz<strong>em</strong>os foi a seguinte: É de grande<br />
dificuldade o desenvolvimento da mediunidade?<br />
Desenvolvi a minha mediunidade muito facilmente, pois, esclarecida que era, fácil<br />
me foi perceber e diferenciar o fluido do Astral Superior do do inferior e docilmente<br />
receber as intuições dos mesmos. Estando esse assunto b<strong>em</strong> desenvolvido nos capítulos<br />
XVIII, XIX e XX do livro Espiritismo Racional e Científico <strong>Cristão</strong>, 7 a edição,<br />
recomendo-o aos investigadores.<br />
Todos os seres humanos são médiuns<br />
Em seguida lhe perguntamos: Qualquer pessoa pode servir de médium para<br />
qualquer espírito?<br />
Sendo a mediunidade uma faculdade que acompanha o espírito desde o seu<br />
encarnar, todos nós somos médiuns, <strong>em</strong>bora uns mais desenvolvidos do que outros.<br />
Assim, sendo, qualquer pessoa que tenha a mediunidade desenvolvida, dentro dos<br />
Princípios Racionais e Científicos, está apta a receber qualquer espírito. O principal é
saber como e por que se pratica a mediunidade, que sendo exercida s<strong>em</strong> as garantias de<br />
uma forte corrente fluídica é um perigo, pois pode levar a criatura à obsessão (loucura).<br />
Desenvolveu a sua mediunidade como e por que? Teve o seu pai, Luiz de Mattos,<br />
grande interferência para que a desenvolvesse?<br />
Desenvolvi a minha mediunidade livre e espontaneamente, s<strong>em</strong> que para isso<br />
interferiss<strong>em</strong> n<strong>em</strong> meu pai, que s<strong>em</strong>pre respeitou o livre-arbítrio dos seus filhos, depois<br />
de maiores, n<strong>em</strong> tampouco o meu marido. Achando que a Doutrina precisava de<br />
médiuns dedicados e desinteressados, prontos s<strong>em</strong>pre para a prática do b<strong>em</strong>, resolvi<br />
desenvolve-me, pedindo a meu marido que me colocasse à mesa para dito fim. O que<br />
não fiz <strong>em</strong> vida de meu pai, vim a fazer meses depois da sua desencarnação.<br />
O valor de Luiz de Mattos<br />
Quais as qualidades que mais apreciava <strong>em</strong> Luiz de Mattos?<br />
Dentre as muitas qualidades que possuía meu saudoso pai, a que eu mais<br />
apreciava era o seu valor. Dotado dum espírito forte nunca recuou diante do perigo e<br />
nunca fugiu ao inimigo.<br />
O papel da mulher moderna<br />
Saímos do terreno do probl<strong>em</strong>a espiritual, deixando os assuntos referentes ao<br />
espiritismo, e quis<strong>em</strong>os que a nossa entrevistada nos dissesse algo sobre a mulher<br />
moderna. Certamente, não entend<strong>em</strong>os por mulher moderna a que faz vestidos à última<br />
moda, com o maior decote possível, mas, sim, a mulher culta, instruída, integrada nas<br />
necessidades do século <strong>em</strong> que viv<strong>em</strong>os.<br />
Qual o papel da mulher moderna na sociedade?<br />
O principal papel da mulher moderna na sociedade é ser verdadeiramente mulher.<br />
Sendo esposa carinhosa e dedicada e mãe ex<strong>em</strong>plar, imperará no lar como rainha.<br />
Deve a mulher permanecer no lar ou sair fora dele?<br />
Não se deve afastar do lar, dele só devendo sair <strong>em</strong> último recurso, e por isso deve<br />
toda mulher ter uma profissão que possa exercer dentro de sua casa, e que a ponha a<br />
salvaguarda de necessidades, caso não tenha qu<strong>em</strong> possa, como pai, irmão ou marido,<br />
angariar o necessário. A mulher deve ser preparada para agir livr<strong>em</strong>ente no comércio e<br />
na indústria concernentes ao seu sexo. Ela dever ser independente, mas, desde que casa,<br />
tudo deverá fazer <strong>em</strong> conformidade com o marido. A mulher <strong>em</strong> plena liberdade, pelas<br />
ruas e <strong>em</strong> casas de comércio, está s<strong>em</strong>pre sujeira às más irradiações de homens pouco<br />
sensatos e nada discretos, e para que ela possa sair ilesa desse meio é preciso que tenha<br />
uma sólida educação moral, conheça do que são capazes os homens e saiba se conduzir<br />
s<strong>em</strong>pre com altivez, impondo-se ao respeito.<br />
A infelicidade conjugal que reina hoje nos lares<br />
E' sabido que, hoje <strong>em</strong> dia, <strong>em</strong> mais de 90% dos lares reina a infelicidade<br />
conjugal, devido a inúmeras causas. Quis<strong>em</strong>os que Dona Maria N. Cottas nos dissesse<br />
algo a respeito, fazendo-lhe, para isso, a seguinte pergunta: Havendo hodiernamente,<br />
tanta infelicidade conjugal o que deve fazer a mulher para atenuar, ou mesmo eliminar<br />
esta infelicidade?<br />
Só a educação racional e científica eliminará a infelicidade conjugal. O casamento<br />
para ser feliz é preciso que haja comunhão de idéias, o que é bastante difícil dada a
desigualdade de inteligência <strong>em</strong> uns, a falta de raciocínio <strong>em</strong> outros e o espírito de<br />
imitação (principalmente por parte da mulher) <strong>em</strong> muitos.<br />
Sou mulher, mas reconheço que nós, na maioria das vezes, somos as causadoras<br />
da nossa própria infelicidade, pelo nosso descuido e pelo pouco zelo aos nossos<br />
maridos. Uma esposa nunca deve concorrer para que o seu esposo abandone o lar, o que<br />
acontece muitas vezes por seu desleixo, falta de raciocínio e paciência, não<br />
desculpando, antes condenando, não evitando discussões, antes provocando-as.<br />
A traição do hom<strong>em</strong> quase s<strong>em</strong>pre é motivada pela sua vida de desinteligências<br />
com a esposa, ou por f alta de zelo da mesma.<br />
Reconheço que há boas esposas, pacatas, que viv<strong>em</strong> na maior harmonia com os<br />
esposos (condescendendo <strong>em</strong> tudo com eles, mas s<strong>em</strong> raciocínio, vivendo apenas como<br />
autômatas) e que, no entanto, são traídas por eles, julgando-se então verdadeiras<br />
vítimas. Por que? Porque, segundo me dizia meu pai, a mulher para ser boa esposa,<br />
precisa ser superior, vivendo com inteligência, mas nunca servindo apenas de<br />
instrumento de prazer ao hom<strong>em</strong> ou de sua simples criada.<br />
O lar de uma mulher inteligente<br />
O lar de uma mulher inteligente e amiga de seu marido deve ser um ninho de<br />
encantos e atrativos e não uma geladeira onde o hom<strong>em</strong> penetrando, ao voltar do seu<br />
labutar quotidiano, sinta os efeitos de um ambiente s<strong>em</strong> calor e de uma esposa s<strong>em</strong> vida.<br />
A traição da mulher é também, por sua vez, ocasionada pela falta de zelo do<br />
hom<strong>em</strong>, seu marido. Ele, para ser um bom esposo deve mostrar que se interessa pela<br />
esposa, e ocupar no lar um lugar de respeito pela fidalguia do seu trato, pelo seu caráter<br />
e pela sua energia.<br />
Os homens condescendentes, indulgentes até a covardia, que deixam as suas<br />
esposas <strong>em</strong> completa liberdade, dobrando-se a todos os seus caprichos, sendo assim<br />
governados por elas, não são bons esposos, são simplesmente ridículos. E quantos<br />
exist<strong>em</strong> por esse mundo além ! São estes os mais traídos, apesar de toda a sua ‘sublime’<br />
condescendência.<br />
O bom esposo impera, t<strong>em</strong> vontade. Reconhece os direitos da esposa, concorda<br />
com os seus sensatos desejos e discorda dos que o não são. É carinhoso, indulgente, mas<br />
s<strong>em</strong>pre hom<strong>em</strong>, dominando pelo seu amor forte, ardente, mas sincero e elevado. Não é<br />
déspota, mas também não é covarde. Agindo assim, será s<strong>em</strong>pre respeitado e<br />
dificilmente traído.<br />
Só a educação<br />
Assim sendo, só a educação eliminará a infelicidade conjugal, pois só ela fará<br />
desaparecer os caprichos e a falta de zelo na mulher e o despotismo ou a covardia no<br />
hom<strong>em</strong>.<br />
Papel da mulher esposa e mãe<br />
Qual o papel da mulher esposa e da mulher mãe no momento atual, que a<br />
humanidade v<strong>em</strong> atravessando, locupleto de dificuldades e desgraças?<br />
A mulher des<strong>em</strong>penhará a primor o seu papel de esposa se procurar conhecer o<br />
gênio e as tendências de seu marido, e souber compreendê-lo evitando discórdias e<br />
procurando modificá-lo nas suas más inclinações, o que conseguirá com persistência e
calma. Não sendo nós nenhumas perfeições, dev<strong>em</strong>os saber desculpar, s<strong>em</strong> o que não<br />
haverá equilíbrio na vida conjugal.<br />
Ser mãe é o papel mais sublime, mas também mais árduo da mulher. Ser mãe é ser<br />
educadora de almas, cujo caráter aos seus cuidados está entregue, para, uma vez<br />
formada, torná-las úteis à sociedade e à humanidade.<br />
Como se dev<strong>em</strong> educar crianças<br />
Como educa atualmente as suas filhas? Foi a antepenúltima pergunta que<br />
fiz<strong>em</strong>os a Dona Maria Mattos do Nascimento Cottas.<br />
Educo as minhas filhas racional e cientificamente, de acordo com o que explica a<br />
nossa Doutrina.<br />
Nada de religiosidades. A Verdade acima de tudo.<br />
Procuro incutir-lhes no espírito o valor, e faço questão absoluta que as minhas<br />
filhas tenham vontade e saibam dominar-se, pois reputo estas as únicas qualidades<br />
capazes de tornar a mulher vitoriosa neste lutar constante da vida terrena.<br />
Luiz de Mattos era dedicadíssimo à família<br />
Na penúltima pergunta voltamos à personalidade de Luiz de Mattos, perguntando<br />
à sua filha se se dedicava muito à sua família.<br />
Meu pai, respondeu-nos, era dedicadíssimo à família. Para seus filhos, irmãos e<br />
sobrinhos vivia, até fundar a Doutrina, à qual se entregou de corpo e alma, não vendo<br />
depois senão a sua explanação, a sua divulgação, estudando e vivendo unicamente para<br />
ela.<br />
Era muito severo para com os filhos, mas extr<strong>em</strong>amente carinhoso e amigo. Os<br />
conselhos que nos dava eram s<strong>em</strong>pre os mais sãos e elevados. Eu o admirava e<br />
respeitava estr<strong>em</strong>ecidamente.<br />
Dois interessantes fenômenos psíquicos<br />
Por fim interrogamos: Deu-se consigo algum interessante fenômeno psíquico?<br />
O mais interessante fenômeno psíquico que comigo se deu foi <strong>em</strong> vida de meu<br />
pai, quando, <strong>em</strong> minha casa, subitamente me encontrei atuada. Tendo sido chamado<br />
meu pai, recebi-o acintosamente, insultando-o e procurando agredi-lo. Fenômeno este<br />
que me d<strong>em</strong>onstrou a mediunidade sensível que possuía e a necessidade que tinha de<br />
desenvolvê-la. Mas, mesmo assim, não me quis desenvolver naquela época, vindo a<br />
fazê-lo dois anos mais tarde.<br />
Outro fenômeno psíquico constatei quando desencarnou minha mãe: Estava <strong>em</strong><br />
minha casa fazendo as habituais irradiações, quando vi nítida, mas rapidamente, a<br />
minha progenitora, vindo a saber, no dia seguinte pela manhã, da sua desencarnação.<br />
Verifiquei, então, que tal aparição se tinha sido logo após a sua desencarnação.
Amélia Maria de Mattos Thomaz<br />
Amélia Maria de Mattos Thomaz, esposa de Luiz Alves Thomaz, que ao lado de<br />
Luiz de Mattos fundou o <strong>Racionalismo</strong> <strong>Cristão</strong>, t<strong>em</strong>-se revelado, após a morte do seu<br />
esposo, um dos mais dedicados el<strong>em</strong>entos da Doutrina, por ela trabalhando<br />
incansavelmente. Melhor do que quaisquer elogios que lhe pudéss<strong>em</strong>os tecer, falarão<br />
as sinceras e racionais palavras que adiante ela proferiu, atendendo ao pedido que lhe<br />
fiz<strong>em</strong>os para que nos concedesse uma entrevista.<br />
Médium desenvolvido<br />
Era médium desenvolvido antes de se casar com Luiz Alves Thomaz? Foi a<br />
primeira pergunta que lhe fiz<strong>em</strong>os, obtendo a, seguinte resposta:<br />
Sim, e foi um dos motivos que o levaram a casar-se comigo o que prova que, já<br />
nessa época, 1911, ele era dedicadíssimo à Doutrina.<br />
Eu já conhecia e praticava a Doutrina quando solteira. Naturalmente com o<br />
decorrer do t<strong>em</strong>po, fui adquirindo outros conhecimentos, mesmo porque ela t<strong>em</strong><br />
evoluído muito, b<strong>em</strong> como passado por grandes modificações.<br />
Uma vontade de aço, principal característica de Luiz Alves Thomaz<br />
Em seguida, quis<strong>em</strong>os, por intermédio da pessoa que mais lidou com Luiz Alves<br />
Thomaz e a que ele mais amou, levar ao conhecimento dos nossos leitores, algumas das<br />
muitas qualidades morais que possuía este grande espírito. Interrogamos, assim, a<br />
Dona Amélia Maria Thomaz que nos respondeu com a franqueza habitual:<br />
Luiz Alves Thomaz era senhor de uma vontade de aço. Em todos os atos da vida<br />
era um bravo. Empresa <strong>em</strong> que ele entrasse ia para diante, pois não olhava sacrifícios<br />
morais ou físicos para chegar ao fim almejado. De austero aspecto, era de um fundo<br />
boníssimo.<br />
Qualidades raríssimas<br />
A noção geral que se t<strong>em</strong> hoje de que hom<strong>em</strong> forte, de vontade férrea, é aquele<br />
que sabe olhar com indiferença ou mesmo escarnecer do sofrimento alheio. É um<br />
conceito indiscutivelmente errado, combatido com ve<strong>em</strong>ência máxima pelos<br />
verdadeiros espiritualistas. Quando pela sua obra, pela sua ação eficaz, pois deixou, uma<br />
fortuna respeitável adquirida à custa de trabalho contínuo e inteligente, um Luiz Alves<br />
Thomaz se impõe aos homens, fica-se contente <strong>em</strong> verificar-se o adiantamento do seu<br />
espírito, que não se deixou levar pelo egoísmo e pela vaidade.<br />
Continua Dona Amélia Thomaz:<br />
Para se verificar o fundo boníssimo de meu pranteado esposo, basta dizer que<br />
chorava lendo um romance sentimental ou assistindo no teatro à representação de uma<br />
peça onde se desenrolasse o sofrimento de alguém.<br />
Fazia justiça até aos próprios inimigos, e dava razão a qu<strong>em</strong> a tivesse. De uma<br />
modéstia extr<strong>em</strong>a, não dava importância à sua pessoa. Esforçou-se para adquirir fortuna,<br />
dizia ele, simplesmente para ser independente e não para se entregar aos gozos materiais<br />
n<strong>em</strong> para afrontar os outros. Metódico como ainda não vi igual, principalmente na vida<br />
comercial e financeira, tratava os seus subalternos com verdadeiro carinho e amor,<br />
exigindo deles o cumprimento dos seus deveres e dando-lhes ex<strong>em</strong>plo de cumprir o seu.<br />
Com a boa orientação que tinha, fazia do fraco um forte. Concorreu para o b<strong>em</strong> estar<br />
material de muita gente, fazendo de um carroceiro um negociante, de um cavador de
terra um administrador e depois um fazendeiro. Qu<strong>em</strong> fosse trabalhador e bom filho,<br />
tinha nele um protetor incondicional. Muitos malandros valeram-se destas suas boas<br />
qualidades para ludibriá-lo. Gostava muito de dar conselhos, quer escrevendo, quer<br />
falando, a ponto de muitas pessoas não se sentir<strong>em</strong> b<strong>em</strong> e o criticar<strong>em</strong>; mas só o fazia<br />
quando as pessoas lhe mereciam consideração, as que desmereciam do seu conceito, não<br />
as censurava, mas não lhes dava mais importância.<br />
Quase católico<br />
Era Luiz Alves Thomaz religioso antes de aderir ao <strong>Racionalismo</strong> <strong>Cristão</strong>?<br />
Não era religioso, mas também não era ateu. Pode-se dizer que era católico <strong>em</strong><br />
idéias, mas não praticante. Teve alguma simpatia pela religião católica, (que era a<br />
religião de seus pais) porque acreditava que as missas foss<strong>em</strong> úteis às almas, tanto que<br />
anualmente as mandava rezar por alma dos seus pais, deixando de fazê-lo só depois que<br />
conheceu o <strong>Racionalismo</strong> <strong>Cristão</strong>. Não era praticante, mesmo porque não conhecia<br />
oração alguma, indo raramente à igreja; e quando isso fazia, era somente pelo<br />
preconceito social. Contava ele que <strong>em</strong> criança o pai tentou ensinar-lhe o Padre Nosso:<br />
pegava-o no colo e principiava a ensinar-lhe as palavras dessa oração. Ele, por sua vez,<br />
fingia adormecer. Então, o pai chamava uma das irmãs e lhe dizia: “Vai deitar este<br />
pequeno, que está a cair de sono”. Só aprendeu o Padre Nosso, quando começou a<br />
assistir às sessões espíritas.<br />
Quais os motivos que levaram o seu marido à Doutrina?<br />
Tendo liquidado a casa comercial Thomaz, Irmão & Cia., <strong>em</strong> princípios de 1909,<br />
encontrava-se bastante desanimado e abatido moralmente, pois tinha grande dedicação e<br />
zelo por essa firma. Para distrair-se um pouco, ia todas as tardes, após o jantar, para a<br />
casa de um seu amigo íntimo, Manoel João Alves.<br />
Em uma tarde de set<strong>em</strong>bro de 1909, chegando à casa desse amigo, por ele não<br />
pôde ser atendido. Luiz Thomaz perguntou-lhe qual o motivo porque não podiam<br />
palestrar naquele dia, dizendo-lhe o seu amigo: “Vou a uma sessão espírita, onde estou<br />
tratando minha mulher, pois os médicos nada têm conseguido, e com o tratamento<br />
espírita já vai b<strong>em</strong> melhor da paralisia”.<br />
Luiz Thomaz quis acompanhar o seu amigo, indo à sessão referida. Lá encontrou<br />
o Comendador Luiz de Mattos, pessoa que até essa data não lhe era simpática. Assistiu<br />
à sessão achando muita graça no que diziam os espíritos e compreendendo pouco do que<br />
se passava: só tinha vontade de rir-se. Voltando no dia seguinte, foi-lhe perguntado se<br />
queria receita. Luiz, que não andava muito b<strong>em</strong> de saúde, respondeu pela afirmativa.<br />
Por um dos guias, o Dr. Custódio Duarte, foi diagnosticado o que ele tinha, b<strong>em</strong><br />
como dada a competente medicação. Não lhe foi difícil verificar que estava certo o<br />
diagnóstico, não só pelo que sentia, como também pelo que lhe havia sido dito por<br />
vários médicos. Este fato levou-o a raciocinar, tirando a conclusão de que a vida fora da<br />
matéria existe, pois, desconhecido como era do instrumento, não podia este, por si só,<br />
adivinhar os seus sofrimentos físicos.<br />
Daí por diante, outros fenômenos se passaram com a sua pessoa, que o levaram à<br />
convicção da existência da vida espiritual.<br />
Uma vida de sofrimentos<br />
Foi de grandes sofrimentos a vida de Luiz Alves Thomaz?
Sim, a sua vida foi cheia de sofrimentos físicos e morais. Dava mais importância a<br />
estes do que àqueles. Durante os vinte anos e meio que viv<strong>em</strong>os juntos, vi-o passar<br />
muitos dias aborrecido e muitas noites s<strong>em</strong> dormir, por sofrimentos morais. Porém,<br />
mantinha-se s<strong>em</strong>pre calmo e b<strong>em</strong> humorado nas doenças físicas, que foram bastantes.<br />
Provas de resignação e força de vontade<br />
É na adversidade que se revelam os homens. Luiz Alves Thomaz, conforme se<br />
verá pelas linhas abaixo, sofreu muito, enfrentando a dor com uma galhardia incrível.–<br />
Em 1914, apareceram-lhe enormes feridas nas pernas, passando depois a outras partes<br />
do corpo, o que o obrigou a estar de cama nove meses seguidos, e só melhorou de todo,<br />
<strong>em</strong> 1918! Foram quatro anos de martírio, que ele suportou com uma resignação<br />
admirável. Em 1923 teve um tumor no antebraço direito, que formou um buraco por<br />
onde se via o osso; ao fechar, encolheram-se-lhe os nervos do braço, ficando mais de<br />
um ano s<strong>em</strong> com ele poder fazer todos os movimentos naturais,<br />
Com a força de vontade que lhe era peculiar, fazendo ginástica todos os dias,<br />
conseguiu fazer voltar ao braço todos os movimentos. Durante estes, como <strong>em</strong> outros<br />
sofrimentos físicos, mostrou s<strong>em</strong>pre uma paciência s<strong>em</strong> limites, não se dando o mesmo<br />
com os sofrimentos morais, que o deixavam irritado, e estes foram, também,<br />
muitíssimos.<br />
Como desencarnou Luiz Alves Thomaz<br />
Desencarnou <strong>em</strong> virtude de alguma doença?<br />
Vou responder a esta pergunta transcrevendo o tópico de uma carta que escrevi<br />
<strong>em</strong> 4 de Janeiro de 1932, ao mais distinto e honrado amigo de Luiz Alves Thomaz :<br />
“Vou contar-lhe detalhadamente o que vitimou o seu leal e dedicado amigo, que o<br />
era de fato, o meu idolatrado Luiz: a 19 de nov<strong>em</strong>bro do ano passado, precisando tratar<br />
de negócios <strong>em</strong> São Paulo, foi lá, já doente, mas como o senhor sabe, ele era escravo do<br />
dever. Desse dia <strong>em</strong> diante não mais se levantou da cama. Depois de muitas dores e<br />
febre, apareceu-lhe um tumor no ombro esquerdo, a que o médico deu o nome de<br />
fleugma . Estava aplicando os r<strong>em</strong>édios aconselhados pelos médicos astrais aqui do<br />
Centro, quando, no dia 24, eles ordenaram que fosse chamado um médico. O Luiz não<br />
queria, mas a muito custo consegui convencê-lo. Veio o médico – o Dr. Adalberto<br />
Moura Ribeiro – e disse que aquilo não era nada: com uma pequena operação ficava<br />
bom, mas que precisava ir para o hospital.”<br />
“Diante disso, o Luiz deliberou ir para a Beneficência Portuguesa, aqui <strong>em</strong> Santos,<br />
que é um hospital modelo. Para lá fomos, eu e ele, no dia 25; nesse mesmo dia foi<br />
operado, correndo tudo muito b<strong>em</strong>. No dia seguinte, após ser feita a análise da urina, o<br />
médico verificou a existência de açúcar e, portanto, diabetes. O médico continuava a<br />
dizer que ia tudo muito b<strong>em</strong>, até que no dia 6 de dez<strong>em</strong>bro começou a piorar,<br />
aumentando a febre. Nesse mesmo dia, foi feita uma conferência médica, mas <strong>em</strong><br />
virtude de se ter manifestado a meningite, não teve mais cura possível. E foi assim que<br />
no dia 8 de dez<strong>em</strong>bro, às 10 horas da manhã, lá se foi nosso querido Luiz para não mais<br />
o vermos até o dia <strong>em</strong> que nos seja permitido juntarmo-nos com ele <strong>em</strong> mundo melhor.”<br />
A primeira atuação<br />
Quais os mais interessantes fenômenos psíquicos por si observados?<br />
Perguntamos a Dona Amélia Thomaz, encerrando com a anterior as perguntas sobre<br />
Luiz Alves Thomaz.
O primeiro, e que mais me impressionou, passou-se numa das primeiras sessões a<br />
que assisti, ao ser atuada pela primeira vez. Estava na assistência (as sessões nesse<br />
t<strong>em</strong>po, fim do ano de 1910, eram feitas numa casa que não tinha um salão como o de<br />
hoje, ficando a assistência perto da mesa devido à pequenez da sala, não havendo um<br />
estrado como o de hoje), e após uma hora, mais ou menos, de ser<strong>em</strong> iniciados os<br />
trabalhos, que naquele t<strong>em</strong>po principiavam às 8 horas e terminavam às 11:30, comecei a<br />
sentir uma coisa extraordinária que me fazia resfolegar pesadamente e arrastar os pés<br />
s<strong>em</strong> querer. Sentia na cabeça uma sensação como se estivesse caindo sobre mim uma<br />
chuva miudinha, s<strong>em</strong> poder coordenar os pensamentos, enfim, um estado<br />
completamente estranho. Apesar de tudo isso sentia um b<strong>em</strong> estar inexplicável. Daí por<br />
diante, outros fenômenos tenho sentido e observado, mas nenhum me impressionou<br />
tanto como este que acabo de narrar.<br />
Fluidos de Luiz Alves Thomaz nitidamente sentidos<br />
Sente alguma vez o seu falecido marido?<br />
Sim, tenho sentido a irradiação de seu espírito muitas vezes e principalmente nos<br />
momentos <strong>em</strong> que me sinto preocupada com alguma coisa que se prenda aos interesses<br />
da Doutrina e que me faça sofrer. Sinto nesses momentos os seus fluidos e as suas<br />
intuições tão claras que me parece ouvi-lo dizer o que tenho a fazer.<br />
Quanto à sua pergunta se me comuniquei alguma vez com o seu espírito, tenho a<br />
dizer-lhe que ele t<strong>em</strong> se comunicado conosco nas sessões públicas de doutrinação.<br />
S<strong>em</strong>pre que estou presente, e logo que ele começa a falar, recebo a intuição de que é ele,<br />
o que prova que entre os nossos espíritos há forte afinidade.<br />
Esposa e mãe ex<strong>em</strong>plares é o dever da mulher<br />
Por fim, à nossa pergunta: Qual a mais eficaz maneira de a mulher moderna<br />
concorrer para a evolução da humanidade? a nossa entrevistada assim respondeu.<br />
Sendo esposa e mãe ex<strong>em</strong>plar, esforçando-se por ser de fato a rainha do seu lar,<br />
educando os filhos e o próprio marido, preparando-os moral e fisicamente para ser<strong>em</strong><br />
fortes de alma e corpo e, assim, úteis a si e à sociedade <strong>em</strong> que viver<strong>em</strong>; a mulher terá<br />
cumprido os seus deveres, dignificando e elevando o chamada “sexo fraco”.
O RACIONALISMO CRISTÃO PERANTE O DIREITO<br />
O que nos disseram dois grandes causídicos brasileiros: HEITOR LIMA e EMIR<br />
NUNES DE OLIVEIRA<br />
Heitor Lima<br />
Heitor Lima é uma figura popularíssima no nosso País. As suas atitudes<br />
desassombradas na grande campanha para que o Brasil forme ao lado dos países que<br />
adotam o divórcio, que é atualmente uma imprescindível necessidade social, fê-lo<br />
conhecido por todos os que acompanham com interesse qualquer movimento intelectual<br />
<strong>em</strong> nossa terra.<br />
Sabíamos que S. Sa. simpatizava com o <strong>Racionalismo</strong> <strong>Cristão</strong>, procurando<br />
estudá-lo para mais firmes conclusões e, por isso, resolv<strong>em</strong>os procurá-la para que nos<br />
dissesse algo sobre o assunto ventilado neste livro.<br />
Não obtiv<strong>em</strong>os uma exposição mais longa e mais fundamentada porque o Dr.<br />
Heitor Lima tinha a doce ilusão de convencer os constituintes que se devia adotar o<br />
divórcio, achando-se numa grande atividade jornalística, não poupando esforços para<br />
que se chegasse a conseguir qualquer coisa neste sentido na clerical Constituinte que<br />
elaborou nossa última Constituição .<br />
A sua entrevista é verdadeiramente jornalística. S. Sa. falava e eu anotava.<br />
Contudo, <strong>em</strong> interessante síntese, o leitor poderá saber o que o nosso maior batalhador<br />
pelo advento do divórcio no Brasil pensa sobre o <strong>Racionalismo</strong> <strong>Cristão</strong>.<br />
Excelente filosofia moral<br />
À nossa pergunta “O que pensa do <strong>Racionalismo</strong> <strong>Cristão</strong> como filosofia?”<br />
obtiv<strong>em</strong>os a seguinte resposta:<br />
O <strong>Racionalismo</strong> <strong>Cristão</strong>, pregado, ensinado e divulgado pelo Centro Redentor, é<br />
uma excelente filosofia moral, tão apegada à razão e à natureza que qualquer pessoa,<br />
seja qual for o credo religioso ou, como se dá comigo, destituída de qualquer crença,<br />
não poderá deixar de reconhecer o alto objetivo dessa Doutrina.<br />
Raízes na própria natureza humana e cósmica<br />
As afirmações do <strong>Racionalismo</strong> <strong>Cristão</strong>, os seus preceitos e os seus princípios têm<br />
raízes na própria natureza humana e cósmica. Ele ministra conselhos e ensinamentos<br />
que seriam da mais absoluta utilidade se adotados pelo hom<strong>em</strong>.<br />
Fator valiosíssimo de aperfeiçoamento moral e espiritual<br />
Continua:<br />
Partindo do princípio de que fora da natureza e da razão não há doutrinas<br />
aproveitáveis, e sujeitando, assim, os seus próprios teor<strong>em</strong>as à contraprova das leis<br />
naturais e racionais, essa doutrina de elevado espiritualismo constitui, <strong>em</strong> nosso país,<br />
um dos mais insignes el<strong>em</strong>entos de progresso e um fator valiosíssimo de<br />
aperfeiçoamento moral e espiritual.
Em face da criminologia, é um terapêutica do crime<br />
Estando <strong>em</strong> face de um cultor do Direito, não poderíamos deixar de fazer a<br />
pergunta que se segue. De fato, este livro destinando-se a estudantes de todas as<br />
universidades e, portanto, também aos de Direito, entre os quais eu me orgulho de<br />
figurar, muito alcance teria a opinião de um dos mais conceituados advogados da<br />
Capital da República, sobre tão importante assunto.<br />
Qual a situação do <strong>Racionalismo</strong> <strong>Cristão</strong> diante da criminologia? Não<br />
concorreria ele muito para elucidar esta ciência do Direito?<br />
Em face da criminologia, considero o <strong>Racionalismo</strong> <strong>Cristão</strong> uma verdadeira<br />
terapêutica do crime, que previne, por meio de uma profilaxia adequada ao<br />
soerguimento das forças morais do indivíduo, evitando, além disso, a reincidência, pela<br />
aplicação de uma pedagogia cujos efeitos nenhuma natureza humana se poderia furtar.<br />
Obrigando o indivíduo a procurar <strong>em</strong> si mesmo as forças de energia para sentir,<br />
pensar e agir, elucida o probl<strong>em</strong>a tormentoso da intenção.<br />
É sabido que, <strong>em</strong> criminologia, a intenção constitui, de feito, um probl<strong>em</strong>a<br />
tormentoso. Diante dele, juízes e advogados vê<strong>em</strong>-se <strong>em</strong> sérias dificuldades, pois para<br />
elucidação de qualquer crime, necessário é que se saiba se o crime foi ou não<br />
intencional. É, pois, de grande relevância a afirmação que Heitor Lima nos acaba de<br />
fazer, e mais do que nunca, nos mostra a necessidade de averiguarmos a sua<br />
procedência como futuros advogados e juízes que somos.<br />
O espiritualismo s<strong>em</strong>pre governou a Terra<br />
O que pensa do movimento espiritualista atual?<br />
É um erro supor que a era da máquina, do aeroplano e do rádio, tornando<br />
vertiginosa a vida, a tenha do mesmo passo materializado.<br />
Se é certo que o espírito, como função da fisiologia ou da matéria, depende da<br />
integridade funcional do corpo, não é menos certo que a vida do espírito é irredutível .<br />
O Espiritualismo, nesse sentido, nunca esteve <strong>em</strong> crise, n<strong>em</strong> abdicou jamais do<br />
governo da Terra.<br />
O que t<strong>em</strong> acontecido é que há lances da História <strong>em</strong> que prepondera o jogo das<br />
forças materiais e telúricas. São desequilíbrios inevitáveis, mas passageiros.<br />
O primeiro dever do Estado<br />
A saúde do corpo é o primeiro dever do Estado, para que possa florescer a saúde<br />
do espírito, reitor da civilização.<br />
A marcha da humanidade<br />
Para onde caminha a humanidade?<br />
A humanidade caminha incessant<strong>em</strong>ente para mais altos desígnios, mas essa<br />
marcha não é linear.<br />
Quanto à sua pergunta sobre o marxismo, direi: o marxismo teve o grande mérito<br />
de conter os desvarios teóricos e chamar à realidade os historiadores, ensinando-lhes<br />
que o materialismo histórico é o único critério na investigação das leis sociais.<br />
Estudar os probl<strong>em</strong>as fundamentais da felicidade humana<br />
Qual o principal dever da mocidade acadêmica do nosso país?
A meu ver, a juventude acadêmica t<strong>em</strong> o dever de estudar os probl<strong>em</strong>as<br />
fundamentais da felicidade humana e tomar parte <strong>em</strong> todos os debates que se ferir<strong>em</strong> <strong>em</strong><br />
torno dos interesses nacionais.<br />
O Espiritualismo e o divórcio<br />
Acha que o verdadeiro espiritualismo está <strong>em</strong> contradição com o se adotar o<br />
divórcio, tão necessário na sociedade atual?<br />
O Espiritualismo, pleiteando o máximo de harmonia e de beleza nas relações<br />
humanas, adota o divórcio como a expressão de uma necessidade irrecusável.
Emir Nunes de Oliveira<br />
Emir Nunes de Oliveira é um dos mais destacados causídicos de nossa Capital.<br />
Jov<strong>em</strong> ainda, conseguiu impor-se pela sua competência, granjeando um círculo de<br />
amigos e admiradores que só por si bastaria para recomendá-lo à opinião pública. De<br />
que t<strong>em</strong>os certeza é de que os nossos colegas da Faculdade de Direito receberão com<br />
grande prazer a colaboração desse advogado, pois é um dos mais admirados na<br />
mesma.<br />
Como entrou <strong>em</strong> contacto com a Doutrina<br />
Preliminarmente, perguntamos a Emir Nunes de Oliveira como tinha conhecido o<br />
<strong>Racionalismo</strong>, obtendo a seguinte resposta:<br />
Quando, <strong>em</strong> 1923, o Sr. Antonio do Nascimento Cottas, com o assentimento do<br />
então Presidente do Centro Redentor, Comendador Luiz José de Mattos, confiou-me o<br />
cargo de advogado do Centro, conhecia eu os princípios basilares do Espiritismo,<br />
através os livros de Alan Kardec, Roustaing e das inúmeras publicações diárias de<br />
propaganda <strong>em</strong> revistas e jornais.<br />
Julgando perfeitamente morais os princípios espíritas, todavia s<strong>em</strong>pre desconfiei<br />
dos praticantes do Espiritismo como, aliás, boa parte do povo. É que tais praticantes<br />
s<strong>em</strong>pre me pareceram visionários e ineptos para compreender<strong>em</strong> proveitosamente os<br />
princípios espíritas.<br />
Distinção necessária<br />
Distinguia então, como ainda hoje distingo, os grandes e abnegados<br />
investigadores do que se chama Ciência Espírita, Metapsíquica ou simplesmente<br />
Espiritismo, da grande malta que apenas explora os crédulos do Espiritismo.<br />
Relacionado, por dever de ofício, com inúmeros racionalistas cristãos, e pelo<br />
mesmo dever obrigado a estudar o <strong>Racionalismo</strong> <strong>Cristão</strong> para defendê-lo nas pugnas<br />
judiciárias, de pronto verifiquei que essa doutrina pregava princípios de elevada<br />
espiritualidade.<br />
Em que pese o combate declarado pelo <strong>Racionalismo</strong> <strong>Cristão</strong> às diversas seitas<br />
espíritas, apontadas como praticantes da Magia Negra, o <strong>Racionalismo</strong> <strong>Cristão</strong> é uma<br />
doutrina espiritualista que, <strong>em</strong> suas práticas, apresenta alguma s<strong>em</strong>elhança com as<br />
práticas espíritas comuns. Essa s<strong>em</strong>elhança é, porém, mais aparente do que real.<br />
Efetivamente, qu<strong>em</strong> assiste uma sessão de doutrinação racionalista cristã pode<br />
confundi-la com sessão comum da mesma natureza (de doutrinação), de qualquer seita<br />
kardecista.<br />
A diferença<br />
O observador avisado, continua o Dr. Emir Nunes de Oliveira, porém, nota<br />
imediatamente a diferença. No Centro Redentor, onde se pratica o <strong>Racionalismo</strong><br />
<strong>Cristão</strong>, não se invocam espíritos de mortos, para satisfação deste ou daquele assistente.<br />
As doutrinações são genéricas e abordam os t<strong>em</strong>as mais variados. Nota-se<br />
imediatamente aí a diferença entre o Kardecismo e o <strong>Racionalismo</strong> <strong>Cristão</strong> nas práticas<br />
exteriores.<br />
Quanto à Doutrina, são profundas as diferenças.<br />
Embora o Kardecismo, e quando me refiro ao Kardecismo compreendo as d<strong>em</strong>ais<br />
seitas espíritas, tenha como princípio a dualidade da composição dos seres vivos –
espírito e matéria – a indestrutibilidade e perpetuidade do espírito e as reencarnações –<br />
e o <strong>Racionalismo</strong> <strong>Cristão</strong> mantenha idênticos princípios , grandes são as diferenças.<br />
O <strong>Racionalismo</strong> <strong>Cristão</strong> t<strong>em</strong> maior extensão filosófica e pretende ter encontrado<br />
uma explicação simplista para todos os fenômenos que, sujeitos por análise ao cadinho<br />
da razão, são todos de ord<strong>em</strong> natural. No <strong>Racionalismo</strong> <strong>Cristão</strong> não existe sobrenatural,<br />
todos os fenômenos têm explicação nas leis fixas e imutáveis que reg<strong>em</strong> o Universo.<br />
Não está nos limites desta palestra uma digressão maior sobre o assunto, e parec<strong>em</strong>e<br />
que focalizada a relevância <strong>em</strong> que é posta a razão na Doutrina racionalista cristã,<br />
está b<strong>em</strong> fixada a diferenciação.<br />
Doutrina evident<strong>em</strong>ente espiritualista<br />
O <strong>Racionalismo</strong> <strong>Cristão</strong>, como Doutrina <strong>em</strong>inent<strong>em</strong>ente espiritualista, mas feito<br />
para o hom<strong>em</strong>, repele tudo que a razão humana não compreenda ou recuse. Essa<br />
assertiva parece conter grave restrição que tornaria a doutrina estacionária, pela<br />
relatividade do conhecimento humano, meio por que se exercita a razão ao investigar a<br />
verdade.<br />
Essa restrição desaparece diante da lei da evolução ou de progresso, que o<br />
<strong>Racionalismo</strong> <strong>Cristão</strong> t<strong>em</strong> como basilar. O espírito progride, evoluindo s<strong>em</strong>pre para a<br />
perfeição. Não há retrocesso no avanço espiritual . Daí ser apenas contingente e relativa<br />
a restrição, porque a razão humana de hoje não é a mesma de há mil anos, como não<br />
será idêntica à do próximo século. Com o progredir, aumenta o conhecimento, torna-se<br />
menos falha a razão.<br />
O telescópio para a visão física e os guias para a razão<br />
Continua o ilustre causídico: O <strong>Racionalismo</strong> <strong>Cristão</strong>, portanto, sujeitando à razão<br />
o conhecimento, nada restringe.<br />
V<strong>em</strong>os com os olhos, raciocinamos com a razão.<br />
Para aumentar nossa visão dos corpos siderais, usamos o telescópio; para<br />
aumentar o alcance da razão não existe aparelho físico, mas dispõe o <strong>Racionalismo</strong><br />
<strong>Cristão</strong> dos guias.<br />
Esses guias, espíritos superiores, têm alguma coisa dos mestres terrenos.<br />
Inteligências mais adiantadas que val<strong>em</strong> aos homens quando o seu aparelho físico de<br />
pensar atinge o limite até onde pode funcionar.<br />
Contra o dogma e a fé<br />
O <strong>Racionalismo</strong> <strong>Cristão</strong> não admite o dogma, repele a crença, erigindo como<br />
fundamento único para o alcance da verdade a inteligência guiada pela razão.<br />
Ora, o dogma, a verdade estabelecida a priori, s<strong>em</strong>pre mereceu repulsa dos<br />
pensadores de todos os t<strong>em</strong>pos. A verdade alcançada pela fé é anti-racional.<br />
A luta do hom<strong>em</strong> <strong>em</strong> busca do saber, surgiu com o próprio hom<strong>em</strong>. Os mais<br />
insignificantes conhecimentos, que de esforços, lutas, mágoas e sofrimentos não<br />
custaram ao hom<strong>em</strong>?<br />
Por que, na matéria mais transcendente do conhecimento, erigir a fé como meio e<br />
o dogma, por princípio?<br />
Assim encarando o princípio básico do <strong>Racionalismo</strong> <strong>Cristão</strong>, <strong>em</strong>ergente de sua<br />
própria denominação, qu<strong>em</strong> não será racionalista cristão?
A crise é uma resultante dos dois el<strong>em</strong>entos antagônicos: o B<strong>em</strong> e o Mal.<br />
O que poderá o <strong>Racionalismo</strong> <strong>Cristão</strong> trazer de útil e interessante à humanidade?<br />
foi a segunda pergunta que fiz<strong>em</strong>os a Emir Nunes de Oliveira:<br />
É freqüente a afirmativa de que o mundo sofre de crise moral. A essa crise,<br />
políticos, pedagogos, moralistas, filósofos e religiosos, são unânimes <strong>em</strong> atribuir os<br />
males que aflig<strong>em</strong> a humanidade.<br />
A crise não é de hoje, foi de s<strong>em</strong>pre e subsistirá enquanto persistir<strong>em</strong> os<br />
el<strong>em</strong>entos antagônicos: b<strong>em</strong> e mal.<br />
Praticar o b<strong>em</strong> é um dever. O b<strong>em</strong> passa desapercebido. O mal, pelo contrário,<br />
escandaliza, faz ruído.<br />
Tome-se uma gazeta diária. A notícia de um assassinato enche colunas e colunas,<br />
obrigada à clichês e títulos retumbantes. É o mal escandalizando. No momento, porém,<br />
<strong>em</strong> que esse ato mau foi praticado, quantos e quantos atos bons passaram<br />
desapercebidos!<br />
Certo que na mesma cidade, no mesmo bairro e, qu<strong>em</strong> sabe, até na mesma rua,<br />
enfermeira extenuada pela vigília ainda prestava um último cuidado ao enfermo; mãe<br />
extr<strong>em</strong>osa madrugava para dar mais algum conforto a seus filhos; no hospital, indivíduo<br />
desconhecido deu o sangue para reanimar um acidentado<br />
Serei otimista, mas a despeito dos quadros tétricos que o presente nos oferece,<br />
mantenho convicção inabalável que o mundo melhora.<br />
Doutrina que visa estimular o b<strong>em</strong>, que põe <strong>em</strong> evidência as virtudes cristãs, que<br />
obriga seus adeptos a ser<strong>em</strong> bons e valorosos, é, evident<strong>em</strong>ente, útil à humanidade.<br />
O combate ao mal é d<strong>em</strong>orado, mas s<strong>em</strong> tréguas. Dia a dia a humanidade melhora,<br />
inegável sendo a influência para tal das doutrinas morais e elevadas.<br />
O <strong>Racionalismo</strong> <strong>Cristão</strong> perante a criminologia<br />
Também a Emir Nunes de Oliveira, animados pela resposta de Heitor Lima,<br />
pedimos que nos dissesse algo sobre este assunto, de tão grande relevância para nós.<br />
De feito, pelos conhecimentos que já t<strong>em</strong>os da Doutrina debatida neste livro,<br />
<strong>em</strong>bora exíguos, achamos que nela se pode achar um verdadeiro farol para elucidação<br />
da, quiçá, mais importante ciência do Direito. Por isso houv<strong>em</strong>os por b<strong>em</strong>, dado o meio<br />
a que se destina a nossa obra, ressaltar b<strong>em</strong> o assunto através da opinião de dois<br />
ilustres advogados.<br />
O <strong>Racionalismo</strong> <strong>Cristão</strong>, respondeu-nos o nosso entrevistado, estabelece estreito<br />
regime de responsabilidade pessoal.<br />
Quando a maioria das seitas procura despersonalizar o indivíduo, o <strong>Racionalismo</strong><br />
<strong>Cristão</strong>, a meu ver, pratica o inverso .<br />
Obrigando o hom<strong>em</strong>. a ser valoroso e a raciocinar livr<strong>em</strong>ente, torna-o<br />
grand<strong>em</strong>ente responsável.<br />
Em criminologia não há negar a importância do conceito.<br />
O espírita <strong>em</strong> geral é fatalista. Para ele, como para os teosofïstas, o hom<strong>em</strong> nasce<br />
com um bom ou mau Karma.<br />
O <strong>Racionalismo</strong> <strong>Cristão</strong>, pelo contrário, é francamente livre-arbitrista.<br />
Procurando desenvolver as faculdades volitivas do dom<strong>em</strong>, o <strong>Racionalismo</strong><br />
<strong>Cristão</strong>, admitindo <strong>em</strong>bora a existência da obsessão, porque fornece os meios de evitá-
la, não desculpa qu<strong>em</strong> se deixa vencer. Não condena, porém, irr<strong>em</strong>issivelmente e ao<br />
decaído fornece s<strong>em</strong>pre os meios de reabilitação.<br />
Mas, não é só na reação contra o determinismo, que torna os homens<br />
irresponsáveis, que se faz notar a importância do <strong>Racionalismo</strong> <strong>Cristão</strong>. Na correção dos<br />
criminosos, na individualização da pena e <strong>em</strong> diversos outros pontos de criminologia,<br />
muito há de interessante na aplicação dos princípios racionalistas cristãos.<br />
O desenvolvimento do raciocínio e a sua significação<br />
Conforme o próprio nome diz, o <strong>Racionalismo</strong> <strong>Cristão</strong>, antes de mais nada,<br />
baseia toda a sua doutrina na razão, tudo submetendo a um raciocínio d<strong>em</strong>orado.,<br />
Conhecedores disso, perguntamos a Emir Nunes de Oliveira: Acha que o hom<strong>em</strong><br />
que conhece ou pratica a Doutrina terá mais facilidade <strong>em</strong> apreciar as questões com<br />
justiça?<br />
O hom<strong>em</strong> de raciocínio forte, com o cérebro afeito a cuidar das elevadas questões<br />
espiritualistas, certo que está mais apto a apreciar as questões com justiça.<br />
Todos nós julgamos. Em nossas funções domésticas, no trabalho com nossos<br />
subordinados, somos chamados a julgar inúmeras vezes.<br />
Nesses julgamentos, praticar<strong>em</strong>os injustiça se o nosso raciocínio não for perfeito e<br />
olvidarmos a moderação, a bondade, a tolerância.<br />
Dever primordial<br />
O estudante de direito, que será amanhã advogado; o advogado, que será<br />
magistrado, têm naturalmente como dever primordial desenvolver a razão a um ponto<br />
excepcional.<br />
Quando se impõe ao estudante de Direito a obrigação de estudar lógica, psicologia<br />
e filosofia, se lhe impõe também o dever de raciocinar b<strong>em</strong>.<br />
Essas ciências, essencialmente abstratas, obrigam a pensar, a raciocinar.<br />
Entre os diversos ramos do saber humano, não existirão outras mais aptas a criar<br />
celebrações perfeitas.<br />
No estudo das ciências, não procuramos apenas o conhecimento geral, a<br />
explicação dos fenômenos e das leis que reg<strong>em</strong>, se não também a verdade.<br />
Não basta guardar na m<strong>em</strong>ória uns quantos nomes, leis e fenômenos, para<br />
conhecermos determinada ciência.<br />
Mero decorador não conhece a ciência.<br />
As páginas de um livro apenas expõ<strong>em</strong> a ciência, esta é subjetiva: o hom<strong>em</strong> é que<br />
pratica a ciência.<br />
O decorador é inexpressivo; como as páginas de um livro, reproduzirá apenas<br />
imagens e expressões.<br />
Elevado ao mais alto conceito o raciocínio para aprendermos a ciência, não há<br />
negar a influência decisiva de doutrina que erigiu essa faculdade humana como fulcro<br />
de suas teorias.<br />
Aprend<strong>em</strong>os a ciência raciocinando, aprendê-la-<strong>em</strong>os melhor se nosso cérebro<br />
estiver, pelas elucubrações espiritualistas, desenvolvido e for capaz de discernir o<br />
verdadeiro do falso.
A incontestabilidade de fenômenos espiríticos<br />
Teve oportunidade de observar algum fenômeno espirítico?<br />
Os fenômenos ditos espiríticos pod<strong>em</strong> classificar-se <strong>em</strong> três grupos: lucidez –<br />
faculdade de conhecimento diferente das faculdades de conhecimentos sensoriais<br />
comuns; fenômenos de ação mecânica – diferentes das forças mecânicas conhecidas,<br />
que se exerc<strong>em</strong> s<strong>em</strong> contato à distância <strong>em</strong> condições determinadas sobre pessoas e<br />
coisas; materializações.<br />
Propôs Paul Richet que se denomine Metapsíquica à ciência destinada a estudar<br />
esses fenômenos, criando três divisões que, sob os nomes de “crisptestesia”,<br />
“telecinésia” e “ectoplasmia”, compreend<strong>em</strong> o estudo dos fenômenos mencionados.<br />
Procurando dar caráter absolutamente científico ao estudo desses fenômenos,<br />
excluída a hipótese espírita para explicá-los, o mesmo autor estabelece estas duas<br />
proposições com apoio rigoroso na observação e nos métodos da ciência positiva:<br />
l) A inteligência humana t<strong>em</strong> vias de conhecimento diversas das dos sentidos<br />
normais;<br />
2) Há vibrações (forças) no Universo que agitam nossa sensibilidade e<br />
determinam certos conhecimentos da realidade, que nossos sentidos normais não nos<br />
pod<strong>em</strong> dar.<br />
Os fenômenos <strong>em</strong> questão abrangidos pelas duas proposições são, porém,<br />
explicados por uma hipótese espírita, e conhecidos comumente por fenômenos espíritas<br />
ou espiríticos.<br />
O Espiritismo atribui esses fenômenos à ação externa dos espíritos ou forças<br />
astrais.<br />
No momento atual, penso não existir qu<strong>em</strong> negue os fenômenos ditos espíritas,<br />
apenas esses fenômenos receb<strong>em</strong> nomes diversos, conforme a teoria que os procura<br />
explicar.<br />
O materialista dirá que o fenômeno existe, mas encontra explicação nas<br />
propriedades desconhecidas ou ainda não estudadas da matéria.<br />
O espiritualista, conforme a teoria de sua eleição, atribuirá o fenômeno às forças<br />
astrais, aos espíritos e até ... ao diabo.<br />
Os fenômenos exist<strong>em</strong>, as teorias explicativas é que variam.<br />
Reputo esse assunto extr<strong>em</strong>e de dúvidas e, por isso, desnecessário o meu<br />
test<strong>em</strong>unho.<br />
L<strong>em</strong>br<strong>em</strong>o-nos ainda que o velho Aristóteles, depois de tratar das forças físicas,<br />
propôs-se estudar as grandes leis da Natureza, que ultrapassam as leis físicas e escreveu<br />
o m<strong>em</strong>orável capítulo “Depois das coisas físicas”...<br />
As diretrizes do Centro Redentor<br />
Encerrando o nosso interrogatório, pedimos a Emir Nunes de Oliveira, que nos<br />
dissesse algo sobre as diretrizes atuais do Centro Redentor que divulga a Doutrina<br />
apreciada neste livro. Ninguém melhor do que S.Sa., que tão de perto t<strong>em</strong><br />
acompanhado a vida do Centro, poderia nos falar sobre tão relevante assunto.<br />
No Centro Redentor, as diretrizes de hoje são as de ont<strong>em</strong>.
Fundação dos ben<strong>em</strong>éritos Comendador Luiz José de Mattos e Luiz Alves<br />
Thomaz, propôs-se combater as baixas especulações da Magia Negra e o materialismo<br />
avassalador.<br />
Combatendo, destruindo portanto, não podiam os racionalistas cristãos do Centro<br />
Redentor, a esse objetivo cifrar o seu papel.<br />
Agindo de modo contrário ao de certas instituições destruidoras, que atrás de si<br />
deixam o vazio, o Centro Redentor procura fazer obra de reconstrução. Para substituir<br />
teorias espíritas eivadas de crendices, bruxedos e abusões, oferece uma doutrina<br />
puramente espiritualista, desinteressada, despida de atavios complicados, e acessível aos<br />
simples de espírito.<br />
Sobre a realização material do que é proposto nos Estatutos do Centro Redentor,<br />
melhor do que eu, diz<strong>em</strong> seus volumosos relatórios anuais.
O <strong>Racionalismo</strong> <strong>Cristão</strong> perante a medicina<br />
Arlindo Estrella<br />
O Dr . Arlindo Estrella, conhecido clínico nesta cidade, muito se t<strong>em</strong> interessado<br />
pelo verdadeiro psiquismo, procurando averiguar para concluir.<br />
Sabedores disso, procuramo-lo obtendo dele as seguintes declarações:<br />
Um fenômeno psíquico que leva à averiguação<br />
À nossa pergunta, desde quando conhece o <strong>Racionalismo</strong> <strong>Cristão</strong>? assim<br />
responde:<br />
Desde 1923, era eu, nessa época, aluno da Faculdade de Medicina, matriculado na<br />
terceira série do curso médico. Tinha uma pessoa da família que era freqüent<strong>em</strong>ente<br />
acometida de crises nervosas de forma convulsiva, que se prolongavam por algumas<br />
horas. Durante essas crises, a paciente proferia frases incompreensíveis, terminando,<br />
muitas vezes, num sono profundo, que a deixava extenuada, com dor de cabeça e s<strong>em</strong><br />
noção alguma do que se havia passado.<br />
Outras vezes, verificavam-se os fenômenos de maneira diversa: após um intervalo<br />
de dez a quinze minutos de repouso, involuntariamente a vítima ficava com respiração<br />
estertorosa, ansiedade <strong>em</strong> estado de torpor, logo secundado por estr<strong>em</strong>ecimentos. A<br />
situação, então, mudava por completo: tornava-se risonha, com fisionomia exprimindo<br />
b<strong>em</strong> estar e passava a cumprimentar a todos, como se fosse uma outra pessoa que no<br />
momento tivesse chegado.<br />
Conversava, fazia perguntas e respondia as que lhe eram feitas, terminando por<br />
declarar sua personalidade e nome. Pelo nome tratava-se de pessoa muito nossa<br />
conhecida, pois, referia-se com clareza, a inúmeros fatos passados quando <strong>em</strong> vida,<br />
chegando mesmo a referir-se e descrever o que viu no dia <strong>em</strong> que eu fui prestar exame<br />
de geografia no Colégio Pedro II (<strong>em</strong> 1919), quando se passou um fato só de mim e<br />
desse meu amigo morto, conhecido.<br />
Declarava-me s<strong>em</strong>pre que estava <strong>em</strong> toda a parte onde eu estivesse, com o fim de<br />
proteger-me.<br />
Mas, o que se tornava objeto de séria preocupação era que n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre se tratava<br />
dessa alma tão dócil, pois, freqüent<strong>em</strong>ente, a pessoa que servia de médium era<br />
atormentada por espíritos perigosos que causavam sérios t<strong>em</strong>ores.<br />
Só depois que começamos a freqüentar o Centro Redentor é que todos esses<br />
fenômenos deixaram de se passar <strong>em</strong> minha casa. É claro que eu não poderia deixar de<br />
entregar-me a sérias averiguações depois disso. Comecei, então, a estudar o<br />
<strong>Racionalismo</strong> <strong>Cristão</strong>.<br />
A medicina não pode prescindir do psiquismo<br />
A medicina, continua o nosso entrevistado, poderia tirar do <strong>Racionalismo</strong> <strong>Cristão</strong><br />
os resultados que já têm tirado os estudiosos do psiquismo, como por ex<strong>em</strong>plo, os<br />
grandes mestres Cesar Lombroso, William Crookes, Paul Gibier, Chacot, Richet e<br />
muitos outros. São b<strong>em</strong> conhecidas as importantes obras "Hipnotismo e Espiritismo" de<br />
Cesar Lombroso, "Espiritismo", "Faquirismo ocidental" do Dr. Paul Gibier, médico<br />
interno dos Hospitais de Paris e ajudante naturalista do Museu de História Natural,<br />
"Fatos Espíritas" de William Crookes, da Acad<strong>em</strong>ia de Ciências da Inglaterra, e muitas<br />
outras.
Todos os fenômenos dev<strong>em</strong> ser estudados<br />
A medicina oficial cai no mesmo erro do dogma “crê e não pergunta por que":<br />
foge à análise de fatos, <strong>em</strong>bora observados por sábios de incontestável valor, que de<br />
maneira alguma pod<strong>em</strong> ser tomados por loucos ou visionários.<br />
Todos os fenômenos são dignos de análise dos cientistas e, se assim não fosse, a<br />
química ainda estaria hoje nos domínios da alquimia e a astronomia nos da astrologia.<br />
Se os fatos, que desde t<strong>em</strong>pos im<strong>em</strong>oriais preocupam os filósofos e grande parte<br />
da humanidade, foss<strong>em</strong> objeto de acurado estudo da ciência médica, e julgados por<br />
sentença a posteriori, não estariam sob o jugo de analfabetos, sujeitos a influências<br />
perniciosas para especulação do charlatanismo .<br />
Não há incompatibilidade<br />
Há incompatibilidade entre a doutrina e a medicina?<br />
Investigando todos os fenômenos psíquicos, poderia a medicina descobrir<br />
inúmeros traços de união entre os fenômenos psíquicos, radioativos, cósmicos e<br />
fisiológicos (a obra A levitação, de Alberto de Rocha, b<strong>em</strong> como a sua introdução sobre<br />
os eflúvios ódicos de Roch<strong>em</strong>bach, apreciam muito b<strong>em</strong> o que acabo de afirmar), que<br />
viriam desde o micro ao macrocosmo desvendar as leis físico-químicas determinantes<br />
das moléstias e suas curas.<br />
A medicina, como toda a ciência, é objeto de previsão constante e verificação<br />
imediata, e, assim sendo, todo o estudo racionalmente feito, dentro dos princípios da<br />
lógica, só lhe poderá trazer proveitos.<br />
Oito anos de aplicação dos princípios racionalistas cristãos<br />
Para confirmar o que acima disse, basta dizer-lhe que há oito anos sou médico, e<br />
desde então, aplico aos meus doentes o que o <strong>Racionalismo</strong> <strong>Cristão</strong> nos ensina.<br />
Os resultados têm sido bons, pois, ao medicar o enfermo, procuro afastar-lhe más<br />
sugestões que criam, fatalmente, um ambiente desfavorável à físico-química de todas as<br />
defesas orgânicas. Isto, aliás, não é novo: já muitos sábios averiguadores têm-no<br />
afirmado, ocorrendo-me agora citar Ochorowiez, que <strong>em</strong> sua obra A sugestão mental,<br />
muito b<strong>em</strong> defende esse ponto de vista. Ochorowiez é lente de psicologia da<br />
Universidade de L<strong>em</strong>berg e a aludida obra é prefaciada por Charles Richet.<br />
O valor da influência psíquica<br />
A medicina de nada valerá se não for acompanhada de sugestões otimistas,<br />
controladoras do subconsciente . É essa a função dos médicos, <strong>em</strong> parte. Ao lado do<br />
tratamento físico, é indispensável o psíquico.<br />
Um caso concreto<br />
Continua o Dr. Arlindo Estrella:<br />
Vamos ex<strong>em</strong>plificar: Tive uma enferma que, desde 1927, sofria horrivelmente de<br />
crises melancólicas e completo desânimo da vida. Queixava-se de dores de cabeça,<br />
fadiga, não podendo executar qualquer trabalho por falta de ânimo. Tentou por duas<br />
vezes suicidar-se por meio de envenenamento, sendo salva por socorros urgentes. Todos<br />
os tratamentos tentados por vários médicos fracassaram.
No ano passado (1933), tive oportunidade de tratar de uma pessoa, parenta da<br />
enferma <strong>em</strong> questão, que operei de apendicite. Nessa ocasião, a doente, nervosa como<br />
diziam os meus colegas, não me tolerava, opondo-se ve<strong>em</strong>ent<strong>em</strong>ente a que eu operasse<br />
a sua irmã, alegando que eu não obteria êxito. Verificou-se justamente o contrário: a<br />
operação correu muito b<strong>em</strong> e alguns dias após a paciente estava inteiramente boa.<br />
Um ano mais tarde, a antipatia que a nossa enferma me votava transformou-se <strong>em</strong><br />
simpatia, e, por ocasião de uma das suas crises, mandou chamar-me para que eu a<br />
tratasse.<br />
Expliquei-lhe quais eram os seus deveres como doente, receitando-lhe <strong>em</strong><br />
seguida. Imediatamente ela melhorou muito com os meus r<strong>em</strong>édios e ... minhas<br />
palestras.<br />
As nossas relações de médico e doente amiudaram-se e, com a freqüência ao<br />
Centro Redentor, ficou completamente normalizada, vivendo hoje satisfeitíssima.<br />
É preciso ponderar que, conquanto os resultados obtidos com o tratamento e<br />
investigação de todas as funções orgânicas revelass<strong>em</strong> não ser ainda a enferma<br />
portadora de qualquer lesão dos centros nervosos, é claro que a contínua repetição dos<br />
fenômenos psíquicos poderia acarretar sérios distúrbios e lesões destes centros.<br />
Em biologia ainda se discute se a função faz o órgão ou este a função. Os<br />
anatomistas diz<strong>em</strong> que o órgão é que cria a função, pois, s<strong>em</strong> o órgão não poderá haver<br />
função. Os fisiologistas diz<strong>em</strong> o contrário.<br />
Penso que a função é que faz o órgão, pois este está subordinado às solicitações<br />
que part<strong>em</strong> do meio exterior.<br />
Da ínfima célula ao órgão imperfeito e deste ao perfeito, o exercício da função,<br />
resultante dos motivos que a solicitam, é que realiza a estrutura orgânica sob as<br />
condições de adaptação às influências do meio.<br />
O órgão responde aos estímulos que recebe continuamente e desta repetição surge<br />
o hábito que, no dizer de Charcot, é uma segunda natureza; logo, todo o organismo está<br />
sujeito às influências do ambiente.<br />
Se ele está mergulhado <strong>em</strong> um meio puro, são, mantém-se no estado de equilíbrio,<br />
gerador da saúde; se ele se encontra num meio corrompido, o estímulo que parte deste<br />
meio para o organismo gera-lhe o estado mórbido.<br />
O verdadeiro médico<br />
Assim, o verdadeiro médico t<strong>em</strong> que aplicar todos os esforços tendentes a tornarse<br />
o médico da alma e do corpo. E como conseguirá. esse desideratum ? Tendo s<strong>em</strong>pre<br />
<strong>em</strong> vista o estado psico-fisiológico e os fenômenos intracelulares do doente, fenômenos<br />
estes de alta investigação físico-química ou biológica; b<strong>em</strong> como os múltiplos<br />
fenômenos do meio interior e exterior.<br />
A História registra no correr dos séculos uma infinidade de fatos dignos da<br />
meditação do verdadeiro cientista, e, todo aquele que julgar a priori, fora do atento<br />
exame dos fenômenos, nunca chegará a ser um simples observador, e muito menos à<br />
altura de ser considerado um médico no verdadeiro sentido do vocábulo.
Eduardo Freire<br />
O RACIONALISMO CRISTÃO PERANTE O COMÉRCIO.<br />
A palavra de um industrial e negociante, e de um Diretor de uma grande<br />
companhia estrangeira.<br />
Eduardo Freire, industrial e negociante, Encarregado Geral do Centro Redentor,<br />
é desses homens raros que sab<strong>em</strong> sentir e aliviar os sofrimentos alheios.<br />
Qualquer pessoa que se dirija ao Centro Redentor pela primeira vez depara com<br />
essa alma bondosa e paciente, obtendo, assim, ótima impressão da Casa. T<strong>em</strong> o Sr.<br />
Freire uma verdadeira alma de médico, a todos tratando com delicadeza cativante.<br />
Enfim, trata-se de uma pessoa que, no alto cargo que ocupa, eleva e dignifica a<br />
Doutrina.<br />
O que é ser racionalista cristão?<br />
À nossa pergunta inicial, assim nos respondeu o Sr. Eduardo Freire:<br />
Racionalista cristão, na verdadeira acepção do vocábulo, é todo o ser que<br />
raciocina e investiga, é todo o hom<strong>em</strong> honesto e laborioso que procura cumprir os seus<br />
deveres para consigo, os seus e a humanidade <strong>em</strong> geral.<br />
Ingressei nas fileiras do <strong>Racionalismo</strong> <strong>Cristão</strong> após estudo feito na sua obra<br />
básica, b<strong>em</strong> como dos trabalhos realizados nas sessões de limpeza psíquica. Chegando à<br />
conclusão de que os princípios da Doutrina eram um farol seguro para romper as trevas<br />
da ignorância humana, libertando os homens da cegueira a que vêm sendo atirados há<br />
milhares de anos, por aqueles que nisto têm interesse para mais comodamente "gozar<strong>em</strong><br />
a vida" como eles diz<strong>em</strong>; não duvidei <strong>em</strong> abraçar o <strong>Racionalismo</strong>, pois estava, estou,<br />
convicto de que por ele se poderá trilhar o caminho da verdade.<br />
Aliás, racionalista cristão já o era antes, pois procurava não fazer a outr<strong>em</strong> o que<br />
não queria que me fizess<strong>em</strong>: obtive no Centro Redentor a explicação de inúmeros<br />
fenômenos, vendo os efeitos reais da limpeza psíquica.<br />
As explicações do padre<br />
Quanto à sua pergunta se eu era religioso antes de me tornar racionalista cristão,<br />
responderei que, apesar de criado no catolicismo, não o era.<br />
Quando ainda criança, já era rebelde ao que o padre da aldeia <strong>em</strong> que morava me<br />
queria incutir. Tinha eu s<strong>em</strong>pre vontade de compreender certas coisas que na Bíblia se<br />
enunciava e, para isso, procurava o nosso cura, que me dizia haver certos mistérios que<br />
o hom<strong>em</strong> não podia n<strong>em</strong> devia penetrar. Eu, certamente, não me conformava com as<br />
suas respostas, e insistia nas minhas averiguações, o que me valeu ficar conhecido <strong>em</strong><br />
toda a aldeia como um ateu. E, de fato, o era até que conheci a Doutrina explanada no<br />
Centro Redentor.<br />
Fenômenos convincentes<br />
Pergunta-me se, desde que sou Encarregado Geral do Centro Redentor, tenho<br />
assistido a interessantes fenômenos psíquicos. Acho que, para qu<strong>em</strong> investiga, todos os<br />
fenômenos merec<strong>em</strong> a devida atenção, sejam de que espécie for<strong>em</strong>. Entretanto, citarei<br />
alguns que, a meu ver, só por si bastariam para convencer o incrédulo ou novato no
estudo do psiquismo, para fazê-lo acordar e compreender os efeitos da vida fora da<br />
matéria organizada ou da força atuando.<br />
O desdobramento de Luis de Mattos, por ex<strong>em</strong>plo, quando <strong>em</strong> vida veio atuar no<br />
médium e doutrinar a assistência com a sua característica linguag<strong>em</strong> franca e leal; com a<br />
sua verve ferina quando queria causticar alguém, como só ele o sabia fazer com<br />
maestria, e com doçura quando o espírito se apresentava sofredor e ignorante, enfim<br />
com aquele todo particular seu, tão familiar aos que o conheciam. Pois b<strong>em</strong>, ouvimo-lo<br />
através do médium e, terminada a sessão, soub<strong>em</strong>os que havia desencarnado no<br />
pavimento superior do Centro Redentor no instante <strong>em</strong> que atuou no instrumento. No<br />
mesmo dia, às 20 horas, na sessão pública, o ex-Presidente físico do Centro Redentor<br />
veio novamente, comunicar à assistência a sua desencarnação.<br />
Outro fato interessante é o da cura de um jov<strong>em</strong> de 14 anos que, depois de vários<br />
meses <strong>em</strong> mãos da medicina oficial, na Policlínica de Botafogo, no hospital de<br />
Psicopatas, etc., s<strong>em</strong> encontrar alívio para os seus sofrimentos, veio, como geralmente<br />
acontece, bater às portas do Centro Redentor. O seu estado era tal que parecia uma<br />
verdadeira estátua, pois permanecia <strong>em</strong> posição ereta, s<strong>em</strong> poder mover qualquer dos<br />
seus m<strong>em</strong>bros. Para que ele pudesse ficar à mesa, foi preciso que o deitáss<strong>em</strong>os <strong>em</strong> três<br />
cadeiras nos colo de duas pessoas. Pois b<strong>em</strong>, no fim da terceira sessão de limpeza<br />
psíquica a que assistiu, retirou-se s<strong>em</strong> apoio de espécie alguma, caminhando<br />
firm<strong>em</strong>ente, e, ainda hoje, freqüenta o Centro Redentor, completamente bom,<br />
inteiramente curado.<br />
Casos idênticos têm-se dado <strong>em</strong> grande quantidade, porém, como a finalidade da<br />
Doutrina não é a de curandeirismo, torna-se desnecessário propagá-los. O que nós<br />
visamos é apenas o esclarecimento da humanidade, provando-lhe a existência da vida<br />
fora da matéria.<br />
Ao Centro Redentor aportam doentes do corpo e da alma, e posso afirmar, com<br />
convicção e conhecimento de causa, que <strong>em</strong> maior ou menor escala todos obtêm<br />
benefícios. Porém, as curas só se solidificam quando os enfermos, depois de<br />
conhecer<strong>em</strong> as causas, colocam-se dentro de uma disciplina mental, moral e material,<br />
indispensável para qualquer êxito na vida.<br />
Já que abordei este assunto, cabe-me dizer quais, geralmente, os motivos por que<br />
um enfermo que se trata no Redentor retarda, muitas vezes, a sua cura definitiva. Os<br />
fatores que para isso concorr<strong>em</strong> são os seguintes: falta de disciplina no viver; fraqueza<br />
espiritual adquirida antes do conhecimento dos princípios racionais e científicos que<br />
reg<strong>em</strong> o universo; e, conseqüent<strong>em</strong>ente, falta de força de vontade para vencer<strong>em</strong> velhos<br />
usos e costumes.<br />
Os probl<strong>em</strong>as econômico e espiritual<br />
Qual o probl<strong>em</strong>a que terá que ser antes solucionado pela humanidade, o<br />
econômico ou o espiritual? perguntamos finalmente ao Sr. Eduardo Freire.<br />
Penso que a humanidade dará primeiramente solução ao probl<strong>em</strong>a material, isto é,<br />
ao econômico.<br />
Embora seja a parte espiritual a que mais deveria interessar aos homens, estes se<br />
acham tão materializados, tão aferrados às coisas da terra, desejosos unicamente de<br />
gozos, fausto e luxo, que a lógica das coisas nos leva a concluir que só depois de<br />
resolvido o probl<strong>em</strong>a econômico é que a humanidade se voltará para o estudo e<br />
averiguação do verdadeiro psiquismo.
Charles Boschini<br />
Charles Boschini, diretor de uma grande companhia estrangeira, muito<br />
conhecido nos meios racionalistas, também foi por nós ouvido, <strong>em</strong>bora mui<br />
sinteticamente, fazendo-nos as seguintes declarações:<br />
Pugnando s<strong>em</strong>pre pela Doutrina<br />
Na minha infância não tive educação religiosa e os meus passos foram guiados<br />
dentro de princípios sãos e verdadeiros, idênticos aos que, mais tarde, conheci no<br />
<strong>Racionalismo</strong> <strong>Cristão</strong>.<br />
Quando alcancei a idade de 16 anos já tinha compreendido que, por ser<strong>em</strong> falhas e<br />
não estar<strong>em</strong> com o meu modo de pensar, não podia aceitar a religião católica n<strong>em</strong> a<br />
protestante, que tinham adeptos <strong>em</strong> alguns dos meus parentes mais próximos.<br />
Procurando algo que me desse uma explicação científica a respeito da nossa<br />
finalidade e da nossa composição, fui levado a ingressar no espiritismo kardecista, onde<br />
encontrei muita coisa que não me satisfazia plenamente.<br />
Fácil foi, pois, <strong>em</strong> 1919, quando me foi dada a felicidade de conhecer o Centro<br />
Redentor, levado por um grande amigo do Comendador Luiz de Mattos, compreender<br />
que essa era a doutrina que eu há tanto t<strong>em</strong>po procurava, visto estar de acordo com a<br />
minha forma de sentir e pensar.<br />
Desde então, freqüento o Centro Redentor e s<strong>em</strong>pre pugnei pela Doutrina, por<br />
achar que só ela poderá fazer feliz a humanidade que tanto sofre hoje. Em nov<strong>em</strong>bro de<br />
1932, comecei a tomar parte direta nos trabalhos do Centro Redentor.<br />
Depois que a humanidade tiver passado por grandes sofrimentos<br />
A meu ver, a Doutrina que se explana sob o nome do <strong>Racionalismo</strong> <strong>Cristão</strong> terá<br />
que vir a dominar a humanidade, por ser a Verdade, que é uma só. Porém, isto só se<br />
verificará depois que os homens tiver<strong>em</strong> passado por grandes e muitos sofrimentos;<br />
encontrarão, então, os lenitivos para os seus males nesta Doutrina, que se tornará o<br />
bálsamo almejado e lhes mostrará a estrada para o seu progresso espiritual.<br />
A escola das escolas<br />
Pergunta-me se a classe comercial, da qual me honro de fazer parte, pode tirar<br />
proveitos do <strong>Racionalismo</strong> <strong>Cristão</strong>.<br />
Todas as classes, s<strong>em</strong> distinção, pod<strong>em</strong> dele tirar proveitos incalculáveis, porque<br />
é, finalmente, o guia que leva a todos os de boa vontade e que sigam à risca os seus<br />
princípios, ao caminho da evolução espiritual, que é o que t<strong>em</strong> por fim a perfeição.<br />
Assim, aconselho a todos que abraçam a carreira comercial a que estud<strong>em</strong> o<br />
<strong>Racionalismo</strong> <strong>Cristão</strong>, pois, a prática dos seus princípios põe <strong>em</strong> ação todos os<br />
el<strong>em</strong>entos necessários para uma vitória certa. A luta pela vida está se tornando cada vez<br />
mais difícil e aqueles que não se preparar<strong>em</strong> para enfrentá-la, só poderão esperar o<br />
desânimo, a perturbação e a falência física e espiritual.<br />
Os novos conhecimentos que se adquir<strong>em</strong> com o estudo do <strong>Racionalismo</strong> <strong>Cristão</strong><br />
abr<strong>em</strong> caminhos para novas formas de pensar e, qu<strong>em</strong> sabe b<strong>em</strong> pensar resolve os<br />
probl<strong>em</strong>as da vida da forma a mais satisfatória possível.
Resultados obtidos com a Doutrina<br />
Terminando este meu despretensioso depoimento, quero mencionar alguns dos<br />
resultados que obtive com a prática dos princípios racionalistas cristãos.<br />
A) O esclarecimento de todos os fenômenos psíquicos, sobre muitos dos quais até<br />
então tinha dúvidas;<br />
B) A convicção absoluta da existência da vida fora da matéria;<br />
C) A verificação pessoal de inúmeras curas psíquicas e físicas, o que solidificou a<br />
convicção da letra B .<br />
D) Os benefícios produzidos tanto no meu físico, como no meu espírito.
João Baptista Cottas<br />
O RACIONALISMO CRISTÃO VISTO POR UM ACADÊMICO<br />
João Baptista Cottas, acadêmico de medicina, <strong>em</strong>bora jov<strong>em</strong> ainda, já é<br />
possuidor de uma noção exata da vida.<br />
Extr<strong>em</strong>amente estudioso e averiguador, é desses que não se satisfaz<strong>em</strong> com<br />
afirmações e dogmas, mas que exig<strong>em</strong> para tudo uma explicação racional e científica.<br />
Torna-se, pois, muito valiosa a sua colaboração nesta obra, que se destina a<br />
todos os meios, mas que visa, principalmente, levar os conhecimentos do <strong>Racionalismo</strong><br />
<strong>Cristão</strong> aos acadêmicos de nossas universidades.<br />
Precisamos sair de toda e qualquer letargia<br />
Sobre a sua pergunta: “Qual a sua impressão sobre o estado atual dos acadêmicos?<br />
direi:<br />
A mocidade atual, principalmente a acadêmica, de qu<strong>em</strong> muito se espera, não só<br />
nos meios científicos, como também no terreno moral, v<strong>em</strong> se ressentindo de falsos<br />
princípios educacionais e de não menos falsos métodos de ensino, até nós chegados por<br />
intermédio de espíritos de pouco alcance.<br />
A juventude de hoje não é a mesma de há anos atrás. Se é certo que tudo evolui e<br />
nada estaciona, por que, então, não reagir, não combater todos os absurdos, todas as<br />
teorias s<strong>em</strong> base? Precisamos sair quanto antes desta letargia, deste mutismo, para o<br />
qual muito têm concorrido os dogmas religiosos.<br />
Unamo-nos moral e fisicamente, rompendo com todos os preconceitos, e assim<br />
chegar<strong>em</strong>os a um novo sist<strong>em</strong>a de ensino, mais racional e científico.<br />
<strong>Racionalismo</strong> <strong>Cristão</strong> e Medicina<br />
Os estudantes de medicina muito proveito tirariam se procurass<strong>em</strong> estudar o<br />
<strong>Racionalismo</strong> <strong>Cristão</strong>.<br />
A Medicina baseia-se apenas na matéria, naquilo que vê e apalpa. Não vai além<br />
disso. O invisível para ela é como se não existisse, daí a dificuldade que alguns médicos<br />
têm para diagnosticar certas enfermidades, principalmente as chamadas mentais.<br />
O <strong>Racionalismo</strong> <strong>Cristão</strong>, a Ciência da Verdade, vai mais além. Não se queda<br />
apenas no cognoscível, vai até ao incognoscível. Enquanto a medicina escalpela e<br />
ausculta o corpo, ele, o <strong>Racionalismo</strong> <strong>Cristão</strong>, perscruta a alma, fonte, orig<strong>em</strong> de todas<br />
as doenças físicas ou psíquicas. É na alma, nessa partícula da Inteligência Universal,<br />
que tudo reside; é ela que dá força e energia ao corpo; é ela que organiza, movimenta e<br />
incita o mesmo, assim afirmam cientistas notáveis como William Crookes, Claude<br />
Bernard, Paul Gibier, etc.<br />
Se falhas há na medicina, elas desaparecerão quando se der mais atenção à alma,<br />
quando se a estudar com maior interesse. A alma é causa; a matéria é efeito. Esta,<br />
mesmo viva, é inerte.<br />
Estude o médico a alma e a matéria na sua verdadeira essência, seja mais<br />
espiritualista, e verá, então, desaparecer as dificuldades que encontra não só na sua vida<br />
de estudante, como no exercício da sua profissão, diagnosticando com mais acerto e<br />
exatidão.<br />
O Espiritismo Racional e Científico (cristão), sendo uma ciência, não é contra a<br />
medicina, n<strong>em</strong> a combate. Ele apenas deseja que os médicos se interess<strong>em</strong> mais pelo
estudo da Força, primeiro el<strong>em</strong>ento componente do Universo, visto ser nela que tudo<br />
reside.<br />
O <strong>Racionalismo</strong> <strong>Cristão</strong> é tão velho quanto o mundo, pois, muitos séculos mesmo<br />
antes de Cristo ele já era praticado no Egito sob o nome de Espiritismo. Foi nele que se<br />
<strong>em</strong>balou a "divina arte de curar". Foi nele que Hipócrates, o pai da Medicina, e muitos<br />
outros sábios daquele t<strong>em</strong>po beberam os seus ensinamentos.<br />
Nada de sobrenatural n<strong>em</strong> mistérios<br />
Encontro no <strong>Racionalismo</strong> <strong>Cristão</strong> a plena satisfação do meu espírito, porque tudo<br />
nele se explana e pratica dentro dos princípios da razão e da ciência. Ele não admite<br />
sobrenaturais e mistérios; tudo explica livre de misticismo, o que não se dá com as<br />
muitas e diversas religiões que exist<strong>em</strong> no planeta Terra.<br />
No <strong>Racionalismo</strong> <strong>Cristão</strong>, divulgado pelo Centro Redentor, pod<strong>em</strong>os encontrar<br />
tudo o que precisamos para formarmos uma geração forte e de valor.<br />
Um dos seus principais fins é justamente este: educar e preparar pais para que<br />
eles, por sua vez, possam b<strong>em</strong> encaminhar seus filhos, educando-os racionalmente,<br />
dentro de princípios sólidos de valor, honra e justiça, formando-se, assim, caracteres<br />
impolutos, que é o que não se vê atualmente. O mundo atravessa uma grande crise<br />
econômico-financeira, mas a principal, a responsável por aquela é a crise de caráter.<br />
Haja caráter, honra e moral e tudo correrá normalmente.<br />
Para b<strong>em</strong> se formar uma geração forte e valorosa, é preciso educá-la livre de<br />
crendices, bugiganguices, sectarismos e outros absurdos, que só serv<strong>em</strong> para <strong>em</strong>botar e<br />
<strong>em</strong>pedernir o raciocínio dos infantes.<br />
Sábios que reconhec<strong>em</strong> a existência de fenômenos psíquicos<br />
Voltando à medicina diante do <strong>Racionalismo</strong> <strong>Cristão</strong>, quero frisar o espanto que<br />
causa a qualquer estudante, que de fato estude e que investigue com dedicação as coisas<br />
sérias da vida, o abandono <strong>em</strong> que jaz qualquer estudo referente à alma e não à matéria<br />
organizada. Realmente, depois de se ler William Crookes, Challis Morgan, Lodge,<br />
Lombroso, Charles Richet, Aksakof e muitos outros, que afirmam existir<strong>em</strong> fenômenos<br />
psíquicos e nos aconselham a conhecê-los e a sobre eles d<strong>em</strong>orarmos o nosso raciocínio,<br />
não se compreende o descaso, atualmente, <strong>em</strong> que a ciência oficial deixa tais estudos.<br />
Nas Sessões Públicas de Limpeza Psíquica, do Centro Redentor, tenho assistido a<br />
diversos fenômenos tais como os de desobsessão, cura de enfermos declarados<br />
incuráveis por médicos de grande nomeada; limpeza astral feita pelas Forças Superiores,<br />
e muitos outros dignos de meditação, estudo e averiguação.<br />
Agir e reagir prontamente<br />
Agir e reagir prontamente, mover guerra à mentira e a tudo que esteja fora da<br />
razão e do bom senso é o dever imediato da juventude do século <strong>em</strong> que viv<strong>em</strong>os.
O PROBLEMA SOCIAL VISTO POR DOIS GRANDES BRASILEIROS:<br />
PONTES DE MIRANDA E PROCÓPIO FERREIRA<br />
O que nos disse o grande pensador, pol<strong>em</strong>ista, filósofo, escritor e jurista<br />
brasileiro Pontes de Miranda sobre o probl<strong>em</strong>a social.<br />
Uma carta do maior dos nossos atores; daquele que tanto t<strong>em</strong> concorrido para o<br />
progresso do teatro nacional, do chamado “um para quarenta milhões”: Procópio<br />
Ferreira.<br />
Pontes de Miranda<br />
Pontes de Miranda é uma das figuras de maior repercussão social no nosso meio.<br />
As suas muitas obras, as suas inúmeras conferências, polêmicas <strong>em</strong> torno dos<br />
probl<strong>em</strong>as sociais que no momento agitam a humanidade, consagraram-no no nosso<br />
país como um dos nossos maiores sociólogos. Nada mais eloqüente para confirmar esta<br />
nossa opinião do que a curiosidade que vai nos meios culturais do país <strong>em</strong> torno da<br />
figura de Pontes de Miranda. Ainda há b<strong>em</strong> pouco, S. Exa. realizou um curso de<br />
sociologia na Biblioteca Nacional, ao qual acorreram muitos estudantes de nossas<br />
Faculdades Superiores, professores, etc., confirmando mais uma vez o alto conceito <strong>em</strong><br />
que é tido.<br />
Tornava-se, assim, um dever incluir num livro que se destinava a acadêmicos, a<br />
opinião valiosa e autorizada de Pontes de Miranda.<br />
Talvez, para alguns, constitua motivo de admiração que, num livro espiritualista,<br />
seja incluída a opinião de dois materialistas, tais como Pontes de Miranda e Procópio<br />
Ferreira.<br />
Mas, incorre num erro qu<strong>em</strong> assim raciocinar. O nosso livro não é materialista<br />
n<strong>em</strong> espiritualista: debate ideal e aborda assuntos que muita interessam à juventude<br />
atual. Visávamos, de feito, obter algumas opiniões sobre o <strong>Racionalismo</strong> <strong>Cristão</strong>,<br />
assunto principal <strong>em</strong> torno do qual gira a presente obra. Mas, julgamos que faríamos<br />
obra desinteressante que, <strong>em</strong> absoluto, não poderia satisfazer aos nossos colegas de<br />
universidades se não debatêss<strong>em</strong>os idéias do século e, dentre elas, ocupa lugar de<br />
destaque tudo o que se: refira ao probl<strong>em</strong>a social. Assim pensando, procuramos com o<br />
maior prazer obter entrevistas de Pontes de Miranda e Procópio Ferreira. Do primeiro<br />
obtiv<strong>em</strong>os as seguintes declarações:<br />
Seleção biológica e sociologia<br />
Pergunta-me o acadêmico Bernardo Scheinkman se o verdadeiro espiritualismo e<br />
o marxismo têm a mesma finalidade.<br />
Preliminarmente, não sei o que seja e qual seja o "verdadeiro espiritualismo";<br />
tantos há e tantos hão de surgir por esse mundo de variações quase individuais de<br />
crenças! D<strong>em</strong>ais, não há correlação necessária entre o avançar para a solução eqüitativa,<br />
ou radicalmente igualitária do probl<strong>em</strong>a econômico e da distribuição da cultura<br />
(socialismos utópicos, socialismo nacional e socialismo internacional ou universalista) e<br />
o ser espiritualista ou materialista.<br />
Quase todos os materialistas ríspidos do Século XX, provindos de filósofos<br />
al<strong>em</strong>ães biologistas ou biologizantes, com alguns dos quais convivi, e t<strong>em</strong>os muitos no
Brasil, são, politicamente, da direita. Só souberam extrair do muito ou do pouco que<br />
aprenderam na biologia o fácil e errado corolário do laissez aller como facilitação do<br />
processo “salve-se qu<strong>em</strong> puder” da seleção natural. De passag<strong>em</strong>, observ<strong>em</strong>os que tais<br />
pensadores superficiais não viam, n<strong>em</strong> vê<strong>em</strong>, entre a seleção biológica e sociológica a<br />
diferença importantíssima da existência de meios artificiais, como as heranças de<br />
fortunas que perturbam e invert<strong>em</strong>, por vezes, o processo seletivo.<br />
Se, no haras ou nas matas, estabelecermos contabilidade para que uns cavalos<br />
tenham verbas maiores de alimentação e de alojamento ou animais bravios comam e se<br />
aninh<strong>em</strong> <strong>em</strong> função das suas responsabilidades nos livros de um abstrato controller, de<br />
certo que se não realizará aquela eliminação que Darwin descreveu e por tantos modos<br />
diferentes os biólogos posteriores pensaram e repensaram.<br />
Espiritualistas e materialistas da esquerda e da direita<br />
Por outro lado, se é certo que há espiritualistas da esquerda e quer<strong>em</strong> a renovação<br />
social <strong>em</strong> termos de tecnicidade e de justiça humana, há-os também do mais estreito<br />
reacionarismo, intimamente ligados e associados aos mais torpes processos de<br />
exploração humana.<br />
Por isso, s<strong>em</strong>pre entendi que dev<strong>em</strong>os pôr o probl<strong>em</strong>a de recomposição s<strong>em</strong> a<br />
preocupação de separações filosóficas. Naturalmente, o que interessa saber é quais são e<br />
onde estão os que quer<strong>em</strong> esta recomposição e até onde a quer<strong>em</strong>, e não qual colorido<br />
metafísico ou só sentimental da sua religiosidade ou suspeita de outra vida. Basta<br />
pensarmos <strong>em</strong> que os primitivos cristãos e alguns arcebispos e bispos posteriores foram<br />
comunistas, como Lenine e Stalin, e <strong>em</strong> que há centenas de descrentes que defend<strong>em</strong> a<br />
canhões, a velha injustiça.<br />
O mundo marcha para o socialismo integral<br />
Para onde caminha a humanidade e como ela chegará ao término da jornada que<br />
ora <strong>em</strong>preende?<br />
Dois fatos mostram b<strong>em</strong>, nos nossos dias, o nosso futuro próximo.<br />
Os dois maiores blocos de população civilizada e de territórios nacionais, os<br />
Estados Unidos da América do Norte e a Rússia, constitu<strong>em</strong> os dois únicos Estados<br />
técnicos do mundo: Um, ainda no capitalismo individualista e <strong>em</strong> plena crise econômica<br />
e social; outro, <strong>em</strong> verdadeira febre de construção, <strong>em</strong> marcha decidida e heróica para o<br />
socialismo integral. Não é fenômeno s<strong>em</strong> grande significação histórica o entusiasmo de<br />
um pelo outro. Enquanto outros povos estrangulam a liberdade s<strong>em</strong> as compensações da<br />
distribuição mais justa dos bens da vida, os Estados Unidos e a França procuram evitar<br />
que o reacionarismo lance mão das fórmulas fascistas, retardando, com o sacrifício da<br />
liberdade, a inevitável reestruturação econômico-cultural da humanidade.<br />
O verdadeiro caminho será chegar-se a ela com o mínimo possível de tal<br />
sacrifício.<br />
A jornada a que se refere, se a t<strong>em</strong>os de ver até o dobrar dos horizontes, só nos<br />
pode levar a realizações de ainda maior intervenção da inteligência e do bom senso na<br />
solução dos probl<strong>em</strong>as humanos. Porque o bom senso está <strong>em</strong> ir para a frente.<br />
Todos se preocupam muito com o probl<strong>em</strong>a econômico<br />
Atualmente, no mundo, os homens mais se preocupam com o probl<strong>em</strong>a espiritual<br />
ou marxista? perguntamos.
Cada um se preocupa mais com aquilo <strong>em</strong> que crê: mas todos se preocupam<br />
muitíssimo com o probl<strong>em</strong>a econômico.<br />
O que nos convém<br />
Respondendo à sua pergunta se nos convém ou não, imediatamente o socialismo,<br />
direi: Há muitos socialismos. O que nos convém, imediatamente, tenho dito, <strong>em</strong> termos<br />
assaz claros, nos meus livros, principalmente na coleção "Os Novos Direitos do<br />
Hom<strong>em</strong>" e noutra, sob o título “Iniciação Socialista”. Afasto qualquer idéia de um<br />
partido socialista a lutar dentro da d<strong>em</strong>ocracia envolvente; o Estado é que t<strong>em</strong> de ser<br />
socialista nos seus fins, e <strong>em</strong> todos os partidos (desde que haja pluripartidarismo) têm<br />
de respeitar os fins precisos. Fora daí só poderá existir fascismo (adiamento e agravação<br />
da luta) ou preparação para o golpe radical.<br />
No capitalismo são insolúveis os probl<strong>em</strong>as educativos<br />
Quais os resultados que traria ao nosso país uma educação sexual b<strong>em</strong><br />
encaminhada, a fim de esclarecer a nossa mocidade sobre o magno probl<strong>em</strong>a sexual?<br />
Não preciso dizer-lhe qual a importância que dou a todo o probl<strong>em</strong>a de educação,<br />
inclusive o sexual, e, mais ainda, o de educação de todo o organismo. Aí está a biologia<br />
criminal com todo o seu fulgor. Como, porém, chegar a resultados globais, ponderáveis,<br />
de educação sexual, s<strong>em</strong> os meios materiais e morais e sob a ação degenerante e<br />
eticamente conspurcante do capitalismo opressor e sustentador de todas as espécies de<br />
prostituição?<br />
Só o Estado Socialista poderá ir por diante na obra profunda da moralização do<br />
hom<strong>em</strong> e da mulher.<br />
Combate ao fascismo!<br />
De que maneira deve ser combatido por nós o fascismo?<br />
O fascismo deve ser combatido com todas as armas.<br />
Defender a liberdade é o dever da mocidade acadêmica.<br />
Por fim, perguntamos ao nosso ilustre entrevistado: Quais os deveres da<br />
mocidade acadêmica mundial? Quais os deveres da mocidade acadêmica do Brasil?<br />
À primeira pergunta dificilmente poderia responder. Cada povo t<strong>em</strong> o seu<br />
probl<strong>em</strong>a com aspectos diferentes. Em todo caso, todos os moços, nos povos que têm<br />
liberdade, precisam defendê-la, e alistar-se entre os que quer<strong>em</strong> renovação social <strong>em</strong><br />
termos de justiça humana.<br />
Os moços do Brasil precisam: pugnar pela escola única, desde o curso primário ao<br />
curso superior, para que com eles venham concorrer os el<strong>em</strong>entos fortes de toda a<br />
população; defender os restos da liberdade que ainda jaz<strong>em</strong> sobre as cinzas do período<br />
que viv<strong>em</strong>os; mas, principalmente, fazer<strong>em</strong>-se técnicos, homens que saibam de verdade,<br />
homens dignos da nossa era e do nosso destino, para os grandes dias que vão vir.
Procópio Ferreira<br />
Procópio Ferreira, o maior ator do Brasil, é um grande estudioso. Não gasta ele<br />
as suas horas de lazer, e são b<strong>em</strong> poucas, senão no estudo e na meditação.<br />
Sob o ponto de vista revolucionário, t<strong>em</strong> ele realizado uma obra de real valor,<br />
representando, com a perfeição que lhe é peculiar, peças de verdadeiro valor,<br />
criticando e ridicularizando os aspectos sumamente ridículos deste regime horrível e<br />
imperfeito <strong>em</strong> que viv<strong>em</strong>os. Dentre elas, celebrizou-se a de Joraci Camargo, “Deus lhe<br />
pague”, que tão b<strong>em</strong> d<strong>em</strong>onstra a podridão do regime burguês.<br />
Não sei se Procópio é o ídolo da cidade, mesmo porque não estou <strong>em</strong> contacto<br />
com todas as classes do Rio. O que, conscient<strong>em</strong>ente, posso afirmar é que Procópio é o<br />
ídolo dos estudantes, que lhe votam uma admiração e amizade indescritíveis. E<br />
Procópio também, através de inúmeros atos seus, t<strong>em</strong> d<strong>em</strong>onstrado ser nosso amigo.<br />
Finalizando, transcreverei as primeiras linhas que escrevi por ocasião de uma<br />
entrevista que Procópio Ferreira me concedeu, quando eu era redator da revista “Vida.<br />
Automobilística”.<br />
“Procópio Ferreira é um vencedor. Muito moço, estudou, trabalhou e vai<br />
colhendo os louros magníficos dessa vitória esplêndida. Mas não pára, não se perturba<br />
com o êxito alcançado e estuda e progride s<strong>em</strong>pre.<br />
Inteligente e culto, constituiu para o jornalista um prazer ouvir o artista<br />
consagrado que não se limita às respostas, que aborda os assuntos com visão<br />
superior".<br />
Procuramos o grande ator brasileiro para que nos dissesse algo para o nosso<br />
livro. Como resposta, obtivermos a seguinte carta, que faz<strong>em</strong>os questão de publicar na<br />
íntegra, pela sua franqueza e atitudes definidas do seu autor.<br />
Prezado amigo Bernardo Scheinkman.<br />
Tenho o prazer de responder à sua carta, como me é possível, neste momento:<br />
Preliminarmente,<br />
O questionário apresentado pelo amigo, na forma de uma simples enquete sobre as<br />
preferências pessoais dos astros de cin<strong>em</strong>a, d<strong>em</strong>andaria o trabalho de compor uma<br />
enciclopédia dos r<strong>em</strong>otos conhecimentos humanos e dos conhecimentos que só agora<br />
adquire a humanidade. Cada uma de suas perguntas exige uma resposta segura e que<br />
não resistiria à síntese mais perfeita. Eis porque, de forma alguma, eu as poderia dar, a<br />
menos que resolvesse tornar-me autor de obras que só pelo t<strong>em</strong>a e pela extensão<br />
imporia o meu nome à consideração dos cont<strong>em</strong>porâneos, e, talvez, dos que vêm<br />
amanhã . . .<br />
Todavia, direi que:<br />
I - O que diz do espiritualismo como ciência?-<br />
O espiritualismo é uma ciência que se chama psiquismo.<br />
II - No universo está muito desenvolvido o espiritualismo?<br />
O espiritualismo (espiritismo, como quer o amigo) já entrou <strong>em</strong> franco declínio,<br />
por força do materialismo triunfante.<br />
III - O espiritualismo prático, o espiritismo, tende a se impor á humanidade?<br />
Nada mais se imporá á humanidade, fora das verdades materiais.
IV - Pode fazer um paralelo entre espiritualismo e materialismo?<br />
O paralelo já está feito: o que existe e o que não existe...<br />
V - Para onde caminha a humanidade, e como chegará ao fim do roteiro que<br />
<strong>em</strong>preende?<br />
Estou com João Ribeiro: Para o comunismo .<br />
VI - O marxismo será a forma política que dominará o mundo?<br />
Prejudicada pela precedente.<br />
VII - Pode dar-nos uma idéia do que representará para a humanidade uma<br />
radical transformação social?<br />
A felicidade.<br />
VIII - Qual o papel destinado ao Brasil por ocasião desta transformação?<br />
Não haverá papéis diferentes para os países.<br />
IX - Qual deve ser a atitude da mocidade acadêmica do nosso país?<br />
Estudar o materialismo histórico e ... nada mais.<br />
X - Quais os principais fatores de estarmos tão atrasados socialmente falando?<br />
Ignorância e todas as desonestidades dos homens políticos.<br />
XI - Por que permanece o nosso povo inculto e doente?<br />
Por causa do capitalismo. . ,<br />
XII - É ou não a ciência oficial grande criminosa? Por que?<br />
É. Capitalismo ...<br />
E assim, meu caro amigo, termino, julgando indispensável dizer-lhe, <strong>em</strong><br />
substituição às laudas que poderia, inutilmente, escrever, que se há um r<strong>em</strong>édio geral,<br />
definitivo, cômodo e prático: REVOLUÇÃO. Não me vá denunciar à polícia...<br />
E creia-me seu admirador.<br />
Procópio Ferreira