Tese Lidia Nazaré - UFF

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13.04.2013 Views

como “dar uma banana” afinal, cada um se apóia no que tem. Quem não tem uma linguagem articulada apóia nalguma parte do corpo. Resumindo. Por encontrar-se sob pressão psicológica ele aperta a mão. Os “senhores da Academia” lêem aquele gesto de forma positiva, porque eles fazem isso antes de iniciar uma fala, como se dissessem em linguagem articulada “pois bem”, um ponto de partida, um grão de voz. Significa que o que ele vai proferir é algo verdadeiro, digno de fé, com efeito, para ele, o gesto é em si nada, ponto de apoio. Quando muito um ato natural de quem está passando um grande aperto por sentir-se coagido: ter que expressar uma vida original, entremeando as palavras velhas dos seus amestradores com a sua própria “palavra franca”. O sentido da frase-crítica só pode ser compreendido se ela for lida literalmente. Acrescentar “a palavra franca” ao primeiro aperto de mão que aparece sem complemento algum. Acréscimo que ocupa o lugar da locução “testemunho de franqueza” no termo repetido, já colonizado. Acrescentar a “palavra franca” significa que falta àquele gesto uma palavra que consiga significá-lo, ou ainda que aquele gesto nada significa, é uma reação natural, ou ainda que aquele gesto não precisa ter um significado à priori. Muitos podem ser os sentidos do referido gesto numa comunidade acadêmica: temos, desconforto inclusive. Neste caso “a palavra franca” aqui marca um vazio que a locução anterior não é suficiente para preencher. Que palavra é esta? Ele já deu a “linha de orientação” para a compreensão desta palavra. Assim todas as palavras que têm seus sentidos escoados ao longo do texto, abrindo-lhe “uma fresta”, “uma saída” um hiato entre o ser e o dizer, podem ser tomadas como “palavra franca”. O leitor percebe nesses vazios limitações, arbitrariedades ideológicas, manipulação. 97

“Não ensinará nada essencialmente novo à Academia e ficará muito aquém do que se exigiu de mim e daquilo que, mesmo com a maior boa vontade, eu não posso dizer”. Esta “palavra franca”, essencial não ensinará “nada essencialmente novo” à Academia, porque neste ambiente ela não tem um significado específico, ela significa por si mesma, trata-se de uma linguagem na sua natureza selvagem, que nada diz a menos que seja abordada por outros sentidos. Se abrirmos uma cena de ironia no texto ela não ensinará nada “essencialmente novo” porque já existe um consenso entre eles quanto ao significado das palavras, tanto é assim que ele só tem o poder de acrescentar a “palavra franca” àquele grupo – na perspectiva daquele grupo - porque ele já faz parte dele. Responde aos seus comandos. Ele não precisa fazer nada, porque tudo o que fizer ganhará um sentido imediato. É só alguém dizer que o gesto significa aquilo e pronto. O fato da palavra “franca” ficar muito “aquém” do que se exigiu dele fica explicado na redução que ele fez na palavra inicial “testemunho de franqueza” ao optar pelo seu radical “palavra franca”. Se eu abrir aqui uma segunda cena de ironia este “aquém” está sendo dito na perspectiva daqueles senhores. Na dele o termo significa o oposto do que ele usou, ou seja, além. Neste caso ele acena para a contingência da palavra representativa, alegoricamente, neste ponto a partir do qual ele a manipula e faz ver que para aqueles membros só é válido o que gira em torno de sua linguagem instrumental. Mas o que ele não pode dizer? O que ocorreu com ele numa “palavra franca”. A vida anterior dele necessita ser abordada por uma linguagem anterior: “palavra franca”. E esta palavra não pode ser dita “eu não posso dizer”, já que não é representável pelo simbólico. Está na ordem do inominável. 98

como “dar uma banana” afinal, cada um se apóia no que tem. Quem não tem uma<br />

linguagem articulada apóia nalguma parte do corpo.<br />

Resumindo. Por encontrar-se sob pressão psicológica ele aperta a mão. Os<br />

“senhores da Academia” lêem aquele gesto de forma positiva, porque eles fazem isso<br />

antes de iniciar uma fala, como se dissessem em linguagem articulada “pois bem”, um<br />

ponto de partida, um grão de voz. Significa que o que ele vai proferir é algo verdadeiro,<br />

digno de fé, com efeito, para ele, o gesto é em si nada, ponto de apoio. Quando muito<br />

um ato natural de quem está passando um grande aperto por sentir-se coagido: ter que<br />

expressar uma vida original, entremeando as palavras velhas dos seus amestradores com<br />

a sua própria “palavra franca”.<br />

O sentido da frase-crítica só pode ser compreendido se ela for lida literalmente.<br />

Acrescentar “a palavra franca” ao primeiro aperto de mão que aparece sem<br />

complemento algum. Acréscimo que ocupa o lugar da locução “testemunho de<br />

franqueza” no termo repetido, já colonizado.<br />

Acrescentar a “palavra franca” significa que falta àquele gesto uma palavra que<br />

consiga significá-lo, ou ainda que aquele gesto nada significa, é uma reação natural, ou<br />

ainda que aquele gesto não precisa ter um significado à priori. Muitos podem ser os<br />

sentidos do referido gesto numa comunidade acadêmica: temos, desconforto inclusive.<br />

Neste caso “a palavra franca” aqui marca um vazio que a locução anterior não é<br />

suficiente para preencher. Que palavra é esta? Ele já deu a “linha de orientação” para a<br />

compreensão desta palavra. Assim todas as palavras que têm seus sentidos escoados ao<br />

longo do texto, abrindo-lhe “uma fresta”, “uma saída” um hiato entre o ser e o dizer,<br />

podem ser tomadas como “palavra franca”. O leitor percebe nesses vazios limitações,<br />

arbitrariedades ideológicas, manipulação.<br />

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