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Tese Lidia Nazaré - UFF

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partir deste princípio, quando desejamos devolver à linguagem a sua origem. Contudo,<br />

os comentários, neste caso, acontecem em torno de uma mesma idéia: a revelação da<br />

verdade que a palavra adâmica pode realizar. Assim, ainda que o resgate desta palavra<br />

seja mediatizado pelo comentário, as idéias a ela ligadas correm o risco de se<br />

converterem em estereótipos, através da “lembrança” e da “reatualização”. E isso atrofia<br />

o pensamento. 42<br />

Os fundamentalistas acabam convertendo a palavra ritual, condutora, em palavra<br />

política, sedutora, e com isso o verbo encarnado não se revela. O pensamento<br />

racionalizado, cristalizado, preconcebido está atrofiado para o transcendente. Este, que<br />

se manifesta em diferentes linguagens, não encontra lugar propício para sua revelação.<br />

Franz Kafka está em busca daquela palavra primeira da Halacha, palavra<br />

original, do verbo feito carne, portanto. Só que esta palavra em Franz Kafka é um grão<br />

de voz, quase não se pode tocá-la. Em virtude de sua fluidez ela está aberta a outros<br />

comentários que nada tem a ver com o texto sagrado e, além disso, pode ser convertida<br />

em sopro como a palavra clariceana. Só é fonte de revelação em determinado contexto<br />

e, depende do leitor para realizar-se neste aspecto. Por isso é que depois de estarem<br />

deitadas como feras mansas aos pés da doutrina, já que são “parábolas” (Gleichnis) e<br />

mantém o “tom” da originalidade, “erguem uma poderosa pata contra ela” ou seja vão<br />

para além do sagrado. Com isso problematiza sua própria capacidade de revelação,<br />

como se esta também, convertida em discurso, fosse ideológica.<br />

42 Venho observando que o número de igrejas multiplica-se da noite para o dia. Nas festas coletivas o<br />

espaço é aberto para manifestações religiosas distintas. Se bem que nem todas. O nome de Deus<br />

encontrava-se em toda parte no milênio passado e neste. Observava, com um grupo de alunos e amigos,<br />

que no ano de 2006 participei de uma formatura do Curso de Filosofia. Na ocasião o nome de Deus foi<br />

lembrado diversas vezes, só correu o risco de perder para outra expressão utilizada entre alunos e<br />

professores como forma de delicadeza: “Você é dez”. Mas não perdeu, porque todo discurso começava<br />

agradecendo a Deus e terminava com a expressão “Você é dez”. Na metade da cerimônia já não era mais<br />

necessário a utilização da frase no final dos discursos. A platéia já dizia em uníssono: “você é dez”.<br />

Tantos graduados e de diferentes áreas evocando o nome de Deus e sendo dez devia ser um alívio para<br />

todos. Por um momento duvidei que toda aquela cerimônia acontecia no meu país.<br />

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