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Tese Lidia Nazaré - UFF

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“sulco” (LACAN, 1986, p. 28) de um destes significados que só pode ser compreendido<br />

naquele contexto: a sua serventia para a proteção dos perigos da floresta: os “bantus”.<br />

É preciso então ressensibilizá-lo ali, onde a linguagem manifesta-se em seu<br />

próprio ser. Na verdade os “likoualas” moram sobre as árvores para se protegerem dos<br />

“bantus”. De forma que este “machado pequeno” é inútil para protegê-los. Tal<br />

inutilidade faz-me entender que ele ajusta-se melhor ao contexto brasileiro, uma vez que<br />

os índios sim serviam-se deste instrumento. O som de tambor evoca qualquer prática<br />

ritual primitiva. Mas lembra, por analogia, o som do nosso carnaval e o poder que esta<br />

festa tem de atrair os estrangeiros.<br />

Esta tendência ao continuun da História neste passado que se faz presente<br />

alegoricamente, faz com que seja aberto no texto um estado de emergência. O teor<br />

revolucionário desta abertura está sinalizado pelo “machado pequeno”, que se de nada<br />

vale por ser pequeno, vale muito por ser simbólico. Estou atenta para a inadequação do<br />

termo simbólico. Clarice Lispector evita os símbolos optando pela alegoria, mas o<br />

machado parece soprar, por analogia, outra palavra que é símbolo de revolução<br />

“Martelo”. Precisamos estar sempre atentos para uma expressão costumeira de Lúcia<br />

Helena (2007): que a palavra poética é trágica, somente esbarra no significado. Ademais<br />

o texto literário reside na esfera do simbólico e para os “likoualas” ele simboliza um<br />

sinal de alerta.<br />

Outrora os Portugueses e os Indígenas, agora os estrangeiros e os mestiços. O<br />

bom selvagem de outrora metamorfoseado no bom mestiço de agora. Outrora a<br />

colonização dos bens culturais pela imposição de um código lingüístico. Agora a<br />

colonização dos mesmos bens só que advinda da automatização daquele código. Outrora<br />

pentes, espelhos e bugigangas eram trocados por pérolas, pedras preciosas, pau-brasil.<br />

Agora as mesmas bugigangas, só que estilizadas pelo brilho falso das antigas e<br />

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