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sua obra, no capítulo anterior, e especificamente no conto “A menor mulher do mundo”,<br />
de 1966, no qual me deterei a partir de agora. Este “fazer falar” a forma da palavra é<br />
uma maneira de resguardá-la a fim de não ser utilizada para fins instrumentais, que<br />
automatizam o pensamento, deixando-o a mercê de idéias redutoras.<br />
No conto “A menor mulher do mundo”, o narrador pronuncia-se sobre o som:<br />
“[o]s likoualas usam poucos nomes, chamam as coisas por gestos e sons animais” (LF,<br />
p. 79). Observo que o narrador realça a importância do nome mas que, além deste<br />
perscruta uma marca original menos material que ele: o som animal. Esta observação<br />
pode ser conferida também no desenho da frase. O termo mais compreensível deste<br />
conjunto, o nome, realiza uma trajetória de volta para o lugar de onde veio, ou seja, para<br />
o som 38 . Servindo-me do valor instrumental da linguagem posso explicar a frase. Trata<br />
de uma travessia da ordem para o caos. Nós compreendemos bem o nome , mas não<br />
compreendemos bem os gestos e os sons animais. Excedendo ao caráter utilitário da<br />
linguagem, podemos perceber que esta frase fala. Compreendemos bem o que estamos<br />
lendo, mas a linguagem gestual e sonora dos animais, que não compreendemos,<br />
encontra-se sugerida na seqüência dos fonemas /s/ que emitem a linguagem da serpente.<br />
Em pequena aprendi que a cobra “silva”. Neste caso, estamos diante de um signo<br />
propositalmente motivada.<br />
Neste recuo o narrador faz ver que mesmo o nome comum pode ser manipulado,<br />
motivo pelo qual ele deve ser mantido sempre sob vigilância. De fato, a personagem<br />
principal do conto, “Pequena Flor”, é capturada por este nome, pelo explorador, e este,<br />
por sua vez, é capturado pelo seu nome – no que ele tem de comum - pelo narrador. 39 .<br />
Esta atitude do narrador faz-nos entender o motivo pelo qual Clarice Lispector procura<br />
manter o nome sempre original. Aqui ela o faz, mediado por ele, manipulando o seu<br />
38 A trajetória gramatical seria do som ao nome. Até na organização das gramáticas este procedimento é<br />
respeitado.<br />
39 Cf. Cap. IV.<br />
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