13.04.2013 Views

Tese Lidia Nazaré - UFF

Tese Lidia Nazaré - UFF

Tese Lidia Nazaré - UFF

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

uína, em virtude dos vencedores subjugarem os vencidos, em virtude sobretudo da<br />

História destes ser calada na História daqueles. Lacan (1986) por sua vez, vê a<br />

sociedade como “esgoto”, em virtude do “ter” fazer dejeto do nosso ser. Partindo deste<br />

pressuposto, creio que as personagens de Clarice Lispector se encontram subjugadas por<br />

este processo de modernização que desumaniza o homem, convertendo-o em<br />

mercadoria.<br />

O status da mercadoria é produzido pela arte persuasiva, da palavra<br />

principalmente. A literatura é arte da palavra. Sendo ela um espaço que viabiliza uma<br />

reflexão mais acurada sobre o modo como o mundo é organizado, deve iluminar o<br />

processo de modernização com os bens e os males que dele advém. Suas personagens<br />

encontram-se bem e num instante desestabilizam-se. No coração da modernidade<br />

reencontram-se. Nesta travessia elas vão se decompondo. A linguagem utilizada para<br />

compô-las vai de decompondo também. Nas páginas vão se amontoando os restos da<br />

linguagem de que elas foram construídas. Elas alcançam o sopro de vida. A linguagem<br />

alcança a letra pura, literal, que nada diz, mas que está ali, em sua condição primeira.<br />

Ambas, personagem e linguagem purificam-se, alcançam a condição adâmica.<br />

Tocam o demoníaco ao descerem aos infernos e o sagrado ao ressurgirem modificadas.<br />

A literatura de Clarice Lispector mimetiza a destruição construtiva da história: é uma<br />

acomodação dos restos, como diria Lacan (1986), mas também espaço que se nos abre<br />

para o alcance da transcendência, conforme eu acredito. No primeiro caso estamos<br />

diante do “o transitório, o fugidio, o contingente”, restos provenientes da recuperação<br />

do “traço unário” (Lacan, 1986) que subsiste o sujeito. No segundo caso, estamos diante<br />

do eterno e o imutável.<br />

Objetivando fazer tal palavra “falar” a partir de sua forma Clarice Lispector<br />

explora tanto o seu som quanto o seu sopro, como procuro demonstrar, no conjunto de<br />

79

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!