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semelhante a um fantasma que vai ganhando formas, sendo preenchido pela vida<br />
original da personagem.<br />
O que escoa da barata é a vida que, antes de se desfazer totalmente, traz à tona a<br />
vida que estava inerte, ou seja, a vida de G.H. Neste caso ela comunga a vida que,<br />
semelhante à hóstia do imaginário mítico-cristão, não contém sabor material, porque<br />
encerra em si a própria coisa que ali subjaz para alimentar o espírito: Jesus Cristo.<br />
Também o signo vai sendo rasurado até alcançar seu traço primeiro que é a letra pura,<br />
literal que está no real.<br />
Observo que o que ela comunga, o que lhe dá a vida, está fora e ao mesmo<br />
tempo dentro dela mesma. É o outro dela apagado. Digo isto porque percebo uma<br />
motivação fonemática entre os nomes G.H. e JHS. No imaginário mítico-cristão a hóstia<br />
contém Jesus. E nela estão gravadas três letras “JHS” que significa: Jesus Hóstia Santa.<br />
O que escoa da barata é a vida que se entrega para trazer à luz outra vida que jazia<br />
sufocada. É um amor sem reciprocidade.<br />
É a impossibilidade de não ver esta doação, que predispõe G.H. para a travessia<br />
do amor para a paixão. Neste momento em que ela reconhece esta doação, ela é<br />
acometida pela graça. Contudo, quando experimenta alimentar-se do neutro da barata,<br />
animal “imundo”, ela quase cai em desgraça “pois o inexpressivo é diabólico. Se a<br />
pessoa não estiver comprometida com a esperança, vive o demoníaco” (PSGH, p. 104).<br />
No imaginário cristão comunga-se a própria condenação.<br />
E, mais que isso, experimenta a paixão de Cristo “[a] condição humana é a<br />
paixão de Cristo” e a linguagem o “esforço humano” de buscá-la (PSGH, p.179). Não é<br />
por acaso que G.H. necessita, e pede a companhia do leitor para adentrar esta esfera do<br />
sagrado, que toca com suas fímbrias o demoníaco. É que no referido imaginário não se<br />
pode tomar a comunhão sem comungar antes, o irmão. O que justifica o leitor que<br />
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