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Tese Lidia Nazaré - UFF

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olham para ela - pessoas metaforizadas na figura do cego - a menos que algo muito<br />

estranho lhes chame as atenções.<br />

Não é por menos que ela ficou assustada com aquele homem, que ela não sabia<br />

ser cego, acenando para ela. Quando o narrador disse que “quem a visse teria a<br />

impressão de uma mulher com ódio” (LF, p. 20), ele estava afirmando que ela estava<br />

mesmo com ódio.<br />

A cena impressionista desenha habilmente a imagem e a movimentação dela.<br />

Quando disse “[o] movimento da mastigação fazia-o parecer sorrir e de repente deixar<br />

de sorrir, sorrir e deixar de sorrir – como se ele a tivesse insultado” (LF, p. 20), ele<br />

estava dizendo que ela estava se sentindo insultada mesmo.<br />

É importante notar que o narrador disse que o homem era cego antes de Ana<br />

perceber isso. De forma que as impressões que ele causou nela, eram-lhes reais: Ela<br />

estava com “ódio” dele e pensou que ele a estava “insultando”, porque ela acreditou que<br />

ele a tinha reconhecido. Por isso o narrador interpelou o leitor “[o] que havia mais que<br />

fizesse Ana aprumar em desconfiança?” (LF, p. 20) respondendo, logo após, com uma<br />

evasiva “[e]ntão ela viu: o cego mascava chicles... Um homem cego mascava chicles”<br />

(LF, p. 20).<br />

Esta repetição parece sugerir que o narrador continua procurando o motivo pelo<br />

qual o cego causou reação de desordem em Ana. Sua explicação repetida não tem<br />

sentido, sugere, antes, a falta de sentido, posto que rasura, desgasta o sentido anterior. O<br />

desconhecimento do narrador impele o leitor para a busca de um motivo que justifique a<br />

ação de Ana. Ela está com ódio.<br />

Somente depois que reconheceu a sua cegueira é que este sentimento passou,<br />

cedendo seu lugar ao amor, à piedade, à culpabilidade e ao desequilíbrio advindo do<br />

motivo pelo qual ele a desestabilizou, ou seja a possibilidade de ele a ter reconhecido do<br />

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