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Tese Lidia Nazaré - UFF

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abre como uma escritura, a partir da qual é possível serem expostos os seus problemas.<br />

A preocupação de Ana com a mercadoria pode ser compreendida a partir da sua imagem<br />

visual diante das compras, deformando o novo saco. Mas para entender isso é preciso<br />

ler a frase da mesma forma que li a palavra “decorativo” neste segundo momento, ou<br />

seja: de forma menos usual.<br />

A frase vem escrita assim: “[u]M POUCO cansada, com as compras deformando<br />

o novo saco de tricô, Ana subiu no bonde”. Mas precisamos mudar a entonação se<br />

quisermos entender que na explicação entre vírgulas está o motivo do cansaço de Ana,<br />

ou seja: as compras deformando o novo saco de tricô, causam UM POUCO de cansaço<br />

em Ana. Não se trata de cansaço, aqui, mas de desconforto. Vamos retomar todo o<br />

trecho: “[u]M POUCO cansada, com as compras deformando o novo saco de tricô, Ana<br />

subiu no bonde. Depositou o volume no colo e o bonde começou a andar. Recostou-se<br />

então no banco procurando conforto, num suspiro de meia satisfação” (LF, p.17).<br />

Essa idéia pode ser explicada nas outras imagens que a linguagem perceptiva<br />

produz. Eu disse antes que diante da imagem “tão bonita” em decomposição do Jardim<br />

Botânico Ana “teve medo do inferno” (LF, p. 25). O “teve” aqui está relacionado com<br />

posse, reciprocidade. Sua vida familiar anterior ao encontro com o cego, estava<br />

ancorada no “ter” e não no ser, no possuir e não no sentir. No primeiro caso: “sempre<br />

tivera necessidade de sentir a raiz” (LF, p. 18), “antes de ter o lar” (LF, p. 18) e “os<br />

filhos que tivera” (LF, p.18) eram bons. A vida de casada ela “[c]riara em troca” (LF, p.<br />

19) da vida anterior ao casamento. Por isso “[q]uando nada mais precisava de sua força,<br />

inquietava-se” (LF, p. 18). No segundo caso: “na sua vida não havia lugar para que<br />

sentisse ternura” (LF, p. 19). Assim é possível dizer que o “inferno” esteja relacionado<br />

com tudo que diz respeito ao “ter”, ao ser possuída.<br />

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