Tese Lidia Nazaré - UFF
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para o europeu, antigo colonizador. Qual seria a nomenclatura para os não brancos e os não negros? Mestiços? Pardos? Amarelos? Nenhum desses termos parece natural. Todos carregam um estigma herdado do passado. Por este caráter binário bem marcado, o ser humano fica rendido em seu pensamento entre o ou isso, ou aquilo. Além disso existe todo um pensamento ocidental referendando e solidificando este princípio. Não é novidade afirmar que o “‘valor`” mais fundamental de todos seja “o princípio da não-contradição” (DE MAN, 1993, p.143). Como afirmar e negar uma mesma coisa ao mesmo tempo? Todavia uma observação desta realidade nos faz entender que as coisas não são bem assim. Não termos habilidades para afirmarmos duas coisas ao mesmo tempo não significa que as duas coisas ao mesmo tempo não possam existir. Sendo assim movemos e acessamos a nossa “realidade” a partir desses dois princípios organizados para acessar a “realidade” do colonizador em seus fins políticos. De qualquer forma, ainda que postulados, são os signos que nos permitem organizar o mundo, formatá-lo, torná-lo real para nós. Mas se não nos damos conta desses aspectos, dessas contingências, tomamos o mundo, o nosso em torno pelo signo que o representa e não por ele mesmo. As mentes iluminadas pelo brilho da moeda estão de posse desse segredo e sabem muito bem como utilizar-se dele. 5. O neo - bezerro de ouro Hoje qualquer significado pode ser colado, sobreposto, num determinado significante e depois fixado para qualquer fim. Esses fins numa sociedade capitalista sempre favoreceram a classe dominante, herdeira de todos os vencedores precedentes. Não podendo por isso serem vistos sem certa desconfiança. O novo significado ganha vida e se faz valer através de sua fixação que se dá pela repetição, com isto cria-se o 27
hábito que automatiza o pensamento. Tanto Clarice Lispector quanto Franz Kafka procuram desgastar o peso do significado da palavra a fim de devolver-lhe o frescor. É assim que o significante “Fantástico” que tradicionalmente significa algo maravilhoso, inocente, próprio para o imaginário, pode servir de isca para nomear um programa da “Rede Globo” que exibe em horário nobre, informações que nada têm a ver com o imaginário, posto já virem explicadas. Fatos reais, geralmente catastróficos e violentos, com cenas hediondas, que em certos filmes de ficção seriam censuradas por acreditarem-nas nocivas à personalidade. Em ambos os casos perde-se a significação primeira do nome tradicional e um novo significado vai sendo construído e este pode ser conduzido para outro, infinitamente. Assim a inocência evocada pelo primeiro código serve para atrair o olhar do telespectador, para fins diversos, dentre os quais, a colonização de seus gostos, a partir de anúncios que entremeiam os quadros apresentados e também a partir dos próprios quadros. Poderíamos perguntar até que ponto as cenas de reconstituição dos crimes não instigam o gosto para o consumo de filmes que exibem temas afins e os males sociais advindos destes “gostos”. Assim também os nomes “Alfa”, “Ômega”, “Pálio” do imaginário mítico-cristão europeu, mas agora nosso também, pode referir-se tanto a Deus e ao tecido amarelado- creme que cobre o “Santíssimo Sacramento” nas procissões da igreja Católica na Itália, quanto a um tipo de carro da marca “Fiat”, esta italiana, e “Chevrolet”. Esse nome “Fiat”, por exemplo, refere-se, no referido imaginário, ao “Sim” de Maria – é de Maria mãe de Jesus que falo. Observe a facilidade com que os nomes, símbolos de proteção, já cristalizados e fixados, no e pelo imaginário mítico-cristão-europeu foram transladados para os carros. Toda a autenticidade primeira dos nomes, marcada pelo seu caráter ritual, a fim de elevar o ser à esfera do sagrado, vem servindo a propósitos políticos. A função social 28
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hábito que automatiza o pensamento. Tanto Clarice Lispector quanto Franz Kafka<br />
procuram desgastar o peso do significado da palavra a fim de devolver-lhe o frescor.<br />
É assim que o significante “Fantástico” que tradicionalmente significa algo<br />
maravilhoso, inocente, próprio para o imaginário, pode servir de isca para nomear um<br />
programa da “Rede Globo” que exibe em horário nobre, informações que nada têm a<br />
ver com o imaginário, posto já virem explicadas. Fatos reais, geralmente catastróficos e<br />
violentos, com cenas hediondas, que em certos filmes de ficção seriam censuradas por<br />
acreditarem-nas nocivas à personalidade. Em ambos os casos perde-se a significação<br />
primeira do nome tradicional e um novo significado vai sendo construído e este pode<br />
ser conduzido para outro, infinitamente. Assim a inocência evocada pelo primeiro<br />
código serve para atrair o olhar do telespectador, para fins diversos, dentre os quais, a<br />
colonização de seus gostos, a partir de anúncios que entremeiam os quadros<br />
apresentados e também a partir dos próprios quadros. Poderíamos perguntar até que<br />
ponto as cenas de reconstituição dos crimes não instigam o gosto para o consumo de<br />
filmes que exibem temas afins e os males sociais advindos destes “gostos”.<br />
Assim também os nomes “Alfa”, “Ômega”, “Pálio” do imaginário mítico-cristão<br />
europeu, mas agora nosso também, pode referir-se tanto a Deus e ao tecido amarelado-<br />
creme que cobre o “Santíssimo Sacramento” nas procissões da igreja Católica na Itália,<br />
quanto a um tipo de carro da marca “Fiat”, esta italiana, e “Chevrolet”. Esse nome<br />
“Fiat”, por exemplo, refere-se, no referido imaginário, ao “Sim” de Maria – é de Maria<br />
mãe de Jesus que falo. Observe a facilidade com que os nomes, símbolos de proteção, já<br />
cristalizados e fixados, no e pelo imaginário mítico-cristão-europeu foram transladados<br />
para os carros.<br />
Toda a autenticidade primeira dos nomes, marcada pelo seu caráter ritual, a fim<br />
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