Tese Lidia Nazaré - UFF

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13.04.2013 Views

Assim, revelar o aspecto cultural desta Ordem estabelecida é o primeiro passo para a busca de uma forma mais humana e menos perspectivista de organização de qualquer Sistema de representação, berço daqueles que fazem acontecer e também daqueles que escrevem a história. A literatura, “além do bem e do mal”, quando descomprometida com a representação “tal qual” da realidade, e com a manipulação severa e perversa deste discurso político, genderizador empenha-se na travessia do atual estágio deste discurso para a sua condição primeira que, para Walter Benjamin é a língua adâmica. Para ele quando esta língua reconhece o objeto como criado, “ela o conhece na sua essência imediata” (GAGNEBIN, 2007, p. 17-8), razão pela qual “os nomes adâmicos só dizem de si, isto é, já do objeto na sua plenitude” (GAGNEBIN, 2007, p. 17-8). É assim que “a cegonha, tão louvada por causa de sua caridade para com seus pais, é denominada em hebraico Chasida, quer dizer, bondosa, caridosa, dotada de piedade” (DURET: apud. FOUCAULT, 1966, p. 59), da mesma forma que “Sus, o nome do cavalo, deriva do verbo Hasas... verbo que significa educar-se, porque, entre os animais que têm quatro pés, o cavalo é o único altivo e bravo, como Job o descreveu no capítulo 39.” (DURET: apud. FOUCAULT, 1966, p.59). Neste ensaio de 1916, estou observando que é a plenitude do nome que o resguarda, é a sua condição de não ser designado e sim de ser um sinal certo e transparente do objeto ou seja de significar. Vê-se que essa forma motivada de organização do signo é menos passível de equívocos e ambigüidades no ato de sua manipulação porque direta, quase literal. O narrador/focalizador do conto clariceano está um busca de um nome que devolva para uma mulher sua identidade alterada, por uma nomeação imprópria. O narrador/focalizador de Franz Kafka, por sua vez, repele o 25

nome recebido e, ao se colocar em busca de sua “palavra plena”, manifesta sua necessidade de devolver à palavra, qualquer que seja, sua condição adâmica. Todavia, essa transparência foi destruída a partir de uma manobra que, substituindo o significado motivado pela designação, racionalizou o signo, convertendo- o em “signo do conhecimento” (FOUCAULT, 1966). Este procedimento desmotivador do signo só foi possível por conta da arbitrariedade estabelecida entre o significante e o significado. Isso não seria um problema se o signo resultante deste processo não reivindicasse a capacidade de representar com exatidão a realidade e o pensamento para fins de comunicação e de organização social. Mas ele reivindica e devido à arbitrariedade a que me referi, ele forja esta realidade, porque não é suficiente para representá-la. É neste “forjar” que o ser humano é “enredado”. Los signos complementan la realidad y la interpretan arbitrariamente mediante el efecto de señalar diferencias, de forma que nos permiten crear significado a partir de esas diferencias, (TRIFONAS, 2007, p. 55) 9 , tudo isso “com la intención de identificar y compreender a que se refieren los signos em el mundo externo (TRIFONAS, 2007, p. 55) 10 . Decerto que a realidade existe ainda que construída. Nós estamos aqui para confirmarmos isso. Acontece que não estamos sós no mundo, por isso ele precisa ser organizado. O processo de organização desta sociedade é registrado pelos signos de distintas naturezas. No Ocidente eles são organizados em termos opositivos que assinalam diferenças, poderiam ter sido organizados de outra forma, certamente. Assim nós acessamos a realidade a partir dessas diferenças. Agora, a realidade não é a mesma em países diferentes, mas os signos que utilizamos para acessá-la são os mesmos. O binômio branco e negro parece pertinente 9 “Os signos completam a realidade e a interpretam arbitrariamente mediante o efeito de assinalar diferenças, de forma que nos permitem criar significado a partir dessas diferenças.” Tradução minha. 10 “com a intenção de identificar e compreender a que se referem os signos no mundo externo.” 26

nome recebido e, ao se colocar em busca de sua “palavra plena”, manifesta sua<br />

necessidade de devolver à palavra, qualquer que seja, sua condição adâmica.<br />

Todavia, essa transparência foi destruída a partir de uma manobra que,<br />

substituindo o significado motivado pela designação, racionalizou o signo, convertendo-<br />

o em “signo do conhecimento” (FOUCAULT, 1966). Este procedimento desmotivador<br />

do signo só foi possível por conta da arbitrariedade estabelecida entre o significante e o<br />

significado. Isso não seria um problema se o signo resultante deste processo não<br />

reivindicasse a capacidade de representar com exatidão a realidade e o pensamento para<br />

fins de comunicação e de organização social. Mas ele reivindica e devido à<br />

arbitrariedade a que me referi, ele forja esta realidade, porque não é suficiente para<br />

representá-la. É neste “forjar” que o ser humano é “enredado”.<br />

Los signos complementan la realidad y la interpretan arbitrariamente mediante el efecto<br />

de señalar diferencias, de forma que nos permiten crear significado a partir de esas<br />

diferencias, (TRIFONAS, 2007, p. 55) 9 , tudo isso “com la intención de identificar y<br />

compreender a que se refieren los signos em el mundo externo (TRIFONAS, 2007, p.<br />

55) 10 .<br />

Decerto que a realidade existe ainda que construída. Nós estamos aqui para<br />

confirmarmos isso. Acontece que não estamos sós no mundo, por isso ele precisa ser<br />

organizado. O processo de organização desta sociedade é registrado pelos signos de<br />

distintas naturezas. No Ocidente eles são organizados em termos opositivos que<br />

assinalam diferenças, poderiam ter sido organizados de outra forma, certamente. Assim<br />

nós acessamos a realidade a partir dessas diferenças.<br />

Agora, a realidade não é a mesma em países diferentes, mas os signos que<br />

utilizamos para acessá-la são os mesmos. O binômio branco e negro parece pertinente<br />

9 “Os signos completam a realidade e a interpretam arbitrariamente mediante o efeito de assinalar<br />

diferenças, de forma que nos permitem criar significado a partir dessas diferenças.” Tradução minha.<br />

10 “com a intenção de identificar e compreender a que se referem os signos no mundo externo.”<br />

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