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Tese Lidia Nazaré - UFF

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transitório, o fugidio, o contingente”, restos provenientes da depuração da linguagem<br />

representativa. No segundo caso estamos diante do eterno e o imutável.<br />

Já observei que o narrador desestabiliza a capacidade de representação da<br />

palavra racionalizada e da mímesis da representação que a toma por instrumento a partir<br />

do seu procedimento, contrário ao de Marcel Pretre quanto à forma de classificar o<br />

mundo – mais especificamente aqui o gênero feminino - e quanto ao ato de nomear.<br />

Observo também que o texto vem organizado de forma que o leitor desatento,<br />

acostumado com o uso automatizado da palavra designativa, autoritária, monológica,<br />

não percebe os detalhes que o tornam diferente dos demais textos representativos, como,<br />

por exemplo, a presença de várias vozes, conforme vimos até agora.<br />

Depois de estabelecidas essas relações (ISER, 1983) verifico que a narrativa é<br />

toda montada para esclarecer tal limitação da linguagem que fundamentou e fundamenta<br />

a axiologia humanista nascida no berço europeu e que vem organizando as nossas vidas<br />

desde o século XVIII. Por isso podemos perceber tais aspectos. O explorador caça a sua<br />

presa com redes.<br />

Em determinado momento da narrativa o narrador faz o comentário: “[o]s bantus<br />

os caçam em redes, como fazem com os macacos. E os comem. Assim: caçam-nos em<br />

redes e os comem.” A rede é tecida pela letra que constitui a linguagem. Pela linguagem<br />

Marcel Pretre “caçou”, ou seja, patenteou Pequena Flor e transformou-a, pela<br />

comparação, em “[e]scura como macaco”, ou seja sua identidade primeira, adâmica foi<br />

destruída pela limitação da linguagem que tende para a nomeação e depois para a<br />

generalização. Por este mesmo caminho da comparação é que conseguimos entender<br />

que Marcel Pretre é do grupo dos bantus, afinal, quem caçou a mulher e reduziu-a a<br />

condição de macaco foi ele.<br />

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