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Tese Lidia Nazaré - UFF

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Li recentemente, num artigo de algum dos dez mil cabeças-de-vento que se manifesta<br />

sobre mim nos jornais, que minha natureza de símio ainda não está totalmente<br />

reprimida; a prova disso é que. Quando chegam visitas, eu tenho predileção de despir as<br />

calças para mostrar o lugar onde aquele tiro entrou. Deviam arrancar um a um os<br />

dedinhos da mão do sujeito que escreveu isso. Eu – eu posso despir as calças a quem me<br />

apraz ... (UMR, p. 61-2).<br />

A indignação da personagem faz ver que a “prova” que justifica a notícia sobre<br />

sua natureza não reprimida é insuficiente. A sugestão “arrancar um a um os dedinhos”<br />

faz ver que ele recuse aquela informação e que o pensamento de quem o faz é infantil,<br />

como sugerido no diminutivo “dedinhos”.<br />

A falta de oscilação desta linguagem, sua superfície lisa, sua excessiva clareza é<br />

que atravanca o desenvolvimento do ser porque, tudo aquilo que está na base de sua<br />

construção, do seu ser de linguagem, fica igualmente rígido. G.H., que terminava sua<br />

rotina com a leitura do jornal, afirma que sua “terceira perna”, ou seja, o sistema de<br />

genderização em que estava inserida, é que a “impossibilitava de andar mas que fazia de<br />

mim (dela) um tripé estável” (PSGH, p. 15-6).<br />

A palavra tripé faz ver que, apesar de possuir três pernas, uma delas oferecida<br />

pelo Sistema de representação, ela vivia imobilizada e indiferente para o<br />

reconhecimento de si mesma. Não se conhecia. Sua pergunta, “se havia” não era: ‘que<br />

sou`, mas ‘entre quais eu sou`”, “não suportaria não me encontrar no catálogo” (PSGH,<br />

p.32), afirma a personagem.<br />

Assim como G.H., também o homem constituído nesta linguagem nada pode<br />

revelar. “De acordo com o que temos por hábito” afirma Lacan “nada comunica menos<br />

de si que o sujeito que, no final de contas, não esconde nada. Ele só tem de manipular<br />

vocês” (LACAN, 1986, p. 31).<br />

O desequilíbrio dessas personagens advém destes valores de superfície, criados<br />

sob a égide da rotação das mercadorias. Tanto a notícia sobre Pequena Flor quanto a<br />

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