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Tese Lidia Nazaré - UFF

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andar. Essa falta de sentido encenada linearmente, esclarece sobre a limitação da<br />

linguagem instrumental, para fins de comunicação, igualmente linear.<br />

Em ambos os textos ela vem encenada, por isso conseguimos identificar esses<br />

disparates. Porém, na realidade, essa limitação não é percebida. Na realidade a<br />

linguagem discursiva é utilizada para fins de comunicação e o seu lugar já está<br />

instituído. Certamente, esta comunicação será melhor ou pior desenvolvida de acordo<br />

com a capacidade de argumentação de quem está de posse de seu exercício. Neste caso,<br />

ela vem sendo utilizada para diferentes fins, dentre os quais se encontra a construção da<br />

alteridade. Quem acena para esta realidade é o narrador/focalizador do conto “A menor<br />

mulher do mundo”, também de Laços de família. Ele vê e mostra a impiedosa ação de<br />

Marcel Pretre em sua função de nomear, a partir da fixidez da forma.<br />

Duas são as variações que ele utiliza para a mulher africana: “Pequena Flor” e<br />

“Escura como macaco”. Dessas duas surgem outras: “bicho”, “mulherzinha africana”,<br />

“coisa rara”, além de outras. Essas formas de nomear relegam-lhe o lugar da diferença,<br />

posto que ela foi focalizada como empregada “[i]magine só ela servindo a mesa ...” (LF,<br />

p.83), prostituta “_ Mamãe, se eu botasse essa mulherzinha na cama de Paulinho<br />

enquanto ele está dormindo (...) e a gente então brincava tanto com ela” (LF, p. 81).<br />

Toda a alteração surgiu por conta da arbitrariedade da relação significante/significado<br />

que constitui o signo de Port-Royal. Por esta arbitrariedade, Marcel Pretre pôde decalcar<br />

um nome, à revelia, à mulher. Este termo decalcar advém de que o lugar onde ela foi<br />

encontrada não era propício para uma delicada flor, devido ao clima focalizado pelo<br />

narrador/focalizador e por não apresentar o frescor que a sua condição adâmica pedia.<br />

entre mosquitos e árvores mornas de umidade, entre as folhas ricas do verde mais<br />

preguiçoso (...) [n]os tépidos humores silvestres, que arredondam cedo as frutas e lhes<br />

dão uma quase intolerável doçura ao paladar (...) [p]or um instante no zumb ido do calor<br />

(...) (LF, p.78).<br />

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