13.04.2013 Views

Tese Lidia Nazaré - UFF

Tese Lidia Nazaré - UFF

Tese Lidia Nazaré - UFF

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Somente após o encontro com o cego, no caso de Ana, e da barata, no caso de G.H. é<br />

que elas se sentem desestabilizadas. Contudo, encontram neste estágio vida mais intensa<br />

que no estágio anterior. G.H. não precisava mais da “terceira perna” e Ana “[q]uantos<br />

anos levaria até envelhecer de novo?(LF, p.29).<br />

Nesses dois casos a mobilidade em cima da fixidez da forma deve ser percebida<br />

a partir da linguagem narrada, ou seja, da linguagem que vem escrita na perspectiva da<br />

axiologia humanista. A que, na esteira de Barthes (2006) está ligada a uma margem<br />

“confortável” de leitura. Esta linguagem deve ser lida, para ser percebida, em sentido<br />

horizontal. Contudo Clarice Lispector e Franz Kafka estão seguros de que esta<br />

linguagem é limitada para a comunicação. Por isso, em seus textos, ela já aparece<br />

montada para fazer falar esta limitação, conforme procurei demonstrar a partir da<br />

segunda hipótese desta pesquisa.<br />

Veja esta limitação nesta cena discursiva “[n]o fundo, Ana sempre tivera<br />

necessidade de sentir a raiz firme das coisas. E isso um lar perplexamente lhe dera”. A<br />

focalização “perplexamente” está fora do lugar neste discurso encenado, é contra-<br />

ideológica. Neste caso ela abre um ponto cego na linguagem discursiva para fins de<br />

comunicação. Este ponto cego faz-nos refletir sobre a complexidade da vida de Ana,<br />

que é abordada ao longo do conto. Não pode ser representada numa palavra que estaria<br />

naquele lugar.<br />

Observe que a encenação deste ponto cego é diferente em A paixão segundo<br />

G.H. “[p]erdi alguma coisa que me era essencial, e que já não me é mais. Não me é<br />

necessária, assim como se eu tivesse perdido uma terceira perna que até então me<br />

impossibilitava de andar mas que fazia de mim um tripé estável” (PSGH, p. 15-6). Note<br />

que o essencial era a “terceira perna”. Sendo assim deveria ajudá-la a se mover.<br />

Contudo, mesmo sendo essencial, por ser uma perna a mais, tornava-a inapta para<br />

214

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!