Tese Lidia Nazaré - UFF

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13.04.2013 Views

experimentando a “queda” a perda da imediaticidade do sentido que somente a palavra redentora pode dar. Assim a linguagem do amor obtura o vazio da letra. Contudo o vazio da letra não pode obturar nenhuma instância do real, pode sim, abordá-lo. O real é. O narrador deixa “Marcel Pretre” tomando notas, mas ele mesmo, o narrador, cala a linguagem. “Pois olhe – declarou de repente uma velha fechando o jornal com decisão -, pois olhe, eu só lhe digo uma coisa: Deus sabe o que faz” (LF, p. 86). Com isso mostra que é preciso sempre parar, refletir e recomeçar. Considerações finais Ser moderno, diz Marshall Berman (2006) “é encontrar-se em um ambiente que promete aventura, poder, alegria, crescimento, autotransformação e transformação das 211

coisas em redor” (BERMAN, 2006, p. 15). Neste sentido, em conformidade com a terceira hipótese desta pesquisa, procurei demonstrar que a tessitura dos contos e romance de Clarice Lispector e Franz Kafka, mimetizam, ainda que criticamente, estes aspectos da modernidade. Os textos estão construídos de maneira que ativam todos os sentidos. Por isso, no corpo textual, os narradores/focalizadores experimentam travessias. A personagem Ana, do conto “Amor”, de Laços de família e a personagem G.H., de A paixão segundo G.H. atravessam do amor fusional para o amor sem reciprocidade e, em conseqüência disso, dos seus “eus” genderizados para seus “eus” mais adâmicos. O narrador/focalizador do conto “A menor mulher do mundo”, também de Laços de família atravessa da impossibilidade de vê, para a impossibilidade de não ver, a ação impiedosa de Marcel Pretre no ato de nomear uma mulher, que a transforma na diferença. O narrador/focalizador de “Um relatório para uma academia”, de Um médico rural atravessa da impossibilidade de comunicar para a impossibilidade de não comunicar. Todas essas travessias acontecem em consonância com a travessia da letra literária representativa para a letra literária produzida. Ambos os tipos de travessias, que ocorrem no âmbito textual, ocorre também no leitor, que conseguindo ativá-las, experimenta semelhante processo de autotransformação, presentes na vida moderna. Tal possibilidade, mediatizada pela ação do pensamento que este processo pode promover, também pode ser intuído a partir da reflexão que venho desenvolvendo, e que vêm crescendo, desde a tentativa de explicação do tema, sintetizado no título. Esta capacidade de fazer interagirem corpo textual e corpo do leitor só é possível, porque os escritores trabalham com a mobilidade da forma lingüística, a partir da extenuação provisória e da ressensibilização dos sentidos da referida forma. Esta 212

experimentando a “queda” a perda da imediaticidade do sentido que somente a palavra<br />

redentora pode dar.<br />

Assim a linguagem do amor obtura o vazio da letra. Contudo o vazio da letra<br />

não pode obturar nenhuma instância do real, pode sim, abordá-lo. O real é. O narrador<br />

deixa “Marcel Pretre” tomando notas, mas ele mesmo, o narrador, cala a linguagem.<br />

“Pois olhe – declarou de repente uma velha fechando o jornal com decisão -, pois olhe,<br />

eu só lhe digo uma coisa: Deus sabe o que faz” (LF, p. 86). Com isso mostra que é<br />

preciso sempre parar, refletir e recomeçar.<br />

Considerações finais<br />

Ser moderno, diz Marshall Berman (2006) “é encontrar-se em um ambiente que<br />

promete aventura, poder, alegria, crescimento, autotransformação e transformação das<br />

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