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este nome - é “coisa rara” é dizer que ela é nada, não tem sentido, é inominável, uma<br />
pulsão, um gozo; é dizer também que ela está ligada menos ao idealismo romântico que<br />
ao naturalismo realista e, por extensão é sugerir que ela está metamorfoseada de<br />
serpente, como sugere o termo “segundo erro da natureza”.<br />
Coloco um ponto provisório no motivo pelo qual o narrador parece estar em<br />
transe e no fato de que “Marcel Pretre” está mesmo sob efeito de hipnose. Ambos,<br />
diante do inominável. Por isso ele teve tanta facilidade em fazer a transposição dos<br />
termos. Ele que até então ainda não havia aproximado a mulher de animal algum. A<br />
palavra “estava” desaparece no fim do tema em questão e é substituída pelo verbo piscar<br />
– uma piscadela para o leitor, pois sim! - “Pequena Flor piscava de amor, e riu quente,<br />
pequena, grávida, quente” (LF, p. 85).<br />
Aqui, o narrador que sai do transe tão atrapalhado quanto o “explorador”, retoma<br />
o estereótipo “Pequena Flor” que já destruiu a mulher, sugando tudo o que dela foi<br />
sugerido, abordado pelo narrador/focalizador Consumida neste estereótipo, toda a<br />
sugestão fica carregada de significado. A realidade que veio à tona pelo bordejar da<br />
palavra poética agora desaparece sob o peso da palavra racionalizada que carrega um<br />
significado por sintagma. Assim “Pequena Flor” diferentemente de “coisa rara”,<br />
“piscava de amor”, mesmo, “riu quente” mesmo, “pequena, grávida, quente”. Ela<br />
seduziu “Marcel Pretre” deixando-o “perturbado”, e que conota, por similaridade<br />
fonémática, masturbado. “Coisa rara” provoca uma reação natural no corpo de José e<br />
“Pequena Flor” provoca uma reação mais agressiva. No primeiro caso, gozo, no<br />
segundo caso, prazer. Texto de gozo e texto de prazer.<br />
2. O sentimento amor obtura o vazio da letra.<br />
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