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não está de posse da palavra racionalizada. Ele “engrolou” (LF, p. 83) a voz da mesma<br />
forma que a personagem “José” fará adiante. Como “Pedro Vermelho”, este narrador<br />
desarticula a linguagem por meio do seu rumorejar. Ele não está atento ao que diz:<br />
deixa-se conduzir pela fala de outrem, ao aproveitar-se da última nomeação atribuída à<br />
“Pequena Flor”, por uma mulher: “coisa rara”.<br />
Além disso, o número de vezes que divaga e repete a mesma coisa, faz ver que<br />
seus sentidos estão divididos diante da cena que ele deseja mostrar ao leitor. Ele mistura<br />
todos os nomes atribuídos à mulher anteriormente: simultaneamente ele olha, procura<br />
compreender a cena e expõe a referida para o leitor. Contudo, ele mesmo parece<br />
confuso, totalmente entregue aos seus pensamentos. Ele está igual ao “explorador”,<br />
quando sai do mal-estar, “atrapalhado”. Noto que os fonemas desta palavra sugerem<br />
confusão. Observo que no final da cena ele diz: “Em segundo lugar...”. O que leva a<br />
indagar sobre onde está o primeiro.<br />
Certamente este sentido “[e]m segundo lugar” migra para a primeira cena, ou<br />
seja, para o primeiro momento da nomeação. Mas aqui esta expressão “[e]m segundo<br />
lugar” aparece sem sentido, é cena que perturba os nossos sentidos, repleta de gozo,<br />
porque prenhe de sentidos não manifesto 95 . Neste caso ele perdeu o fio da meada. Estar<br />
diante desta cena para ele é “um fio partido” como ocorre com Ana no bonde.<br />
O fato é que ele está vendo e mostrando de forma sugestiva e alusiva “a coisa<br />
rara” a palavra sugestiva a que temos acesso, porque é dela que ele vem se servindo<br />
para historicizar a “menor mulher do mundo”, se convertendo em “Pequena Flor”,<br />
palavra estereotipada, gozando a vida. A “coisa rara”, palavra poética, encontra-se em<br />
95 É claro que a ciência também organizou o signo lingüístico assim, há um sentido aprisionado dentro de<br />
uma forma fixa e como estamos vendo, esta forma é insuficiente para representar. Logo ela seria uma<br />
forma repleta de gozo “a idéia de mundo é isso; pensar que ele seja feito de tal pulsão de tal forma que a<br />
partir dela se figure uma vida” (LACAN, 1986, p.28). Mas na medida em que o sentido é aprisionado na<br />
fixidez da forma ele fica autoritário, perde sua capacidade de insinuar, impõe um significado e isso<br />
destrói o gozo.<br />
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