Tese Lidia Nazaré - UFF
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(LACAN, 1986, p. 28). O significante alcança o estágio de traço primeiro pelo processo de escoamento do peso do significado que se lhe fixou, a partir do uso habitual. Esta “linha de orientação”, como a chama “Pedro Vermelho”, serve de fundo para o vaivem de qualquer pensamento. Sem hierarquia, todos os pensamentos tocam-se, entrecruzam- se, perdem-se, re-aparecem. Neste instante, o ser que experimenta tal manifestação, se deixa conduzir por ela e nesta quadrilha do sulco deste significado. Esta, em seu conjunto, constitui uma escritura, onde a coisa real surge num “relampejar fugaz” - e nos revela como a sua liberdade de outrora foi aprisionada numa forma lingüística, o signo, a fim de sistematizar o mundo. Esta revelação se dá no rumorejar da língua: sua identidade de outrora, seu traço primeiro. Isso é diferente do balbucio ou engasgamento, que deseja tentar fazer o signo falar em sua forma fixa. No primeiro caso o significante é um fundamento sem fundo, uma “linha de orientação” um ponto de apoio, como diz e sugere, respectivamente “Pedro Vermelho” ou um “fio”, como diz Ana. Ele está ali esvaziado do sentido, mas “sem que o sentido seja brutalmente dispensado, dogmaticamente excluído, castrado” (BARTHES, 2004, p. 95), motivo pelo qual afirmei, na esteira de LACAN (1986) que permanece neste significante o sulco do significado que, em seu conjunto forma uma escritura. No segundo caso, o código é repetido, a fim de ser explicado. Trata-se de “anulação por acréscimo” (BARTHES, 2004, p.93). Franz Kafka e Clarice Lispector revelam-me estas duas facetas da linguagem o que me sugerem a necessidade da busca de equilíbrio entre elas, de maneira que, não havendo a sobreposição de uma sobre a outra, o texto conheça a sua plenitude. Essa condição, entretanto, exige que todos os sentidos do leitor estejam atentos. Isso porque o homem é um ser de linguagem. 187
Tudo o que diz respeito a ela, diz respeito a ele. Quando observo a diferença entre a vida pregressa de macaco de “Pedro Vermelho” e a atual, entre o “eu” natural e o “eu” social de Ana, entre a “terceira perna” e o caminhar por conta própria de G.H., concordo com Lacan (1986) quando afirma que “o sujeito é dividido, como em todo lugar, pela linguagem, mas um de seus registros pode se satisfazer com a referência à escritura, e o outro com o exercício da palavra” (LACAN, 1986, p.31) 92 . Esta harmonia não é fácil de ser alcançada. Ana e G.H. só conseguem ver a contingência de uma linguagem, quando estão em estado de experimentação da outra. 92 O poema de Ferreira Goulart “Traduzir-se” elucida bem estas duas linguagens: Uma parte de mim é todo mundo: outra parte é ninguém: fundo sem fundo. Uma parte de mim é multidão: outra parte estranheza e solidão. Uma parte de mim pesa, pondera: outra parte delira. Uma parte de mim almoça e janta: outra parte e espanta. Uma parte de mim é permanente: outra parte se sabe de repente. Uma parte de mim é só vertigem: outra parte linguagem. Traduzir uma parte na outra parte - que é uma questão de vida ou morte – será arte? (GOULART, 1983, p.391-442) 188
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deixa conduzir por ela e nesta quadrilha do sulco deste significado. Esta, em seu<br />
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nos revela como a sua liberdade de outrora foi aprisionada numa forma lingüística, o<br />
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ou um “fio”, como diz Ana. Ele está ali esvaziado do sentido, mas “sem que o sentido<br />
seja brutalmente dispensado, dogmaticamente excluído, castrado” (BARTHES, 2004, p.<br />
95), motivo pelo qual afirmei, na esteira de LACAN (1986) que permanece neste<br />
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No segundo caso, o código é repetido, a fim de ser explicado. Trata-se de<br />
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revelam-me estas duas facetas da linguagem o que me sugerem a necessidade da busca<br />
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