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submeteram à cultura. 84 Assim, na primeira leitura do conto quase tudo parecia normal.<br />
O estranhamento estava na palavra explorador, caçador, homem do mundo.<br />
A busca do entendimento dessas palavras, desse ponto de vista do narrador<br />
trouxe à superfície o final da primeira história, ou seja, o possível motivo pelo qual<br />
“Marcel Pretre” revelou a imagem forjada de “Pequena Flor” e também a segunda<br />
história desenvolvida nas frestas da primeira pelo viés da mímesis da produção. O texto<br />
lido com naturalidade da primeira vez, revela agora seus elementos estranhos e com isso<br />
comprova a nossa dificuldade de perceber certos absurdos.<br />
E é importante lembrarmos que a questão do ato de nomear aqui se faz em torno<br />
de um ser humano, ou seja, um objeto situado no campo da física, possível então – pelo<br />
ponto de vista das ciências - de ser apreendido por todos os cinco sentidos. Mesmo<br />
assim, mostra-nos o narrador, o jogo dos conceitos não foi capaz de apreendê-lo, sem<br />
falsificá-lo a partir das generalizações resultantes da fixidez do signo lingüístico.<br />
84 Ao abordar o papel da imprensa na época em que Getúlio Vargas ocupou a presidência do Brasil, Alcir<br />
Lenharo, em capítulo intitulado Pátria como família diz que o objetivo daquela, consistia na<br />
transformação da Pátria numa grande família. Além disso lembra que por diversas vezes Vargas chamou<br />
a atenção para o papel dos meios de comunicação como forma de controle e mudança da opinião pública.<br />
O ofício do jornalismo era um ‘sacerdócio cívico’. Aos jornalistas destinava-se a missão da formação da<br />
opinião pública, para que ela fosse ‘de corpo e alma, um só pensamento brasileiro’. Essa imagem<br />
harmoniosa proclamada pelos referidos meios de comunicação era clara nas manifestações públicas como<br />
nos comícios dos Primeiros de Maio. Nesta ocasião os trabalhadores ouviam de Vargas e de seus líderes,<br />
de forma passiva, a prestação de contas e as novas promessas. “Vivia-se, portanto, a certeza de que a<br />
sociedade estivesse contida nas suas diferenças e neutralizados seus focos de conflitos” (LENHARO,<br />
1986, p. 38-51).<br />
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