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Tese Lidia Nazaré - UFF

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Tanto “Marcel Pretre” quanto os membros da sociedade burguesa e brasileira<br />

negaram a alteridade, porque não conseguiram encontrar-se no “outro”. Na tentativa de<br />

reduzi-lo ao mesmo, e não conseguindo, transformaram a mulher africana num ser<br />

inferior e grotesco. De acordo com o narrador, o reconhecimento da alteridade poderia<br />

se dar de outra maneira, como ele fez, ao longo da narrativa, ao conduzir o olhar do<br />

leitor para a semelhança, sem generalizações. A obra de M. C. Escher que coloquei na<br />

abertura deste capítulo elucida esta questão.<br />

É difícil conseguir isso. Talvez seja necessário realizar uma violência contra a<br />

linguagem racionalizada, a fim de conduzir o pensamento por outros caminhos, assim<br />

como aconteceu no século XVII. O narrador reivindica uma forma especial de conduzir<br />

a linguagem. Deseja liberdade para fazê-la falar a partir da mímesis da produção já que a<br />

mímesis da representação só tende a engrossar a fileira das linguagens do Sistema de<br />

representação, que tende à naturalização da arbitrariedade da palavra racionalizada, que<br />

forja a identidade nacional e a nossa. O hieróglifo que ele viu aponta para a necessidade<br />

de decompor a linguagem a fim de alcançar seu “traço unário” (LACAN, 1986, p.26 ).<br />

Todo este procedimento do narrador evidencia que “Marcel Pretre” não é<br />

inocente, “a emissão e a recepção da mensagem dependem ambas de uma sociologia:<br />

trata-se de estudar grupos humanos, de definir motivos, atitudes, e de tentar ligar o<br />

comportamento destes grupos à sociedade total de que fazem parte” (BARTHES, 1982,<br />

p. 13). Se “Pequena Flor” não faz parte da sociedade à qual ela foi apresentada, por que<br />

o fêz “Marcel Pretre”? Ao que tudo indica, ele se utiliza da imagem da mulher africana<br />

a fim de conduzir o pensamento dos leitores do suplemento colorido dos jornais de<br />

domingo, a se convencer de que de fato eles são superiores àqueles que não se<br />

experiência precoce e prolongada de interações permeadas pelas estruturas de dominação 83 (BOURDIEU,<br />

1999, p.50-1).<br />

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