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Tese Lidia Nazaré - UFF

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Assim a primeira mulher olhou o “retrato” de “Pequena Flor”, mas não quis<br />

olhar uma segunda vez porque “me dá aflição”. Embora não saibamos o motivo da<br />

aflição, - o narrador aqui se distancia, mantendo-se neutro, deixando ao leitor às<br />

conjeturas - observamos que a alteridade é repelida pela antipatia, contrário da simpatia<br />

que caracteriza a similitude.<br />

Outra mulher teve “perversa ternura pela pequenez da mulher africana”. Este<br />

ponto de vista é do narrador que viu esta ternura de forma desconfiada, preferindo não<br />

deixar Pequena Flor “sozinha com a ternura da senhora”. Há aqui uma conotação<br />

erótica. A “pequenez da mulher africana” parece ser desejada como fetiche sexual.<br />

Uma menina de cinco anos ao ver o “retrato” e ouvir os comentários, concluiu<br />

mais tarde que ‘a desgraça não tem limites’.<br />

Um “menino esperto teve uma idéia esperta.” E focando-a como “mulherzinha<br />

africana”, brincaria ele e seu irmão Paulinho com ela. O brincar aqui tem uma<br />

conotação erótica, sugerida pelos termos: “ferocidade” – idade feroz – “malignidade” –<br />

idade maligna – aqui o narrador chama a atenção para a repetição dos termos através da<br />

expressão “número de vezes”. A repetição aqui não é para rasurar o termo idade,<br />

conduzindo o pensamento para outras paragens e sim para realçá-lo, fixá-lo.<br />

Outra mãe imagina-a “servindo a mesa” em sua casa “e de barriguinha grande”.<br />

Esta a focalizou como empregada ou escrava.<br />

A moça noiva, diz o narrador, teve “um êxtase de piedade” e, entregando-lhe a<br />

voz: “_ Mamãe, olhe o retratinho dela, coitadinha! Olhe só como ela é tristinha! _ Mas é<br />

tristeza de bicho, não é tristeza humana.” A mãe focalizou-a como irracional e a moça<br />

como alguém a quem se deve dispensar dó por sua tristeza e solidão, que, como já<br />

vimos, não existia, no seu ambiente natural. Pela escrita o narrador faz ver que a<br />

impressão de tristeza resulta de uma alteração construída. Pela perda da aura que sofre o<br />

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