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Neste processo de leitura faz-se necessária a entrada do leitor senão o processo<br />
de sua produção não acontece. Neste caso estamos diante de uma pequena narrativa que<br />
está desequilibrando o poder de representação da realidade da linguagem informativa. O<br />
mais irônico de tal observação é que a linguagem informativa está recheada de ficção,<br />
só que inconseqüente, já que pretende se passar por verdadeira e manipula a realidade<br />
para que esta seja apreensível pela limitada linguagem representativa. Isso não seria<br />
problemático se esta linguagem não reivindicasse o poder de revelar as verdades do<br />
mundo e se ela não tivesse nascido justamente para “desencantar” o mundo mítico e<br />
religioso. Mas o que por ela é transmitido é recebido a partir desta ideologia racional<br />
que tende à fixidez e à manipulação do pensamento.<br />
A interferência do narrador, o seu modo de apresentar o objeto é expressivo. Não<br />
há nenhuma intenção de revelar a verdade. O leitor está consciente de que ele manipula<br />
a linguagem para fazê-la falar. Ela é cunhada no próprio texto. Por isso se encontra mais<br />
próximo à narrativa tradicional que “recorria freqüentemente ao miraculoso”<br />
(BENJAMIN, 1996, p. 203). Embora estejamos na era da informação, este narrador não<br />
se dá por vencido. Opera de dentro desta linguagem e salva a narrativa. Afinal, diante de<br />
seu texto o leitor “é livre para interpretar a história como quiser. Com isso o episódio<br />
narrado atinge uma amplitude que não existe na informação” (BENJAMIN, 1996, p.<br />
203). A arte retoma sua antiga função ritual diante do olhar.<br />
Nesta parte do conto em que a notícia aparece “no suplemento colorido dos<br />
jornais de domingo” o narrador entrega a focalização para os representantes da<br />
sociedade burguesa e continua indisposto para o ato de nomear. Dentre os sete<br />
focalizadores deste conjunto, somente dois são nomeados: José e Paulinho. Este para<br />
sugerir o modo como a sexualidade é conduzida pelo Sistema de representação. Aquele<br />
para lembrar a sexualidade que se manifesta naturalmente.<br />
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