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desequilibrada “parecia um cachorro” - quando na verdade, parecia um macaco - em<br />
oposição às descrições sugestivas que ele fez anteriormente.<br />
Tal imagem, quando acrescida pela expressão “‘Escura como macaco’, “e que<br />
morava no topo de uma árvore com seu pequeno concumbino” (LF, p.77), não pode ser<br />
vista com olhar inocente. Ao que parece foi este o motivo pelo qual o narrador opta pelo<br />
termo “explorador”. A imagem é conotada, construída, embora pareça denotada,<br />
natural. O texto pode parecer pequeno, insignificante, quando comparado ao tamanho<br />
natural da imagem, mas não é desta maneira que o conjunto texto e imagem atuam no<br />
receptor. Conforme Barthes (1982), o que acontece neste conjunto é a naturalização da<br />
cultura. Cedo-lhe a palavra.<br />
na relação atual, a imagem não vem esclarecer ou ‘realizar’ a palavra; é a palavra que<br />
vem sublimar, patetizar ou racionalizar a imagem; mas como esta operação se faz a<br />
título acessório, o novo conjunto afirmativo parece principalmente fundado numa<br />
mensagem objetiva (denotada), cuja palavra não é senão uma espécie de vibração<br />
segunda, quase inconseqüente; antigamente, a imagem ilustrava o texto (tornava-o mais<br />
claro); hoje, o texto sobrecarrega a imagem, confere-lhe cultura, uma moral, uma<br />
imaginação; antigamente, havia redução do texto à imagem, hoje há amplificação da<br />
imagem ao texto: a conotação já não é vivida senão como ressonância natural da<br />
denotação fundamental constituída pela analogia fotográfica; estamos, pois, perante um<br />
processo caracterizado de naturalização do cultural (BARTHES, 1982, p.21).<br />
Digo que o desequilíbrio que acontece diante da imagem ocorre também diante<br />
da informação que ele leu, considerando que esta imagem veio legendada, “‘Escura<br />
como macaco’, informaria ele à imprensa, e que morava no topo de uma árvore com seu<br />
pequeno concumbino”. Observo o desequilíbrio do narrador neste último nome comum,<br />
“concumbino”. “Marcel Pretre” não usaria tal termo, afinal, ele não era “louco” já o<br />
disse o narrador. De sorte que isto só pode ser artimanha do narrador, a fim de esconder<br />
algo que lhe causou espanto. Retirando a oração intercalada “informaria ele à imprensa”<br />
resta um conjunto natural: Escura como macaco/mora no topo de uma árvore com o seu<br />
concumbino.<br />
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